Essa é uma reflexão para as viúvas do Electra Heart: Marina se tornou mesmo algo esquecível?

No dia 11 de junho de 2021 tivemos o lançamento do esperado quinto trabalho de Marina, o Ancient Dreams in a Modern Land, que contou com os singles ‘’Man’s World’’, ‘’Purge the Poison’’, a faixa-título e ‘’Venus Fly Trap. O álbum foi muito bem recebido pelos fãs e pela crítica musical, recebendo a nota 79 com base em oito resenhas

Apesar de todos os elogios, ainda paira no ar o questionamento se a cantora se distanciou muito de seu objetivo como cantora, que acabou retirando o ‘’The Diamonds’’ de seu nome artístico no qual apontam ser o motivo do ‘’decair’’ de sua carreira. Seu primogênito lançado em 2010, o The Family Jewels, chegou a ser colocado no quinto lugar no UK Albums Chart, declarando que Marina poderia ser um ótimo potencial de artista revelação no pop indie. Dois anos depois tivemos o estrondoso Electra Heart, um dos maiores sucessos de toda sua carreira que esbanja sexualidade e feminismo; o electropop Froot que divaga sutilmente em uma vibe meio groovie e o Love + Fear em 2019, que foi recebido com olhares curiosos e algumas caretas. 

Esse último foi onde a cantora delimitou um novo início, já que sua pausa musical havia perdurado desde o lançamento de Froot para se dedicar nos seus estudos de psicologia. Ao anunciar a mudança de seu nome artístico, muitos fãs aguardavam ansiosamente pela vinda do que mais aguardavam: músicas novas. Daí o Love + Fear veio, sendo o famoso divisor de águas entre os seus ouvintes. Quer dizer, o álbum é realmente um ponto fora da curva ou uma frustração coletiva boba? 

Nesse disco Marina está em uma busca pessoal, reflexiva demais para se preocupar em fazer hit. Poderia dizer que Love + Fear seria um perfeito exemplo de storytelling sonoro, quer quem aceite ou não. Não sendo um álbum comercial, aqui ela quer deixar claro todas suas vivências durante sua pausa, mas ainda como uma simples compositora apaixonada no que faz: compor. Talvez daí que saiu a frustração, mesmo que inconsciente, de seus ouvintes, que esperavam um grande sucessor do Froot depois de quatro anos sem música nova. É compreensível! Vimos isso acontecer exatamente com o mais recente disco da cantora Lana Del Rey, o Chemtrails Over The Country Club, por exemplo, que também tem sido considerado como o ‘’patinho feio’’ entre sua discografia e ainda mais por ter seguido o ovacionado Norman fucking Rockwell!

A questão é: Marina sempre foi um ponto fora da curva. Seu jeito de fazer música é tão autêntico como sua voz. Uma típica deusa grega de verdade, sem poupar elogios aqui. ‘’How To Be A Heartbreaker’’ consegue sim ser tão maravilhoso quanto ‘’Handmade Heaven’’, mesmo uma composição sendo mais ousada que a outra. Ela consegue encaixar meticulosamente determinadas situações e pensamentos nos mais diferentes estilos, que no fim, acabam casando de véu e grinalda. Seria impossível vermos o Froot com toda a luxúria do Electra Heart, assim como também seria completamente estranho, apesar de curioso, ouvir qualquer coisa do The Family Jewels com a vibe de psicologia do Love + Fear. Isso tudo porque não tem como substituir uma obra pela outra, apenas por cada um ter seus específicos detalhes que lhe fazem especiais e únicos. 

E aí veio o Ancient(…), que desde sua primeira divulgação trouxe à tona as viúvas de eras passadas que imploravam para Marina retornar à estética dos cabelos platinados com um coração tatuado na bochecha. Muitos esperavam isso e uma quebradora de lares, mas acabaram recebendo no lugar a quebradora de tabus, como diz os incontáveis memes de fãs pelo Twitter. Mas, claro, ela não poderia ter feito isso da melhor maneira. 

 

 

Seu último disco é a ideia concretizada de sua persona. Uma compositora que vai além de músicas comerciais para refletir diretamente sobre o que estamos passando ao longo dos anos como sociedade. Podemos não perceber tamanha significância e peso de suas letras pelo ritmo acelerado e eletrizante, mas ainda assim o soco no estômago é muito bem dado para quem se atenta aos detalhes. Preconceitos e injustiças estão na ponta de sua língua, onde até mesmo a misoginia ganha espaço para ser pisoteada em alguns versos de suas canções, como ‘’Purge The Poison’’, onde clama que ‘’Harvey Weinstein foi para a prisão, o movimento Me Too revelou tudo; a verdade em toda sua glória, o final de uma história’’.

Revolucionar é o carro chefe de Ancient Dreams in a Modern Land, mas não restritamente na indústria musical em si. Nah! Aqui Marina prioriza outra coisa. Tudo que irrita não somente a ela como nós mesmos é remetido vorazmente com suas guitarras sintéticas para além. Em uma vibe anos 80, tanto na sonoridade quanto ao visual de seus clipes, ela entrega novamente sua autenticidade da forma mais magnífica possível, dilacerando princípios de uma perfeição incabível e numa paz utópica pra lá de inspiradora e ao mesmo tempo instigante. 

E sim, meus amigos. Marina é um ponto fora da curva, mas em formato de fenômeno. Apesar de hoje não possuir mais os diamantes em seu nome, não é tão questionável assim que seu brilho está para reluzir por muito tempo a mais por aí. Marina continua vivíssima e sua música está longe de respirar por aparelhos.

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Autor

Escrito por

Ana Luiza Portella

Apenas uma estudante de jornalismo completamente viciada em descobrir os mais variados artistas musicais que existem por aí nesse mundo.