Arlo Parks My Soft Machine - The Soft Machine -Photographer_Vince-Aung-Edit-Clare-Gillen

My Soft Machine mostra o mundo através das lentes da jovem cantora britânica Arlo Parks

Algo que tem feito Arlo Parks soar como uma das principais artistas da sua geração é algo que vai justamente muito além do seu talento como vocalista e instrumentista, mas sim seu talento em trazer para suas composições sentimentos e temas universais que se conectam com o momento vivido nas principais capitais globais. O que se traduz em um diálogo íntimo principalmente para a geração Z em colocar uma lupa em dilemas que passam por temas como saúde mental, lutas por reconhecimento no mercado de trabalho e o lado fugaz das paixões avassaladoras.

Na sexta-feira (26/05) foi lançado seu segundo álbum de estúdio, My Soft Machine, no qual ela revela um lado que parece a primeira escuta dark e dramático mas que contém beleza nos detalhes e em como ela conduz a obra e coloca luz a suas reflexões. Outra preocupação que Arlo Parks teve em My Soft Machine foi trazer para o primeiro plano uma ambientação mais dançante sem medo de soar pop. Em determinados momento deixando o indie um pouco de lado e se aproximando do pop sem medo de ser feliz.

Não é a toa que algumas críticas disponibilizadas nos últimos dias sintetizaram a importância da sua narrativa.

My Soft Machine alcança o equilíbrio certo entre a expressão poética mais elevada e a realidade do dia-a-dia, os extremos com os quais Parks fez, e continua a fazer, seu nome.”, disse a Rolling Stone UK

“Mesmo ao explorar alguns dos momentos mais difíceis pelos quais ela passou nos últimos anos, ainda é uma experiência edificante e triunfante.”, comentou o portal indie DORK


Arlo Parks My Soft Machine - Foto Por: Vince Aung
Arlo ParksFoto Por: Vince Aung

A produção de My Soft Machine

My Soft Machine é um trabalho profundamente pessoal; uma narração das experiências de Arlo Parks enquanto ela navega na casa dos 20 anos e o crescimento se entrelaça.

O álbum foi gravado entre Londres e Los Angeles, com os produtores Paul Epworth, Ariel Rechtshaid, Romil Hemnani (Brockhampton), Frank Ocean – colaborando com Buddy Ross e Carter Lang (SZA) – assim como alguma autoprodução da própria Arlo. O disco é um lançamento do selo Transgressive Records

“A nossa visão do mundo é movida pelas coisas que experimentamos – nossos traumas, nossa educação, nossas vulnerabilidades quase como a neve visual. Este registro é a vida através do meu olhar, através de meu corpo – a ansiedade dos 20 anos , o abuso de substâncias dos amigos ao meu redor, as vísceras de estar apaixonado pela primeira vez, navegando pelo stress e pela dor e auto sabotagem e alegria, movendo-se por mundos com admiração e sensibilidade – o que é estar preso neste corpo em particular.

Há uma citação de um filme de Joanna Hogg chamado Souvenir, é um filme semi-autobiográfico A24 com Tilda Swinton – narra um jovem estudante de cinema se apaixonando por um homem mais velho e carismático como um jovem estudante de cinema sendo então atraído para seu vício – em uma cena inicial ele está explicando porque as pessoas assistem a filmes – “não queremos ver a vida como ela é representada, queremos ver a vida como ela é vivida nesta “Soft Machine”. Então aí está, o registro se chama….”My Soft Machine””, Arlo Parks



Os Arquétipos de My Soft Machine

Além da música existe poesia, temas difíceis de serem remoídos e preocupações universais. Por esta razão, a convite do Minuto Indie, decidi resenhar My Soft Machine para mostrar um pouco mais sobre os arquétipos que este registro evidencia em primeiro plano.

Leia a análise e entenda mais a respeito da profundidade das letras do disco e os temas sensíveis que Arlo Parks toca com uma indescritível delicadeza e de forma visceral ao longo do desenvolvimento da sua narrativa.

O Companheiro

Este arquétipo representa a estabilidade, a lealdade e a confiança. As pessoas que se identificam com esse arquétipo geralmente são fiéis, confiáveis e buscam estabilidade em seus relacionamentos. Eles valorizam a amizade e a comunicação e estão dispostos a trabalhar para manter o relacionamento forte.


