No momento, tudo o que temos é o single faixa-título e alguns detalhes de ficha técnica, mas como sempre, em tudo que faz ela gera expectativas.

O momento chegou, ou melhor, “Ella é o momento”. Quatro anos depois do aclamado Melodrama, Lorde anuncia sua nova fase, coroada com o lançamento de Solar Power, seu terceiro disco de estúdio, a ser lançado em 20 de agosto. Mesmo com apenas uma música do trabalho lançada, já foi o bastante para um mini frenesi na internet, arrancando tweets acalorados como “Lorde voltou, enfim posso dar um reboot na minha personalidade”, ou “Gente, a Lorde não tem culpa que ela fez terapia e o mundo está esse inferno”. Essas impressões não são apenas cômicas, mas também conseguem transmitir uma primeira impressão dessa nova fase da neozelandesa. De forma curiosa, o que mais chama atenção em “Solar Power” até o momento é a repaginada ‘astral’ da artista, e não uma evidente reinvenção sonora. O quão isso é válido? muito.

Ao categorizar qualquer fenômeno musical de apelo jovem que surgiu depois de 2013, a crítica no geral apontou muitos artistas e sons como uma continuação da estética que Lorde inaugurou no mainstream com Pure Heroine. No som, um minimalismo melancólico com beats esfumados. Nas letras, um descontentamento com o apelo biscoiteiro de astros pop da época. Diferente de Lana Del Rey e Billie Eilish (mais recentemente), Lorde não enfrentou muitas divergências quanto à relevância e autenticidade de seu trabalho, nem foi tão facilmente taxada como uma ‘sad girl’ qualquer. Até porque, a bad nunca foi o tema central de suas músicas. Inclusive, quando Lana Del Rey já estava no topo da estética Tumblr da bad, Lorde se mostrou meio preocupada com o impacto dessa glamourização da tristeza, dizendo numa entrevista ao The FADER: Ela é ótima, mas eu escutei aquele disco da Lana Del Rey e o tempo todo eu estava pensando que não é nada saudável para meninas ouvir sabe. ‘Eu não sou nada sem você.’ Este tipo de desespero, ‘não me deixe’, essas coisas. Isso não é bom para as meninas, mesmo para os jovens ouvirem”

Diferente da ideia da bad, a vibe ‘anti social’ foi a tônica dessa primeira fase de Lorde, que nos primeiros versos da primeira música de Pure Heroine já dizia: “Você não acha chato como as pessoas falam?”. Voltando a 2021, isso explica como intrinsecamente as atenções em torno desse novo trabalho se concentram no momento emocional de Lorde, além da música. De maneira orgânica e gradual, a menina do dark pop se jogou de vez em uma proposta de conexão com o mundo exterior, valorizando o contato afetivo dos círculos sociais. Ok, já falamos muito de vibes e etc. Mas e no som, o que vem aí? Uma música apenas é o que temos até o momento, a faixa-título “Solar Power”, mas dá para imaginar algumas coisas que podem aparecer no disco. A faixa de 3 minutos e 12 segundos aposta numa abordagem ‘básica’, de explosão no final e repetição do título, embalada por um pop retrô minimalista como no começo de carreira, mas numa roupagem mais despojada e ‘desestressada’. Num mood todo “deixa a vida me levar”, Lorde traz uma ideia muito sensitiva de como aproveitar o momento. 

 

Esqueça todas as lágrimas que você já chorou.

Já acabou.

É um novo estado mental.

Você vai vir, meu bem?

 

É como se ela fizesse um convite aos fãs para superar aquela fase inicial, e se apegar aquilo que traz conforto. No caso dela, é o sol. Pensando sobre isso, nesse destaque ao clima solar, algo que dá pra sacar é que, dentre muitas coisas na natureza, o sol é uma das coisas a que qualquer pessoa tem acesso, em qualquer lugar do mundo. Logo, ao mesmo tempo em que ela propõe se isolar das turbulências da gentrificação, Lorde consegue apelar àquilo que mais é acessível às pessoas, e que de certa forma simboliza uma renovação regular: o sol. Nesse contexto, a sonoridade cai como uma luva, dando leveza a pegada épica característica desde Melodrama. Com predominância do violão e backing vocals, a progressão é composta por versos curtos que deságuam num refrão previsível mas empolgante. De forma curiosa, o final da música, onde o título é martelado repetidas vezes, lembra muito a sequência de acordes do hit “Freedom! ‘90”, de George Michael. Assim, Lorde acena para esse pop retrô anos 90, ao mesmo tempo que se encaixa bem ao astral indie solar de músicas dos últimos anos como “Harmony Hall” do Vampire Weekend, e “Summer Girl” das irmãs Haim.

O quanto isso pode aparecer mais no álbum em si? Não dá pra saber ao certo, mas tomando como ponto de partida especulativa “Green Light”, o primeiro single de Melodrama, dá pra dizer que talvez ela tenha apresentado nesse primeiro momento a música com o maior apelo comercial, a mais ‘animada’. Ao mesmo tempo, “Solar Power”, é a faixa-título, então não dá para ser reducionista ao ponto de dizer que essa é mais ‘alegrinha’ e por isso foi escolhida como lead single. Prestando atenção a esse paralelo entre “Green Light” e ”Solar Power”, algo que faz sentido é tentar projetar sonoridades relacionadas aos respectivos lead singles. Em “Green Light”, Lorde saiu do seu clima de “dark pop da garota que não sai do quarto”, para uma performance de arena. Mais adiante, essa vibe se mostrou de diferentes formas no Melodrama, através de momentos mais intimistas como em “Writer In The Dark”, e épicos como no synthpop mais palatável de “Perfect Places”.

Da mesma forma, que sons poderíamos visualizar nessa estética apresentada nesse primeiro single? Bom, obviamente nem só de violão viverá Solar Power, porém a áurea goodvibes pode trazer elementos de neo soul no maior estilo Jorja Smith, ou então um pop com beats recortados como fez Billie Eilish em seu disco de estreia. Num panorama geral, o que dá pra esperar desse terceiro disco da Lorde é uma pegada mais de ‘auto apreciação’ da artista, e não uma proposta mais ambiciosa como foi em Melodrama. O que vier com certeza vai trazer a tona não só qualidade do álbum em si, mas também todo um comparativo com os dois trabalhos anteriores. Apesar de inevitável e possivelmente reducionista, esse exercício só atesta a relevância de Lorde como uma das principais artistas da sua época, onde tudo o que faz é colocado numa perspectiva ampla livre de efemeridades.

Solar Power tem lançamento definido para 20 de agosto, e conta com a produção de Jack Antonoff, que também trabalhou com Lorde em Melodrama, além de já ter colaborado em álbuns destacáveis desse ano como Chemtrails Over The Country Club de Lana Del Rey, e Daddy´s Home de St. Vincent. A tracklist do álbum também foi revelada:

1- The Path

2 – Solar Power

3 – California

4 – Stoned in the Nail Salon

5 – Fallen Fruit

6 – Secrets From a Girl (Who’s Seen It All)

7 – The Man with An Axe

8 – Dominoes

9 – Big Star

10 – Leader of a New Regime

11 – Mood Ring

12 – Oceanic Feeling

Capa de Solar Power. A foto foi tirada por uma amiga da cantora, Ophelia Mikkelson Jones.

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Autor

  • Luan Gomes

    Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"

Escrito por

Luan Gomes

Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"