“sei la” é o terceiro lançamento da ‘nova fase’ de brvnks, que em breve entrevista nos contou um pouco mais não só sobre o novo single, mas também sobre seu próximo álbum

Desde que alcançou destaque em 2016 com o EP Lanches, brvnks, o projeto de Bruna Guimarães, alcançou um espaço que estava relativamente vago no indie rock nacional, que é um som que resume as diversas facetas do indie mais caseiro e intimista, que passa pelo dream pop e esbarra no college rock dos anos 90. Seu disco de estreia, Morri de Raiva, lançado em 2019, veio na hora mais perfeita possível, quando o som das guitarras voltou a ter destaque no cenário alternativo através de novos nomes como Snail MailSoccer Mommy. Corta pra 2021, onde prestes a anunciar o seu segundo disco, ela lança em parceria com a banda paulistana raça a música “sei la”, uma faixa que dá continuidade ao som do primeiro disco, mas num direcionamento mais cadenciado e cheio de camadas. Aliás, não só o som mudou, esse é o segundo single do novo disco onde ela canta em português. O primeiro foi “as coisas mudam”, lançado em outubro. Antes dos dois singles em português, ela deu início a ‘nova fase’ com o single “happy together”, lançado em setembro.

Se em 2019 a Bruna colaborou em uma música da raça (“Bandidos e Divas”, do álbum Saúde), agora os papéis se invertem, porém em ambas as músicas a interação musical é completa, tanto em som como em letra. A marcante parede de guitarras presente em Morri de Raiva dá espaço a uma linha de guitarras mais espaçada, com alternâncias mais melódicas, remetendo a cena canadense de indie rock do começo dos anos 2000, de nomes como Broken Social SceneMetric. Mas a ‘nostalgia sonora’ para por aí, com a cozinha da música (baixo e bateria) tendo um realce suculento como todo bom indie pós-bedroom pop.

Bruna e Popoto em foto por Mayã Guimarães.

Diferente da euforia raivosa do disco de estreia, agora Bruna traz uma abordagem mais reflexiva sobre a passagem do tempo na vida do jovem adulto, com inspirações pessoais, mas com sua linguagem relacionável de sempre. Falando sobre isso e outras cositas más, ela deu nos deu mais detalhes sobre o novo disco; possíveis pretensões futuras para novos projetos; e sua relação com as redes sociais. Esse breve papo está logo abaixo, se liga só:

[Luan Gomes (Minuto Indie)]: Vejo muita gente comentando sobre suas músicas novas como “a nova fase da brvnks”. Pra você, esse novo álbum é realmente uma nova fase? Artística, pessoal, sei lá… Ou não, é só sua vontade espontânea de voltar a fazer música?

[Bruna Guimarães (brvnks)]: Acho que é uma nova fase. Completamente uma nova fase. Visando que tá tudo diferente, a banda inteira mudou… Eu também mudei. A vida mudou. A gente fez pela primeira vez as coisas com dois produtores diferentes (Gabriel Mielnik e Gaspar Pini), uma coisa que eu tive mais tato de fazer, que eu estava mais perto, guiando mais do que das outras vezes. E também tem o fato de que eu não tenho mais 16 anos. No Morri de Raiva ainda tinham músicas muitos antigas, da minha fase adolescente. Agora eu tenho 26, e aí os assuntos também mudaram… E o disco em si ele é meio que uma história de amadurecimento, de ir se entendendo e ir se resolvendo sabe? Então acho que os assuntos antes eram muito mais de confusão, de raiva, de ‘não aguento mais’ e ‘tô cansada’, e agora é mais uma coisa de resolução talvez. Mas não só isso né, não só o fato das letras e dos assuntos serem diferentes, mas a sonoridade também, eu acho que ela tá mais bem pensada, ela teve um pouco mais de tato meu, um pouco mais de cuidado, um pouco mais de tempo. Então acho que isso faz toda diferença pra ser uma ‘nova fase’.

Luan: Muito legal ver o Popoto em um som seu. Como essa música foi tomando forma para ser um feat? Vocês já vinham trabalhando nela há um tempo ou é algo mais recente?

brvnks: Então, na verdade, esse feat com o Popoto, com a raça, era pra ser na “as coisas mudam”, só que a gente tinha prazo pra entregar… Enfim né gente, pandemia ficou tudo difícil. Então a gente tinha combinado vários feats. Era pra feat com o Terno Rei, com a Ana Frango Elétrico, mas assim, por causa de prazo, por causa de correria, a gente todo mundo longe não tendo como fazer as coisas direito, tem coisa que não saiu. Essa música (“sei la”) foi uma ideia primeiramente minha e dos produtores. Eu mandei as referências, que foi bastante Broken Social Scene, Beulah, um indiezinho mais antigo com alguns elementos diferentes. E a gente achou que super caberia o Popoto. ‘Não rolou na “as coisas mudam” vamos pensar em alguma que tem mais a ver’, aí a gente pensou nessa. A base da música já estava feita, aí ele foi pro estúdio com a gente, a gente compôs junto, pensamos em algumas coisas juntos, já tinha alguma letra ali mas ele ajudou a completar, ele fez uma parte dele aí a gente fez uma mescla ali. Melodia também, a gente meio que foi construindo junto as melodias e as letras. E soou super bem.

