Fim de ano, todos sabemos, é a hora das famigeradas listas de melhores discos/músicas do ano e o blog do Minuto não poderia ficar de fora. Porém, como somos do mal, deixamos para os primeiros dias de 2017 esse presente  para o nosso público! Agora muita calma, antes de apresentar aqui minha seleção de melhores do ano, algumas palavrinhas básicas.

Sempre gostei de listas, mas sempre desprezei a noção de que seja possível eleger “a melhor” banda ou música, dado o caráter subjetivo e pessoal da arte em geral. Por isso sempre entendi listas e prêmios muito mais como escolhas ideológicas que envolvem vários fatores como o gosto pessoal dos juízes ou contexto e momento histórico. Dito isso já tô de primeira me salvando da choradeira de quem acha que o Radiohead ou Wilco devem encabeçar qualquer lista do universo só por existirem (sou muito fã das duas bandas, mas perai né gente ), que é um absurdo esquecer de tal artista e colocar fulaninho, que absurdo ganhar a Céu na frente do Bowie etc. Achou ruim ? Cria sua lista que eu vou achar ótimo ;).

Além disso é bom ressaltar que 2016 foi um ano de INFINITOS bons lançamentos, nacionais e gringos. Deu trabalho, na boa. Chora mais Rick Bonadio.

Então chega de papo furado meu povo, bora pra lista

 

 

1 Tropix – Céu

Tropix é um disco que responde perfeitamente ao que o nome sugere: brasileiro e arejado, contemporâneo, sensual, despojado, cool. A paulistana Maria do Céu Whitaker Poças deixa claro porque é queridinha da crítica nacional e internacional com esse trabalho que beira a perfeição. Sua eletro bossa neo tropicalista com temperos de reggae, trip hop, jazz e afrobeat é a cara do que de melhor a música brasileira pode oferecer para o mundo. O disco já começa maravilhosamente bem com a belíssima Perfume do Invisível, que exala poesia em seu começo vagaroso em eletro bossa e modernidade em seu desenvolvimento com um refrão suingado ecoando R&B. Arrastar-te-hei , que vem logo depois, é um eletro samba malandro e cadenciado que não deixa a peteca cair. E assim segue o disco, misturando tradição e modernidade com maestria, com destaques para o eletro samba reggae Amor Pixelado, a belíssima  Varanda Suspensa, a suavemente psicodélica A Menina e o Monstro, com toques de Mutantes e Rita Lee e o eletro samba com toques de mangue bit Minhas Bics. Uma aula do que de melhor a tradição e a contemporaneidade pode oferecer.

 

 

 

2. Melhor do que Parece – O Terno

Acho divertido que tantos críticos ainda achem O Terno uma “banda promissora” a “caminho da maturidade”. Entendo o ranço por 66, disco competente a beça para um disco feito por adolescentes, entretanto com um nome terrivelmente pretensioso para um disco feito por adolescentes, mas há de se admitir que os meninos cresceram e tão fazendo um excelente trabalho. Depois do ótimo O Terno (2014), Melhor do que Parece chega com esse título que também não é dos mais humildes que eu já vi, mas é claramente carregado de ironia, o que é excelente. O power trio formado por Tim Bernardes (guitarra e vocal), Guilherme d´Almeida (baixo) e Gabriel Basile (bateria) vem para o novo disco misturando seu pop rock timidamente experimental de toques tropicalistas e psicodélicos com influências do soul solar do início da Motown (gravadora norte-americana especializada em soul). Culpa já abre o disco com estilo, um pop rock com cara de Roberto Carlos em sua fase mais soul. Não Espero Mais segue levando a mistura de rock e soul ao extremo, explosiva, alegre, carregada de energia gospel e refrão impactante (“com você eu não espero mais/ eu te olho e só posso pensar / que valeu a pena esperar/ sou feliz como eu não fui jamais”). Melhor do que Parece, música que encerra o disco, é daquelas que a gente ouve e diz “caramba, esse moleque é bem filho do Mauricio Pereira mesmo!” (“eu tenho achado tudo chato/ tudo ruim/ será que o chato aqui sou eu?”), com letra meta-linguística e filosófica aos moldes, mas melhor e muito mais madura, do que o hit 66. O final apoteótico traz o rock na guitarra distorcida em perfeita harmonia com o órgão gospel.

