Conversamos com Las Ligas Menores sobre sua preparação para apresentar o sabor agridoce argentino ao público brasileiro

Cada vez mais relevante no cenário internacional, a banda argentina de indie rock Las Ligas Menores irá se apresentar no Brasil pela primeira vez nos seus onze anos de existência. Com influências de Pixies, Pavement e Galaxie 500, a banda conquistou suas próprias características sonoras, com letras tristes e melodias alegres. Essa combinação não tem agradado apenas os novos fãs que estão acumulando pelo mundo, mas também festivais como Coachella, Primavera Sound e Lollapalooza, os quais tocaram nos últimos anos.

A simplicidade em suas músicas é um dos pilares que a banda destaca para seu sucesso. “Algo que nos contaram é que nossas letras eram simples e diretas. Coisas que todos passamos, como quebrar o coração ou uma viagem que você gosta da paisagem. A maneira que tínhamos de contar era especial”, conta Anabella Cartolano, vocalista e compositora.

Conversamos com a Anabella por chamada de vídeo sobre a expectativa da banda para os três shows por aqui, a cena musical Argentina e o próximo disco, ainda sem data para lançamento. Confira a entrevista abaixo!

Foto: María Kazar

Entrevista:

Minuto Indie: Vocês estão vindo tocar no Brasil pela primeira vez, como anda as expectativas? Já receberam dicas de comidas, bebidas ou lugares para visitar enquanto estiverem aqui?

Anabella Cartolano (Las Ligas Menores): Temos muita expectativa porque nunca fomos, é a primeira vez, em 11 anos de banda, nunca fomos. Então foi um entusiasmo total quando nos convidaram. E eu, por exemplo, conheço o Brasil, só Búzios, porque fui uma vez de férias com meu pai e minha irmã. Não conheço São Paulo, também, é tudo novo. E de bebidas e comidas, eu gostaria de beber leite de coco outra vez, não sei se em São Paulo, imagino que sim, mas qualquer recomendação é bem-vinda.

Minuto Indie: Vocês curtem pegar influências sonoras dos países que passam? Quais são as influências que vocês levam para a sonoridade da banda? São mais influências locais ou de fora?

Anabella Cartolano: Nacionais, tudo começou com as bandas do selo Laptra. Nós nos conhecemos por ser fanáticos de bandas que eram parte do selo, que ainda somos parte, que é o Laptra. E, por exemplo, 107 Faunos, Go-Neko!, Él Mató a un Policía Motorizado, Mapa de bits, Javi Punga, Reno, ou seja, havia muitas bandas como agora, bandas que ainda existem e outras não. Nos encontrávamos em shows e percebemos que todos tínhamos um gosto [em comum]. Quando começamos a conversar percebemos que se tratava também de bandas em geral, não apenas ver as mesmas bandas, mas também ouvir.

Acho que as que mais falamos sempre são Galaxie 500, Pixies, Pavement, mas também ouvimos muita variedade de música, somos pessoas que cresceram buscando músicas para ouvir. Também há algumas bandas punk nacionais que ouvimos e compartilhamos, que não vão refletir na Las Ligas Menores, mesmo que às vezes nos digam que somos punk. Não sei.

Minuto Indie: Você falou que eram fãs dessas bandas da cena. Como você enxerga a cena argentina hoje e a cena internacional que vocês fazem parte também?

Anabella Cartolano: Eu acho que foi notada porque tivemos uma pandemia, onde houve uma pausa que ninguém saía para ver nada. Quando voltamos a ir em shows, muitas bandas que já existiam e as que se formaram durante aquele período começaram a tocar. E acho que isso, mais a vontade das pessoas que foram ao show, fez acontecer o que se fala agora da nova cena. Já havíamos compartilhado algumas bandas antes da pandemia, não só o indie rock, mas também vários outros gêneros diferentes. 

Pouco tempo atrás participamos do festival Nuevo Día e posso falar algumas bandas que tocaram. Estava o El Clube Audiovisual, Mujer Cebra, Buenos Vampiros e Revistas. Há um lugar aqui perto que se chama Moscú e tem um milhão de bandas, como Paranoia, Rosamonte, Lola, Capricho, há um monte de bandas na verdade. 

