Ei, que tal baixar o televisor? Afinal, o seu domingo não precisa ser triste – e nem as segundas feiras, de manhã. Todo dia pode ser Carnaval, sabia?
Vem comigo nessa VIAGEM ASTRAL com Júpiter Maçã: sabemos que a quarentena não está fácil. Uma rotina desregulada traz como consequência noites mal-dormidas e crises existenciais – mas, fica frio aí, que a gente trouxe uma sopinha (opa, marchinha!) psicótica para aquecer e florescer os seus dias de outono.
Júpiter Maçã, também tenso, esperando eu contar – e cantar! – toda a história pra você.
Garota, você não precisa virar a Miss Lexotan 6mg:
Ela não consegue relaxar
Ela não consegue nem ao menos dormir
Ela é tensa só porque seu amor não vive em São Paulo
Nem Porto Alegre, em lugar nenhum
Se você se equilibrar na jarra de frutas, tudo se torna possível e vira Carnaval. Júpiter Maçã, Jupiter Apple ou simplesmente, nosso guri e querido Flávio Basso, já previa alguns dias difíceis em 2020. Mas, para isso, ele criou uma Marchinha que seria revisitada e te faria dançar – mesmo em casa, mesmo tropeçando em seus próprios pés, mesmo em quarentena. Bora treinar com ele?
Antes de nada eu gostaria de explicar:
Segue agora um mosaico de imagens mil
Chamado a marchinha psicótica de dr. SoupA noiva do arlequim e o malabarista
Chegaram junto com a fada e o inspetor nazista
Chacretes e coristas em teatro de revista…
Abra as portas da percepção – mas cuidado para não tomar toda a solução!
É, um tal de Aldous Huxley ficou doidão. Mas você não precisa ficar: vem cá, que o MINUTO INDIE, além de música, vai te indicar até um livro nessa noite:
“Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito.” ‘Foi com essa citação do poeta e pintor inglês William Blake que Aldous Huxley retirou a ideia para o título de seu texto/ensaio ‘As Portas da Percepção‘ – veja mais com Duda Menezes.
Ainda não tinham te contado que todo dia é Carnaval? Não?! Pois é, como eu estava dizendo, em 2007, Júpiter Maçã passou uma tarde na fruteira e fez questão de anunciar a profecia:
O milênio passaria e a marchinha seguiria sendo cult underground,
Mas até 2020 seria revisitada e vira hit nacional
Sim, vira hit nacional. Virou. Somos um site de música e independente do espaço-tempo, a gente vai falar sobre… música. E sobre revisitar peças antigas de museu. A porta do seu armário. A poeira por baixo do tapete. Mas, shhh, cuidado, hein? Tem alguém escutando a gente!
Mas, ei, sem paranoias, já diria Pink Floyd. Pois é, eles também eram malucões – afinal, eles foram até o lado escuro da lua e voltaram! Merecem nossa atenção: gravaram suas canções em um lugar do caralho – essa faz aniversário comigo, nasceu em 1997! – enquanto cantavam sobre cachorros latindo (you gotta be crazy!) – e também tinham como companhia, ao fim do dia, os mesmos cachorros para compor canções magníficas.
Bom, e pra provar, meus queridos, o meu amor tão radical, é claro, vamos voltar para Júpiter.
Música é assim mesmo, vai, volta, como asteróides em um céu iluminado. Além de hits de fim de noite que ficam entrelaçados na cortina entre o sono e o plano astral, Júpiter também compôs músicas como “Modern Kid”.
Júpiter Maçã em Porto Alegre – Festival Rádio Ipanema – 26 anos Porto Alegre/RS – por André Peniche, Brazil, 2009.
O videoclipe da canção foi inicialmente filmado em preto-e-branco. Loucura total e dirigido por André Peniche, que também resolveu revisitar a música 10 anos depois de seu lançamento e mostrá-la em cores para os eternos fãs do artista:
Dia 28 de Agosto de 2009 ia ao ar no Youtube o clipe de Modern Kid de Júpiter Maçã. Parceria entre Flavio Basso e Luiz Thunderbird, a música foi gravada em SP especialmente para o clipe. No dia da filmagem, nosso diretor de arte André Saito e sua assistente Mariana Keller, ficaram abismados em saber que o produto final seria em preto e branco, já que haviam preparado um set tão especial. A decisão do preto e branco havia sido feita por mim e Júpiter antes mesmo da música ser escrita. Em resposta a isso, disse a eles: ‘em 10 anos, lançamos uma versão de comemoração em cores e 4k’. 28 de Agosto de 2019. Aqui estamos.
