Conversamos com a Dry Cleaning, uma banda que tem uma percepção interessante sobre o que é ser punk, bandas novas, e a capa intrigante de Stumpwork

Uma das bandas mais aguardadas da escalação do C6 Fest, a Dry Cleaning tocou no primeiro dia do festival em São Paulo, no Ibirapuera. Durante a passagem da banda no país, conseguimos entrevistá-los. Apesar do pouco de mistério em volta de como seria a performance da banda com seu som post-punk e seu vocal spokenword, os ingleses mostraram ter domínio do seu som oblíquo em cima do palco. Após estrearem em 2021 com o álbum New Long Leg, no ano passado eles confirmaram as expectativas criadas em torno da banda, ao lançar Stumpwork, álbum que amplia o seu som numa complexidade mais art-tock.

Florence Shaw nos vocais, Tom Dowse na guitarra, Lewis Maynard no baixo e Nick Buxton na bateria, a Dry Cleaning além de ser ótima no estúdio e nos palcos, também tem uma percepção interessante sobre o que é ser punk, bandas novas, e a capa intrigante de Stumpwork.  

“muito do que a gente faz, talvez não intencionalmente, é sobre contrapor, sobreposições, ou simplesmente contrastar as coisas. E eu acho que os contrastes às vezes é o mais interessante”

No dia do show, com o festival rolando, conseguimos trocar perguntas e respostas com os quatro londrinos através da Sophia Rocco, da Formusic, a qual agradecemos muito por ter sido nossa voz nessa entrevista. Confira:

 

Minuto Indie: Algo legal no som de vocês é o vocal, nessa pegada spoken word. Outras bandas da cena recente de post-punk também tem essa abordagem nos vocais, como o Black Midi, por exemplo. Acham que esse jeito de cantar deixa o som mais interessante?

 

Florence Shaw: hm, funciona bem…

 

Nick Buxton: Também atrapalha um pouco. O que na verdade torna interessante talvez. Então eu acho que atrapalha tanto que funciona bem. Mas muito do que a gente faz, talvez não intencionalmente, é sobre contrapor, sobreposições, ou simplesmente contrastar as coisas. E eu acho que os contrastes às vezes é o mais interessante.

 

MI: Muito legal também essa veia punk na sonoridade da banda. Pra vocês, o que é ser punk atualmente?

 

Tom Dowse: Punk é uma dessas coisas que é algo muito amplo. É o que você quiser que seja. Acho que pra mim significa um pensamento independente. Tipo, se você quiser algo criativo, você tem que fazer acontecer. Mas isso poderia ser qualquer coisa, sabe… Desde não saber tocar um instrumento e simplesmente tocar um, ou só “faça você mesmo”.

 

MI: A capa do último disco da banda é meio intrigante, vocês que fizeram? Como foi o processo? E enfim, alguns gostaram, outros acharam estranho. O que vocês acharam das reações?

 

Florence Shaw: Não fomos nós que fizemos. Quem fez foi um artista chamado Rottingdean Bazaar (e mais alguns), e demorou um pouquinho (risos). Eles deram muita atenção aos detalhes. Eles são muito, muito atentos para as coisas estarem exatamente certas. Cores, composição e coisas assim. Então imagine que eles provavelmente trabalharam o tempo todo nisso. É assim que eles são.

 

Nick Buxton: E eles foram nomeados para um prêmio renomado de design gráfico por isso (o Best Art Vinyl. A capa de Stumpwork ficou em sétimo, enquanto o ganhador foi Ants From Up There, do Black Country, New Road)

 

Tom Dowse: Mas eles nos mostraram o modelo, e depois fizeram alguns ajustes antes de fazer a arte final. Sobre as reações, acho bom que foi assim. Sabe, é como quando nós vimos, todos gostamos e vimos várias camadas na arte, por diversas razões. A reação estar sendo tão diferente é uma coisa boa. Você não quer lançar uma capa e ver todos reagindo à ela da mesma forma. Eu gosto disso.

 

MI: Vimos que o Nick tem Jorge Ben em uma das suas playlists no Spotify. Vocês gostam de algum outro artista brasileiro? 

