Batemos um papo com Lucas Silveira sobre sua participação no projeto. Falamos desde a nostalgia da cena hardcore br, passando por bedroom pop, até chegar em Tik Tok

Quem acompanha a cena e tem memória boa, com certeza vai se lembrar que no final de 2019, antes desse período todo distantes dos shows, rolou uma ação bem interessante em São Paulo, na qual bandas como E a Terra Nunca me Pareceu Tão Distante, Pessoas Estranhas e Brvnks se apresentaram num espaço no Largo da Batata, fazendo parte da programação do Lagunitas Tap Room. Depois dessa experiência mais ligada à música ao vivo, agora a Lagunitas vem com um novo projeto, o EP Lagunitas De Quintal, uma produção caseira que conta 6 nomes de diferentes cenas da música independente nacional, são eles Beeshop (Lucas Silveira), Dead Fish, Sugar Kane, Jadsa, Ana Cañas e Raquel (ex As Baías).

Foto por: Beatriz Roveri (@bzroveri)

Não sei se pré requisito é uma palavra certa, mas é um pilar da marca, estar com bandas independentes […] A gente se mantém com bandas independentes porque são as que mais precisam de marcas dando atenção. – Rodrigo Guarizo, responsável pela curadoria musical do projeto

 

A ideia para o projeto veio da própria origem da marca, de como a cervejaria de Tony Magee, um músico que não conseguiu sucesso em suas pretensões artísticas, começou a se desenvolver num quintal na cidade de Petaluma (Califórnia, EUA) em 1993. Desde então a marca sempre esteve presente no circuito californiano da música independente, e depois do primeiro contato com a cena nacional em 2019 através do Tap Room, eles agora se aproximam mais não só do cenário bandas, mas também do imaginário dos fãs que acompanham “o rolê”. 

Pudemos acompanhar um dia de gravação que rolou no estúdio O Forno, no bairro da Mooca. O som escolhido pelo Lucas SIlveira foi a música “You’ll Never Change” do Beeshop. Nas sessões, ele tocou todos os instrumentos, com exceção da bateria, tocada pelo Chuck Hipolitho que assina a produção do projeto junto com o Alexandre Capilé, conhecido por seu trabalho à frente de bandas como Sugar Kane e Water Rats. A gravação seguiu a proposta despretensiosa e celebrativa do projeto, com uma ambiência “de quintal”, com avião passando, cachorro latindo, e uma correriazinha ao lidar com clima chuvoso na hora de gravar a céu aberto. Batemos um breve papo também com o Lucas, o Chuck e o Capilé; falamos desde a nostalgia da cena hardcore br, passando por bedroom pop, até chegar em Tik Tok. Se liga só: 

Foto por: Beatriz Roveri (@bzroveri)

Minuto Indie: Então Lucas, a gente aqui nesse projeto, junto com bandas como Dead Fish, Sugar Kane… Bandas cada uma com sua história, mas que compartilham muito do público que acompanha o seu trabalho. Então como é pra você essa sensação de ‘legado’. Bate uma nostalgia?

Lucas Silveira: É, eu brinco com a nostalgia um pouco… Eu deixo mais pro fã, porque a galera tem saudade da adolescência, né? A gente também, às vezes eu me pego com saudades dos perrengues, mas isso é só saudade de ser jovem, coisa da vida assim. Eu percebo que em São Paulo… No Brasil mesmo, existia uma cena de hardcore que era uma das poucas coisas que poderiam ser vistas como cena mesmo, dentro do rock. Sempre teve na quebrada o funk, pagode… E o hardcore era uma cena organizada, se correspondia com o Brasil inteiro, e se correspondia com os gringos, e trazia os caras. E isso foi um bagulho que me pegou quando eu era moleque […] Aí eu fui sacando que tinha umas coisas que não tocava na rádio, que eu tinha que ir atrás… Eu me sentia parte de uma coisa. Acho que algo importante para uma banda, para um artista, é ele encontrar os seus iguais. E eu acho que hoje, muito da música que se entende como bedroom music, por mais que tenha uma cena, essas pessoas não se encontram em lugar nenhum.

