Falamos com Marcelo D2 sobre como sua trajetória pessoal formou a ambição criativa de seu novo álbum, IBORU, que conta com show no NOARCM 2023, nesse fim de semana em Recife

Marcelo D2, o renomado cantor carioca, está vivendo um período de renascimento em sua carreira. Em entrevista ao Minuto Indie, ele fala como desde 2018 ele emergiu de um hiato de cinco anos, lançando discos essenciais, até chegar no seu definitivo, IBORU. Nesse projeto, Marcelo D2 funde elementos do rap com o sagrado samba, criando o que ele chama de “novo samba tradicional”. O álbum, lançado em junho deste ano, conta com 16 faixas e participações especiais de artistas como Zeca Pagodinho, Mumuzinho, Alcione, Xande de Pilares e outros. A sonoridade combina cavaquinho, coro, percussão e metais com a potência eletrônica do rap.

 

 

Agora, em 21 de outubro, Marcelo D2 fará sua primeira apresentação no festival No Ar Coquetel Molotov (informações aqui), que acontecerá no campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no Recife. Será uma oportunidade única para os fãs conferirem ao vivo as músicas desse álbum inovador e testemunharem a fusão entre o rap e o samba no palco. Foi através dessa ocasião, em coletiva especial para o festival, que soubemos um pouco mais do passado, presente e futuro de Marcelo.

Inicialmente, Marcelo D2 planejava se mudar para Los Angeles e abrir uma floricultura, enquanto também explorava a legalização da maconha na Califórnia. No entanto, um evento trágico em 2017 mudou sua trajetória. A perda de uma amiga em um assalto violento despertou nele uma profunda raiva e ódio. Foi nesse contexto que surgiu o conceito para seu álbum Amar É Para Os Fortes (2018).

Me veio algo de que tinha muito mais ódio naquele momento, pela situação do jeito que foi, tinha muita raiva, mais do que qualquer coisa. Aí um amigo me disse essa frase numa conversa: amar é para os fortes.

Marcelo D2 e sua trajetória do ódio à força do amar

 

De 2013 até 2018 eu não lancei nada, fiquei 5 anos em hiato, cansadaço. Eu (estava e) ia me mudar pra Los Angeles, abrir uma floricultura; tava legalizando a maconha na Califórnia, algo assim. Eu falei “cara, vou viver aqui, fumando maconha”. Eu amo flor. “Eu vou viver no meio da floricultura, vendendo maconha. De vez em quando eu vou pro Brasil, faço show”. Bem, aí 2017 eu perdi uma amiga num assalto, ela tirou 2 mil do banco e os moleques pararam do lado dela numa moto e a assaltaram com dois tiros na cabeça… foi traumatizante pro nosso grupo de amigos. Começou uma loucura de “vamos pegar esse caras”, “vamos fazer isso e aquilo”. 

E aí me veio esse conceito do Amar É Para Os Fortes. Eu já tinha pensado em fazer audiovisual assim… No velório dela me veio algo de que tinha muito ódio naquele momento, pela situação do jeito que foi, tinha muita raiva, mais do que qualquer coisa. Aí um amigo me disse essa frase numa conversa (“Amar é para os fortes”). Eu sei do ambiente de onde eu saí, uma favela no Rio de Janeiro, um ambiente muito violento. Eu fui um cara violento na adolescência e começo de vida adulta também. 

Eu pensei no conceito audiovisual do Amar É Para Os Fortes e isso mudou minha visão do mercado, de como eu poderia me expressar. Quis fazer um filme, escrevi o roteiro do filme escrevendo as músicas do lado. Tanto que o áudio do álbum é o áudio do filme. (Foi daí que veio) essa vontade de produzir coisa, mas aí veio a pandemia. Aí fizemos o Assim Tocam Os Meus Tambores (2020) juntos, aí me veio a vontade fazer um disco fora daquela caixinha, que é ficar dentro de casa. 

