Confira a lista de melhores álbuns nacionais, com curadoria da equipe do MI.

Antes tarde do que nunca, 2021 chega ao seu fim e com ele a nossa lista de “Melhores discos nacionais de 2021”. Passou rápido, passou devagar, discussão que vai e vem, mas fato é: passou. Os últimos doze meses foram surpreendentemente lotados de lançamentos todas as semanas. Seja no mainstream ou no undergroud, a produção nacional não parou apesar de todas as circunstâncias que nos fazem ter de lutar contra a maré. Esta lista é uma amostra dos discos brasileiros que mais ressoaram com a nossa equipe, que nos deram força durante 2021 e que representam o que iremos carregar deste ano para frente.

Os vinte álbuns selecionados são apresentados abaixo por alguns colaborados do MI sem um ranking de preferência, sem um outro top dentro do top 20. Confira também a nossa lista de discos internacionais e nossas músicas favoritas do ano. Mas por hora, eis os brasileiros que tomaram os nossos streams este ano:

Juçara Marçal, “Delta Estácio Blues”

Juçara Marçal junto de Kiko Dinucci passaram cerca de 2 anos realizando pesquisas e produção de “Delta Estácio Blues”. Com a proposta voltada para música eletrônica, o experimentalismo é necessário para existência do álbum, ao mesmo tempo que não deixa de lado uns toques pop. Além de trazer composições da Juçara, o álbum também traz colaborações, como na faixa ‘’Oi Cat’’ com um diálogo abstrato por Tantão e Os Fitas, ao popular de ‘’Corpus Christi’’ que lista várias imagens e situações comuns referentes as viagens ao litoral paulista no final do ano e ‘’Crash’’ de Rodrigo Ogi com versos de rap que segundo Juçara, se trata de ‘’usar o poder da raiva com astúcia’’. Com ou sem gringos lá fora elogiando o disco ou premiações reconhecendo seu trabalho, Juçara Marçal performa ‘’Delta Estácio Blues’’ de um jeito que chega ao ponto do próprio disco auto sustentar sua existência e justificativa. Uma obra completa. B

Leall, “Esculpido a Machado”

Existem uns discos que fazem seu coração bater mais rápido, o braço arrepiar, segurar a mão mais firma na cadeira, se animar com a inovação, sorrir pelo reconhecimento até mesmo do que nem é pra se sorrir sobre. “Esculpido a Machado” do Leall é um desses discos. Estreia em grande estilo, o drill do carioca faz seu coração acompanhar o ritmo do hi-hat. O resto do Brasil que entenda, mas o peso do Rio de Janeiro transborda em cada composição e também na pronúncia – eis o poder do r inexistente quando ele solta o “duas pistolas”. Traçando imagens nítidas do começo ao fim, Leall ainda aproveita pra ter uma das maiores capas de disco do ano. ML

Jadsa, “Olho de Vidro”

2021 foi o ano de Jadsa, seu talento imenso, e seu “Olho de Vidro”. Merecidamente indicado ao Prêmio Multishow 2021, o disco resgata o que há de melhor nas melodias, ritmos e letras da vanguarda paulista, adiciona o tempero baiano da cantora e leva as misturas e combinações de gêneros para o moderno. Tem como não dar certo? O projeto ainda vai além e trás participações de outros gênios da cena brasileira, como Ana Frango Elétrico, Kiko Dinucci e Luiza Lian. Nota 10. AG

Rodrigo Amarante, “Drama”

Chamativo ao seu jeito mas ainda assim sucinto, “Drama” dá uma continuidade mais otimista à carreira solo de Rodrigo Amarante. Os temas introspectivos continuam sendo a tônica lírica, mas no som, ele salta pra uma sofisticação mais cinematográfica, juntando sua ‘persona’ de compositor de MPB com sua linguagem artística cosmopolita. LG

Mbé, “ROCINHA”

Álbum de estreia de Luan Correia, pesquisador, produtor cultural e engenheiro de som. O nome do disco faz referência a favela Rocinha, onde Luan nasceu e cresceu, enquanto Mbé, é uma palavra em yorubá que significa ‘’ser’’ e existir’’. Logo, o disco é uma paisagem sonora narrativa sobre Rocinha: as experiências, vivências, assuntos políticos, conexões e ancestralidade negra. Essa construção é realizada através da recortes e colagens eletrônicas, falas de programa de tv, som ambiente, cantos e samples. Mais do que um álbum de música experimental, Luan Correia faz do experimentalismo uma ferramenta de comunicação para documentar e significar o ‘’ser’’ e ‘’existir’’ de um dos recortes da vivência preta na Rocinha. B

Don L, “Roteiro Para Aïnouz, Vol. 2”