 

3. Princesa – Carne Doce

 

Parecia quase impossível para a banda goiana superar o excelente disco de estreia, Carne Doce. O post rock intenso e psicológico do primeiro disco, que já trazia nuances de discussões de gênero na liberdade sexual empoderada da protagonista de Passivo, agora junta à parte musical novas ambientações e a poesia feminista de Salma Jô toma conta da temática do disco. Com rancor e com razão a vocalista desafia os limites impostos pelo machismo secular na incendiária Falo (“e é por isso que eu sou histérica/eu não sou histérica/eu só tô histérica (…) e é bom que você se cuide/ não vai ter quem lhe acude/ quando eu quiser te capar” ), embalada pelas guitarras quase industriais de Macloys Aquino e João Victor Santana. A bela e complexa Artemísia discute o direito (óbvio) da mulher ao aborto voluntário (“Não vai viver/ porque eu vivo/ sou o deus vivo/ sua razão de ser”), em linhas de guitarra que tem algo do Television de Marquee Moon. “Cetapensâno“, música que abre o disco, já tem a mesma linha, porém apresenta a banda em seu caráter regional, na linguagem musical e oral, deixando claro que, apesar de ter gravado o disco em São Paulo, o cerrado de onde a banda é nativa ainda se faz presente.

 

4. Warpaint – Heads Up

O quarto disco da banda de Los Angeles Warpaint, Heads Up, é sensual, ligeiramente sombrio e ao mesmo tempo ligeiramente pop. Em sua tradicional levada downtempo, a banda mistura nesse trabalho elementos de hip hop, dream pop e shoegaze, trazendo um som que  varia entre o dançante e o introspectivo sem perder a identidade. Mais bem distribuido que seus trabalhos anteriores, o disco apresenta um equilibrio melhor entre as guitarras de Emily Kokal e Theresa Wayman e a cozinha formada por Jenny Lee Lindberg (baixo) e  Stella Mozgawa (bateria). Do trip hop sensual de Whiteout , The Stall e Don´t Wanna ao indie pop New Song, passando pelo dream pop de Dre e Heads Up, a banda parece ter encontrado sua identidade em um disco onírico e refinado. Com certeza o grande trabalho do grupo até agora.

 

 

 

5. Baiana System – Duas Cidades

Mais do que uma simples banda, o BaianaSystem se intitula como um “sistema de som”. Tendo em seu núcleo o músico e produtor musical SekoBass, o cantor Russo Passapusso, o mestre da guitarra baiana Roberto Barreto e o artista gráfico Filipe Cartaxo, o coletivo conta com músicos e colaboradores variados para compor suas apresentações pelo país e seguir sua contínua busca pelas infinitas possibilidades da guitarra baiana. Duas Cidades, produzido pelo onipresente Daniel Ganjaman, traz ritmos populares da Bahia, como o axé e o chamado reggae baiano, em uma roupagem de dub, hip-hop e até mesmo um quê inusitado de indie pop: aquela verniz arrojado no regional e/ou brega que tanto encanta o hipster de Dona Onete a Gabi Amarantos e dá aquela saudade gostosa do Wando. O disco começa pronto pra pista com Jah Jah Revolta, Pt 2 e segue popular e festivo no ragga Bala na Agulha e no delicioso axé indie de Lucro: Descomprimindo. Já a vinheta Mercado é uma mostra potente das possibilidades sonoras da guitarra baiana. A capacidade do coletivo de re-significar os ritmos populares baianos é impressionante e a prova disso é a faixa Duas Cidades ,que da nome ao disco e é puro Olodum elétrico e eletrônico. Com a participação de outros nomes de peso como Marcio Vitor no hit Playsom e do recifense Siba na instrumental Cigano, Duas Cidades é um disco fundamental para qualquer um que se interesse pela infinidade riquíssima de ritmos brasileiros.

