Beenzino, aclamado rapper sul-coreano, retorna mais tranquilo e potente que nunca em seu novo álbum, NOWITZKI 

O assunto de hoje não é uma possível carreira musical do jogador de basquete Dirk Nowitzki. Estamos falando do rapper sul-coreano Beenzino e seu novo álbum NOWITZKI (2023) – não por acaso, nomeado em homenagem ao jogador alemão. O lançamento de seu segundo álbum de estúdio marca o retorno do artista após sete anos desde 12 (2016), seu álbum de estreia. 

Se a trajetória do Beenzino dá indícios de uma figura mainstream com gostinho de underground, o NOWITZKI chega para reafirmar essa posição: foram 40.000 cópias vendidas na pré-venda do álbum, números impressionantes para o rap sul-coreano. Mas, afinal, quem é Beenzino? E por que o NOWITZKI merece sua atenção?

Capa do álbum NOWITZKI do rapper sul-coreano Beenzino.
Capa de NOWITZKI (2023)

Quem é Beenzino?

Pensar no rap da Coreia do Sul durante os anos 2010, é necessariamente passar pelo trabalho do Beenzino. Lim Sung-bin debutou na virada da década, chamando atenção como boa parte dos iniciantes na época – através de fóruns e comunidades de fãs de rap online. Logo Beenzino passou a colaborar com grandes artistas do cena e lançou seu EP de estreia, 24:26 (2012), pela influente Illionaire Records. Desde então, Beenzino é marcado pela consistência e originalidade dos trabalhos sob seu próprio nome, incluindo mais de 40 feats que vão do rap ao K-Pop, e em grupos – no excelente Jazzyfact ao lado do produtor Shimmy Twice e no projeto de uma mixtape só, Hotclip, com Beatbox DG. 

Mas, para além da música, a imagem do Beenzino se popularizou como a referência de pessoa descolada, como diziam os antigos. Todo mundo quer aparecer do seu lado ou seguir os seus passos. O rapper é formado em escultura pela Seoul National University (e sua mãe é artista plástica), é casado com uma alemã (que é a epítome do cool, dizem), é divertido mas não curte qualquer brincadeirinha (fala até pouco com a imprensa) e faz parte do coletivo artístico IAB Studio (que também é marca de roupa daquelas do hype, que esgota tudo rápido e deixa o gostinho de quero mais proposital). 

O que ele toca vira maneiro e interessante. E, claro, a imprensa colabora para vender essa imagem do rapper fora da curva, bonito, jovem, europeu por associação, adorado pelos diferentes gêneros. Bom, não mentiram. Ele mesmo se esforça para dizer que não é como os outros garotos. “Eu sou único, tão único. Estou muito ocupado sendo eu mesmo”, o cantor repete como mantra no refrão de Being Myself, canção do seu primeiro álbum 12 (2016). 

O simples e fascinante NOWITZKI

Um álbum de amor, estranhezas, desconfortos, calma e pertencimento. NOWITZKI não só apresenta sentimentos conflituosos, como nasce de um entre-lugar. O álbum foi gravado pelo rapper entre Coreia do Sul e Suécia, contando com a colaboração de produtores de diferentes partes do mundo como Slom, DPR Cream, Mokyo, Farhot, Bardo e Stuart Moore.

Mas o Beenzino segue como fio condutor da narrativa que passeia por diferentes momentos e gêneros musicais, indo do hip hop alternativo à bossa nova, às vezes em uma mesma faixa, como em In Bed/Makgulli e Gym, dois destaques do disco. Para quem se interessar sobre o processo de produção do álbum, a atual gravadora do artista, BANA, compartilhou a série I’VE BEEN SEEING COLORS com imagens exclusivas dos bastidores.

Esse não é um disco explosivo feito inteiramente para tocar nos clubes de teto baixo durante a madrugada, é um álbum com mais tons de manhãs e tardes. Há faixas potentes, como a viciante Coca Cola Red ou os singles Travel Again e Monet, mas também conta com seus momentos de serenidade, principalmente nas faixas em que sua esposa, a modelo alemã Stefanie Michova, aparece como personagem.

Aliás, é uma foto de Stefanie aos 13 anos de idade que estampa a capa do álbum e seu nome quase foi título do disco. Quase porque o Beenzino ficou com receio das críticas negativas ao álbum e, consequentemente, dos xingamentos com nome da sua esposa online, como conta em uma divertida entrevista ao fenômeno do YouTube Psick Show.

As participações também dão uma nova cara ao álbum. Fugindo dos nomes óbvios, Beenzino optou por chamar os melhores do underground da Coreia e alguns cantores estrangeiros. Um dos destaques é o premiado 250, produtor por trás de sucessos do grupo de K-Pop NewJeans como Hype Boy e ETA (este último que também conta com composição do Beenzino), apesar de ter estreado com seu primeiro e aclamado álbum em 2022. Kim Ximya e oygli também são nomes interessantes do rap da Coreia que dão novas cores ao álbum. Mas nem só de Europa e Coreia é feito este álbum, Lance Skiiiwalker e Cautious Clay são os cantores americanos que aparecem no projeto. 

É fascinante ver essa estranha apresentação de Like A Fool, com participação da dupla de pop experimental Y2K92, em um programa de TV e perceber como eles e o público parecem fora de lugar. E essa é a sensação do disco. Nada mirabolante, mas interessante por ser distante o suficiente da fórmula entediante que aparece com mais frequência nos lançamentos recentes do rap global.

NOWITZKI é um disco de quase uma hora de duração que preza por fazer barulho sem abrir mão dos momentos de silêncio, com boas produções e canções memoráveis que não permitem abrir margem para o tédio. É o simples sendo bem executado e sem se prender a fórmulas, perfeito para ouvir incansavelmente.

Ouça NOWITZKI:

Mais notícias no Minuto Indie.
Curta nossa página no Facebook. Siga nosso Instagram. Saiba mais em nosso Twitter. E fique ligado no nosso canal no YouTube.

Escrito por

Maria Luísa Rodrigues

mestranda em comunicação, midióloga de formação e jornalista de profissão. no Minuto Indie desde 2015 e em outros lugares nesse meio tempo.