Ana Frango Elétrico compartilha detalhes do novo álbum e reflete sobre sua trajetória em entrevista exclusiva ao Minuto Indie

“Eu espero que vocês gostem, se incomodem… Enfim, alguma coisa, que sintam alguma coisa”, disse Ana Frango Elétrico em uma audição exclusiva no Cineclube Cortina, em São Paulo, no dia 17 de outubro, quatro dias antes do lançamento oficial de Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua. Este álbum inaugura uma nova fase na carreira da artista, em que suas músicas dançantes e/ou emocionantes – mas quase sempre amorosas – dão as mãos ao visual do animal print para se tornarem irresistíveis. 

Capa do álbum Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua, Ana Frango Elétrico
Capa do álbum “Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua” Ilustração de Fernanda Massotti e Design Gráfico por Maria Cau Levy

Este é o terceiro álbum de estúdio da artista carioca e chega quatro anos após o aclamado disco Little Electric Chicken Heart. Aos 25 anos de idade, conquistar o mundo parece ser, inevitavelmente, o próximo passo da artista com este disco. Este pode parecer um objetivo mirabolante para aqueles que não estão familiarizados com o trabalho de Ana, mas, para quem conhece, soa apenas como ambição na medida certa. Não à toa, o disco está sendo lançado pelos selos RISCO (Brasil), Mr Bongo (Inglaterra) e Think! Records (Japão).

Ana assina a produção musical e diversas composições no disco, mas se vê bem acompanhada nesta missão. Ela contou com músicos e compositores excelentes nesse álbum, pares que formam de fato uma parceria e a ajudaram a construir esse disco com uma excelência de dar inveja. A ficha técnica conta com nomes como Dora Morelenbaum nos arranjos de corda e Marlon Sette no de metais, Alberto Continentino no baixo, Sérgio Machado na bateria; além de nomes como Bruno Cosentino, Sylvio Fraga e Marcio Bulk na composição do single “Electric Fish”, por exemplo. 

Esse é um disco que foge das dicotomias sonoras e discursivas. Está nos gêneros no título do álbum, Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua, e não ficou de fora da tradução em inglês Call Me They That I’m Yours. Ou no refrão “I’m the boy of Stranger Things, I’m not the girl that you think”, como canta em “The Boy Of Stranger Things”. É pop, elegante, dançante, profundo, divertido, comovente e tantas coisas mais.

Soltamos um vídeo no canal do YouTube contando mais detalhes sobre este álbum e retomando alguns pontos importantes da carreira de Ana Frango Elétrico. Por aqui, confira a íntegra da nossa entrevista exclusiva com a artista, realizada semanas antes do lançamento do disco. 

Minuto Indie: Um dilema que acompanha todo artista é juntar sua vontade genuína de elaborar espontaneamente com a responsabilidade de comunicar seu trabalho aos fãs. Nesse aspecto, como foi o processo de Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua? Como decisões artístico-comunicacionais como a escolha do título, a identidade visual e a duração das músicas foram moldadas?

Ana Frango Elétrico: Eu sinto que é o disco que mais tem a ver com minha personalidade musical de fato, com o que ouço e ouvi na minha vida. Nesse sentido, acho que é um disco que aponta muitos caminhos possíveis de produção musical. Sinto que mesmo querendo muito, não consigo permitir que o que está ou não em alta na indústria molde tanto o que eu quero/vou fazer, mas ao mesmo tempo ouço coisas atuais e sou inspirada, então a atualidade obviamente me atravessa, não necessariamente a indústria.

Ao mesmo tempo o meu desejo e interesse em cima de assinar a produção musical moldou muito o disco, então essas decisões foram muito tomadas em cima do meu pensamento e estética pessoal de alguma forma, tanto gráfica quanto sonora. Os títulos dos meus álbuns sempre vem antes do conteúdo, sempre são na verdade o mote pra finalização daquelas canções e narrativas.

Minuto Indie: Além da música, você também se dedica à pintura, à poesia e às artes visuais. Como essas outras formas de expressão se relacionam com o seu trabalho musical e como elas contribuem para a sua criatividade?

Ana: Hmmmm, acho que principalmente no meu modo de pré visualizar as estéticas e conceito gerais quando penso, por exemplo, num álbum.

Esses dias, pensando e observando um companheiro de profissão, percebi que achava os métodos dele muito diferentes do meu, e saquei que meu modo de produção é muito construtivista, leva muito em consideração o círculo final, os começos e fins (intros e outros), formas e cores, mais do que uma obsessão com várias partes e arranjos numa mesma música. 

Eu logo já distribuo por exemplo: essa é beat, ou bateria orgânica, essa é arranjo de cordas, essa não tem arranjo, essa tem coro, o que é protagonista neste fonograma. Enfim pode ter soado confuso, mas acho que influencia de alguma forma nos meus métodos de trabalhar, por consequência no meu trabalho como um todo com a música.

Minuto Indie: O jeito que cada artista enxerga e se relaciona com o conceito de transformação é diferente, para uns é inspirador, para outros é uma pressão. Você sempre expandiu sua arte espontaneamente a cada trabalho, mas esse processo todo é algo que você tem em mente ao fazer música? Como você enxerga sua trajetória até aqui desde Mormaço Queima?

Ana: A minha transmutação tem a ver com trabalho e trajetória, nunca foi uma pressão mudar, talvez até o contrário, a mudança e o que eu ainda não fiz são as coisas que mais me movimentam para meu próximo trabalho. Talvez eu goste de mudar até demais.

Sinto que o Mormaço Queima era um disco experimental, um disco que na verdade era sobre expandir uma poesia não convencional e tentar tornar a poesia pop. Não tinha tão a ver com o que eu penso ou não de um fonograma e de um álbum, era um retrato de um momento meu, que era quase anti-cantora/anti-álbum. Foi um processo que fez eu me apaixonar por estúdio, onde aprendi muito com o Callado, Nassif, Benjão e Guilherme Lírio, e daí gostei do lance. Então quando fui fazer o Little Electric Chicken Heart, já veio um pensamento pessoal de produção, mas ao mesmo tempo é um processo que teve a ver com uma pesquisa e sonoridade específica, que eu entrei na onda, hahha.

Já meu novo álbum Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua vem de fato com maior amadurecimento no quesito estúdio/programas/equipamentos, vem realmente com o que eu acredito ser uma identidade minha de produção estética. Sinto que, apesar de ser meu álbum com mais composições que não são de autoria minha, o álbum que mais fala de mim. “Mulher Homem Bicho” é um single pandêmico que não entrou no álbum mas que sinto que entrega e abre caminho de muitas maneiras ao novo disco.

— 

Ouça “Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua” (2023) de Ana Frango Elétrico.

Mais notícias no Minuto Indie.

Siga nosso Instagram. Saiba mais em nosso Twitter. Curta nossa página no Facebook. E fique ligado no nosso canal no YouTube!

 

Autores

  • Maria Luísa Rodrigues

    mestranda em comunicação, midióloga de formação e jornalista de profissão. no Minuto Indie desde 2015 e em outros lugares nesse meio tempo.

  • Luan Gomes

    Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"

Escrito por

Maria Luísa Rodrigues

mestranda em comunicação, midióloga de formação e jornalista de profissão. no Minuto Indie desde 2015 e em outros lugares nesse meio tempo.