Esse nosso amor, nossa parceria, alimentou muita coisa nova em mim, eu estou muito motivado em fazer e viver… Eu estava saindo de um casamento de 18 anos, eu tava bem barra pesada assim e tal. E aí (esse período) mudou tudo, minha percepção de fazer arte, de participar de mercado, de estar inserido nisso. 

É algo que sempre me preocupou muito sabe, isso de ser um artista autêntico, eu deito a cabeça no travesseiro e isso me incomoda. Eu sou de uma geração que poser era a pior coisa. “Artista que não fazia arte de verdade”, isso era foda.

 

 

Para quem está começando na carreira musical em 2023, Marcelo D2 oferece conselhos valiosos baseados em sua própria experiência. Ele enfatiza que tratar a música como um negócio é fundamental. Como um artista consagrado, ele trabalha incansavelmente, inclusive nos fins de semana. Marcelo D2 compartilha sua trajetória desde a infância, quando trabalhou como camelô, porteiro e faxineiro. Ele sempre teve a mentalidade de que precisava se esforçar e trabalhar duro.

 

Eu costumo falar que é muito importante atualmente com todas essas plataformas… é muito importante que você entenda de tudo um pouco. Eu falo isso com todos os empresários que tive: ‘Todo artista tem que ter um pouco de empresário e todo empresário tem que ter um pouco de artista’.

 

Marcelo D2 também destaca a necessidade de networking, motivação e entusiasmo. Ele costumava abordar as pessoas para deixar sua banda tocar, demonstrando paixão e determinação. No entanto, ele alerta que não existe uma fórmula mágica para o sucesso. Simplesmente colocar sua música no YouTube e esperar ficar milionário não é realista. O caminho para o sucesso requer esforço contínuo, aprendizado constante e conexões significativas.

Marcelo D2 e a arte de não esperar milhões

 

Eu posso falar sobre a minha experiência. A minha experiência foi tratar isso como o negócio da minha vida. Eu trabalho, a gente tem que sair (da entrevista) daqui a pouco porque eu tenho que trabalhar. Eu sou um artista consagrado que trabalha de domingo a domingo. Eu acho que às vezes, o grande erro, é achar que artista “é vagabundo e não faz porra nenhuma”. Não é sentar e esperar vir os milhões. Eu me conectei muito com isso desde o começo. De família pobre, eu comecei a trabalhar com 12 anos, eu fui camelô, porteiro, faxineiro, fiz tudo que tu pode imaginar nessa vida… Office boy pra caralho… Então, eu vim com esse sentimento que eu tinha que trabalhar. Quando eu ligo a Netflix ou Amazon, pra mim isso é trabalho, eu tô fazendo pesquisa hahahahaha. 

Algo que eu posso falar pra quem tá começando é trabalhar, firme mesmo. Ser o melhor compositor, pra quem compõe. O melhor músico, pra quem toca. Eu costumo falar que é muito importante atualmente com todas essas plataformas… é muito importante que você entenda de tudo um pouco. Eu falo isso com todos os empresários que tive: ‘Todo artista tem que ter um pouco de empresário e todo empresário tem que ter um pouco de artista’. Esse papo de artista que não gosta de mexer com dinheiro? Vai acabar sendo roubado, amigo. Vai vir alguém que gosta de dinheiro e vai pegar o seu dinheiro, já que tu não gosta. Então cara, empenho é a palavra, e vale pra qualquer profissão. Quando a gente começa, temos muita motivação, o negócio é usar isso pra se estudar, ver onde que dá… network, conhecer gente boa, tratar todo mundo bem. Eu quando era moleque, enchia o saco de todo mundo. “Deixa minha banda tocar aí”. As pessoas quando veem esse entusiasmo, rola.

 

 

Ouça IBORU

 

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Autor

  • Luan Gomes

    Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"

Escrito por

Luan Gomes

Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"