Uma das cenas mais diversas em propostas artísticas, o indie eletrônico nunca fica à mercê de figurinhas carimbadas, sempre se reinventando através de novos nomes. Por isso, separamos 4 lançamentos de artistas novos que trazem uma abordagem inventiva ao gênero. 

Não muito tempo atrás, o indie eletrônico “rivalizava” junto com o indie rock por postos de headliners em festivais alternativos. Através de nomes The XX e Alt-J, a proposta eclética que juntava diferentes vertentes da música eletrônica sob um prisma mais minimalista ganhou espaço não só em cenas nichadas, mas também em parte do mainstream. De lá pra cá, algumas expectativas não se concretizaram, mas o cenário sempre foi se renovando das mais variáveis formas, e se atualmente não há uma convergência clara em torno de 3 ou 4 nomes mais expressivos, o indie eletrônico está longe de ser uma sonoridade limitada, datada, ou refém daquele hype de 2012. Para ilustrar isso, separamos 4 EPs desse ano, cada um com uma estética, som e linguagem diferente, sendo dois nacionais e dois internacionais. Se liga só:

 

“Rain’s Break”, EP de Lucy Gooch

A cena de Bristol, no Reino Unido, sempre rendeu nomes relevantes no cenário alternativo eletrônico, como Massive Attack e Portishead. Assim, não foi surpresa quando o som de Lucy Gooch começou a despontar através de veículos conceituados com a NME e o The New York Times. Ela estreou ano passado através do EP Rushing, e agora com Rain’s Break ela já desponta com um dos nomes mais proeminentes do cenário eletrônico. Seu som é composto por sintetizadores “pacientes”, que assim como a capa do EP, parecem um fluxo de cores e fluídos sônicos, com texturas hora mais abstratas e vaporizadas, horas mais densas e suculentas através das inserções vocais. De um jeito acessivelmente complexo, ela passeia entre dream pop, ambient music e deep house ao longo dos 18 minutos estendidos em 5 músicas.

 

“Zero Gravity”, EP de Daniel Kowalski

O cenário nacional conta com produtores cada vez mais prolíficos, e um deles é Daniel Kowalski. Em contato com a música desde os 10 anos de idade através do estudo de piano e teoria musical, ele começou sua carreira na ambient music no passado, tendo lançado até agora, 4 álbuns de estúdio, sendo o último deles A Cloud From Dreams World, lançado em março desse ano. Agora no segundo semestre, ele veio com um novo trabalho, o EP Zero Gravity, que externaliza e materializa melodicamente a transliteração do título, com texturas eletrônicas sobrepostas de forma sensorial, como se fosse um momento de contemplação em algum espaço cósmico. Ao longo dos 23 minutos de material, as 5 músicas se completam como uma parte única. Assim como em A Cloud From Dreams World, em Zero Gravity a ambientação na produção foi parte essencial no projeto. Se para o álbum lançado em março Daniel se deslocou até a área mais rural do Rio Grande do Sul, para gravar Zero Gravity ele foi até o Cerrado do Tocantins, no período de transição entre as grandes chuvas e a seca da região.

 

“Fresia Magdalena”, EP de Sofia Kourtesis

Um dos trabalhos mais completos do ano, Fresia Magdalena, o novo EP da peruana Sofia Kourtesis, é ácido e abstrato, onírico e biográfico. Vivendo atualmente em Berlim, a produtora pega muito da cena eletrônica alemã mais recente, como a da cultura dos clubes de techno de Colônia, junto com o electro r&b de nomes como Toro Y Moi. Ela estreou no ano passado, lançando dois EPs e aparecendo como destaque em mídias como a Mixmag e a NME. Já nesse ano, o EP Fresia Magdalena trouxe um melhor acabamento à junção de texturas e influências sonoras, junto de uma carga pessoal significativa. Um dos singles do trabalho, a música “La Perla” é a primeira em que Sofia aparece cantando com sua própria voz, e foi composta como um homenagem ao seu pai, que faleceu recentemente. O design da capa icônica é assinado por Sofia Lucarelli, e traz a artista junto de ilustrações de plantas e imagens do cemitério de Callao, no Peru. A singularidade de Sofia Kourtesis com certeza é uma das coisas mais proeminentes no cenário eletrônico, tanto que ela já assinou com o selo inglês Ninja Tune, casa de artistas igualmente promissores como Black Country, New Road e Peggy Gou

   

 

“Interior”, EP de Julles 

Terminando a nossa lista com mais uma novidade nacional, a jovem carioca de 19 anos Julia Felix e seu novo projeto Julles, é um mix entre um som mais confortável, com ecos de bedroom pop, com arranjos recortados e abstratos que soam como um shoegaze eletrônico. O seu EP de estreia, Interior, foi gravado de forma independente, em parte durante uma passagem pela Suíça, e tem seu lançamento através do selo pernambucano LIFE’S TOO SHORT. No trabalho, a ambiguidade faz parte do tom criativo e desenvolvimento do registro, tendo frente a frente tanto uma ambientação mais lo-fi, quanto momentos mais virtuosos e grooveados que remetem a nomes como Men I Trust e Connan Mockasin. Cantando em português e inglês, a voz etérea da artista ganha uma camada sublime e tenebrosa, que assim como todo o conjunto do EP, soa como uma ‘alquimia do ruído’.

 

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Autor

  • Luan Gomes

    Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"

Escrito por

Luan Gomes

Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"