THE ZASTERS

Com influências do indie rock e post punk, o clipe estreia nesta quinta (29)

A aceleração da transformação digital tem aumentado a preocupação com a disseminação de fake news. E o mais impressionante nisso tudo é o quanto a internet influencia, tanto positiva quanto negativamente, a vida das pessoas. Nesta quinta-feira (29), a banda The Zasters apresenta o videoclipe de “Fake Fake Fake”. A música, já disponível em todas as plataformas digitais, ganha agora um audiovisual lançado no canal oficial do quarteto no YouTube. Ela fala sobre relacionamentos virtuais baseados em farsas e sobre as necessidades de se encaixar em um padrão, mostrar-se feliz, cool ou engajado o tempo todo, entre outros comportamentos da era moderna.

A música, produzida por Gabriel Zander, e o vídeo, dirigido por David Murad, foram gravados no estúdio Costella, em São Paulo.

O Minuto indie aproveitou o momento para trocar uma ideia com a banda sobre internet e sobre sua trajetória até então. Vocês conferem esse papo logo abaixo:

MI – De fato, estamos o tempo todo tentando transparecer positividade na internet e isso muitas vezes não condiz em nada com a realidade. O David Murad, diretor do clipe, até falou algo sobre integrar o “teatro da internet”. O quanto, na visão de vocês, isso afeta o nosso dia a dia, a real realidade?

Nabila: Acho que afeta o dia a dia de todos direta e indiretamente, né? Vivemos grudados no celular, em apps, é um teatro da internet mesmo, mas que no fim das contas é a realidade de todo mundo. Criticamos, mas hoje não vivemos sem isso também. A realidade vai se distorcendo, se misturando com mentiras, verdades e criando um universo meio paralelo ali no mundo online que é mais ativo nas nossas vidas até que o real. (loucura)

Rafa: Afeta totalmente! Vira e mexe ouço comentários tipo: “se não tá na internet não existe”. Parece que a socialização hoje em dia exige presença nas redes. No caso do meu dia a dia, por exemplo, pelo menos uns 80% das minhas interações são através da internet (whatsapp, instagram, email, etc). Acho que essa analogia do Teatro da Internet é interessante, porque o teatro é massa, né!? A gente vai no teatro e vê arte, cultura, música, humor… E as redes sociais tem muito disso, é um meio importante pra todo mundo. Mas acho que quando você não tem consciência de que aquilo na tela é “só” um tipo de teatro, aí é perigoso, pode te enlouquecer. Existe muita vida fora da tela, e às vezes parece fácil esquecer disso.

Jules: Acredito que cada um seja afetado de um jeito, mas as redes sociais podem criar uma falsa ideia de “felicidade eterna”, que tudo é muito bom, e isso pode mexer com a cabeça das pessoas… é muito bom ficar em um lugar onde tudo é massa, e aí quando você está na vida real e não é daquele jeito, você se decepciona e até prefere ficar naquele mundo onde tudo é perfeito, chegando ao ponto de esquecer que existe uma vida fora dessa realidade virtual. E aí tudo vira uma confusão, o que é verdade? A vida da internet ou a vida “real”?

André: Acredito que só mostramos e passamos informações de conquistas e coisas boas para os nossos contatos e pessoas que nos seguem de forma que isso crie um feedback em nós mesmos, de modo que a nossa mente não pense muito nos problemas e situações chatas que temos que lidar. A ideia de ser bem sucedido, de ser bem organizado, de conquistar várias coisas. Com isso, tendemos a segurar os problemas só para a gente, pessoas próximas e para o psicólogo rs.

MI – Ao mesmo tempo, existe uma certa pressão social em fazer parte desse universo, por mais tóxico que seja. É muito algo sobre pertencimento também. Vocês já se sentiram assim ou se consideram desapegados nesse sentido?

Nabila: Claro que nos sentimos assim, até certo nível… e acho que todo mundo faz parte disso também. É  um falso pertencimento mas que, por ser muito ativo, acaba sendo nossa verdade relativa. Mais uma doidera filosófica aí pra se pensar, rs. Vivemos verdades ou mentiras? Até que ponto o real é mais real que o virtual, se estamos tão imersos no virtual, não é mesmo?

Jules: Sentimos sim, ainda mais com a pandemia, onde praticamente todas as relações e comunicações eram por meios virtuais e acho que isso confunde bastante nossas cabeças (até hoje) sobre o que se tornou a nossa realidade.

