Banda novaiorquina lançou seu quinto álbum, “Bunny”, um disco leve mas nada previsível

 Após 6 anos, o Beach Fossils voltou para lançar seu quinto álbum, Bunny, que traz o vocalista (e guitarrista, e produtor, e a mente por trás da banda) Dustin Payseur, num momento diferente, com prioridades diferentes. Assim, fica um pouco de lado o astral indie blasé nova iorquino, para entrar em cena o mood indie pop surfista de férias curtindo a filha recém nascida. Tal como os paulistas ficam deslumbrados dando rolê no Rio, o Dustin curtiu ter entrado na vibe de Los Angeles. Numa entrevista pra ourculture ele disse que sempre rolava uns bate e volta NY-LA, seja para tocar ou pra se ligar em algumas coisas junto do baterista do Beach Fossils, Anton Hochheim, que mora lá. Porém, só nesse tempo entre Somersault (2017) e Bunny que ele se atentou que lá ele fica mais tranquilo, e isso o fez trazer essa sensação pra dentro do disco, diferente do clima urbano característico dos discos do Beach Fossils. Assim, Bunny é um disco leve mas nada previsível, que mostra uma banda progredindo seu som no auge da comodidade.

Por um tempo, o “indie médio” do começo dos anos 2010 ficou quase datado, com algumas bandas sendo lembradas mais por aparecer no meio de line ups de festivais europeus do que por lançamentos relevantes. Assim, nomes como Best Coast e Wavves, depois de começos brilhantes, aos poucos ficaram marcados como bandas de um momento, reféns da memória afetiva dos fãs. Por outro lado, um outro “escalão” de bandas que despontaram no mesmo período foram alçando sua relevância a cada trabalho lançado, sem necessariamente “furar a bolha” como fez Mac DeMarco, mas ainda assim com materiais realmente consistentes em suas trajetórias. Nessa segunda leva, dá pra destacar o DIIV, Wild Nothing, Craft Spells… ou seja, bandas que fizeram/fazem parte do catálogo da Captured Tracks, selo do Brooklyn, NYC. 

É incrível que mesmo essas bandas sendo da mesma atmosfera, fanbase e tendo sons similares, cada uma tem seu rolê. Nesse meio, o Beach Fossils é uma das mais “simples”, por ter um som mais puxado pro indie rock de garagem do final dos anos 2000 mesmo, com umas adições bem pontuais de sintetizadores, e uns floreios de orquestrações aqui e acolá em discos como o Clash The Truth (2013). De um modo geral, Bunny traz um som com as partes mais brilhosas, polidas e perfumadas do indie rock. Assim, eles amortecem as influências shoegaze em detrimento de referências mais pop e sucintas, como Chet Baker, The Verve e Spiritualized. É como se o rock de garagem cavernoso dos primeiros discos passasse por um filtro iluminado de cores neon, o que joga os refrões, melodias vocais e riffs para pretensões que dialogam com o jangle pop e lo-fi. A sequência “Don’t Fade Away” e “(Just Like The) Setting Sun” mostram como a fórmula básica do indie 2010s, de guitarras reverbizadas e deslizantes, molhadas em chorus, ainda rendem momentos de devaneios sonoros.

As coisas começam a tomar o rumo de Bunny no último lançamento da banda, Somersault (2017). Se no som as coisas não mudaram muito, na vida de Dustin Payseur tudo ficou mais “estabelecido”. Não só por se tornar pai, mas por se entender definitivamente no seu processo criativo, que é mais solitário, sem muitos pitacos, tendo ele escrito Bunny majoritariamente sozinho, gravado a maior parte das guitarras e baixo, e produzido o álbum. Para aperfeiçoar seu estúdio caseiro, ele pegou algumas dicas de equipamentos com Mac DeMarco, de quem é amigo pessoal. Esse mix de auto entendimento e amadurecimento decorrente da paternidade se juntou a descobertas comuns mas muito significativas, que foi ele ter se ligado que cafeína e Ativan (Lorazepam) faziam ele funcionar mais ativamente na produção do álbum. 

“No momento em que te vi

tudo era verdade

Eu não estou mais vazio, garota

Você me fez sentir tão novo”    

trecho de “Run To The Moon”, música que Dustin escreveu sobre sua relação com a paternidade

Na já citada entrevista à ourculture ele disse que durante a produção de Bunny ele foi diagnosticado com déficit de atenção, e que para se manter mais ligado, ele recorreu a métodos bem freestyle, como tomar mais café, que antes ele não tomava porque o deixava ansioso. Por isso ele resolveu juntar com Lorazepam, remédio que ele toma pra ansiedade. na entrevista ele deixa claro que ao falar isso ele não incentiva coisa do tipo, pois pode bater diferente dependendo da pessoa, mas que pra ele rolou, e que isso não foi a única coisa. Ele sempre foi muito fechado na concepção de ideias, do som que queria alcançar nos seus trabalhos, e nesse, ele se viu mais aberto por ter conhecimento dessa condição dele com o déficit de atenção. Ele meio que se viu numa situação do tipo “posso ter tido uma ideia boa mas esqueci, os caras podem ter incorporado essas ideias, vou ouví-los mais”.

Sempre é dito que bandas na sua zona de conforto não conseguem entregar bons trabalhos, mas o Beach Fossils mostrou em Bunny que uma banda pode partir sempre das mesmas referências sonoras e ir se adequando aos momentos emocionais para ir moldando o acabamento de sua música. Assim como bons discos recentes de indie rock, Bunny não vai mudar sua vida, mas vai te lembrar que esse tipo de som tá longe de soar batido.

Bunny, de Beach Fossils. Produzido por Dustin Payseur

Lançado por Bayonet Records

Duração de 37 minutos

indie rock, indie pop, lo-fi

Alguns destaques são “Run To The Moon”, “Don’t Fade Away” e “(Just Like The) Setting Sun”

 

Um bom álbum pra quem gosta de The Drums e Wild Nothing

 

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Autor

  • Luan Gomes

    Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"

Escrito por

Luan Gomes

Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"