Minuto Indie: Pode crê, cada um no seu quarto né?

Lucas Silveira: É, e (assim) é muito fácil desistir. Porque também é uma cultura que não é tão centrada em show, mas em lançar as coisas… Então, aí sim vale a pena o saudosismo, no sentido de que para nós, o ambiente natural é tocar ao vivo. Até porque gravar era muito difícil naquela época. Era muito caro e ficava muito ruim. Sugar Kane tinha umas gravações boas não sei como (risos). 

Chuck Hipolitho: Depois que começou a gravar com o Chuck ficou melhor (risos)… Esse negócio que o Lucas tá falando é uma coisa muito doida, porque quando eu cheguei em São Paulo… Eu sou de uma geração mais antiga que a deles, então quando eu cheguei eu percebi bandas que estavam tentando criar uma cena, e uma cena é um negócio que não dá pra criar, mas as bandas que estavam rolando na época, elas eram muito fãs de uma cena que existiu um dia no passado, então elas tentavam emular essa cena de todo jeito, com poster, com nome das bandas, com o tema do que falam… Daí quando veio depois o que foi chamado de ‘emo’, com o CPM, depois o Fresno, de repente isso virou mesmo uma cena. Isso era uma cena, tinha um público… E esses dois (Lucas e Capilé) são frutos dessa cena.

Minuto Indie: Hoje em dia tudo tá diferente, por causa de uma maior acessibilidade na hora de produzir, mas em contrapartida, os algoritmos ditam cada vez mais as coisas. Nessa equação, o artista tem que ser quase um digital influencer, para dar um alcance legal ao seu trabalho. Como você vê isso? 

Lucas Silveira: Assim, eu acho que o lance de ser ‘influencer’ é até meio natural pra mim. É tipo “ah galera, lancei um bagulho”, como é que eu posso dizer isso de uma maneira legal. Pra mim o que é terrível é uma galera que fica “ah, não sei fazer isso, só sei fazer música”. E tipo, nunca foi só saber fazer música, nem em 1968 era só sobre fazer música, tu tinha que tirar uma onda. 

Chuck Hipolitho: Saber dançar no mínimo (risos).

Lucas Silveira: É, então. Imagina o Mick Jagger cantando paradão. Ia ser tipo, “sai daí, uhhh” (risos). O que me dói é saber que lançamento tem que ser atrelado a um vídeo, a um clipe no caso. Se eu lançar um puta duma música mas sem o clipe, o público já não entende aquilo como um lançamento, vai falar no máximo: “pô legal, parabéns”. E o clipe é algo que pra nós é algo fora do alcance. Se você me disse pra fazer um álbum em um dia, eu vou fazer um. Não vai ficar tão bom, mas eu faço. Mas o clipe sempre vai ser algo que precisa de uma equipe. Vai ter gente que sempre vai citar o clipe das esteiras (“Here It Goes Again”, do OK Go), mas eles não vão fazer um desse toda hora (risos).

Chuck Hipolitho: Aquele clipe antes da esteira já é uma esteira muito boa né. Falta isso.

Lucas Silveira: Por mim eu só fazia umas fotos ali… E aí eu faço a live que for, o ‘influencer’ que for. Tik Tok eu acho que é uma ferramenta muito foda pra criatividade. As vezes eu me pego tendo ideias para conteúdos (pro Tik Tok)

Chuck Hipolitho: Eu nunca abri o Tik Tok na minha vida.

Lucas Silveira: Ah mano, chegar na área certa lá tu vai ficar maluco.

 

Apesar da breve entrevista, o encontro rendeu uma fotinhas exclusivas, como se fosse um mini ensaio do Lucas para o Minuto Indie. Se liga só:

 

 

 

Fotos por Beatriz Roveri (Binha)

Autor

  • Luan Gomes

    Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"

Escrito por

Luan Gomes

Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"