Minuto Indie: Vocês também fizeram muito sucesso internacionalmente, vocês tocaram em festivais na Europa, Estados Unidos, fizeram sessão na KEXP e agora estão vindo para o Brasil. Algumas bandas argentinas conseguem fazer essa travessia para tocar internacionalmente também, mas não são tantas. O que você acha que tem na banda de vocês, que fizeram vocês se destacarem nesse cenário internacional?

Anabella Cartolano: Acho que é uma simplicidade que tivemos desde o início, em relação a música que fazemos, tanto a sonoridade como as letras. Acho que não inventamos a pólvora, longe disso, mas algo que nos contaram é que as letras eram simples e diretas. Coisas que todos passamos, como quebrar o coração, uma viagem que você gosta da paisagem… a maneira que tínhamos de contar era especial, porque vinha acompanhada de uma melodia que era cativante.

Por isso as letras são um pouco tristes, porque um coração partido é triste, mas ao mesmo tempo eu agradeço, porque daí saem muitas canções que compus. Mas acho que é isso, 

“Fazemos letras tristes e as melodias alegres. Acho que esse contraste é o que chama a atenção.”

Minuto Indie: São mais de 10 anos vocês do primeiro EP e ano que vem o primeiro álbum completa uma década. Como vocês veem esses trabalhos anteriores hoje em dia? Ainda se identificam com as músicas dos projetos mais antigos?

Anabella Cartolano: Vejo ele como uma crueza no som e uma ingenuidade e inocência que não está nos outros discos. Acho que cada um reflete muito a época em que nasceu. O primeiro disco foi o homônimo e o segundo foi “Fuego Artificial”, e nesse acho que houve uma busca de uma sonoridade mais pessoal da banda, onde quisemos que os finais das canções fossem mais experimentais.

“Luces y Cartelas”, foi uma música que nós cinco, intencionalmente, queríamos fazer algo com mais guitarras com delay, e houve uma busca por mais som. Acho que o próximo disco é por aí, nos separarmos um pouco do que estamos fazendo, porque é interessante ver esse crescimento nos discos.

Minuto Indie: Lançaram em março “Piedra del Águila”, música que abre caminho para o 3º álbum da banda. Querem falar um pouco sobre ele?

Anabella Cartolano: Apenas a primeira letra que é engraçada, porque é de experiências pessoais, como qualquer outra da banda, mas o que eu acho que mudou foi justamente eu sentir que faltava algo para começar. Recebi uma mensagem do meu pai, que me dizia o que diz a letra – letra traduzida: “Da Piedra del Águila, indo para casa. Te mando um abraço, te aviso quando chegar”.

Em Piedra del Águila há um posto muito comum, que vai de Buenos Aires a Neuquén. E, geralmente, as pessoas costumam parar para abastecer e, desde que haja sinal, mandam mensagens. 

A primeira parte não tem nada a ver com o resto da música, que fala mais de estar em turnê e estar cansado, por isso diz “quantas garrafas mais vamos esvaziar?”. Basicamente, fala um pouco disso.

Minuto Indie: Como vocês conseguem estar juntas como banda e continuar produzindo músicas por mais de 10 anos? 

Anabella Cartolano: Terapia. (risos) Acho que ninguém teve uma relação de 11 anos, então é difícil às vezes. Nem tudo é sempre risos. Somos cinco pessoas que já tem 30 anos e todos têm uma vida pessoal. Acho que tem paciência e crescimento, não só musicalmente, mas também como pessoas. Hoje é muito diferente de quando começamos. Geralmente conversamos e fazemos reuniões, afinal somos cinco pessoas encontrando nosso lugar nesse mundo. E a comunicação é a base de qualquer relação para que seja boa. Conversamos muito, por sorte. 

Minuto Indie: Vocês foram indicados ao Grammy latino, né? E estamos passando por um momento delicado com as premiações de música, com conversas sobre a relevância dessas. Como vocês receberam a notícia, como a indicação impactou a banda, se impactou? 

Anabella Cartolano: Foi muito estranho e ninguém esperava. Descobrimos no Twitter, não sei se foi Nina ou Pablo que viu e mandou em nosso grupo do WhatsApp. Foi uma surpresa muito grande, de verdade. Não por pessimismo, mas não sei se esperávamos ganhar, acho que já sentimos que havíamos ganhado sendo indicados.

