O grupo sul-coreano BTS lançou seu terceiro single em inglês

Não é fácil assumir que um artista errou, principalmente se este for seu artista preferido. Mas aqui estou, infelizmente, mais uma vez. Hoje (09), o grupo sul-coreano BTS lançou seu novo single “Permission to Dance”, a b-side do hit Billboardiano “Butter”. O clipe da música teve uma estreia com mais de um milhão de pessoas assistindo simultaneamente pelo YouTube, aguardando ansiosamente para o que a maior banda do mundo apresentaria em seguida. As informações que tínhamos até então para causar tamanha ansiedade? Primeiramente, o nosso vampiro-coringa Ed Sheeran como um dos compositores da faixa ao lado do time que trabalhou nos outros singles em inglês do grupo, estes sendo Steve Mac, Johnny McDaid e Jenna Andrews. O grupo chegou a lançar algumas fotos conceituais deles existindo, sendo presos, lavando carro e curtindo uma praia para o álbum do single e também foi divulgado um teaser do clipe que nos apresenta um BTS cowboy pronto para superar a pandemia. Mas aí é que tá.

Se o BTS foi muito bem sucedido em “Life Goes On” ao tratar a pandemia com o peso que ela tem, “Permission to Dance” foi o oposto. Tem pessoas com máscara no clipe. Ok, bom. No final essas pessoas saem por aí tirando as máscaras e dançando, já que afinal elas não precisam de permissão para dançar. Não foi ok. Eles são cowboys; tem balões roxos; referência à manteiga; um balé vestido de branco rouba a cena no final enquanto os takes são intercalados com pessoas arrancando as máscaras felizes; o Jungkook tem cabelo emo; o painel que preenche o cenário do refrão diz que “a espera acabou” e eles mesmos reafirmam isso ao cantar que “a espera acabou, o tempo é agora então vamos fazer direito”; tem garçonetes, professores, crianças, ruivos, todo mundo sentindo a tão aguardada liberdade, todos “vivendo como se fôssemos dourados”, afinal “não precisamos nos preocupar, porque quando caímos sabemos como aterrissar”. Violinos e pianos compõem a aura grandiosa desse momento de alívio e celebração em meio a referências desconexas durante o clipe.

Sei que provavelmente alguém vai se irritar lendo esse texto porque alguém já se irritou lendo tweets com opiniões similares, mas é difícil imaginar essa canção sendo projetada para o futuro. Ela é projetada em tempo presente para os EUA, para a Inglaterra, não para mim e nem para você que tá aí no Sul-Global de modo geral. Nem para eles que estão na Coreia do Sul que, apesar de estarem melhores que a gente (o que não é difícil), também não estão em uma situação controlada de sair por aí tirando suas máscaras e dançando. Simplesmente não é maneiro fazer clipe se libertando de máscaras vivendo a realidade em que as pessoas precisam usar máscara e não respeitam. Não precisa ser assim. “Dynamite” foi uma música para tirar o sofrimento do presente sem ser uma música sobre pandemia, e antes este fosse o caso mais uma vez – apesar de ser possível se confundir com os da-na-na-na-na-na-na que tocam nessa.

Logo no início da música, o líder e rapper RM canta “Quando tudo parece estar dando errado, cante junto com o Elton John e com aquele sentimento, estamos apenas começando”. Agora, como eu não pensei antes que a cura para os meus problemas pandêmicos seria ouvir e cantar um bom Elton John? Se o clipe é ruim, a composição não ajuda e a produção e melodia também não. O autotune não é lá dos melhores, a melodia é um abraço às mais sem graças de musicais da Disney (que contam com várias músicas que amo, essa só não seria uma dessas), as letras já foram citadas – melhor não lembrar – e o clipe em geral mandou um grande beijo para Pharrell Williams em Happy, porém com péssimo timing. Uma das piores do comercial-de-margarina-core. A melhor parte do clipe? Quando a música acaba e aparece a equipe toda com máscara dançando junto aos membros do grupo. Isso deu uma certa esperança. Eu entenderia se o Ed Sheeran cantasse essa música olhando para o seu próprio umbigo e os estádios lotados de pessoas na Inglaterra, mas não consigo compreender porque o BTS achou uma boa ideia passar essa mensagem para sua audiência global. A espera não acabou para gente, não há canção do Elton John que me faça fingir que sim.

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Autor

Escrito por

Maria Luísa Rodrigues

mestranda em comunicação, midióloga de formação e jornalista de profissão. no Minuto Indie desde 2015 e em outros lugares nesse meio tempo.