Cantor indie carioca lança seu disco de estreia “A Dobra no Espaço-Tempo”

O gostinho da surpresa positiva que fica depois de ouvir o novo disco do cantor carioca Matheus Who pode fazer sua semana valer a pena, principalmente se você estiver disposto a sentir saudade de ser jovem – mesmo que você seja em teoria, porém com prática temporariamente suspensa. Apesar de “A Dobra no Espaço-Tempo” ser seu disco de estreia, Matheus é uma figura conhecida dos indies que frequentam a internet brasileira nos últimos anos. O artista ganhou projeção dentro das redes sociais ainda como vocalista da banda Carmen, mas carregou fãs e conquistou novos em seu projeto solo que continuava nas vias do indie rock e bedroom pop que estourava lá fora e aqui.  Inevitavelmente, com a atenção de fãs, também vêm aqueles que não curtem tanto seu trabalho. O disco “A Dobra no Espaço-Tempo” é uma obra com potencial de conversão, com caminhos que podem chegar a antigos ouvintes, sejam esses na base do amor ou do ódio, mas também conquistar aqueles que ainda não deram uma chance ao seu trabalho. 

Capa de “A Dobra no Espaço-Tempo”. Foto de João Martins.

O disco é intimista, como esperado de um trabalho do artista que segue a linha de uma produção solitária dentro do próprio quarto. Mas também carrega uma leveza que só pode existir pelas memórias do convívio em coletivo, da oportunidade de ter experimentado um pouco como é trabalhar com outras pessoas num estúdio em Niterói, no Rio de Janeiro. Em macro ou micro circunstâncias, o álbum “A Dobra no Espaço-Tempo” narra histórias que soam simples, principalmente quando não estão acontecendo com a gente. 

Suas composições em português são uma novidade, já que até o ano passado eram escritas majoritariamente em inglês – e funcionam bem. Algumas letras podem te fazer revirar o olho, mas tem momentos que podem virar um grande “meu deus, eu” ou “meu deus, fulano” ou ainda, como diria o rapper Logic em um dos seus momentos meio tensos, um “who can relate?”. Dos singles prévios, “A Gente Vai Dançar”, parceria com Sofi Frozza, é o destaque para festa em tempos de isolamento, só você mesmo. Mas também é possível perder umas referências, como é o caso de uma menção à Laura Seraphim. Sabe? A comediante que apareceu pelo TikTok é mencionada na faixa “drama!”. 

Existem momentos em que é possível se dispersar, como na breve sequência de “Festa” até “Culpa” e em algumas faixas mais para o começo do álbum. Mas depois de “Kaori” é só alegria, mesmo na tristeza. A faixa é uma declaração e leva o nome da namorada do cantor, contando com uma gravação de sua voz no começo narrando como “Ser artista é difícil. Mas, ao mesmo tempo, por que a gente escolhe ser artista?”. Vai saber, Kaori. Existe um certo brilho em ouvir histórias de um romance que começou quando eles se conheceram no TikTok e que vive à distância. Essa é provavelmente a melhor do disco, com um baixo gostosinho que rouba a cena. 

As faixas que procedem “Kaori” entram bem naquela lógica das circunstâncias reconhecíveis. Já pensou em morar em Nova Iorque, mas acabou percebendo que aqui tem coisa suficiente? Pois bem, a faixa “Nova Iorque” tá aí. Viveu aquele relacionamento que não rolava de jeito nenhum? A faixa-título “A Dobra no Espaço-Tempo” pode ajudar. Lembrou de como era poder sair sem viver no caos atual, festa na casa dos amigos etc? Temos “Acontece”, a mais triste do álbum.

Caso você seja uma das pessoas que não ligam para composições e quer saber se o som vai funcionar para você ou não, eis o que é possível dizer: o indie pop ensolarado desse disco pode fazer sentido se você curte bedroom pop – daqueles mais pro pop que dream pop – e artistas como Clairo, Gab Ferreira, Wallows, Lauv, Remi Wolf, Dominic Fike e Terno Rei.

Pode ser um disco clichê e até inocente em certos momentos, mas quem não é de vez em quando? Tem dias que a gente precisa de um som mais familiar, de histórias reconhecíveis, sem surpresas chocantes mas que terminam no espectro positivo mesmo assim. É um disco que faz sentir em vários momentos e que dá pra ver que ele sentiu fazendo também. Com certeza é um bom passo para a carreira do Matheus. Então, se bateu uma vontade de um indie 2016 com as circunstâncias de 2021, vale dar o play. Quem sabe você não consegue se perder um pouco por pelo menos meia hora?

“A Dobra no Espaço-Tempo” (2021)
Ficha técnica:

Todas as faixas escritas e produzidas por Matheus Who;
Exceto “Inconsequente”, composta em parceria com Gabriel Rangel;
Participação de Sofi Frozza em “A Gente Vai Dançar”.
Baterias adicionais por Vinicius Pitanga nas faixas 01, 05 e 09;
Backing vocals adicionais por Cristiano Bastos nas faixas 04 e 05;
Guitarras adicionais por Leonardo Grandelle na faixa 04;
Contra-baixo adicional por Lucas Serra na faixa 08;
Gravações: homestúdio de Matheus Who no Rio de Janeiro/RJ e Estúdio Mata em Niterói/RJ.
Baterias: Estúdio do Vini, em Niterói/RJ.
Mix e Master: Matheus Who.

Ouça o disco!

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Autor

Escrito por

Maria Luísa Rodrigues

mestranda em comunicação, midióloga de formação e jornalista de profissão. no Minuto Indie desde 2015 e em outros lugares nesse meio tempo.