Já parou pra pensar o porquê que antes da internet (e até mesmo depois) existem tantas versões brasileiras de músicas estrangeiras?
Uma dúvida que bate muito na cabeça de quem consome música de forma mais profunda é o fato de que existem diversos exemplos de músicas estrangeiras que ganharam a sua singela versão nacional. Mas o que pode ser considerado versão, plágio ou inspiração nestes casos?
E sim, nós sabemos que o contrário também aconteceu, e diversas músicas, principalmente norte-americanas, também resultaram de inspirações brasileiras, mesmo que haja gente que duvide muito disso.
Se você é uma pessoa mais velha ou até mesmo que consome música de todas as épocas e todas as vertentes, já percebeu uma música parecida aqui, uma outra versão ali, uma tradução descarada e a vida seguiu normalmente, mas uma coisa que pega bastante nas música pré-internet, é que existia uma dificuldade gigantesca para que as músicas de fora pudessem chegar ao ouvido popular brasileiro.
Claro que clássicos da música mundial tocaram exaustivamente pelas rádios tupiniquins, mas existia uma grande leva de canções que sequer um dia tocaram por aqui e eram conhecidas apenas por pessoas que consumiam discos completos ou que tinham conexões com pessoas de fora e podiam fazer a ponte entre a troca de materiais.
Como era a música antes da internet?
O começo dos anos 2000 proporcionou uma grande revolução na indústria fonográfica, já que com a Napster e conseguintemente com o Mp3.com, Emule, Shareaza, Trama Virtual e tantos outros meios de disponibilização de compartilhamento de músicas pela internet, eram impossível monetizar e mensurar o alcance de cada canção lançada.
Porém, há menos de 10 anos a indústria pode novamente controlar isso, se adequando aos novos tempos e trabalhando em conjunto a plataformas de streaming e até mesmo o Google, agora é possível lucrar e manter o controle novamente do mercado.
Só que antes as coisas eram bem diferentes, para se consumir música você possuía apenas as rádios ou teria que comprar (os caros) materiais do artista, como discos, CD’s, DVD’s e VHS. Isso para quem tinha condições e financiamentos para gravar e disponibilizar estes matérias, já que eram necessários estúdios e métodos de distribuição que envolviam também altos custos.
Para conseguir materiais de bandas e artistas estrangeiros o “parto” era ainda mais complicado, já que muitos desses artistas não tinham materiais licenciados por aqui e poucas gravadoras tinha interesse de lançar esses materiais apenas para nichos específicos. Com isso, era necessária uma troca clandestina, através de cartas (era isso que se fazia antes dos mensageiros instantâneos) e isso trazia uma grande expectativa, já que não era garantido o envio deste material.
Parece papo de velho, mas eu precisava dar um contexto para que vocês pudessem entender. Por conta dessa dificuldade de informações, só ia para a “gringa” quem tinha condições e muitos managers se aproveitavam disso para pesquisar pessoalmente o que estava estourando em outros países.
E não é uma acusação, já que não sou eu quem poderia julgar se isso era certo ou errado, mas muitos também traziam materiais e mostravam aos seus artistas o que chamava a atenção de outros públicos. Com isso, muitos se inspiraram ou até mesmo copiaram acordes, notas, maneiras e trejeitos de criar suas próprias canções de acordo com o que estava sendo feito fora do país.
Versão, plágio ou inspiração? É plágio ou não é?
Depende. E sabe por que depende? Porque muitos artistas de fora se sentiram lisonjeados, outros cobraram o licenciamento e muitos outros (o que eu acredito ser em sua grande maioria) sequer souberam dessas versões.
Alguns casos da música, antes da internet, deram muito assunto, como no caso da Legião Urbana ter sua música “Ainda é Cedo” comparada a “Love is the Drug“, da banda The Cartoons, além de ser parecida com alguns outros arranjos do The Smiths.
Outros casos famosos são os da canções “Vou de Taxi“, que trouxe grande força a carreira da Angélica e é uma versão da francesa “Joe Le Taxi“, de Vanessa Paradis e também da “É Por Você Que Eu Canto“, de Leandro e Leonardo (que inclusive, no sertanejo isso sempre foi muito comum), que é uma prima distante de “The Sound of Silence” de Simon & Grafunkel“.
A questão é que isso começou a ficar cada vez mais explícito com a chegada da informação. Sandy e Junior e Charlie Brown Jr. foram alguns exemplos que tiveram algumas músicas dos anos 90 mais reconhecidas em suas versões pelo público brasileiro. Apenas como exemplo, cito “Não Ter“, da dupla, que tem sua inspiração em “Non C’è” de Laura Pausini e “Hoje Eu Acordei Feliz”, versão de “Brack Train Jack“, da banda de hardcore/punk Leapfrog.
Mas ai veio a internet, e o acesso a música cada vez mais fácil fez com que a globalização do compartilhamento de arquivos trouxesse aquelas informações que por muito tempo poucos tinham.
O problema é que aquela música parecida ficou também mais fácil de chegar em todos os cantos. E não demorou muito pra que alguns artistas começassem a perceber que músicas parecidas com as suas começaram a rodas o globo na voz de outros.
Um dos casos mais famosos do início da inclusão digital foi do NX Zero, que foi acusada pela banda americana Taking Back Sunday de se apropriar do refrão de “MakeDamnSure” para criar “Daqui pra Frente“. O produtor Rick Bonadio chegou a época a dizer que “É inevitável que trechos das melodias pareçam uns com os outros em várias partes do mundo”.
Mas e o contrário, na questão de versão, plágio ou inspiração, também aconteceu?
Sim, existem casos em que músicas brasileiras foram copiadas pelos gringos (risos). Talvez o caso mais famoso da música seja a de “Taj Mahal“, composta por Jorge Ben Jor e que foi “copiada” por Rod Stewart, em “Da Ya Think I’m Sexy“. O cantor americano foi processado pelo brasileiro, que de forma amigável reconheceu o plágio e encerrou o assunto. Você pode até ver a matéria do Fantástico de 1979, abaixo:
Mas e você, acha que tudo é versão, plágio, inspiração ou que não existe nada disso, pois “nada se cria, tudo se copia” e tudo bem? Queremos suas opiniões.
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