André: Sempre buscamos pertencer a algo (principalmente quando somos mais jovens). Procurar pessoas em comum, pessoas que no rolê vc se identifica de certa forma. todo mundo faz isso, mas acredito ser importante saber identificar quando é hora de se afastar de algumas coisas e ser mais desapegado.

Rafa: Sim, bastante! Acho que pra mim essa coisa do pertencimento até aumenta a pressão social para fazer parte disso. Tem dias que to super afim de consumir redes sociais e de postar, e tem dias que não suporto nem pensar. E aí tento equilibrar isso no meu dia a dia, mesmo pq acho que não adianta muito postar por obrigação também, então quando não to afim ligo o modo desapegado kk

MI – Acredito que não seja à toa que esse clipe tenha sido lançado às vésperas das eleições. Vocês conseguem traçar algum paralelo entre a mensagem da música e a cultura de notícias falsas que têm se propagado nesses últimos anos?

Rafa: Pra falar a verdade a música não surgiu do assunto eleições especificamente, mas principalmente naquela parte final da letra, vejo muita ligação com o comportamento de muita gente nas redes sociais quando falamos de política. “I don’t need no doctor, I don’t need no teacher, the screen is gonna heal me, the screen is gonna teach me”, tenho impressão de que muita gente tem CONVICÇÃO de que sabe tudo sobre qualquer assunto depois de ler alguma coisa ou outra na internet. E acho que quando a pessoa tem essa certeza, ela fica vulnerável a acreditar em um monte de mentira sem fundamento, que na minha opinião foi um dos trunfos dos bolsonaristas em 2018, e que eles tão tentando repetir esse ano.

Jules: de fato a letra  não se tratava de eleições, mas ela com certeza cabe para reafirmar algumas situações que ocorrem na internet no período das eleições: como as pessoas ficam mais corajosas e se sentem no direito de ofender e falar qualquer coisa que vem na cabeça (“no matter how bizarre / no matter who’ll cry / there’s nothing I can’t write / no one can hold me back”) e como Rafa disse, as pessoas tem muita certeza do que leem e olham na internet, o que você quer acreditar vira verdade, e isso causa muita desinformação, favorecendo políticos que se aproveitam da situação para espalhar notícias falsas.

Nabila: Não pensamos nessa temática do FAKE diretamente por conta das eleições, mas com certeza esse tema pode ser bastante relacionado. Se tratando de notícias, de mídia, de trends em diversos aspectos por aí, correntes, fake news…tudo faz parte. Na música nós falamos especificamente do aspecto mais social da coisa, app de encontro, o match perfeito, que você nunca conheceu, mas nada mais é do que uma tendência que criamos sobre todos os temas do nosso dia a dia.

André: A música não foi das eleições, mas colou bem com a situação atual que passamos nos últimos anos, tanto nas eleições quanto fora. Há mentiras que são faladas 1 milhão de vezes até o momento em que são encaradas como verdades.

MI – Além de todos esses malefícios sociais que a internet nos causa, a própria indústria da música acabou incorporando um pouco isso através dos algoritmos e das peculiaridades das redes sociais. Qual a visão que vocês têm do cenário atual do mercado?

Nabila: Temos a impressão de que tudo tem se tornado cada vez mais efêmero realmente. As tendências passam rápido e já entram outras no lugar, o gosto das pessoas por algo surgem do nada e somem do nada, isso é bom e ruim… Não achamos que causa só malefícios, mas é algo um pouco descontrolado difícil de lidar, rs. Achamos que é um cenário bem impessoal e ansioso hoje em dia.  Essa pegada mais frenética da música acho que transmite isso de forma inconsciente também, essa pressa por algo que nem a gente sabe o que é.

Rafa: A internet hoje possibilita que você grave uma música e lance no spotify sem precisar nem sair de casa. É só ter algum equipamento básico de gravação e acesso à internet e com pouco ou nenhum investimento você solta uma música no mundo. Se você pensa nesse processo de gravação 30/40 anos atrás, você precisava ir pra um estúdio com equipamentos caríssimos, gravava tudo (o que já custava muito mais do que a maioria das pessoas podia pagar), e o pior é que você ia distribuir isso pras pessoas ouvirem como? Sem redes sociais ou plataformas de streaming, era uma parcela MUITO pequena das pessoas que tinham oportunidade de ter sua música distribuída no Brasil, muito menos no mundo como dá pra fazer hoje… Por outro lado, agora que o processo de criação e distribuição ta popularizado, você precisa arrumar algum jeito pra prender a atenção das pessoas no meio de uma infinidade de conteúdos.

