Conversamos com d4vd, o cantor de 18 anos que interpola as esferas de amor, animes, jogos, influência gospel e estética DIY em sucessos virais online

Contar com mais de 600 milhões de streams no Spotify não em uma, mas em duas das suas músicas não é para qualquer um. Principalmente quando você tem 18 anos e acabou de lançar o seu primeiro álbum. Mas esse é o caso do d4vd. O cantor norte-americano é um fenômeno do pop alternativo, começou (e continua) gravando suas músicas dentro do armário da irmã e hoje chega aos palcos de grandes festivais como o Melt! na Alemanha e Fuji Rock no Japão. 

“É assim que você sabe que a música é realmente uma experiência espiritual e uma linguagem universal. […] desde que use as ferramentas que tem, você pode ser ouvido por milhões de pessoas.”

David Anthony Burke canta sobre os desencontros e encontros que ocorrem no amor, tudo regado a melancolia, vocais melódicos e beats lo-fi. Bebendo de fontes como a música gospel e jazz, d4vd também passeia pelas guitarras indies como na viciante You and I e ecoa o pop nostálgico de contemporâneos como Joji no seu hit Here With Me

Mas o cantor não parece impressionado ou pressionado pelo seu sucesso recente. Enquanto d4vd ocupa, atualmente, a posição de 176º mais ouvido no Spotify do mundo, em nossa conversa em vídeo vi o artista se animar mais ao falarmos sobre nossa paixão em comum por Jujutsu Kaisen do que os números que tem alcançado. 

Vivendo no entre-lugar como um adolescente que grava suas músicas em casa enquanto faz sucesso mundial, o artista parece querer preservar a naturalidade que o trouxe até aqui. Confira a seguir a tradução da nossa conversa com d4vd, gravada no começo de Julho de 2023. 

Minuto Indie: Começando pelo início de sua carreira. Você começou a fazer músicas como trilhas sonoras de videogames, certo? Mas quando você quis compor letras pela primeira vez?

d4vd: Eu escrevo poesia desde a quinta série. Meu professor costumava ficar tão bravo comigo porque eu sempre escrevia sobre algo diferente do que o livro estava falando.. E acabei escrevendo toda a minha história no final do dia. Bem, quantos anos eu tinha na quinta série? Uns 11 ou 12 anos de idade.

MI: Muito jovem então! Você cresceu em uma família cristã e disse que a música gospel te influenciou muito. Ela segue influenciando sua música atual?

d4vd: Sim, definitivamente influenciou o som que tenho agora. Então você sabe, o aspecto soul da música gospel… Estou tentando trazer o soul para cada tipo de música que faço, não importa o gênero. Então, sim, ela me segue em todos os lugares.

MI: Seu álbum é principalmente sobre amor. E como o título e as músicas sugerem, você está olhando para um lado mais doloroso disso. Mesmo em canções esperançosas como “Here With Me”, há um tom triste nela. Então, por que focar neste lado do amor?

d4vd: Ah, é porque é muito real. Tipo, eu sou muito empático, adoro romance, mas as coisas nem sempre funcionam. Eu amo o fato de que as coisas nem sempre funcionam. Porque você está aprendendo. Cada erro é um processo de aprendizagem. E eu amo expressar isso. E a música, no contraste das emoções, tendo tipo uma música realmente triste em um instrumental otimista ou as melhores letras em uma música tão feliz, sabe? 

MI: Então o que você ouve quando está apaixonado, se é que já se apaixonou?

d4vd: Muito jazz. É o melhor. Essa é a música mais romântica que existe. Frank Sinatra, Chet Baker, Ella Fitzgerald…

MI: Você ainda grava músicas no seu celular?

d4vd: Sim, sim, até hoje. Já passei bastante tempo no estúdio, mas sempre chego em casa e entro no armário da minha irmã, carrego o bandlab no meu telefone e pego os fones de ouvido da Apple.

