Com nuances de sentimentalismo, melancolia e agitação, King Krule leva público indie ao delírio.

O cenário da música indie no Brasil já não é mais o mesmo de anos atrás, onde meia dúzia de pessoas se reuniam para assistir ao show de um artista “desconhecido”. Esse número de pessoas aumentou e o show do King Krule foi uma amostra. Se de um lado da cidade diversos emos nostálgicos cantavam os hits que ouviam incansavelmente em sua adolescência e gritavam a frase “não é uma fase, mãe” no festival I Wanna Be Tour, do outro lado da cidade, milhares de indies cantavam vorazmente as músicas Easy Easy e Baby Blue, de um artista desconhecido para muitos e amado para outros.. Isso não é uma rixa, ao contrário, talvez daqui alguns anos sejam os indies gritando a mesma frase, num festival nostálgico ao indie. Quem sabe.

O primeiro lançamento do britânico foi em 2011 com o EP homônimo King Krule, mas se destacou com o 6 Feet Beneath the Moon (2013), misturando jazz, indie rock e post punk. Desde então, lançou os álbuns The OOZ (2017), Man Alive! (2020) e o mais recente Space Heavy (2023), que trouxe em turnê. Sua primeira apresentação por aqui foi para cerca de 3 mil pessoas no Terra SP, casa de show conhecida por eventos sertanejos e anteriormente chamada Terra Country – imaginei por vezes a cabeça dos funcionários perdidos, sem entender o que estava tocando naquele dia. Em duas horas de show, Archy e sua banda formada por mais cinco pessoas, apresentaram seu repertório com os maiores singles de sua carreira. Ainda que os ápices fossem as músicas mais conhecidas, o show se apresentou consistente e semântico, com nuances entre músicas agitadas, para pular, e calmarias, para os casais presentes se agarrarem.

O espetáculo

A noite começou tímida, mas dentro do horário, com o músico carioca Guerrinha – artista interessante para quem gosta de jazz. Com sonoridade instrumental numa linha jazzística, o artista fez um show para uma casa com metade da ocupação, mas recebendo super bem quem ia chegando para o grande show da noite. E coloca grande nisso, afinal foram 2 horas de performance, jogo de luzes impecáveis e uma setlist de respeito. Tudo o que os fãs queriam nessa passagem única.

A banda subiu no palco 15 minutos após o previsto, sem muita cerimônia e tocando Perfecto Miserable, música que deu o tom do que viria a ser um espetáculo carregado de sentimentalismo e melancolia, característica marcante do artista. Era de se esperar que grande parte da setlist fosse composto por músicas de seu último álbum. Ainda que, de 24 músicas tocadas na noite, 10 sejam do seu trabalho mais recente, seria impossível deixar de fora sucessos, como Easy Easy, Baby Blue e Out Getting Ribs, que fizeram o público se aquecer e o artista sentir o calor brasileiro.

Se antes a energia era tímida e havia espaços vazios, o que se via após o início do show, era uma casa lotada, com público fervoroso e comprometido com o espetáculo – eu realmente acho que essa seja a palavra que descreva o show, espetáculo. Além da natureza das músicas carregadas de sentimentos mistos, a escolha da iluminação mesclando entre vermelho, branco e azul, criou uma atmosfera soturna, melancólica, ao mesmo tempo enérgica e caótica, marcada pelas silhuetas e nuances que complementam todo o lirismo de Archy.

King Krule em São Paulo. Crédito: Vitor Arruda

A energia do público foi uma espécie de resposta à entrega de King Krule no palco. Todos estavam na mesma sintonia, e a comprovação veio quando, em determinado momento do show, Archy pediu que todos falassem “miau” repetidas vezes. E assim, todos fizeram bem alto. Destaque também para a apresentação a parte do saxofonista Ignacio Salvador, que por vezes parecia estar em seu próprio universo transportado pela música. Ao mesmo tempo que parecia desconexo – todos os outros membros da banda eram mais contidos -, toda a euforia, enquanto tocava e corria para os lados do palco, parecia uma expressão de tudo que estávamos vivendo.

A passagem de King Krule no Brasil foi rápida, mas intensa. A lembrança que ficará para Archy, será do calor brasileiro, não só do clima quente da cidade de São Paulo, mas também do público. E para o público, ficará o sentimento de ter vivido um momento especial e a frase de Ignacio no palco: Sintam todos os sentimentos. Tenha certeza que todos sentiram.

Autores

  • Bruno Santos

    Em horário comercial é escritor, criador de conteúdo, publicitário, estudante de Publicidade e Propaganda e colaborador do canal Minuto Indie. Fora dele é ex-fã da antiga banda One Direction e viciado em escutar os mais diferentes estilos musicais.

  • Vitor Arruda

    ex-médico, autista e criador de conteúdo. não nego um café superfaturado e falo dos meus hiperfocos pela internet afora: música, moda e entretenimento.

Escrito por

Bruno Santos

Em horário comercial é escritor, criador de conteúdo, publicitário, estudante de Publicidade e Propaganda e colaborador do canal Minuto Indie. Fora dele é ex-fã da antiga banda One Direction e viciado em escutar os mais diferentes estilos musicais.