Foi muita espera pra voltar aos palcos. Tanto tempo que um álbum novo foi lançado. Agora em março, a banda paulistana Terno Rei lançou seu quarto álbum de estúdio e trouxe uma chuva de sentimentos nostálgicos para os fãs. Gêmeos tem essa atmosfera anos 2000, fala sobre amizade e arrisca uma combinação de sonoridades que funciona muito bem como um todo.

A banda aumentou seu público consideravelmente desde o álbum Violeta e não tem como não considerá-la uma das melhores bandas alternativas do país (pessoalmente, a melhor na minha opinião rs). Durante meus poucos dias em São Paulo pude ouvir no metrô, mais de uma vez, pessoas comentando sobre Terno Rei. Jovens indicando para os amigos o som da banda, falando sobre as músicas novas, e convidando para irem ao show do Lollapalooza que ia rolar no sábado, dia 26. Ouvi todas essas conversas com um sorriso por baixo da máscara. Dias antes os meninos da banda também comentaram comigo pessoalmente sobre como é legal o reconhecimento do seu trabalho, quando a família manda mensagem contando que ouviu a música na rádio. Eles, obviamente, também disseram isso com um sorriso no rosto.

MI: Gêmeos tinha tudo pra dar certo desde o primeiro single. Afinal vocês abordaram temas que são muito próximos do público em geral: nostalgia e amizade. Ao mesmo tempo o lançamento coincidiu, ou foi uma escolha bem feita, com a volta dos shows aqui no Brasil, né?

Loobas: Foi uma coincidência pensada, porque a gente estava com o disco pronto há alguns meses. A gente estava adiando pra ver qual seria a melhor data pra lançar, com clipe, tudo bem direitinho. Não sei se fazia sentido lançar sem poder fazer show. 

Greg: Na verdade, o processo todo de mixagem, masterização, até ficar totalmente pronto, bateu quase com o “final” da pandemia. Dezembro que ficou realmente pronto. 

MI: Vocês terminaram o álbum faz alguns meses. De lá até o lançamento, agora em março, houve vontade de substituir alguma faixa? Sei que a ordem vocês mudaram pouco tempo antes do lançamento.

Ale: A gente queria ter outra música pós-punk no disco, uma música com o beat mais acelerado. Inclusive, “Brutal” nós temos outra versão dela bem “inglesa”, vamos dizer assim, mas preferimos manter a versão original, mais soft. 

Greg: Aconteceu também da faixa “Isabella” quase não entrar no disco, ficou na geladeira por um tempo. Mas com o processo de mixagem ela foi crescendo e teve seu lugar no disco. A gente gosta bastante dela.

MI: Já que falaram dela, ao ouvir “Isabella” a sensação que vocês deixaram é de show, todo mundo cantando junto. E muitas bandas pensam, ainda no momento de criação, como elas vão  funcionar especificamente nos palcos. Vocês também pensam nisso? Tem alguma faixa em Gêmeos, além de Isabella, que foi feita nesse sentido?

Bruno: A gente não pensa nisso, mas a gente fala “putz essa aqui vai ficar legal ao vivo”. Mas não produzimos pensando no ao vivo. É mais naturalmente. 

Greg: Quando a gente estava fazendo “Difícil” que tem um bpm mais acelerado, pensamos que funcionaria bem ao vivo, pra galera agitar. Tem coisas que a gente vai arranjando no estúdio, mas que adaptamos na hora do show. Mas é legal fazer isso. 

MI: A estética dos anos 2000 é bem marcante, tanto por vocês já curtirem as músicas desse período, mas também por esse revival que está rolando na música, moda etc. Acham que independente dessa onda, o álbum teria rumado pra esse caminho?

Bruno: Acho que sempre tem uma influência como um todo, é uma coisa que não tem como fugir. A gente trabalha com moda, estamos sempre antenados com o que está acontecendo. Então, apesar da gente gostar e ser uma vontade da banda de algo nessa pegada, juntou uma coisa com a outra e acabou rolando. Formou o megazord. 