 

Florence Shaw: Eu ia citar exatamente ele (Jorge Ben).

 

Nick Buxton: Me deu um branco agora. Mas basicamente eu e Lewis (Maynard; baixista) já estivemos no Brasil antes, há muito tempo, e quando chegamos aqui, nosso amigo que estava produzindo os shows, ele nos fez uma playlist enorme com seus artistas brasileiros favoritos.

 

Então, quero dizer, eu ouço muito dessas coisas. Tem muito Caetano Veloso. Também tem um cara chamado Arthur Verocai, que eu gostei muito, e ele está fazendo umas paradas bem boas com o badbadnotgood, o que é incrível. Mas tem bastante coisa nessa playlist. Quer dizer, eram cerca de 1000 músicas ou algo assim (risos).

 

MI: Caetano Veloso vai tocar no festival também.

 

Lewis Maynard: Sim, sabemos. No domingo, né? Legal demais, mas provavelmente já vamos ter ido embora.

 

Florence Shaw: Eu gosto da Joyce, você conhece a Joyce? (Moreno, provavelmente). A galera ali atrás tá acenando que sim.

 

Nick Buxton: Uma música muito particular em que estou pensando e que não consigo lembrar, que é a minha favorita. Ela é irritante, lembro disso. Mas é uma música tipo ‘o fim do carnaval’ e a protagonista da música, ela tá perdendo a cabeça porque ela não sabe o que fazer com o fim do carnaval. Ela está muito triste. Mas não consigo lembrar o artista ou o nome da música. É isso, fica pra vocês descobrirem. (Por se tratar de uma playlist com clássicos da música brasileira, provavelmente Nick estava falando de “Tristeza de Carnaval”, de Elis Regina, composta por Bidú e Mutinho).

 

MI: Esse será o último show de vocês na América do Sul. A banda vocês bombou durante o período da pandemia, então como tem sido estar em turnê, em todos os lugares do mundo, mas especialmente aqui? Quais são as expectativas para o show?

 

Florence Shaw: Tem sido ótimo! Estamos esperando por isso há muito tempo e estamos bem surpresas com o entusiasmo do público porque realmente não sabíamos o que esperar. Não sabíamos se as pessoas viriam aos shows por curiosidade ou por algum outro motivo, mas estamos recebendo muitas pessoas que são fãs mesmo e conhecem todas as letras muito bem. Não sabíamos se isso aconteceria ou não. Então é incrível que role isso. Queria ficar mais (no Brasil)…

 

Nick Buxton: Nunca dá tempo…

 

MI: Que artista ou banda vocês ouviram recentemente e curtiram muito? 

 

Nick Buxton: Tem um monte… Mas eu gosto muito do Hotline TNT, que é uma banda de New York. Na real uma parte deles é do Canadá e os outros são de NY, mas enfim, curto muito o que eles estão fazendo, acho que eles são brilhantes. É tipo um shoegaze pop, só que com mais fuzz. Eles estão lançando coisas novas… Eu gosto muito.

 

Florence Shaw: Eu diria Nourished By Time. Nós estivemos em turnê com ele nos EUA no começo do ano, e ele é espetacular. Ele é tipo, sozinho, um compositor de estúdio. Gosto muito das letras dele. Ele acabou de lançar um álbum chamado Erotic Probotic II.

Tom Dowse: Eu tenho escutado uma banda chamada Zorn… meio óbvio, né? (banda da camiseta que ele está usando). Eles são uma banda de punk metal da Filadélfia, e eles são notáveis porque tem alguma coisa rolando na Filadélfia atualmente. Eles estão produzindo constantemente outras bandas de metal hardcore/punk. Eu não sei o que tem na água da Filadélfia, mas continuem bebendo.

 

Mais notícias no Minuto Indie.
Curta nossa página no Facebook. Siga nosso Instagram. Saiba mais em nosso Twitter. E fique ligado no nosso canal no YouTube.

Autores

  • Luan Gomes

    Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"

  • Maria Luísa Rodrigues

    mestranda em comunicação, midióloga de formação e jornalista de profissão. no Minuto Indie desde 2015 e em outros lugares nesse meio tempo.

Escrito por

Luan Gomes

Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"