Dando continuidade a sua trilogia reversa, Don L mirou alto e acertou. Para os fãs de sons grandiosos, “Roteiro Para Aïnouz, Vol. 2” pode ser seu álbum favorito do ano. É um disco que flerta constantemente com o macro e o micro, dialogando entre as reflexões sobre a trajetória do artista e também suas projeções para o país – âmbitos que não existem de forma isolada. Além dos feats de peso, os beats também mostram que esse é um trabalho pronto para ser levado para palcos grandes e sair dos limites de qualquer bolha. ML

URIAS, “FÚRIA PT.1”

Essa é a primeira parte do disco de estreia da Urias, sendo a segunda parte prevista para o 2º semestre de 2021 (que não veio aí, mas estamos no aguardo). Com produção musical dos integrantes da Brabo Music Team, a mesma que produziu os álbuns da Pabllo Vittar, ‘”FÚRIA PT.1″ trouxe 5 músicas com referências da sonoridade eletrônica da PC Music, sample de Mac DeMarco, trechos em espanhol e participação de Monna Brutal e Ebony. As composições descrevem situações diferentes que expressão o sentimento de fúria. Além das músicas, a obra acompanha desenvolvimento de videoclipes em preto e branco que dão aquela ar de cinema noir só que atualizado para os dias atuais. B

Bruno Bruni, “Broovin 2”

Em “Broovin 2”, Bruno Bruni reafirma o que quem o acompanha já sabia: ele é excelente em fugir dos clichês ao fazer o jazz ser pop. Se ainda estivesse na moda ser youtuber, poderíamos criar um desafio “tente ouvir esse disco sem dançar” e só ia ter gente falhando. Mas como essa fase passou, vão ter que acreditar na nossa palavra. Diversão é pouco, “Broovin 2” te arrasta para a sua própria órbita, é para se perder nas ondas invisíveis da alegria por 30 minutos. Coisa que está todo mundo precisando mesmo. ML

Mariá Portugal, “Erosão”

Inventivo, desafiador e sensorial. O álbum de estreia da compositora e produtora paulistana é uma junção sônica de arte vanguardista. Em letras e sons recortados, a captação de elementos eletrônicos e sons orgânicos de instrumentos tradicionais traz um contraste conflituoso e exuberante. Após anos trabalhando com nomes importantes como Pato Fu, Negro Leo, Arrigo Barnabé, além de integrar o Quartabê, Mariá mostra em seu primeiro trabalho toda sua virtuosidade de forma complexa mas direta. LG

Duda Beat, “Te Amo Lá Fora”

A ambição de Duda é daquelas que deixa ela cada vez mais forte. Com seu primeiro álbum “Sinto Muito”, ela fez um burburinho forte na música brasileira, sendo um dos nomes mais promissores na época, já com esse álbum ela chega com os dois pés na porta. Envolto de conceitos, explorando diversos instrumentos e sonoridades, como o reggae, pop e forró, o disco soa maduro e reflete o crescimento dela enquanto artista, mesmo ainda contendo boas doses de drama nas composições. BS

Papangu, “Holoceno”

Após 7 anos de produção, ‘’Holoceno’’ é o disco de estreia da banda de João pessoa (PB) Papangu. O som está ligadao ao rock progressivo, doom, sludge metal e música regional e as composições são em português. Com Com inspiração das poesia de João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna e José Lins Rego, o disco nos conduz através de uma narrativa de fim de mundo, utilizando como elementos o jagunço, latifundiário, questão agrária, ecologia, política e o imaginário e paisagem nordestina. ‘’Holoceno’’ é o disco que a gente ouve e confirma o argumento de que é sim possível fazer música desse gênero sem repetir fórmulas de sucesso das bandas do mesmo gênero, e conduzir uma obra com personalidade, criatividade com características brasileiras. B

Marina Sena, “De Primeira”

Passeando entre a cena underground e mainstream, Marina mescla uma sonoridade simples, cheia de ginga, sensual e agradável. Os fáceis refrãos chicletes, junto da musicalidade “careta”, como ela mesmo define, foram um dos maiores destaques do ano. Em época em que artistas buscam sempre inovar, com sonoridades difíceis e músicas cheias de firulas, o “básico” se destacou. Mesmo sofrendo ataques e bullying nas redes sociais, por sua arte e autenticidade, sua obra mostra o quanto seu talento e desejo de ser artista se sobressai sobre tudo isso. Seu disco de estreia estourou a bolha independente, sendo comentado nos maiores veículos musicais do país. Ela é o momento! BS

Taco de Golfe, “Memorandos”

Em seu álbum mais pesado até aqui, o duo sergipano traz linhas de guitarras engendradas e cortantes, que ganham vida própria na veia experimental e espontânea do disco. O lado mais alternativo do som grupo, puxado para o math rock, agora ganha um direcionamento mais sinistro e voluptuoso, saindo da estética mais minimalista característica do gênero. LG

Pabllo Vittar, “Batidão Tropical”

