Banda Os Chás, de Mogi das Cruzes, lança primeiro EP com os pés fincados na música psicodélica, ouça “Já Delírio”.

Uma das mais conhecidas variantes do rock é sem duvida o movimento psicodélico, ele surgiu em meados dos anos 60 e até hoje ganha diversos entusiastas. No Brasil o primeiro grande nome surgiu quase no final desta década de infinitas cores, quando Os Mutantes surgiram, eles fizeram o favor de mostrar ao mundo que é possível ser psicodélico misturando diversas influencias, nisso eles incrementaram o som psicodélico com tropicalismo, bossa nova, rock progressismo e muito mais.

Com meio século de bagagem, o rock psicodélico continua em constante movimentação, na cena nacional se destacaram recentemente as bandas BIKE, Boogarins e My Magical Glowing Lens. Eis que surge um nome, vindos de Mogi das Cruzes, propondo uma viagem um pouco diferente, mas não menos intensa, Os Chás está lançando hoje o seu primeiro EP, “Já Delírio” é uma obra que nos apresenta uma banda promissora, dessas que já no primeiro acorde faz o ouvinte se apaixonar e por que não, viajar.

“Ele Está Sob o Efeito da Televisão” abre o trabalho e por lá já da pra sentir a brisa batendo bem forte, nos primeiros 40 segundos a faixa confunde e faz a gente aumentar o volume, pra logo em sequencia sintonia acontecer para uma música delirante. “Megalomaníaco” é uma música das mais fáceis de gostar no disco, ela abre espaço para a complicada e mais delicada e experimental “Marocco”.

Os Chás. Foto: Leonardo Marcilio.
Os Chás. Foto: Leonardo Marcilio.

A partir da faixa quatro, “Plano Fantástico” parece dividir o EP d’ Os Chás em dois. Agora mais agitado que outrora o as instrumentos surgem mais altos, na faixa eles podem solar e ainda há espaço para o fuzz e drops encapsulados de piração anos 90. “Senhor Tubarão” começa a encerrar e acalmar a viagem proposta na faixa anterior.

“Tô Meio Dócil”, o single do EP surge em uma versão estendida, quem já viajou nas semanas passadas quando eles lançaram a faixa, dando um gostinho do que seria o EP, tem a oportunidade de se surpreender novamente.

Formada em 2016 por Gabriel Mattos (guitarra e voz), Diogo Menichelli (bateria e percussão) – ambos ex-Hierofante Púrpura, Thiago Fernandes (baixo e voz) e Wesley Franco (guitarra) a Os Chás lança o EP pelo selo carioca Transfusão Noise Records.

Confira agora uma entrevista exclusiva com os caras, comentando sobre a banda, o EP, o selo e um pouquinho mais. Leia ao som de “Tô Meio Dócil”, primeiro single deles:

Pra introduzir um pouco mais os nossos leitores, eu vou pedir para que vocês comecem a nossa entrevista falando uma coisa simples, mas que às vezes é algo muito curioso: Como os quatro integrantes se conheceram, como resolveram montar a banda e como escolheram esse nome “Os Chás”?

Gabriel: Eu (Gabriel), conheci o Thiago Gal (Baixo/Voz) na escola em 1998, com uns 13 anos de idade e tivemos nossa primeira banda juntos que foi o “Agentes” que rolou de 2002 até 2005.

Como moramos em “cidade do interior” é tudo mais perto então naquela época por volta de 99/2000 quem gostava de punk rock/hardcore acabava meio que se trombando e foi assim que conhecemos o Diogo (Baterista) pois ele tocava em outra banda que se chamava “Noupe”. Em 2005 minha banda acabou e na mesma época o Diogo deixou a banda dele e então nos juntamos o montamos o “Hierofante Púrpura”.

Já o Wesley (guitarrista) que é mais jovem que a gente acabou aparecendo depois com uma banda chamada “Luzco” e por acaso acabei me aproximando dele quando anunciei uma guitarra e no final da história ele acabou ficando com a guitarra e acabamos virando amigos também.