Vem comigo, veja esse Júpiter cheio de cores:
“And, in the end… the love you take… is equal to the love you make”
Porque o que fica no fim é a nossa essência, não? E Flávio Basso soube deixar isso muito bem. Em todo mundo que ele conheceu – ou mesmo sem conhecer – ele soube tocar o coração. Já ouviu um grupo chamado “Escambau”? A banda foi formada em 2009, em Curitiba, e conta com cinco álbuns de estúdio em sua discografia. E, no meio disso tudo, tem Júpiter Maçã. É, eles também tiveram um sonho com aquele estranho velho alien. Vem cá ouvir a história de Giovanni Caruso, um dos membros da banda:
Desde que o Flávio Basso morreu (eu ainda não acredito!) que eu queria compartilhar essa história… Cidade do Rio Grande-RS, 1995, eu tinha 15 anos e há mais ou menos um ano atrás ainda queria ser baterista. Como já tinha um irmão guitarrista (Emerson Caruso) e outro baterista (Glauco Caruso), acabaram (eles 2 + minha mãe) me enfiando um baixo goela à baixo. No início passava as noites olhando sem saber direito o que fazer com aquilo, até meu irmão mais velho me dar umas aulas. Aprendi umas músicas e formei uma banda junto com o Tuba, o Gordo Fabio e o Baratão (Raphael). Não tocávamos porra nenhuma, mas alguma coisa matada dos Cascavelletes e do TNT saíam.
Os dois irmãos já citados um dia se mudaram para Porto Alegre e logo veio a notícia que estavam tocando com o Flávio Basso, ex-vocalista dos Cascavelletes. Bah, a gurizada ficou louca ali na volta, todo mundo orgulhoso e louco pra conhecer o cara. Um dia ele veio. Chegou totalmente diferente do que era nos Cascavelletes, cabelo beatle e umas roupas com um colorido psicodélico. Não podia ser real que aquele cara tava ali, dormindo na minha casa, comendo na mesa com a gente, jogando bola, tomando banho de praia junto no Cassino. Bah, e eu seguia aquele cara pela casa, um pentelho perguntando coisas sobre os Cascavelletes; estávamos todos enfeitiçados por ali. Ah, eles haviam chegado com uma fita demo, agora o bagulho era “Júpiter Maçã Múmias” e na fita tinha um som novo chamado “Orgasmo Legal” entre outras. Muito foda!
Bem, num daqueles dias, eu estava encerrado no meu quarto tentando decifrar a linha de baixo de “I saw her standing there” dos Beatles sem muito sucesso, quando de repente o Flávio entra no quarto como uma pessoa qualquer e me diz que era quase aquilo mas ainda não era (o baixo que eu estava fazendo), então se senta ao meu lado e me ensina como tocar toda aquela linha corretamente. Ficamos ali não mais que 1 hora só os dois, e ele ainda me ensinou a tocar “Anna (go with him)” no baixo também. Pensa num aluno feliz! Depois disso eles ainda voltaram uma ou outra vez a Rio Grande e sempre foi legal pra caralho.
Enfim, depois disso montei os Faichecleres e o Escambau entre outras coisas e aqui estou até hoje empunhando meu contra-baixo, e não é de hoje que penso na importância que foi pra minha vida aquela tarde (principalmente) ao lado de um cara atencioso, generoso e humilde, e que era (ainda é, e sempre será) um ídolo pra mim. O empurrão que ele me deu. Eu queria expor essa história por vários motivos, mas principalmente para acentuar um lado do Júpiter Maçã que muitos desconhecem. Eu tive esse privilégio, e foi muito especial pra mim. E digo abertamente, que não posso assegurar qual desses três artistas tiveram maior influência na minha raiz, se Lennon, McCartney ou Basso. Valeu, Flávio!
Mas, claro, não para por aí. Nunca pára, né? Houve, de fato, um encontro de outra dimensão:
Viagem Astral com Júpiter Maçã – banda Escambau
Em dezembro de 2019 tive um sonho maluco no qual encontrei o Júpiter Maçã tocando uma música numa espécie de sótão de madeira. O sonho começou comigo e a Maria Paraguaya sentados dentro de um ônibus de linha completamente vazio, circulando por um lugar afastado e repleto de terrenos baldios na Argentina. A rua era úmida e pouco iluminada por alguns velhos postes antigos. De repente, nosso ônibus parou na frente de um luminoso em néon vermelho que dizia: “Museo del Rock Garage” – no susto, peguei a Paraguaya da mão e disse: Vamos descer! Rápido! Descemos do ônibus e entramos no museu.
Dentro do museu, nos deparamos com uma sala relativamente pequena e ausente de seres humanos, com expositores no centro e nas paredes recheados com vinis e cds de grupos de rock dos mais diversos; tudo em espanhol. Peguei alguns cds pra dar uma olhada e rapidamente atravessamos por uma porta central para uma segunda sala. Ali, estavam expostas fitas K-7 e dvds. Assim como a primeira, esta sala também estava deserta, e tinha um aspecto decadente e sombrio. No alto da parede, num canto, havia uma televisão ligada passando algum documentário de música ou coisa assim, e também haviam pôsteres pendurados por todo este segundo recinto.
