Conversamos com a Weyes Blood horas antes de seu show no C6Fest, em São Paulo

Com óculos escuros e roupa de piscina, Natalie Mering, artisticamente conhecida como Weyes Blood, se sentou ao redor de uma mesa redonda em um hotel em São Paulo para conversar com a nossa equipe. O encontro aconteceu na tarde de domingo (21), poucas horas antes de seu primeiro show em terras brasileiras.

A cantora norte-americana havia chegado ao Brasil na noite anterior e tinha aproveitado para conhecer a cidade e seus bares. Mas o motivo de sua visita ao país é o C6Fest, nova versão do Tim Festival e Free Jazz, que aconteceu no Ibirapuera durante os dias 19 e 21 de maio. Sua primeira vez no país se dá na turnê de seu álbum mais recente, And In The Darkness, Hearts Aglow (2022).

Para celebrar sua estreia, contamos a ela que os fãs subiram a canção Seven Words, de seu álbum Front Row Seats to Earth, no top 3 do iTunes Brasil. Natalie recebeu a notícia com surpresa e animação, questionando como os fãs conseguiram fazer a música subir nas paradas. No palco, pediu desculpas por não conseguir atender ao pedido desta vez. 

“Quando começou a pandemia, achei que teria perdido a chance de vir ao Brasil”, confessou durante seu show no festival.

Weyes Blood ocupa um espaço de fronteira entre diva pop e artista indie, e reconhece essa indefinição como parte de um movimento de mudança para a música. A cantora nos contou achar que “a música pop tem sido chata por um tempo” e observa com esperança as novas vozes do pop que crescem com ela, como sua amiga Caroline Polachek e Charli XCX

Por aqui, a artista foi recebida por fãs calorosos que cantaram todas as suas músicas durante o dia mais lotado do festival. O show foi uma imersão em seu próprio universo, construído por uma sonoridade embalada por sua orquestração psicodélica e um canto que se aproxima da música clássica e é diretamente inspirado por sua vivência em corais de igreja. Uma apresentação memorável, que daqui a anos ainda lembraremos com carinho.

Confira na íntegra a entrevista que realizamos com a cantora antes de seu show no festival.


Minuto Indie: Sabemos que você adora filmes. Mas quando você começou a escrever músicas e pensar em fazer trilhas sonoras, você pensou que uma delas seria para um filme dos Minions?

Weyes Blood: Hm, não. Isso foi bastante inesperado, mas Jack Antonoff me pediu para fazer e eu adorei tanto que fez sentido. Sim, eu nunca previ isso.

MI: Sua voz é muito emblemática, do tipo que podemos reconhecer em qualquer lugar quando ouvimos. Quando você entendeu e se sentiu confortável com sua voz no palco, como foi esse processo?

Weyes Blood: Acho que tive muita sorte porque participei de muitos corais e cantei muito na igreja quando criança, então me acostumei a cantar na frente das pessoas. E quando minha carreira começou a ganhar um pouco de força, eu pude fazer turnês e cantar todas as noites, é como um treinamento de força e sua voz fica muito forte. E agora que eu fiz isso por muitos anos, ela é meio que indestrutível.

MI: Se Deus pudesse transformar você em um som, que som seria?

Weyes Blood: Bom, se Deus fosse um som? Não sei. O som é vibração. Você sabe, todo o universo começou com o Big Bang. Acho que seria esse o som. Som de todas as coisas, a harmonia das esferas, como os planetas e tudo que assim pensam.

MI: Já se passaram quinze anos desde seu primeiro álbum. Como você vê seus trabalhos anteriores hoje em dia? E você ainda se identifica com as músicas dos projetos mais antigos?

Weyes Blood: Sim, não, definitivamente. Acho que posso ouvir de volta com ouvidos frescos porque não estou mais tão envolvida. Acho que gosto muito de um dos meus primeiros discos chamado “The Outside Room”. Acabei gravando sozinha na quarta faixa e até hoje, eu realmente sempre quis tocar essas músicas ao vivo, mas temos um set tão longo agora que não fizemos isso, mas sim, acho que tem seu lugar e tenho muito orgulho de tudo que fiz.

“Espero que eles comecem a tocar mais artistas independentes no rádio, porque acho que assim eles descobririam que a maioria das pessoas gosta de música interessante”

MI: Seus dois últimos álbuns foram amplamente recebidos pelo público e pela crítica e você ganhou mais visibilidade e fãs. Essa recepção positiva afetou seu processo criativo de alguma forma?

Weyes Blood: Eu acho que um pouco porque eu meio que estou acostumada a criar dentro do vácuo e sinto que há uma pressão para fazer a mesma coisa de novo… É como se eu tivesse que evitar isso. Como se houvesse uma tendência de ser como, “Oh, eu poderia simplesmente escrever outra música que seja como a outra música que todo mundo gosta” ou algo assim, mas eu meio que sempre tentei evitar me copiar. Então eu acho que se isso teve algum efeito em mim, apenas me empurrou para continuar a crescer e não estagnar.

MI: Seus fãs também nos enviaram algumas perguntas. Ana Luiza, do Rio de Janeiro, perguntou se, enquanto você estava fazendo “And in the Darkness, Hearts Aglow”, teve uma música específica que se tornou muito especial para você? E se sim, por quê?