 

6. A Moon Shaped Pool – Radiohead

Você pode dizer o que quiser, é preciso admitir que A Moon Shaped Pool é um disco essencialmente de sobras.  Um incrível, poético, onírico, complexo e excelente disco de sobras. Seis de suas faixas já haviam sido apresentadas ao público em diferentes momentos da carreria da banda e algumas sabidamente também não se encaixaram em nenhum trabalho anterior. Isso não quer dizer que não seja um disco sensacional.  A veia política da banda aparece logo na primeira música, Burn The Witch, que trata da normatização na sociedade e da caça as bruxas que sofrem os que diferem (“abandon all reason/avoid all eye contact/do not react/shoot the messengers“). Existe uma provável referência nesse verso ao jornalista Julian Assange, já que em protestos a seu favor os cartazes levavam os dizeres “Don´t shot the messenger”. O disco, entretanto, segue mais pessoal e introspectivo depois disso. Os arranjos orquestrados mostram um Radiohead menos roqueiro do que em discos como In Rainbows ou Ok Computer e menos eletrônico do que em King of Limbs e Kid A, mas todos esses elementos ainda aparecem e convivem em bom equilíbrio. A letras em geral falam de isolamento pessoal, medos, angústias (e ovnis em Decks Dark) , temas recorrentes na banda por sinal, e os arranjos orquestrados e oníricos remetem ao trabalho solo do guitarrista Jonny Greenwood em suas trilhas para o cineasta Paul Thomas Anderson, não a toa o diretor do clipe de Daydreaming. True Love Waits, faixa que encerra o disco, é velha conhecida dos fãs já que foi apresentada ao público pela primeira vez em 1995. Ainda assim, soa fresquinha.

 

7. Teens Of Denial – Car Seat Hedrest

Na última noite, eu tomei ácido e cogumelos. Eu não transcendi. Me senti como um pedaço de merda ambulante em uma jaqueta que me fazia parecer estúpido“. Poderia parar a resenha aqui, porque só esse verso da maravilhosa canção (Joe Get Kicked Out of School For Using) Drugs Whith Friends (But Say This Isn´t a Problem) diz o suficiente sobre nossos tempos, nossa geração e nossas vidas. Mas é bom enfatizar que, se você ainda não conhece o indie rock adolescente sem ser juvenil do cantor e compositor Will Toledo, a hora é agora. Teens of Denial (Adolescentes da Negação, literalmente) não é um disco de adolescente, mas sim sobre esse período infernal da vida onde tudo é chateação. guitarras que por vezes lembram Pavement e Malkmus solo, letras desconcertantemente honestas, músicas que aparentemente são mais longas do que deveriam, mas não são. O rock agradece.

 

 

 

8.Sabotage – Sabotage

É até dificil falar desse disco sem se emocionar. O Poeta do Canão morreu jovem, aos 29 anos, mas esse disco póstumo Sabotage, com direção Tejo Damasceno e Rica Amabis, do Instituto, e do produtor e Midas profissional Daniel Ganjaman, faz jus ao legado do rapper. Começa pesado com Mosquito, rap de base clássica onde Sabota conta uma história que pode ser de inúmeros moradores da periferia (“catou papel pra viver, na moral, foi difícil/ depois que o homem inventou o revólver todos corremos perigo“). Sabotagem não teve sucesso, tempo ou dinheiro (e gosto de imaginar que não teria vontade) para aderir ao estilo ostentação. Suas letras são cruas e tratam do dia a dia da favela sem rodeios. As bases fornecidas pela dupla do Instituto e a roupagem de Ganjaman dão modernidade e frescor ao trabalho, que por isso se torna o disco de rap perfeito do ano. Participações especiais de peso, como Sandrão, Negra Li, Rappin´Hood, Fernandinho Beat Box, Céu, Tropkillaz e Dexter, ajudam a preencher os espaços deixados pela morte precoce do poeta. Ouça “Canão Foi Tão Bom” em alto volume e no repeat, absorva a mensagem em tom profético enquanto admira as rimas feitas com fonemas que estão no MEIO das palavras (“anda ló(go)/vejo na maló(ca)/ó só ainda mais pó(bre) do que eu? ai que dó“). Poeta de verdade é assim, torce a palavra como melhor lhe convém. Gênio.