Com relação aos Chás, começou com uma ideia que tive com o Thiago Gal de voltarmos a fazer um som juntos já que não rolava desde 2005 e sentimos essa necessidade de parar de falar em voltar a tocar e realmente começar a compor, pensar nas pessoas que podiam fazer parte e de fato começar o projeto novo.

O Wesley era um parceiro próximo que naturalmente foi convocado e o Diogo que saiu do “Hierofante Púrpura” em 2012 e tive o prazer de gravar discos e fazer tantos roles foi outro parceiro que convidamos e topou de cara.

Assim nasceu “Os Chás”…o detalhe é que o crédito do nome da banda tenho que dar ao meu outro parceiro Pipo Vendramini que tinha esse nome guardado e me disse de cara “Essa banda tem que se chamar Os Chás!!”

Gabriel Mattos e Diogo Menichelli, vocês vieram de uma banda muito bem comentada, a Hierofante Púrpura. Como foi a saída de vocês? Por que resolveram continuar trabalhando juntos em mais um projeto?

Gabriel: O que aconteceu é que o Diogo saiu da banda em 2012 um pouco antes de viajarmos pra uma turnê no Nordeste e ele saiu devido aos compromissos de trabalho e algumas questões pessoais também. Eu deixei a banda em abril agora, participei da maioria dos shows do “Disco Demencia” que foi lançado no final de 2016 e foi por opção minha mesmo, já estávamos juntos a 12 anos e senti essa vontade de começar algo novo com velhos/novos amigos.

O “Hierofante Púrpura” sempre vai estar no meu coração afinal foi a maior escola que tive na vida, fiz muita coisa nesses 12 anos, nem eu mesmo imaginava gravar vários discos, fazer turnês, fazer parte de uma banda que já foi citada como influencia pra varias bandas novas então é guardar sempre essa lembrança boa que foi fazer parte dos Púrpuras.

Vocês destacam que o som da Os Chás tem muita influencia de rock psicodélico, mas o primeiro single “Tô Meio Dócil” surge numa pegada sonora bem heavy metal, como são trabalhadas as influencias musicais dentro da banda?

Gabriel: Na verdade o nosso single de estréia pode parecer um som psicodélico, ou heavy metal como você mesmo sentiu mas a real, é que não soltamos a parte secreta que vocês todos vão ouvir lendo essa entrevista com o disco completo disponível pra audição e digamos que pode além de tudo isso já citado, o som pode ser um reggae bem temperado do melhor chá jamaicano (risos) então o negócio nem é se prender nesse termo ou naquele termo, o importante é soar bem e ser algo bom pra ser degustado, como um bom Cházinho não é mesmo?

De alguma forma todos nós somos influenciados por sons basicamente dos anos 60/70 mas também temos nossa escola forte que foi o punk dos anos 80 e toda febre que foi os anos 90. O que acontece agora é maravilhoso também, não somos aqueles caras que só ouvem coisas antigas, estamos sempre ligados no que esta rolando.

Não ficamos presos numa coisa tipo “nosso som só vai ter aquela pegada psicodélica anos 60”, não, nós vamos compondo e naturalmente as coisas vão acontecendo.

Eu já disse que o trampo sonoro de vocês me chamou a atenção logo de cara, mas, além disso, tem uma para estética/visual que também se destaca no tralho de vocês, como surge essa ideia de usarem moletom numa pegada fantasia do joguinho “Where’s Wally?”?

Thiago Gal: É um lance que tem uma ligação direta com o conceito que criamos do neo-caipira. O novo caipira é o “cara” ou uma classificação de “caras” que fazem parte desse êxodo rural e se deslumbram com a imensidão da cidade, com a altura dos prédios, com os viadutos, o metro, os hábitos, …, esse tipo de coisa. Essa roupa é a roupa dele. É a melhor roupa que ele tem. Um lance bem caipira demodê, engraçado…rsrs….e consecutivamente é um lance que diferencia nosso trabalho visualmente.

Capa do EP “Já Delírio” – Os Chás.

E vocês tão lançando o disco “Já Delírio” pelo selo carioca Transfusão Noise Records, como funciona essa parceria de vocês visto a distancia?

