capa do disco Swordfishtrombones

Oitavo disco de Tom Waits, Swordfishtrombones tem uma vibe “música de doido” e é ótimo para curtir e dançar sem medo de julgamentos

Certamente eu vi o Tom Waits, antes de ouvir o Tom Waits e sem saber que era o Tom Waits. Isso porque o cantor também tem passagens pelo cinema. O que me ocorreu era uma cena dele com uma camisa de força em uma solitária em algum filme aleatório. Ao dar uma “googlada”, descobri que se trata de uma participação dele em Drácula de Bram Stoker (1992), um clássico do terror do diretor Francis Ford Coppola. Mas, também descobri que ele estava num filme que via quando criança na Sessão da Tarde com uma equipe de “super-heróis”, muito antes de Vingadores pensar em existir, chamado Heróis Muito Loucos (1999). Um filme bem esquisito (como o próprio título sugere) cujo as habilidades dos heróis envolvem garfos, pá de construção civil e até uma bola de boliche com um crânio dentro. Bem propício para uma participação do cantor. Vez ou outra ele participa de produções mais cult como em Coffee and Cigarettes: Somewhere in California (1993) que ele troca uma ideia com Iggy Pop em uma lanchonete.

Tom Waits também tem participações no cinema
Iggy Pop e Tom Waits em Coffee and Cigarettes: Somewhere in California (1993).

Mas o assunto aqui envolve o trabalho principal de Tom: a música. Mais precisamente o disco Swordfishtrombones (1983). Em busca de alguma coisa nova para ouvir, acabei por abrir o clássico livro 1001 Discos para Ouvir Antes de Morrer e me deparei com essa obra que no momento em que escrevo esse texto eu estou viciado. É o tipo de disco que se meu pai estivesse perto de mim enquanto eu ouvia iria dizer “que loucura é essa? ”. Isso porque Tom Waits, caso você nunca tenha ouvido nada dele, tem essa vibe mesmo de “música de doido”. Para completar, ainda é dono de uma voz típica de fumante beberrão.

A começar pela voz rouca e seu modo de cantar, que é fácil de imaginá-lo num bar cantando uma música aleatória que veio à sua cabeça. Complementando com uma mistura de instrumentos “tradicionais” como piano e baixo, junto com sons de panelas, garrafas e aqueles objetos aleatórios que quando a gente está pra fazer mudança descobre um som interessante quando eles se chocam dentro das caixas. O disco então se estende como uma miscelânea de sons e sentimentos que pegam a gente de surpresa a cada nova faixa.  É um disco muito visual em que mesmo sem saber inglês, é possível imaginar como trilha de algum filme.

“Resumindo a história, a carreira de Tom Waits divide-se claramente em duas partes: antes de Swordfishtrombones e depois. Até o próprio Waits, um homem que gosta de coisas nebulosas, reconhece isso. Em Swordfishtrombones, Waits começa a afastar-se daquilo que mais tarde classificaria como “o meu período de pseudojazz louge” e entrega-se ao choque do novo numa forma mais próxima de Brecht e Weill, Captain Beefheart e Harry Partch. Ter conhecido a sua esposa, Katleen Brennan, foi a inspiração por trás disso tudo. ” Ross Fortune, sobre Swordfishtrombones em 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer.

A música que me chamou atenção de verdade (e que me vi dançando aleatoriamente pela casa quando ouvi a primeira vez) foi 16 Shells From a Thirty-Ought-Six. Ela tem uma vibe bem festeira mesmo e mistura os instrumentos tradicionais com barulhos de panela, conforme dito anteriormente. Fui ver a tradução da letra e estava tão psicodélica que fiquei em dúvida se estava correta. Parece que sim.

16 Shells From a Thirty-Ought-Six me transportou diretamente para um boteco copo sujo americano, comigo dançando desengonçadamente junto com Tom que tem um cigarro em uma das mãos e um taco de sinuca na outra, esperando sua vez de jogar. Provavelmente Bukowski estava numa mesa perto, rindo da situação com um copo de alguma bebida na mão.

Soldier’s Things foi o oposto disso. Eu já conhecia a canção do filme Soldado Anônimo (2005) e ela ilustra uma cena bem triste no fim do filme, portanto só conseguia lembrar dela. Seu ritmo lento e guiado por um piano, conta a história de um soldado que aparentemente está vendendo suas coisas num bazar de rua, daqueles típicos de filmes norte-americanos mesmo. As duas canções juntas, mostram o quão montanha russa é Swordfishtrombones.

A canção Frank ‘s Wild Years seria base para um espetáculo musical do mesmo nome produzido pelo próprio Waits e sua esposa Brennan. A música que se parece mais com um relato, conta a história de um sujeito que um dia resolve colocar fogo na própria casa e ficar do outro lado da rua rindo e observando o estrago. No ano seguinte, Frank’s Wild Years também daria nome ao próximo disco sucessor de Swordfishtrombones.

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