O Companheiro - The Soft Machine


“Blades” com letra escrita sobre enfrentar o colapso de uma amizade e tentar encontrar a coragem para reconstruí-la, Arlo explica: “Imagino este momento em uma festa onde você vê alguém do outro lado da sala que você não vê há algum tempo, você se sente crescendo separado, e você está como, devo, não devo? E então você encontra a coragem de se aproximar dele. Essa é a história dessa canção”.

“I wish I was Bruiseless/Almost everyone I love has been abused and I am included (“Eu gostaria de não ter hematomas/quase todo mundo que eu amo foi abusado e eu estou inclusa”) diz o verso de “Bruiseless”, introdução de apenas 1:11 que abre o disco mas que já mostra com quem ela quer conversar, estreitando laços para a identificação com o ouvinte, e como consequência: estendendo a mão para ajudar. Perfeito exemplo da importância do companheirismo nos tempos mais difíceis.

PS: O Cuidador poderia ser outro arquétipo para essa faixa.

Como temos músicas com mais de um arquétipo, logo abaixo você vai ver como o companheirismo volta a aparecer em “Impurities”, faixa que também pega carona no arquétipo do Cavaleiro Solitário. Inclusive, ela foi feita em parceria com Romil do Brockamptom e na qual Arlo Parks em entrevista exclusiva em parceria com o Hits Perdidos confidenciou:

“Quando eu penso em Brockhampton, eu penso em como eles explodiram dentro da cena de um jeito parecido com o que rolou com o Odd Future fez naquela época. Esse coletivo era meio que caótico e cada um meio que trazia diferentes influências para a mesa…e Brockhampton foi meio que diferente de tudo que eu tinha visto ou experimentado e eu sinto que como uma adolescente foi tão inspirador. Ver esses caras em uma casa dedicando todo tempo da sua vida a produzir música e estarem ao mesmo tempo tão próximos.

Então foi lindo conhecê-lo. No primeiro dia em que nos conhecemos nós fizemos “Impurities” que é uma canção do meu álbum e a gente se tornou grandes amigos. Hoje em dia ele é um dos meus melhores amigos. Agora, é muito bom trabalhar com alguém que você tem uma amizade de verdade e que você confia.”

O Guerreiro

Antes de apresentar o arquétipo do guerreiro é importante lembrar do ativismo, e preocupação social, da Arlo Parks a favor das lutas em prol da saúde mental.

Arlo já foi indicada para o Breakthrough International Act no BET Awards, foi nomeada como a mais jovem apoiadora da UNICEF e embaixadora da instituição britânica de caridade em saúde mental, CALM. Ela tem planos de continuar seu extenso trabalho com ambas as instituições de caridade em 2023.

O arquétipo do guerreiro existe em mim, em você, em cada um de nós. Em alguns essa energia está desperta, em outros latente e em outros em desequilíbrio. O guerreiro simboliza o impulso necessário para empreender a luta constante da qual depende a sua sobrevivência e o seu bem estar na terra.


O Guerreiro - My Soft Machine


Desta forma, entenda como isso transparece ao longo das faixas de My Soft Machine.

“Purple Phase” é uma das sombrias do disco, dá luz as “preocupações de uma amiga” que está “com medo de fazer 24 anos, paranóica de olhos umedecidos…tentando se liberar dos seus comprimidos e buscando por apoio”.

Parks mesmo que se coloque como apoio para a amiga, logo no refrão elucida que percebe que algumas responsabilidades são maiores do que ela pode assumir. Sintetizando o sentimento do que é ser um jovem adulto e os dilemas de lutar contra a depressão. Trazendo um tema sério de uma causa que luta para o primeiro plano.

Já “Weightless” rodeia a dolorosa experiência de se importar profundamente com alguém que só lhe dá pequenas migalhas de afeto. Trata-se de perceber de repente que uma pessoa abafou suas dificuldades e embarcou na lenta viagem de volta a ser uma versão mais brilhante de si mesmo”. Servindo como inspiração para todos que precisam levantar a cabeça para viver as melhores coisas da vida.

Em “I’m Sorry” ela  parece relatar sobre um problema infelizmente muito contemporâneo: o burnout. O Cavaleiro Solitário é outro arquétipo que essa música passa, visto que mesmo com o apoio dos amigos, família e de profissionais da saúde, ainda é uma luta bastante particular – muitas vezes silenciosa e solitária.

Ela discorre inclusive sobre as difíceis batalhas, entre as inúmeras sessões de terapia e dificuldade de confiar nas pessoas. Expondo suas feridas mais íntimas e com isso transmitindo sinceridade.

O Cavaleiro Solitário

A solidão, as batalhas contra os demônios internos e o lado mais vulnerável do ser humano aparecem neste arquétipo.