 

9. Black Star – David Bowie

Pouco comercial e complexo, Black Star não lá é um disco fácil. Temas pesados, músicas longas, climas sombrios, melodias que fogem do rock (na medida do possível, claro) por onde Bowie tanto passou e buscam a angústia dos metais ou baixos “desajustados” das vertentes mais sofridas de jazz. O derradeiro trabalho do Camaleão é um pancada na cara dos fãs, mas dessas maravilhosas pedradas da música que quando bate, você não sente dor. Lançado dois dias antes do falecimento do cantor, Black Star é claramente um trabalho de despedida. Ouça Lazarus, canção que remete a passagem bíblica que trata da ressureição de Lázaro e condensa toda a proposta musical e o clima do disco. Vida, morte e renascimento são os temas constantes  e na belíssima Dollar Day Bowie crava: “eu estou morrendo também”. Para ouvir ajoelhado reverenciando.

 

 

 

10. Malibu – Anderson .Paak

Enquanto trabalhava duro em uma plantação de maconha em Santa Bárbara, Anderson .Paak provavelmente não imaginava que lançaria um dos melhores discos de 2016 e entraria com ele para história do rap. Filho de pai negro e mãe sul-coreana, .Paak, que cresceu assistindo as agressões do pai contra a mãe, morou na rua e colheu erva para sobreviver. Realmente viu de tudo antes de chegar ao topo do mundo com seu último álbum Malibu, que lhe rendeu a indicação ao Grammy de 2017, concorrendo ao prêmio de “melhor álbum de música urbana contemporânea”. Com certeza não foi à toa. Malibu é um trabalho expansivo, que traz diversas referências combinadas com perfeição, trazendo toda a história da vida do rapper não só para suas letras mas para suas músicas como um todo. Crescido e educado musicalmente na igreja batista, o gospel é claramente a primeira influência que salta aos olhos, mas .Paak vai muito além dessa referência que hoje em dia chega a ser clichê pro rappers (e a usa bem demais, diga-se de passagem). Do clima setentista de funk disco de All I Wrong (com participação de ScHoolboy Q) à pegada Outkast com gospel de Heart Don´t Stand a Chance, passando pela suave The Bird ou pela deliciosamente pop Celebrate  até o funk clássico de Come Down, .Paak demonstra conhecimento da música negra e talento de sobra para assimilar todas as influências. Sillicon Valley, um exemplo claro disso,  é como se Marvin Gaye fizesse rap nos dias de hoje. Para ouvir o verão inteiro.

 

11.Mahmundi – Mahmundi

R&B, pop, música eletrônica, pop rock, indie pop, lo-fi, reagge. Todos esses ritmos você pode encontrar de alguma maneira no disco homônimo da cantora carioca Mahmundi. Esse caldo resulta em um som oitentista gostoso de ouvir e cheio de hits, ideal para tocar no rádio em um verão ensolarado do Rio de Janeiro. Pop como o pop deveria ser sempre.

 

 

 

12. Atlas – Baleia

Ecos de indie e rock alternativo que remetem ao melhor que esses gêneros produziram na década passada, como Grizzily Bear e Arcade Fire, arranjos vocais sofisticados, experimentalismos e toques leves de brasilidade. Atlas é um disco complexo onde o coletivo carioca demonstra todo seu potencial. Não se engane pela (deliciosa) primeira faixa Hiato, que traz ares (levemente) mais pops do que o resto do disco, que caminha passo a passo para faixas cada vez mais complexas e intrincadas. Delicado, onírico e complexo.

 

13. Schmilco – Wilco

Venerado pelos hipsters como deus maior da música, Wilco de fato é uma banda e tanto e Schmilco, seu 11º álbum, é um ótimo disco. Entretanto é preciso convir que está um tanto aquém da genialidade de um Yankee Hotel Foxtrot (2011) por exemplo. Assim como em Star Wars, trabalho anterior da banda, Schmilco é um disco que deixa clara a opção do grupo por simplificar suas melodias e apostar em um indie country competente e gostoso de ouvir, porém sem grandes pretensões de ser revolucionário. Tudo no disco é bem comportado, dos arranjos até os (poucos) barulhos e distorções, milimetricamente encaixados na música. É aquele mesmo caso do Radiohead, a banda é tão boa que até os trabalhos menores merecem um lugar na lista de melhores discos do ano.