Sempre tendo muitas referências evidenciadas em seus trabalhos, Pabllo Vittar entregou nesse ano provavelmente seu trabalho mais completo. “Batidão Tropical” é o quarto disco da artista, que de certa forma foi uma homenagem e um mergulho nas suas raízes musicais entoadas pelo forró e tecnobrega dos anos 2000. Inclusive, a cantora trouxe algumas releituras de músicas dessa época, como as faixas “Zap Zum”, “Bang Bang” e “Ânsia”, sendo gravações anteriormente da banda Companhia do Calypso. Assim, vimos tais referências alcançarem novos rumos justamente com a transformação que tiveram nesse disco. Afinal, a essência dos ritmos foram mantidas e produzidas de forma primorosa ao estilo pop de Vittar. Técnica essa que se expandiu através de sua versão ainda em clima de “batidão” para o álbum de remixes de Lady Gaga, sendo “Fun Tonight”, uma das faixas mais irreverentes e elogiadas em meio a tantas outras. Então, a partir de Batidão Tropical, é nítido o surgimento de oportunidades para Pabllo crescer ainda mais. Podendo levar junto de sua popularidade a um cenário de maior visibilidade, os ritmos brasileiros que tanto a inspiraram um dia para atingir esse novo marco artístico de sua carreira. BT

Tasha & Tracie, “Diretoria”

As irmãs gêmeas abusam do rap, enquanto utilizam componentes do funk, R&B, grime e drill nos beats, alcançando lugares e pessoas fora da periferia. Além de cantar sobre temas que retratam suas vivências, elas falam de coisas que, ainda, chocam a sociedade por ser um tabu mulheres quando mulheres falam sobre, como autoestima e liberdade. Como se não bastasse a presença das duas, ainda contam com Febem, Cesrv, Devasto Prod e Mu540, que agregam demais nas rimas e produção. BS

Índio da Cuíca, “Malandro 5 Estrelas”

Um disco para deixar a cuíca chorar com o protagonismo que merece e que de quebra pode te fazer chorar também. Índio da Cuíca não é um novato no universo da música, tendo passado por palcos e gravações ao lado de outros nomes nacionais gigantes, mas aparece pela primeira vez com suas próprias composições no disco de estreia “Malandro 5 Estrelas”. Passeando por samba, bolero e suas pitadas de funk para além do diálogo com outros gêneros musicais, este disco bate na familiaridade sem abrir mão da projeção. Nos versos de “Cuíca Malandra / Cuíca Encantada”, ele canta como “a cuíca é boa, não posso parar de tocar”. Sorte a nossa de poder ouvir. ML

FBC & VHOOR, “Baile”

Nostálgico na medida certa, “Baile” é uma produção brilhante ao sintetizar não só um som, mas toda uma estética e experiência da cultura popular recente do nosso país. Caricato e perfumado, a construção com miami bass e funk carioca é reluzente, mas despretensiosa, puramente espontânea. As letras também trazem a linguagem mais devocional e rotineira do funk dos anos 2000, ambientando a pluralidade do mais popular estilo da nossa música atualmente. LG

Giovani Cidreira, “Nebulosa Baby”

Olha o Frank Ocean aí, genteeeee. Mentira. GIO é muito mais do que a ótima comparação que muitos fazem ao escutar os primeiros minutos de “Nebulosa Baby”. O álbum, além de uma porrada de feats ótimos, aponta para o passado e futuro, os altos e baixos, o amor e a raiva. Vale lembrar que o disco é também um projeto visual (que só expande e complementa o universo musical criado pelo artista), mesclando cenas poéticas e experimentais com a fusão entre MPB, R&B e hip hop das 13 faixas. AG

Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo – Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo

O disco de estreia da jovem banda paulistana, agitou demais as paredes da cena underground com esse álbum que de perda de tempo não tem nada. O disco conta com músicas vibrantes, para tirar o pé do chão e bater cabeça, pitadas de fritação, guitarras distorcidas e letras ousadas, como em “Debaixo do Pano”, ao mesmo tempo que traz calmaria em algumas músicas. A produção é assinada por Ana Frango Elétrico, e até lembra sua musicalidade, mas com a autenticidade da banda que passam liberdade artística e imprimem seu estilo de “bagunça organizada”. BS

George, “Tem Um Protesto Acontecendo”

Entre a urgência do presente e influências do passado, o carioca George estreia com um disco que passeia entre moods, cores, papos e sons. Enquanto o som se estende entre a ambientação de synths lo-fi e grooves suculentos, as letras acompanham desde devaneios do artista até reflexões sobre o conflito entre ancestralidade e gentrificação. LG

Textos por Augustto Guimarães, Bianca Tenório, Binha, Bruno Santos, Luan Gomes e Maria Luísa Rodrigues.

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Autor

Escrito por

Maria Luísa Rodrigues

mestranda em comunicação, midióloga de formação e jornalista de profissão. no Minuto Indie desde 2015 e em outros lugares nesse meio tempo.