O Cavaleiro - My Soft Machine


Em “Impurities” ela relata que em seu clipe queria transmitir a oscilação atmosférica entre solidão e companheirismo. A faixa mostra a jornada do Cavaleiro que mesmo gladiando para ver seu trabalho ser reconhecido – e para aquecer novos corações – ainda tem que lidar com os desafios da solidão e as dores que estar longe das pessoas do convívio mais íntimo podem causar.

“Eu queria mostrar como estar perto de seu povo realmente dá vontade de voltar para casa. Quando eu estava escrevendo esta canção eu tinha pensado muito sobre Gus Van Sant e como ele captura as pessoas em toda sua fragilidade, beleza e feiúra – Jak foi fundamental na criação/proteção dessa sensação de suavidade”

Algo similar acontece em “I’m Sorry” onde ela dá nome aos bois para falar sobre o burnout e os problemas que a fama traz consigo.

“I’m Sorry”, como dito anteriormente, Arlo Parks parece trazer as sequelas do burnout que interrompeu sua turnê norte-americana no início de 2022. “Tenho trabalhado incessantemente / como uma vespa, me sentindo presa e enlouquecida”.

A música relata sobre os perigos da fama relatados de forma franca e sem rodeios. Apresentando para os fãs com delicadeza o problema vivido por artistas, influencers e celebridades.

O Amante

O Amante é o arquétipo que rege a paixão, a união e as escolhas. Nos impulsiona a fazer aquilo que amamos, a encontrar e viver uma paixão, seja uma pessoa, ideia, projeto ou profissão. O Amante traz a ideia do amor romântico e idealizado. Quando se apaixona, mergulha profundamente nesse sentimento.

O Arquétipo do Amante carrega aspirações afetivas profundas: quer amar e ser amado. Sabe como dar amor e adora receber amor, na mesma proporção. Para ele, o amor transcende a qualquer condição humana, está acima de tudo. É capaz de amar o outro porque ama a si mesmo.


O Amante - My Soft Machine - Arlo Parks


“Ghost” reflete perfeitamente o arquétipo do amante, nela ela narra as pequenas demonstrações de afeto, como por exemplo afastar uma mecha de cabelo do olho, a vontade incessante de se derreter com sua cara metade e o receio de perder tudo da noite para o dia.

“Devotion para mim é uma música sobre se sentir tão apaixonado que é quase como se você estivesse sendo despedaçado, há uma intensidade, uma selvageria e uma ternura. Essa é uma das minhas músicas favoritas que já fiz, ela se baseia nas bandas que fizeram com que eu me apaixonasse pela música, desde Deftones até Yo La Tengo, Smashing Pumpkins e My Bloody Valentine, relata Arlo Parks em mais uma canção onde a chama de uma paixão reluz nas alturas.

“Dog Rose” já vai para o caminho de confessar uma paixão de querer viver até mesmo as partes mais triviais do dia a dia a dois, como lavar a louça para a madrastra, a alegria de fazer seu amor rir, brincar com o gato da pessoa amada e a vontade de se entregar ao amor. Os pequenos momentos que acabam ganhando uma carga afetiva no plano dos sonhos acordados.

Em “Room (Red Wings)” Arlo Parks discorre sobre partir o coração em dois após o rompimento e notando que seu amor está em uma página diferente onde infelizmente o que resta é enxugar as lágrimas e seguir em frente.

“Pegasus é sobre experimentar o calor e a leveza de um amor bom pela primeira vez. Ela também explora como a ausência do caos e a presença de uma conexão real podem ser um pouco aterrorizantes depois de um longo tempo sem isso.”, relata Arlo já mostrando como o Amante sempre carrega consigo o frio na barriga da insegurança de se entregar por completo para sua nova paixão. Canção fácil de se identificar que ainda tem a participação de Phoebe Bridgers.


Arlo Parks My Soft Machine - The Soft Machine -Photographer_Vince-Aung-Edit-Clare-Gillen
Arlo ParksFoto Por: Vince Aung – Edição Por: Clare Gillen

Arlo Parks My Soft Machine

1.Bruiseless
2.Impurities
3.Devotion
4.Blades
5.Purple Phase
6.Weightless
7.Pegasus ft. Phoebe Bridgers
8.Dog Rose
9.Puppy
10.I’m Sorry
11.Room (red wings)
12.Ghost

Assista também os clipes: “Impurities“, “Devotion“, “Pegasus“, “Weightless“, “Blades“.


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