Greg: Essa estética anos 2000 não está no disco inteiro, mas tem sim algumas músicas pontuais que a gente mirou nesses anos mesmo.

Ale: Tem a questão do desafio também, né? Um desafio técnico interessante de buscar nas faixas. Mesmo “Isabella” que não é anos 2000, também tinha isso de fazer uma música mais pensada, orquestrada e isso rolou bem.  

MI: Vocês tem algumas sonoridades diferentes nesse álbum e mesmo assim ele consegue combinar, foi difícil esse processo de fazer o que vocês queriam mas que funcionasse como um todo? 

Greg: Foi dificinho. Até a fase das mixagens a gente ainda achava que ele não estava conversando 100%. Até a questão de não ter escolhido a ordem ainda e as músicas não estarem completamente mixadas, isso muda muito pra gente. Só sentimos o álbum a primeira vez que fizemos a ordem com todas mixadas. 

MI: No processo do álbum vocês fizeram muitas músicas pra chegar nas escolhidas. Foram 30! Existe possibilidade de algumas serem lançadas depois ou é algo que fez sentido só naquele momento?

Greg: É. Não foram 30 músicas fechadas, mas foram mais de 30 ideias. Tem coisas que a gente vai revisitar sim. Repaginar e dar uma atenção. 

Ale: Tem umas seis bem boas. 

Loobas: “Mantra” e “Mercado” pra mim são duas que saíram que eu fiquei triste. Quem sabe daqui pro final do ano. 

MI: Olha só, já deixou promessas aqui!

Loobas: Promessas, promessas… 

MI: É inegável que o Violeta trouxe uma grande expectativa para o trabalho seguinte, principalmente por ter conseguido conquistar um público bem maior desde 2019. Como vocês equilibraram essa pressão para o quarto álbum? 

Loobas: Desde o começo a gente fez o que queríamos. Só tomamos mais cuidado. A pressão de ter feito um disco que foi bem recebido fez com que a gente tivesse mais cuidado em todas as nossas escolhas. Desde os produtores, arranjos, timbres, a pré-produção que foi bem mais longa. A escolha de ter 30 dias, chegar em 15 pra gravar 12, foi tudo mais minucioso. O Violeta foi mais tranquilo de gravar porque a gente só fez as músicas e foi curtindo produzir. O que mudou mesmo foi esse cuidado maior, mas não tivemos nada pensando se iam gostar ou não. 

MI: Eu vi o Lucas Stegmann  falando sobre o processo de gravação do clipe de “Dias da Juventude” e dá pra perceber como houve um cuidado muito especial com essa produção. Vocês estavam bem envolvidos, teve o pai do Sad participando, a galera que o Greg conhecia pra atuar, amigo, sendo dublê do Loobas, tendo que pintar cabelo. Como foi pra vocês esse clipe? Tem planos para mais clipes assim pra esse disco, além do clipe de Difícil?

Greg: Pelo menos mais uns dois aí a gente deve fazer com certeza, só falta escolher quais.

MI: Vai seguir uma historinha ou será independente? 

Greg: Ah independente. O que cada clipe pedir, dependendo do diretor. Ele pode vir com uma ideia que a gente gosta e pode adaptar. As vezes não parte tudo da gente. Uma hora seca a fonte (risos). 

MI: A capa teve fotografia de Fernando Mendes e o Greg foi responsável pela estética dessa era, né? Como foi essa escolha, já que o Violeta teve uma capa bem emblemática, hypou bastante.

Greg: Eu fiquei mais na direção dessa vez. Eu peguei um design do Rio de Janeiro pra me ajudar, o Felipe Araújo, que é um moleque bom, bem mais novo. Ele fez a coloração da foto, bem saturada, um azul e verde bem presente. O lettering ele fez também numa pegada minimalista. E no lance da foto fizemos vários testes para entender o que queríamos. 