 

14. Percipere – The Outs

O caldo que mistura psicodelia sessentista em geral com Beatles em específico ao pop rock conciso e preciso do Oasis (cuja maior influência, por sinal, são os Beatles) tem funcionado tão bem, para que mudar? À parte a transição do inglês para o português, que deu muito certo por sinal, esse disco é a pura psicodelia pop que fez os cariocas arrancarem elogios do rabugento ídolo Noel Gallagher. Para ouvir viajando, se é que você me entende.

 

 

16. We Got It From Here, Thank You 4 Your Service – A Tribe Called Quest

Pesados e atuais, críticos contra o racismo e a gentrificação de hoje em dia, A Tribe Called Quest mostra que nem mesmo a tragédia da morte de um de seus integrantes, Phife Dawg, poucos meses antes do lançamento do disco, foi capaz de tirar o brilho do sexto trabalho da banda. Consistente com a trajetória da banda até aqui sem soar nostálgico, We Got It From Here, Thank You 4 Your Service é o melhor disco de rap internacional do ano ao lado dos trabalhos de Anderson .Paak e Keyne West, ambos por sinal muito influenciados pelo grupo.

 

 

17. Boogie Naipe – Mano Brown

Muita gente torceu o nariz quando Brown anunciou um disco romântico, apesar de garantir que o disco ainda assim teria “o espírito das ruas”. Quem duvidou se deu mal, o disco é carregado de canções dançantes e românticas, um hip-hop imerso em soul e funk e que, acredite, não perdeu o “espírito das ruas”. Logo de cara, em Gansta Boogie, Brown já começa pedindo: “bola um companheiro/ mas que dia de cão/ nessa porra sei não/que seu truta precisa” e mais pra frente presenteia a amada com artigos de “origem duvidosa” (“comprei sapato de salto / te trouxe um colar / não pergunte nem exibe de onde vem / vem buscar /nessa noite ohhh“). Porque o malandro também ama.

 

18. MM3 – Metá Metá

Música africana e suas consequências brasileiras, jazz, experimentalismo, tudo isso você já sabe, sempre foi a receita musical do grupo paulistano Metá Metá. Agora parece que o punk pediu um lugar nessa mesa. Raivoso e urgente, o disco, gravado em 3 dias no estúdio Red Bull, em São Paulo, é mais pesado que os trabalhos anteriores da banda, com arranjos menos trabalhados no bom sentido, da espontaneidade e do minimalismo . A maravilhosa voz de Jussara Marçal, as guitarras complexas de Kiko Dinnuci e o sax indigesto de Thiago França fazem desse disco uma obra prima  samba punk jazz, condensado na agressividade de canções como  Angouleme. Porrada.

 

 

19.Bilhão – Bilhão

Mais uma banda carioca nessa lista, Bilhão traz toda a leveza de um som feito para tocar na praia. Seu estilo shoegaze, com pouquíssima influência da música brasileira, faz pensar se essa praia seria mesmo no Rio de Janeiro ou na costa de alguma cidade portuária inglesa, mas as letras em português completam a identidade da banda com toda a carioquice indie de gente que bebe cerveja no Botafogo sempre que há uma brecha no dia (“Mas as vezes fico a sonhas as 3 da tarde/ Nada me parece real, essa luz que vem do mar / Que fazem meus olhos fecharem / É brisa, é sal”). Pra ouvir com uma gelada do lado aplaudindo o pôr do sol.

 

20.Post Pop Depression – Iggy Pop

O que Ganjaman é para a música brasileira com certeza Josh Holmes é pro rock gringo: onipresente, Midas, mestre dos magos, está em toda a parte e o que ele toca vira ouro. Não foi diferente nessa parceria com Iggy Pop. A produção do lendário mebro do Queens of The Stone Age trouxe o frescor necessário para que Iggy possa desfilar sua voz de trovão pela décima sétima vez em um álbum de estúdio. Josh chamou para a brincadeira o tecladista Dean Fertita (Queens of The Stone Age) e o baterista Matt Helders (Arctic Monkeys), seus homens de confiança, para ajudar a velha Iguana a soltar essa pequena pérola “pós pop”. Post rock e punk convivem bem com o clima pop da maior parte das músicas, sendo Gardenia o hit fácil que você vai cantar junto.

