Em “meet the terrible”, brvnks volta com um disco que expande o som apresentado no álbum de estreia, trazendo ótimas composições que transitam entre o rock alternativo dos anos 90, o pop rock dos anos 2000, e o indie pop da última década

De amarelo e branco para vermelho e rosa. De cara coberta pelos cabelos para pose com um doguinho pegando fogo. A diferença nas cores e no mood entre as capas dos dois álbuns da brvnks podem não sugerir muita coisa num primeiro momento, mas logo algumas percepções vão aparecendo. Após o sucesso do EP “Lanches” (2016), brvnks se estabeleceu como um dos principais nomes do indie rock nacional com seu álbum de estreia, “Morri de Raiva” (2019), lançado pela Sony Music Brasil. Se no primeiro disco as letras trazem muito do humor e do drama adolescente, em “meet the terrible” brvnks traz um pouco de tudo, desde uma noção mais reflexiva para as mesmas questões de amadurecimento, até um certo autocontrole sobre incertezas do futuro.

Sutil e muito bem construída, a diferença sonora presente em “meet the terrible” aponta para um som menos frenético que o disco de estreia. De forma prática, ela deixa um pouco de lado o rock alternativo mais pesado, que chegava a flertar com hardcore, para um som mais colorido e arranjado. O elemento mais significativo nessa mudança com certeza é o papel das guitarras e violão. Sai as paredes de guitarra ao estilo Weezer e entra uma diversidade de timbres, que dão vazão a um trabalho vocal de consciência pop incrível. Se as duas primeiras músicas, “ok, this is hard” e “happy together” lembram a época de ouro do Coldplay, a parte mais alternativa do álbum conta com músicas como “as coisas mudam”, “cici” e “sleeping on trial”, que lembram respectivamente nomes como Soccer Mommy, Mac DeMarco e Phoebe Bridgers. O terceiro mood sonoro do álbum, de músicas como a faixa título e “lado de dentro”, fica mais ligado ao indie pop dos anos 2010, do tipo de som eclético e levemente groovado que marcou bandas do cenário internacional como Blossoms, Wallows e Clairo. Sem exageros, as dez músicas do álbum funcionam muito bem individualmente. Tanto que rola de algumas completarem esses três estilos mais predominantes com uma vibe própria, cada uma à sua maneira, como é o caso de “sei lá” em parceria com a Raça, que traz uma vibe bem indie rock canadense do começo dos anos 2000, tipo Broken Social Scene e Metric. Ainda sobra espaço para a adorável “i love you charlie”, que tem todo jeito de hit pop rock, bem no estilo de “Fallin’ For You” da Colbie Caillat.

As letras trazem uma Bruna meio que conformada e observadora quanto ao fato de que a vida é cheia de acontecimentos que apesar de trazerem grandes mudanças, não estão sob nosso controle. 

“e bem do lado de dentro de mim, tem o bom e tem o ruim, e todas as coisas que existem são assim”

 

Bruna Guimarães, a “brvnks”, em foto por Mayã Guimarães.

Esse brilhante trecho de “lado de dentro” traz bem a tônica do álbum, presente em outros momentos como “as coisas mudam e eu lá”, que num sentido geral parecem não definir, mas ilustram mesmo que como uma memória turva, que o tempo não acompanha nossas expectativas e projeções. É claro que a noção de coisas como essa são desafiadoras na prática, o que traz entre muitas coisas, questionamentos sobre autoconhecimento e alguns vínculos. Dessa forma, “meet the terrible” traz uma linguagem que acompanha obras artísticas recentes com o mesmo senso de auto indulgência irônica-não-tão-irônica como o filme noroeguês “The Worst Person In The World” (2021), e é claro, a já citada Phoebe Bridgers

 

Ao mesmo tempo que desacelera o ritmo em seu segundo álbum, brvnks traz um trabalho mais encorpado, leve mas mais intenso. Esse equilíbrio entre a cor do som e os temas cinzentos das letras faz de “meet the terrible” um trabalho organicamente relacionável, sem perder o seu valor singular de trajetória artística.

 

capa do novo álbum da brvnks, “meet the terrible”. Uma ilustração de Ana Julia Dotto.

 

brvnks, “meet the terrible” (2022)

Indie Rock, Pop Rock, Indie Pop.

Lançamento Independente.

Pra quem curte: Soccer Mommy, Dayglow e Phoebe Bridgers.

NOTA: 9

 

 

 

 

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Autor

  • Luan Gomes

    Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"

Escrito por

Luan Gomes

Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"