Jules: Assim como todos os mercados, a indústria da música demanda que os artistas sejam também influencers, e isso custa muito caro, ainda mais para artistas independentes que já dividem seu tempo de várias formas… mas isso tá acontecendo também com médicos, arquitetos, enfim, todos precisam estar presentes nas redes e ter muitos números para serem relevantes, e o trabalho às vezes fica em segundo plano. Sem falar da rapidez que as coisas aparecem e desaparecem, sempre temos que lançar coisa nova (pro algoritmo entender que estamos em alta), parece que temos que sempre pensar no que podemos fazer pra estar sempre relevantes em várias frentes! Difícil rs

André: No final, o mundo é dinâmico e tem que se adaptar a algumas mudanças, nesses meios não dá pra nadar contra a maré achando que vai fazer a revolução. Acredito que o caminho seja causar impacto (em qualquer âmbito) se sabemos analisar (internamente e externamente) como as coisas estão andando e mudando

MI – Esse lançamento é mais uma prévia do aguardado disco de estreia de vocês. O que mais vocês podem nos adiantar sobre o que está por vir?

Nabila: Esse lançamento na realidade é o primeiro single do nosso primeiro álbum de estreia! Estamos super felizes com esse projeto pois a gente vem trabalhando nesse material já há algum tempo e tem feito tudo com muito cuidado, vendo cada música nos minimos detalhes com todos que estão envolvidos nisso com a gente. A produção musical do álbum ficou por conta do Gabriel Zander, teremos algumas músicas com participações especiais de artistas que gostamos muito, então nem precisamos dizer que vem coisa boa aí. Será um álbum de 11 músicas, e resolvemos fugir um pouco do padrão e trabalhar vários singles até o lançamento no começo do ano, então segura! kkk

Rafa: Vão ter mais alguns singles antes do disco ainda, mas dá pra adiantar que colocamos várias vibes diferentes nessas músicas, acaba que é meio um recorte das nossas vidas nos últimos anos, tem os momentos mais alegres e leves, os mais lentos e tristes, outros bem raivosos e impacientes. Tá bem divertido de ouvir, e eu to muito animado com o som que conseguimos tirar durante as gravações junto com o Bil (Gabriel Zander), que inclusive é um dos meus ídolos na cena, e que durante as gravações fui virando cada vez mais fã.

Jules: Fake Fake Fake é uma música que ilustra bem o que é o disco! É um álbum que trabalhamos por bastante tempo para conseguir tirar o som que sempre sonhamos em fazer! Tem música pra dançar, música pra chorar, música pra gritar e também pra ficar no amorzinho, imagina esse show?! Não vemos a hora!

André: O disco é uma mistureba. Tem música indie mais porrada, tem umas meio stoner, tem uma emo, tem uma pra ir na rave…. dá pra esperar várias coisas doidas.

SOBRE THE ZASTERS

Como uma banda liderada e composta por duas mulheres, a The Zasters por si só já carrega uma imagem de resistência. Jules Altoé (vocal/guitarra/sintetizador), Na Sukrieh (bateria/vocal),  Rafa Luna (guitarra/vocal) e André Vitor (baixo/vocal) compõem o quarteto de indie rock, que vêm conquistando seu espaço na cena independente desde 2015. De lá pra cá já foram 3 EPs e vários singles lançados, com sonoridades autênticas e letras ácidas. Ano passado, a banda realizou uma apresentação ao vivo na Kiss Club, transmitido e organizado pela rádio Kiss FM. Neste ano, tocaram na Casa Rockambole, em São Paulo, abrindo para a Amen Jr, além de participar do show de lançamento do novo disco da banda Zander, onde dividiram o palco também com a Molho Negro. “FAKE FAKE FAKE” é a primeira música do futuro álbum da banda, previsto para o ano que vem, e abre uma série de lançamentos de singles.

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Autor

  • Eduardo da Costa

    Redator do site Minuto Indie. Graduado em jornalismo e pós-graduado em marketing digital e comunicação para redes sociais, amante de música, esportes, cinema e fotógrafo por hobby. Siga-me nas redes sociais: Facebook: duffnfedanfe; Instagram: nfedanfe; Twitter: _duffe; Last.Fm: duffhc3m; Pinterest: duffe_;

Escrito por

Eduardo da Costa

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