MI: Desde o início a ideia era que vocês estivessem na capa? 

Greg: Não. A gente foi entendo isso no meio do processo. A primeira ideia era ter o pessoal do elenco do clipe de “Dias da Juventude”. Fizemos o ensaio com eles, ficou legal, mas não emocionou. Aí no meio do processo pensamos “poh, o quarto disco e nunca aparecemos na capa”, acho que agora é a hora. Nesse disco a gente tá aparecendo muito em tudo. Que é uma coisa que, pelo menos eu, acho que a galera gosta. Os fãs gostam de ver. Eu gosto de ver os artistas, tipo clipe sem a banda eu acho legal, mas falta algo, acho mais interessante ver o artista. 

MI: Vocês andam postando em TikTok, curiosidades para os fãs, sempre contando novidades no twitter, etc. Como é esse contato com os fãs?


Loobas: A gente sempre foi próximo da galera, de trocar ideia e responder. Meio que continua o que a gente já vinha fazendo, sendo sinceros e trocando ideia pra saber o que eles estão pensando, pedir sugestão de setlist. 

Ale: Enviar cifra pelo direct do insta. 

Greg: Nem fala isso!  

Bruno: Mas o recado tá dado, é só pedir pro Greg!

Greg: Eu não sei de cifras! Isso que é foda! Me perguntam e eu “não sei, foi mal” (risos). 

MI: Sei que é uma pergunta bem clichê, mas com tanta nostalgia envolvida nessa nova era, o que vocês diriam pra “os vocês” de anos atrás, pré-lançamento do primeiro álbum?

Greg: Eu diria que eu estava fazendo a coisa certa. Acredita. 

Bruno: Se você gosta e ama de verdade, porque pra ter banda tem que amar, não tem jeito.

Loobas: Antes de tocar, eu falaria pra mim mesmo, não acredita nessas coisas de “ah o empresário de tal pessoa vai te colocar em tal lugar, vai te levar pro Faustão”. Você começa a criar uma coisa na cabeça. Então esquece isso e vai fazendo som. 

Ale: No final, é gravar som e fazer show. Isso é o essencial, o que deve ser feito. 

Bruno: E ter muita paciência, pois as coisas acontecem devagar. Tipo, você não pode se frustrar. Tem artista que lança um disco, vê que não rolou pra caramba, fica puto e desiste. O lance é assim, água mole em pedra dura, construindo uma história. Querendo ou não estamos há 12 anos juntos, imagina se tivesse pouca paciência? 

MI: E sobre o futuro? Já conseguem pensar em algo, fora soltar singles no final do ano? 

Loobas: Fazer show pra caramba. Rodar o Brasil inteiro, ir nos lugares que a gente não foi, tentar outras datas. Salvador e Manaus são lugares que a galera pede há muito tempo. 

MI: Vão pra Recife também, gente! 

Todos: Vamos! 

MI: E aí, Ale. Achou os sinais? 

Ale: Achei, achei! Estão aí, em toda parte…

Sobre o show no Lolla, em plena 13h, todos estavam ali cantando desde os singles antigos como as músicas mais novas. Se era essa a resposta que o quarteto estava esperando, conseguiram. Os refrões foram entoados com muita vontade. E olha, fez um dia ensolarado. Um dia lindo especialmente para eles.

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Autor

  • Laís Jardim

    Pernambucana, no canal do Minuto Indie desde 2015 como roteirista, mas sendo fã de música desde sempre. Divide seu tempo como nutricionista, mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental e criando coisas pela internet, como o quadro Lailist e o podcast Clube do Bolo.

Escrito por

Laís Jardim

Pernambucana, no canal do Minuto Indie desde 2015 como roteirista, mas sendo fã de música desde sempre. Divide seu tempo como nutricionista, mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental e criando coisas pela internet, como o quadro Lailist e o podcast Clube do Bolo.