MI: Que maneiro! Mas você está gravando músicas em seu telefone, no quarto de sua irmã, e então você vê grandes artistas mundiais como BTS e outros compartilhando sua música. Qual é a sensação de saber que algo que saiu daquele quarto está ganhando uma proporção global?

d4vd: É insano. Quero dizer, é assim que você sabe que a música é realmente uma experiência espiritual e uma linguagem universal. Porque você pode chegar a qualquer lugar, desde que use as ferramentas que tem, você pode ser ouvido por milhões de pessoas. E é assim que me orgulho de fazer minha música bem DIY, orgânica. Assim parece que você pode fazer essa música também. Se você ouvir, é algo que todo mundo está vivendo.

MI: Você se sente pressionado depois do sucesso que teve? 

d4vd: Oh, não, de jeito nenhum. Acho que é só eu contra mim. É uma pressão que coloco em mim mesmo, como qualquer pessoa, então só tenho que continuar tentando melhorar. Me concentrando apenas no que posso controlar.

MI: Eu sei que muitas coisas mudaram, mas algumas não. Como você disse, você ainda grava no quarto da sua irmã, mas você fez seu primeiro show, você assinou com uma gravadora. Além do processo de gravação, quais são as coisas que você sente que não mudaram para você?

d4vd: Meu amor por videogames e meu amor por dormir. É isso. Nada mais mudou além de fazer shows e mais música.

MI: Você mencionou videogames. É só curiosidade minha, mas li que você também curte anime.

d4vd: Uhummm.

MI: E a nova temporada de Jujustu Kaisen saiu hoje. Você assiste? [A entrevista aconteceu em 6 de julho]

d4vd: Sim, eu vejo! Estou prestes a assistir depois que terminar aquiiii [cantarolando].

MI: Eu também estou esperando terminarmos para assistir! [risos] Tô muito animada, certeza que vai ser tudo! Quais outros animes você curte?

d4vd: [risos] O meu favorito de todos os tempos é Attack On Titan. Ah, tenho que colocar Demon Slayer em dia, eu tenho lido o mangá de Demon Slayer. Eu tenho lido o mangá de Tokyo Ghoul. O que mais saiu por aqui agora? Spy x Family e Dragon Ball. Os primeiros animes que assisti foram Dragon Ball, Naruto e Parasyte.

MI: Confesso que ainda não assisti Attack on Titan porque meio que tenho medo dos gigantes.

d4vd: Não? Mas você assistiu Jujutsu Kaisen! Dá ainda mais medo do que Attack On Titan.

MI: Acho que não. Não sei… Vou tentar assistir um dia. Eu quero assistir. [risos]

d4vd: Ok, isso é bom [risos]

MI: Que músicas você ouviu recentemente que te deixaram animado, algo que você descobriu recentemente que meio que te surpreendeu?

d4vd: Tem um artista chamado Portraits Of Tracy. Eu conheci algumas semanas atrás. Ele acabou de lançar um projeto muito experimental em que fez a coisa toda parecer um filme. Ele está trazendo de volta a arte perdida de colocar skits em álbuns. Então você chega a uma música específica e ele parece que está acordando. Ele está em uma festa ou algo assim, as pessoas ligam para eles e depois passam para a próxima música. São esquetes durante todo o projeto, achei muito louco. E ele produziu a coisa toda sozinho, então é surreal.

MI: E o que vem aí para você? Quais são seus planos para o futuro? 

d4vd: Eu tenho que terminar essa turnê. Trabalhar em mais música. Soltar mais uma música. Sim, mais música. [risos] Apenas um monte de música, é.

MI: Obrigada! Estaremos esperando por você aqui no Brasil também.

d4vd: Muito obrigado e sim, eu tenho que ir ao Brasil logo!

Ouça o álbum “Petals to Thornes” de d4vd. 

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Escrito por

Maria Luísa Rodrigues

mestranda em comunicação, midióloga de formação e jornalista de profissão. no Minuto Indie desde 2015 e em outros lugares nesse meio tempo.