 

 

21.The Life Of Pablo – Keyne West

Você pode achar caótico e confuso, mas muitos preferem chamar o trabalho do controverso rapper estadunidense de genial. Sou do segundo time. A melodia imperfeita que vem dos sintetizadores de feedback , aliada ao canto gospel de fundo que permeia o disco, fazem a cama para as rimas maravilhosamente egocêntricas e megalomaníacas de West. Embora não seja confirmado, é provável que Pablo seja uma referência ao pintor espanhol Pablo Picasso, cuja iconoclastia, arrogância e dificuldades de lidar com suas musas do sexo oposto aproximam o mestre das tintas do rapper americano. Mas pode ser o Pablo Escobar também. Faça suas apostas.

 

22. Human Performance – Parquet Courts

O rock alternativo do Parquet Courts remete facilmente ao som de gigantes como Television e Velvet Underground, mas essas referências não são as únicas a tornar Human Performance um baita disco. Somadas a toques leves de alt country, experimentalismos e distorções e um suave tempero de consciência política e social nas letras, essa mistura resulta num disco acessível e maduro dos indies nova-iorquinos.

 

 

23. Pineal – Tagore

Se fosse só um pouquinho mais original, a banda do cantor recifense Tagore Suassuna poderia estar um pouco mais acima dessa lista. O álbum é ótimo e é mais um belo registro da nova psicodelia brasileira, mas os ecos de bandas de neo psicodelia gringas como Tame Impala e Pond são tão claros que tiram um pouco do brilho do trabalho. Apesar dessa ressalva, definitivamente é um disco competente  e que faz jus ao nome, Pineal, referência a glândula pineal do cérebro, cujas funções vão de regular atividades vitais como a vida sexual e o sono, e responsável no imaginário popular pelas alucinações psicodélicas. Para ouvir bem chapado.

 

24. Projeções – Pedro Pastoriz

O músico gaúcho Pedro Pastoriz, conhecido por seu trabalho com a banda Mustache e os Apaches, surpreende a todos com essa estreia solo digna de nota. Rock, psicodelia, tropicalismo, orientalismos, vida urbana, deslocamentos e pequenos  ecos do próprio Mustache compõe esse registro pessoal e, ao contrário da sua banda original, elétrico. Destaque para Projeção, Restaurante Lótus e Gilgalmesh, músicas que mostram todo o poder da receita de Pedro. Rock de qualidade toques de Caetano.

 

 

25.Suede – Night Troughs

A mistura de glam com art rock que o pessoal do Suede pegou como influência clara para seu trabalho, somada aos velhos (e ótimos) cacoetes do britpop, chega ao auge nesse disco incrível do quinteto britânico. O disco é conceitual e fala sobre alguém que está morrendo afogado, cujas canções seriam flashs daquele famoso filme da nossa vida que supostamente passa em frente aos nossos olhos na hora da morte. As guitarras melancólicas e cheias de efeitos dão o tom perfeito para o canto atormentado de Brett Anderson. Imperdível.

 

 

 

Além dessas maravilhosas bolachas, gostaria de citar algumas menções honrosas que poderiam estar nessa lista, mas bateram na trave com seus ótimos trabalhos! O prêmio de consolação fica com: O Ministério da Colocação (Séculos Apaixonados), You Wanna it Darker (Leonard Cohen), Here (Teenage Fan Club), Ivete (Wado), A Seat At The Table (Solange), Lemonade (Beyonce), Anti (Rihanna) e os EPs Mal Educado (Garotas Suecas), The Dream Synopsis (The Last Shadow Puppets) e Not The Actual Events (Nine Inch Nails). 

 

E ufa! Ano que vem tem mais, feliz 2017 e muita música para nós!

 

Autor