Doze anos depois da sua estreia, o duo de Oakland lança seu quinto álbum, “sketchy.”, que apesar de mostrar uma certa repetição de trabalhos anteriores, traz a sensação de que o característico ‘pop torto’ do tUnE yArDs está longe da previsibilidade.
tUnE yArDs por Pooneh Ghana

A música pop é cheia de artistas e bandas que parecem ser um documento sonoro de um estilo musical num espaço de tempo. Para muita gente, isso é a definição de ‘datado’, logo, um demérito. Mas juntar características e ser reconhecidas por elas é o que traz identidade à obra de um artista. Desse modo, o tUnE yArDs sempre esteve à espreita dos holofotes do indie, com trabalhos cheios de ‘modernidades’, mas nunca alcançando um destaque estrondoso. Doze anos depois da sua estreia, o duo de Oakland lança seu quinto álbum, “sketchy.”, que apesar de mostrar uma certa repetição de trabalhos anteriores, traz a sensação de que o característico ‘pop torto’ da dupla está longe da previsibilidade. 

Pra não deixar ponto sem nó, é importante citar (brevemente, sem me empolgar) o que eles conseguiram juntar em seu som ao longo do tempo, e como isso reflete o indie da última década. Quando muitos tinham uma visão quase que franciscana quanto a produção lo-fi, o tUnE yArDs aproveitou todo o lado do experimentalismo do lo-fi para fazer um som maximalista. Assim, eles foram evoluindo de um freak folk psicodélico para um art pop swingado. De forma fluida, o duo consegue em seu novo álbum passear pelo lado mais dançante da sua sonoridade, trazendo em misturas ambiciosas gêneros geralmente compreendidos como antagônicos como o soul e o electropop. As linhas de baixo de Nate Brenner soam autenticamente orgânicas, quase como um registro de uma jam, contrapondo os timbres robóticos dos sintetizadores. Eu sei, nenhuma novidade bandinha indie tentando achar o groove perfeito, mas nesse caso é quase lá. Brincando com comparações, dá até pra dizer que eles soam como um Prince millennial, ou uma versão mais virtuosa do Glass Animals. Nessa chuva de melodias, Merrill Garbus aparece de forma teatral, com a vocalista alternando entre andamentos mais convencionais do soul dos anos 60, junto a momentos em que ela parece simular pop-ups sonoros. 

Em “sketchy.”, essa ambição de desconstrução da música pop surge como algo além da sonoridade, com a frontwoman Merrill Garbus abordando sem papas na língua temas como direito ao aborto, previlégio branco, e mudanças climáticas. Junto com seu parceiro, o baixista Nate Brenner, ela consegue sintetizar questões importantes sem pretensiosismo. Apesar disso, “sketchy.” não é um álbum objetivamente político, e de alguma forma, o título parece brincar com isso. Afinal, o que é o ‘esboço’ que nomeia o álbum? Intuitivamente, um esboço de pensamentos, mas não de posicionamentos. A primeira faixa, “nowhere, man.”, foi escrita depois de Merril se deparar com uma lei que foi sancionada no estado do Alabama, que impede o aborto mesmo em casos como estupro. Em uma entrevista para o The Independent, ela disse que queria externalizar toda aquela raiva que ela estava sentido dos mesmos homens brancos e velhos de sempre. Já na segunda música do álbum, “make it right”, ela traz sua perspectiva de mulher branca numa autocrítica, sobre como pessoas brancas dizem que “têm uma dívida a pagar”, mas ao mesmo tempo banalizam sua responsabilidade, tendo que ser “ensinados” a todo tempo. No meio dessas questões sociais, o álbum também conta com impressões pessoais, como na nona música, “under your lip”, onde Merrill desabafa não ligar para a dinâmica bélica que as opiniões ganham na internet. De forma direta, ela fala no refrão: “eu não quero saber o que está sob seus lábios”

Em termos de crítica, o tUnE yArDs sempre teve sua relevância, e se isso não foi convertido num amor incodicional de fãs, também não houve ‘hate’ em cima do duo. A única pulga atrás da orelha sempre foi algumas perguntas em entrevistas que surgiam com a questão deles estarem trazendo para a bolha hipster branca elementos de ritmos como dub e soul. Mas isso nunca foi encarado como um ‘tabu’ ou uma apropriação cultural, e sim como algo curioso. De forma sensitiva e bem sacada, o duo consegue aliar a linguagem crítica e caricata com uma sonoridade eclética que mostra a essência da dupla em constante evolução.

tUnE yArDs, “sketchy.” | Foto: reprodução

tUnE yArDs, “sketchy.” (2021)

Indie, Art Pop, Neo Soul.

4AD.

Pra quem curte: Foxygen, Perfume Genius e Dirty Projectors

NOTA: 8

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Autor

  • Luan Gomes

    Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"

Escrito por

Luan Gomes

Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"