E na época, fazíamos piadas sobre as roupas que poderíamos ter, caso fôssemos. Mas acho que também por uma questão econômica nossa, se ganhássemos não poderíamos ir. Então, ficamos muito felizes de estar indicados, nossas famílias e amigos também.

Mas quando acontecem essas coisas, você percebe o apoio que recebe das pessoas que te escutam, porque escrevem e te mandam muito carinho. 

Minuto Indie: Vocês já tocaram em vários países fora da Argentina e a gente imagina que o show de vocês tem um impacto em várias pessoas pelo mundo. Mas qual foi o show que mais te impactou?

Anabella Cartolano: Não sei se faço bem em falar pelos cinco, mas acho que um marcou como um antes e um depois, que foi o do Coachella. Eu sinto que terminamos aquele show e nos olhamos como que dizendo “o que acabou de acontecer?”, mas isso foi em 2017. 

Outro que impactou foi em um festival em Bogotá, o Estéreo Picnic, mas acho que cada um tem sua surpresa. E somos cinco pessoas que quando viajam não sabemos bem o que esperar. Uma vez no México, se não me engano, acho que foi em Monterrey, um garoto pediu uma garota em casamento e pediu que fosse em uma música específica. Essas coisas, seja festivais ou shows próprios, ficam meio para a lista de coisas que te surpreendem. 

Minuto Indie: A garota que foi pedida em casamento disse sim? 

Anabella Cartolano: Sim, ao menos no show. (risos) Quero acreditar que foi uma proposta.

Minuto Indie: Mas, você já foi a outros shows que te impactaram? Alguma outra experiência que você tem como fã, não como artista? 

Anabella Cartolano: Das que mais me lembro, foi o primeiro festival que vivemos e vimos um monte de bandas. Eu vi Paul Banks, do Interpol, as garotas de Warpaint, o cantor do Pond, conhecemos todos da banda Guided by Voices, que também é uma influência. Tudo isso foi no Coachella, em 2017. Havia muitas celebridades, personagens de comédias, de séries de comédias que vemos. Então, era algo meio irreal. 

E depois, em outros festivais, a gente tocou no Road to Primavera Sound, que era como uma abertura do festival, e foi com Pixies, Jack White, Cat Power e a gente. Vimos o pessoal do Pixies comendo e ninguém quis interromper, mas acho que a Paz Lenchantin nos cumprimentou de longe. Então, sim, acontecimentos curiosos de bandas que somos fãs.

Acho que a mais engraçada foi conhecer o Damon Albarn em Bilbao, no festival BBK na Espanha. Era justo no meu aniversário, tudo aconteceu. Vimos Weezer ao vivo pela primeira vez, conheci a Damon Albarn. Não há aniversário melhor, eu acho. E essa foi uma boa experiência, eu sou muito fã do trabalho dele.

Minuto Indie: Se a música de vocês fosse uma comida, que comida seria?

Anabella Cartolano: Talvez algo agridoce. Me lembro de uma medialuna com presunto e queijo. Parece que a medialuna é doce e o presunto e queijo estão na parte salgada. Mas eu acho que é isso. É por isso que eu falava da letra, um pouco triste, mas uma melodia doce para descontrair. 

A banda irá se apresentar nos dias:

03/08 – São Paulo, SP – Cineclube Cortina

05/08 – Inhotim, MG – MECA Inhotim

06/08 – Jundiaí, SP – Sesc Jundiaí

 

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Autores

  • Bruno Santos

    Em horário comercial é escritor, criador de conteúdo, publicitário, estudante de Publicidade e Propaganda e colaborador do canal Minuto Indie. Fora dele é ex-fã da antiga banda One Direction e viciado em escutar os mais diferentes estilos musicais.

  • Maria Luísa Rodrigues

    mestranda em comunicação, midióloga de formação e jornalista de profissão. no Minuto Indie desde 2015 e em outros lugares nesse meio tempo.

Escrito por

Bruno Santos

Em horário comercial é escritor, criador de conteúdo, publicitário, estudante de Publicidade e Propaganda e colaborador do canal Minuto Indie. Fora dele é ex-fã da antiga banda One Direction e viciado em escutar os mais diferentes estilos musicais.