Com seu novo álbum “Anga” anunciado para 27  de agosto, o artista lança o terceiro single do trabalho

 

Nelson D é um cara que tem me chamado atenção nesses últimos tempos. Admito que já tinha visto algo dele em algum momento e lembro de não ter batido muito naquela época.

Mas, as coisas mudam, artistas amadurecem, aprendem muito mais, fazem trabalhos melhores e com conceitos sensacionais. (Que é o caso de hoje).

Quem me conhece sabe que eu sou bem chato em questão de curtir um som e realmente falar do trampo aqui no MI, a parada tem que realmente me impactar, chamar atenção, eu conseguir enxergar algo de diferente sabe?
E foi o que o Nelson D fez comigo quando eu ouvi seu single “Nossa Flecha” que já vem ali mostrando esse caminho futurístico, eletrônico, indie, melancólico, ativista e pop que deve vir em seu novo trabalho em breve.

E pirei muito nesse single, que foi seu segundo lançamento.

Tá, mas quem é o Nelson D?

De origem indígena, Nelson foi adotado ainda pequeno e criado na Itália e traz nos traços da sua sonoridade um eco de suas raízes mais ancestrais misturado ao som de instrumentos orgânicos e eletrônicos.

Novidade no casting da Balaclava Records, o cantor, compositor, instrumentista e produtor começa a mostrar seus primeiros passos do novo trabalho “Anga” que será lançado no dia 27 de agosto pelo selo paulistano. “Algo em Processo” foi o primeiro single lançado que também vale a pena você se ligar.

 

E agora ele chega pra lançar seu terceiro e último single “Ruka”, antes de sair seu novo álbum “Anga”  (“Alma” em Nheengatú) agora no final de agosto.

A faixa é uma música instrumental em que Nelson usa a própria voz como um instrumento, e isso me lembra bastante Sigur Rós (que sou muito fã), em que o vocalista faz da voz um instrumento e a parada é de outro planeta! Vi um show deles aqui em SP e quase chorei (saudades shows). Fora que essa pegada eletrônica, mais ambiental/experimental/futuristimo de “Ruka” me lembrou de um cara que gosto muito que é o Daniel Kowalski que já falamos e indicamos aqui no MI. 

Voltando a falar do Nelson D, aqui ele comenta um pouco mais sobre seu trabalho:

“O meu jeito de fazer música é muito audiovisual. As vezes é a vontade de musicalizar lembranças ou lugares que vivenciei.  A parte instrumental de muitas das minhas músicas são uma tentativa de criar uma trilha musical para essa geografia pessoal. Ruka pra mim representa as cores da praia de Finale Ligure no cair do sol, mas também o verde da mata. Representa minha adolescência influenciada pela música anos 90 e também a minha condição atual de indígena que corre atrás da própria ancestralidade.” 

Inspirado pelo rock dos anos 90, ele explora o infinito universo sonoro do futurismo indígena. Chocalhos, maracas e lamentos se misturam num rock eletrônico quase dream pop, sem perder a ligação com a territorialidade ancestral e amazonense.

Essa parte aqui de cima é do release e ela resume muito bem o seu trabalho. Mas o que mais me impactou é essa maneira de conseguir conectar suas raízes com esse futurismo eletrônico sabe?

Tipo, como conseguir fazer uma música minimamente boa ao seus olhos, público, selo, assessoria, mídia, indústria e que consiga encaixar essas questões. Como fazer um som que se encaixe nessa “indústria padrão”, ao mesmo tempo fazer com que suas raízes não fossem esquecidas, e deixá-las em uma certa evidência e fazer com que elas não soassem um som “diferente” aos olhos de toda essa galera que ainda (espero eu) esteja em desconstrução musical.

A gente vive num mundo muito quadrado e conservador ainda, e ver artistas como o Nelson D, além de pessoas conseguindo notar seu trampo, é ver que de certa forma talvez a gente esteja cansado dessa formula barata de fazer música ou um “padrão musical” que sei lá quem criou e muita gente acha que nós temos que seguir. Tem que saber jogar o jogo e o Nelson D soube jogar muito bem.

 

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