Gabriel: A parceria surgiu em 2011 quando o Hierofante fez um show com o Almeida em São Paulo e a identificação foi instantânea. Viramos amigos apesar da galera morar no RJ e desde então a Transfusão Noise Records lançou vários registros do Hierofante, por causa disso decidimos entrar em contato com o e logo que apresentamos o disco ele já firmou a parceria.

A banda surgiu em Mogi da Cruzes, contem pra gente como vocês veem a cena de música independente nessa região. Tem muita banda rolando, festival, selos…?

Gabriel: Mogi nos anos 90 foi rota de muitas turnês de bandas de hardcore e punk mas a falta de espaços foi fazendo com que diminuísse muito os shows. Hoje o que temos aqui é uma cena bem forte de Rap com uma casa de cultura que conta com o apoio da Secretaria de Cultura da cidade. Temos um festival mais voltado para o rock chamado “Dezembro Independente” que já tem por volta de dez edições.

Uma coisa bem legal que aconteceu faz uns dois anos, foi a abertura de um estúdio publico para gravação, são projetos inscritos em editais municipais, inclusive nosso disco “Já Delírio” foi contemplado em um desses projetos mas no nosso caso foi uma categoria chamada “prensagem de cd pronto” pois já tínhamos gravado e mixado o disco com nosso amigo Taian Cavalca no “Mono Mono Studio” e masterizado por la também com outro parceiro chamado Hugo Falcão.

Gostaria aqui além de agradecer o Taian e o Hugo pelo ótimo trabalho realizado, também agradecer o Mario Gascó que gravou um sítar indiano maravilhoso e o didgeridoo em “Morocco” e também agradecer a Priscila Ynoue que gravou todas as teclas do disco, vários sintetizadores, pianos e órgãos. Também gostaria de deixar registrado nosso agradecimento ao Fábio Bridges que escreveu um release certeiro. Obrigado pessoal, vocês foram geniais!

Vocês tocam no Centro Cultural de Mogi das Cruzes no sábado (15/07), como tá a ansiedade e o que estão preparando para essa apresentação?

Gabriel: Pra essa apresentação estamos preparando além do disco na integra, também teremos uma banquinha com o CD físico, camiseta e pôster, uma projeção bem pesada interagindo com a banda ali ao vivo, também quem sabe uma ou duas músicas novas e o principal que é a participação da Priscila Ynoue nas teclas (pianos, órgãos e sintetizadores). Certamente será uma noite inesquecível e contamos com a presença de todos os amigos dia 15 às 20 horas!!

Para os próximos passos da banda, estão nos planos apresentações? Videoclipe? Conta ai pra gente!

Gabriel: Sim claro, estamos planejando um lançamento em São Paulo, também algumas datas no interior e no Rio de Janeiro também afinal a sede da Transfusão Noise Records que é o “Escritório” fica no centro caótico e tem tudo a ver com o “Já Delírio”.

Um clipe também é um plano que vai rolar em breve!!

Quem curtir o disco e tiver interesse em levar “Os Chás” pra sua cidade, entre em contato com a gente pelo email oschasoschas@gmail.com ou pelo facebook no endereço facebook.com/oschas77

Obrigado Cainan e Minuto Indie pelo espaço e esperamos em breve estarmos todos juntos celebrando o “Já Delírio”.

Ouça agora, na íntegra o EP “Já Delírio” – Os Chás:

Ou então escute em sua plataforma de música predileta: YouTube / BandCamp.

Serviço:
Show de lançamento do EP “Já Delírio” com Os Chás;
Dia: 15/07 (sábado);
Local: Centro Cultural de Mogi das Cruzes;
Horário: 19h30;
Ingresso: Na faixa!

 

Autor

  • Cainan Willy

    Cainan Willy é formado em Publicidade & Propaganda. Atualmente trabalha com o selo paulistano Cavaca Records e também é assessor comercial do canal Minuto Indie. Entre em contato: cainanwilly@gmail.com

Escrito por

Cainan Willy

Cainan Willy é formado em Publicidade & Propaganda. Atualmente trabalha com o selo paulistano Cavaca Records e também é assessor comercial do canal Minuto Indie.

Entre em contato: cainanwilly@gmail.com