QUASE RESENHA: ”OH NO” (2021) – Para quem não conhece Xiu Xiu e está chegando só agora (assim como eu)

Em seu 16º álbum, Xiu Xiu conta com a participação de 15 artistas e um cover sombrio que faz jus ao The Cure.

Fazendo jus ao conceito do quadro ”Quase Resenha”, o texto se baseará nas minhas experiências (pessoal e documental) sobre o álbum. Como o próprio título já diz, é para quem está chegando agora, conheceu Xiu Xiu recentemente ou está em dúvida se valerão à pena os 53 minutos e 40 segundos de escuta. Aos fãs, não me levem a mal mas, a proposta não é fazer uma biografia da banda ou um comparativo com os 15 álbuns anteriores (na verdade, vou fazer só com um). É quase um ”Escutando Nirvana pela 1ª vez”, só que de outra banda. Recado passado, vamos ao que interessa!

Dica: Enquanto você está lendo, você pode apertar o play nas músicas que estão ao longo do texto. Dá para escutar na íntegra sem precisar se redirecionar para outra aba ou app 😉

Como conheci Xiu Xiu

Conheci a Xiu Xiu (Jamie Stewart e Angela Seo) por volta de 2019 num lugar chamado ”internet”. O nome me chamou a atenção mas ficou por isso mesmo. Um dia, um amigo havia comentado que estava escutando bastante e quando questionei sobre como era o som houve um breve silêncio e uma expressão de ”Error Sound -Windows XP” e a resposta foi algo como ”não tem como descrever” . Depois descobri que eles tinham feito a trilha para o Twin Peaks (não tenho certeza para qual momento do TP, mas enfim, pensei ”carai, eles devem ser conhecidos, então”), e isso me deixou curiosa. Um ano depois fui ouvir o álbum ”Girl with Basket of Fruit” (2019). Não vem ao caso agora porque se não vai se tornar um ”Quase Resenha” dentro desse mas, a questão é que eu fiquei ??? !!! ?!?!?! e achei um tanto quanto tenebroso de medo e não entendi bem a proposta, ao ponto em que eu estava no busão, escutando a faixa-título e pensando ”carai, muito bom em”, e a tragédia veio logo em seguida quando resolvi prestar atenção na letra. Aí mermão… eu fiquei ”acho que tô entendendo tudo errado… ele não deve estar falando isso…”, e no final das contas, minha tradução em tempo real estava certa. E a real é que não entendi o porquê e pra quê.

”OH NO” (2021)

ENFIM, background dito, chegamos em 2021. Buscando por lançamentos em março de 2021, encontrei o ”OH NO” da Xiu Xiu. O que me fez pensar ”ok vamos tentar novamente’‘ foi que as 15 faixas tinham participações especiais. Mano, chamar 15 pessoas diferentes e fazer um álbum, isso não é simples. Fora se começarmos a viajar e pensar se vai ser coeso de início ao fim ou tudo aleatório.

Lançado em 26 de março pelo selo Polyvinyl Records, o álbum tem sim uma coesão, ao mesmo tempo que possui uma variedade de músicas. Quero dar ULTRA destaque para as camadas e texturas que são construidas em cada faixa (tenha em mente que esse é o ponto de destaque do álbum). A construção deles contém diversas camadas as quais poderia ser descritas até amanhã, mas para resumir temos desde synths, violão, piano, ruídos, vocalizações, densidades diferentes, etc.

O álbum começa com a parceria de Sharon Van Etten (que lançou ”Remind Me Tomorrow” em 2019), e entre declarações abertas e sinceras, Sharon e Stewart mesclam um dueto dolorosamente bonito. As duas faixas seguintes seguem essa linha, como a ”The Grifters” em parceria com Haley Fohr – essa faixa me fez pensar ”ok, esse álbum vai ser bom” e ”essa música é calma na medida certa para mim”.

Outro ponto o qual me fez querer muito falar sobre o álbum é o que senti enquanto escutava (e que também não sentia a muito tempo): um nível de sinceridade sentimental o qual não tenho contato há muito tempo – e o qual foi intensificado pela pandemia e isolamento social. No álbum anterior me incomodava o lance pessimista e autodestrutivo, e isso ainda permanece no de 2021, porém, mais ”leve” – não que eles estejam ”Pegando Leve” que nem O Terno. Tem mais haver sobre alívio emocional. Mas ainda sim, várias questões. Mas há um respiro.

Faixas como ”OH NO” (Susanne Sachsse) e ”Rumpus Room” (Angus Andrew) também são bem daoras, mais pops no sentido dançante e melódico. Outras também que me fizeram ficar ”carai mano, olha esse caos ambiente experimental” foram ”Goodbye For Good” (Greg Saunier) e ”A Classic Screw” (Fabrizio Modonese Palumbo).

Outras observações aleatórias:

• Owen Pallett (sim, que junto da Arcade Fire compuseram a trilha do filme ”Her”) participa em ”I Dream of Someone Else Entirely”.
• Se você tem fobia do som de bexiga, NÃO ouça ”It Bothers Me All The Time” (Sheatwater). Caso não seja seu caso, ouça, é lindo.
• Tem um cover de The Cure para ”One Hundred Years” com Chelsea Wolfe. – bem dark essa versão. Faz jus ao The Cure.
• ”Saint Dymphna” (Twin Shadow) me lembrou ”Funeral” (2004) da Arcade Fire.
• ”A Bottle of Rum” (Liz Harris) me lembra muito David Bowie no estilo ”Heroes”.
• Em alguns momentos me lembrou uma paradas alternativas dos anos 80 e a trilha de Her (mas o Owen Pallett só participou do vocal).

Enfim, para quem está chegando agora o lance é escutar sem pressa e deixar suas expectativas de lado, principalmente se você não está acostumada com experimental. As construções não são nada clássicas e são levadas através da sensibilidade, e não pela técnica. Assim como eu não estava na vibe quando escutei o “Girl with Basket of Fruit”, recomendo esperar o momento ideal para você ter um proveito mais intensificado – seja te despertando para o bem estar ou oposto.

Logo depois da 1ª audição, fui averiguar se haviam informações sobre no Bandcamp, e fiquei feliz com o que encontrei: 5 extensos parágrafos. Dois pontos que gostaria de destacar: primeiro que o álbum foi composto entre 2019 à 2020 (Stewart estava passando por um péssimo momento, somado a pandemia), e segundo (traduzido para o português):

Sua revelação [ele explicando sobre o processo de produção] e a música que saiu dela são um lembrete do poder da música de Xiu Xiu para surpreender e conectar. Ouvindo as músicas de OH NO, é difícil se sentir verdadeiramente sozinho. Em vez disso, é um lembrete de que mesmo quando estamos sozinhos, estamos sozinhos juntos.

Bandcamp Xiu Xiu

Não é um álbum sobre pandemia e afins mas, me fez sentir emoções e sentimentos como se estivesse de volta, em contato social.

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