Produtor brasileiro lança seu quarto álbum em dois anos, colocando a ambient music numa perspectiva narrativa e emocional

Daniel Kowalski produzindo seu novo álbum A Cloud From Dreams World. | Foto: reprodução.

De forma inspirada, o produtor Daniel Kowalski vinha desde o ano passado com trabalhos que mostravam ele se descobrindo na ambient music. Assim, seus dois álbuns lançados em 2020, A Silver Tea e The Underground Magic Lottery, apresentam um andamento mais carregado e lento, criando uma atmosfera sonora mais densa. Já nesse ano, o seu terceiro disco, A Healing Episode 432 Hz, trouxe experimentações mais contemplativas, com arranjos mais ‘terapêuticos’. Em todos os três trabalhos, a sonoridade era o principal ponto conceitual, com suas abstrações e experimentações sendo um impulsionante interpretativo. Com A Healing Episode 432 Hz recém lançado em janeiro, Daniel já se colocou em produção para o álbum que evoluiria sua proposta artística apresentada na trilogia inicial. Dessa vez o produtor quis explorar o lado mais sensitivo da ambient music, tendo como principal inspiração sua relação com seus pais, que não estão mais vivos. Nesse contexto é que nasce o álbum A Cloud From Dreams World, que como o título sugere, traz uma experiência transportadora para outro mundo.

Em seu quarto álbum em dois anos, Daniel traz seu trabalho mais ambicioso até aqui. Ao mesmo tempo que A Cloud From Dreams World tem uma carga emocional e pessoal do artista, é um trabalho acessível tanto conceitualmente, pela proposta conectiva e escapista (num bom sentido), como pela sonoridade lúdica e colorida. O tema central gira em torno de uma viagem para o “dreams world”, onde cada faixa é uma etapa da experiência de contemplação e abstração. Assim, a primeira faixa Unidentified Colorful Fireflies é a primeira ‘imagem sonora’, com uma ‘revoada’ de vagalumes que são ‘sonorizados’ através da alternância de sintetizadores em interlúdios reverberantes. Já a segunda faixa, Dreams Gate: The Entrance, é o ponto de imersão inicial desse ‘mundo dos sonhos’ que é sonoramente apresentado como um ambiente à beira rio. Entre abstrações sensitivas, Daniel vai ao longo das faixas ilustrando seu mundo dos sonhos de maneira sugestiva, tendo como elementos ‘figuras’ sonoras que são facilmente reconhecidas em qualquer ambiente, como sinos em Bells Before The Beginning Of The Times, e o vento em Peaceful Wind

A sonoridade compartilha do caráter descritivo do álbum, e para isso, os arranjos que muitas vezes são totalmente abstratos na ambient music, aqui são colocados de maneira mais focada nas distinção das notas, em como elas evoluem em cada progressão, como numa narrativa mesmo. Dessa forma, os sintetizadores ganham um ar mais orgânico ao trazerem um som de piano digital reverberado. Uma sensação comum ao ouvir um disco de ambient music, e até de música instrumental mesmo, é se ‘perder’ entre as músicas, onde o início e o fim parecem não existir. Bom, em A Cloud From Dreams World essa sensação é amenizada, já que cada música cumpre um papel narrativo de experiência sonora. Em meio às ‘alquimias’ harmônicas, o ritmo percussivo das músicas fica meio encoberto, provavelmente de forma proposital, já que grande parte da experiência do disco é uma ambientação ‘celestial’. Ao longo das oito músicas e 26 minutos, Daniel Kowalski consegue mostrar tanto sua ambição narrativa, quanto sua evolução sonora.

Daniel Kowalski, “A Cloud From Dreams World” (2021)

ambient music, electronic.

Independente.

Pra quem curte: Cosmic Surveillance, Rafael Toral e Flora Yin-Wong

Nota: 7

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Autor

  • Luan Gomes

    Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"

Escrito por

Luan Gomes

Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"