Luan: Uma das coisas mais legais do “Morri de Raiva” é que mesmo com músicas mais pessoais, também tem momentos que você fala sobre coisas que são relacionáveis, que todo mundo passa. Nessas novas músicas, teve alguma situação ‘aleatória’ que te inspirou a compor? Tipo algo que você achou que não viraria música mas virou.

brvnks: Eu acho que talvez o disco inteiro seja relacionável. Porque a gente tá falando de um caminho de vida adulta, de se entender. Eu acho que provavelmente todo mundo vai passar por esse processo também. Então assim, na “happy together” eu tô falando um pouco de estar cometendo os mesmos erros, de estar um pouco para trás ainda… E em “as coisas mudam” eu já estou entendendo que de fato as coisas estão mudando (risos) e eu estou ali e tá tudo bem. E “sei la” é um pouco mais de abertura de você enxergar aonde você tá, o que você precisa fazer, o que você quer fazer. Então não só essa mas, tem mais um single, e depois tem o disco… E tem muitas músicas que falam sobre coisas que também são pessoais mas ao mesmo tempo acho que todo mundo passa por essas coisas. Acho que assim, desde relacionamentos ruins, coisa mais clássica do mundo escrever música sobre isso (risos), mas também dessa situação de ter me mudado pra São Paulo, de ter conhecido, me envolvido, e feito amizade e ter sido parte de um rolê que eu percebi que não é pra mim, que não me faz bem… As pessoas aqui são bem diferentes. Tenho meus problemas com Goiânia também(risos) , escrevi bastante sobre isso. Mas todos lugares tem seus problemas e aí acho que isso também chega numa resolução de achar o seu lugar e ficar bem com isso, e entender o que você quer pra sua vida e tudo bem.

Luan: Ao falar sobre influências, você sempre cita alguns nomes de r&b alternativo tipo o Frank Ocean e Toro Y Moi. Esse é um tipo de som que você pensa em experimentar no futuro? Ou fica mais como influência mesmo?

brvnks: Eu gostaria muito de fazer algo parecido. Mesmo! Ou então cara… eu tenho muita vontade de fazer um projeto drum&bass assim, ou uma coisa bem eletrônica, meio Peggy Gou assim… Não sei. Eu acho que por enquanto a influência do Frank Ocean e o Toro Y Moi é muito pequena né, acaba sendo uma coisa ou outra de melodia, ou de letra, mas nada muito virado de fato para o som que eles fazem, acho que não cabe tanto também sair de uma coisa e virar completamente outra. Mas eu penso bastante de mais pra frente fazer outros projetos que não tenham nada a ver com brvnks, e que dê pra eu pirar no que eu quiser… Focar mais em produzir coisas, e acho que super seria o rolê. Ia ser bem legal.

Luan: Pra fechar: O que te preocupa por agora nessa ‘nova fase’? Volta dos shows? Identidade visual do novo projeto? Muitas diferenças em relação à quando você lançou o “Morri de Raiva”?

brvnks: O que me preocupa na nova fase? A identidade visual não me preocupa nem um pouco porque eu tô com uma equipe muito boa, eu tenho uma designer muito boa que é a Pietra Costa. A gente se dá muito bem, a gente tá pensando tudo junto e tá rolando super bem. A nossa fotógrafa tbm, Mayã (Guimarães), que enfim… Tudo que eu quero fazer eu tô fazendo muito bem. Mas o show me preocupa um pouco. Um pouco não, na verdade me preocupa muito porque já faz um certo tempo que eu entendi que eu gosto muito de fazer a música, eu gosto muito do processo, de criar, escrever, desabafar, cantar. Mas eu não gosto de quase nada que vem junto. Então assim, eu não curto muito fazer show, eu não curto muito lidar com as pessoas na internet, ou então gravar clipe e por a minha cara ali… Porque a gente tá falando de um coisa que é meu rosto e meu nome. Até bizarro falar isso mas hoje eu me considero uma pessoa reservada, e eu me sinto um pouco exposta demais fazendo essas coisas. Então eu me preocupo em me expor de novo, porque eu sinto que eu tive muita paz nesse momento de ‘hiato’, então acho que eu vou tomar bastante cuidado com isso. E muito provavelmente não vai ser como era antes também né, de fazer um monte de show, um monte de coisa o tempo todo… Acho que eu estou num momento muito mais de escolher a dedo as coisas que valem a pena.

Eu estou muito focada na minha carreira de redatora, porque a banda não é meu trabalho, e eu quero continuar com a banda como uma coisa legal de fazer, e eu não quero que isso se torne uma coisa ruim. Então acho que talvez a exposição e ter que voltar a fazer tudo que a gente fazia antes, isso me preocupa, porque eu realmente não quero fazer. Mas eu acho que é isso, a decisão é toda minha né? Tipo, querendo ou não, a banda é minha. Sou eu. Essa é a parte boa, de eu ter controle sobre essas coisas. então eu posso dizer ‘quero’ ou ‘não quero’ fazer isso.

Ouça agora “sei lá” na sua plataforma digital favorita

capa de “sei lá”, novo single de brvnks feat. raça | Pintura de Ana Julia Dotto

Ficha Técnica:

Composição: Bruna Gumarães, Gabriel Mielnik, Gaspar Pini e Popoto Martins

Intérpretes: Brvnks & Popoto Martins Ferreira
Guitarras, baixo, bateria, synths e keys: Gabriel Mielnik
Trompete e trombone: Will Bone

Produção e mixagem: Gabriel Mielnik
Masterização: Joe LaPorta

 

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Autor

  • Luan Gomes

    Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"

Escrito por

Luan Gomes

Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"