Weyes Blood: Sim, “God Turn Me Into a Flower” foi uma música muito especial. Eu meio que escrevi no pico do lockdown, quando as coisas eram tão mínimas. Havia tão pouco insumo.Tínhamos apenas pequenas coisas do lado de fora acontecendo no telefone, foi tão louco. Mas a comunicação pessoal era tão escassa que eu só podia realmente ir para dentro e meio que me explorar. E também “Hearts Aglow” é uma música muito querida para mim porque é realmente verdadeira. E eu não sei, é meio branda. É meio que minha fantasia de ser tipo abstêmios. Mas sim, é como se essas duas fossem minhas favoritas secretamente. 

MI: E agora falando sobre o futuro, você lançou dois álbuns da trilogia que começou com o Titanic Rising. O Gab de Brasília está curioso para saber, como você planeja terminar a trilogia? Como esses álbuns serão conectados?

Weyes Blood: Bem, acho que este terceiro é uma espécie de resposta aos dois primeiros. O primeiro é como uma chamada à ação, meio que soar o alarme e o segundo é como viver no meio do alarme e saber apenas que não há mais notícias para espalhar. É como se todos nós soubéssemos o que está acontecendo. E acho que quando fiz Titanic Rising, ainda estava em debate, mas agora é realmente óbvio o estado em que estamos, então espero que o terceiro seja sobre esperança e um registro mais extrovertido sobre como resolver esses problemas.

MI: Você lançou recentemente um cover de “When You’re Smiling” e muitas vozes icônicas gravaram essa música. Como você se sente passando a ser uma delas?

Weyes Blood: Sim, foi um pouco desafiador para mim porque acho a versão de Billie Holiday muito legal. Então, tentando fazer o meu próprio… Eu estava tipo, bem, vai ter que ser ridículo e muito, você sabe, modelado. Mas minha amiga Este Haim estava fazendo a trilha sonora de um programa de TV sobre Anne Frank. Então foi meio que para isso. Então não foi como se eu tivesse feito apenas o cover, fiz isso para este programa de TV.

MI: E você está se apresentando pela primeira vez no Brasil hoje à noite e seus fãs subiram “Seven Words” do Front Row Seat to Earth no top três do iTunes Brasil. Você soube disso?

Weyes Blood: Não. O que é isso?

MI: Eles colocaram a música no top três das paradas do iTunes Brasil, porque eles querem que você cante a música.

Weyes Blood: Ah, eu não sabia disso.

MI: Sim, e eles estavam se perguntando se poderiam ouvi-la esta noite.

Weyes Blood: Ok, não. Eu não fazia ideia. Eu não acho que minha gravadora me disse ou algo assim.

MI: Sim, tem acontecido no Brasil. Os fãs querem muito ouvir uma música ao vivo, então eles colocam uma música na parada do iTunes para o cantor ver.

Weyes Blood: Mas como eles fazem isso?

MI: Eles compram a música. Eles compraram massivamente essa música para que subisse nas paradas.

Weyes Blood: Uau. Vou descobrir o que fazer sobre isso.

MI: Você recentemente subiu no palco com Caroline Polachek, não é? Como você se sente ao olhar para os lados e ver essas outras artistas crescendo também e mudando o cenário da música pop como você?

Weyes Blood: É emocionante, porque acho que a música pop tem sido muito chata por um tempo. E, inevitavelmente, eles pegam muito do indie e meio que pegam coisas esteticamente diferentes dos artistas, então faz sentido que tudo esteja em pé de igualdade agora por causa da internet. E espero que continue assim, espero que eles comecem a tocar mais artistas independentes no rádio, porque acho que assim eles descobririam que a maioria das pessoas gosta de música interessante. As pessoas não gostam de ser alimentadas com colher, de músicas processadas. Então, eu espero que isso meio que quebre a barreira. Então, podemos simplesmente dissolver toda a fronteira entre independente e major porque é meio que tudo sobreposto de qualquer maneira.

MI: E quem foi o último artista que você ouviu que fez seu coração bater mais rápido, que você ficou animada de descobrir?

Weyes Blood: Como um novo artista? Eu gosto de Skullcrusher e Jockstrap.

MI: Eles são ótimos! Obrigado pelo seu tempo. Foi um prazer te conhecer.

Weyes Blood: Obrigada, pessoal! Hm, como vou inventar “Seven Words” hoje? Sim, obrigada por me avisar sobre isso também.

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Autores

  • Maria Luísa Rodrigues

    mestranda em comunicação, midióloga de formação e jornalista de profissão. no Minuto Indie desde 2015 e em outros lugares nesse meio tempo.

  • Bruno Santos

    Em horário comercial é escritor, criador de conteúdo, publicitário, estudante de Publicidade e Propaganda e colaborador do canal Minuto Indie. Fora dele é ex-fã da antiga banda One Direction e viciado em escutar os mais diferentes estilos musicais.

Escrito por

Maria Luísa Rodrigues

mestranda em comunicação, midióloga de formação e jornalista de profissão. no Minuto Indie desde 2015 e em outros lugares nesse meio tempo.