De repente, do nada, aparecemos em um terceiro local, que era uma espécie de sótão de madeira com o teto baixo e caindo em diagonal como que acompanhando a caída do telhado. Num canto, bem trajado, com um terno justo – paletó de três botões – e óculos escuros avermelhados, estava o Júpiter Maçã tocando uma guitarra maciça de cor “sunburst”. Nos aproximamos com passos lentos, atônitos. O Flávio tocava saltando sem dobrar os joelhos, sem se mexer e olhando pro infinito fixamente. O lugar era apertado e eu me ajoelhei na altura do braço da guitarra e fiquei observando as notas que ele aplicava na canção. Era uma música circular, começava em si maior, depois fá e lá bemol, dó menor, mi bemol e caía cromaticamente até começar tudo de novo. A melodia era psicodélica e não tinha letra, apenas murmúrios.
Ali, do nada, entrei numa queda e me acordei. Assustado, com a respiração alterada, mas com aquilo tudo na cabeça. Cravei meus olhos abertos no teto do meu quarto retrocedendo o sonho todo e ainda com aquela música na cabeça, conseguia visualizar as notas, inclusive. Foi aí que tomei uma atitude que considero contundente e crucial para a existência dessa canção. Me levantei da cama imediatamente e registrei no gravador do celular as notas que o Júpiter tocava e o que me restava na cabeça da melodia. Fiquei sentado no sofá, por vezes tocando aquela sequência circular, por vezes rememorando o sonho psicodélico. Nunca tinha passado por aquilo de receber uma música pronto através de um sonho. Aquela música era minha? Lógico que não. Será? Sei lá? Não se parece logo com nenhuma composição minha e até hoje me confundo ao tentar resolver essa questão. Só sei que a música veio pronta num sonho, com notas e melodia.
Na noite anterior a este sonho, passamos, eu e a Paraguaya, meu irmão e a mulher dele, tomando vinho e conversando sobre o Flávio Basso, a pessoa e o artista. A conversa começou quando a Paraguaya contou que havia tido um sonho onde o “Man” apareceu pedindo para que ela trouxesse laranjas e limões para colorir sua vodka […] essas histórias – uma melhor que a outra – influenciaram minha mente e me levaram ao encontro onírico que relatei a vocês e que terminou em uma composição inédita. “Viagem Astral com Júpiter Maçã” foi gravada na sequência pelo Escambau, numa sessão ao vivo. Fizemos apenas dois ensaios e decidimos gravá-la sem enfeites, para que permanecesse com a crueza do sonho.
A cereja do bolo ficou a cargo do videoclipe, desenhado a mão com toda o talento do nosso amigo Fábio Vermelho, que arrebentou a boca do balão. O clipe tá foda demais e não tenho nenhum receio em dizer que é um dos melhores vídeos da história de 11 anos do Escambau. […] Valeu galera! Fiquem em casa, lavem as mãos, se alimentem e façam exercícios físicos e mentais. Leiam, pintem, desenhem, façam qualquer tipo de arte, afinal, é isso que nos salva.
Acompanhe o clipe com a letra:
Viagem Astral com Júpiter Maçã
Houve, de fato, um encontro em outra dimensão.
No prédio de um museu intergaláctico fizemos conexão.
Tarde da noite eu descia do transporte estelar,
Bem no neon que nomeava o museu ultra lunar.
Trazia, envolvidos num saco, laranjas e limões.
Pra incrementar tua vodca, laranjas e limões.De óculos negros distantes, trajavas paletó
E numa guitarra sunburst, tocavas si maior.
Não houve abraços nem falas, somente houve canção,
Enquanto texturas estranhas rolavam pelo chão.Amanheceu, de repente, e nós não nos vimos mais,
E todo trajeto de volta eu deixei ficar pra trás.
Trouxe, dormindo comigo, a sequência da canção
Que você tocava saltando sem encostar no chão.
Guardo o presente vivido entre o ontem e o amanhã.
De uma viagem astral com Júpiter Maçã.
Júpiter, estamos aqui, e a luz que você passa transcende o espelho e o ego.
Se você quer ver ainda além, André Peniche também reuniu alguns relatos e registros performáticos do artista:
Jupiter Apple, veja mais aqui.
Permita-se transcender a consciência e perder a lucidez
Além de registros fotográficos, temos imagens em movimento. Afinal, a vida é como uma caminhada, não? Pega aí um pouco desse show de graça nas épocas de ouro da MTV, onde Júpiter Maçã, ou, também, Flávio Basso entrevista o músico Rogério Skylab:
Bom, se você não tá entendendo nada, tudo bem, afinal, “doidão é apelido para a paranoia“. Já diria Pink Floyd, também: o barulho dos cachorros latindo ao fundo não é tão assustador quanto o grande, que está na sua frente – afinal, você é que controla ele.
Então, continue com a gente, com o Júpiter Maçã, em Júpiter, em um filme do Woody Allen – em preto e branco, colorido, laranjas, limões, ou qualquer fruta da sua preferência que esteja aí, na sua fruteira.
PS: there is no dark side of the moon, really. Matter of fact, it’s all dark! #RESISTNEOFASCISM
VIAGEM ASTRAL COM JÚPITER MAÇÃ
In Studio with Jupiter Apple’s band and manager to record the new single: Modern Kid.
Para mais novidades do mundo astral da música, continue acompanhando o MI e também a gente, lá no Facebook!
in memoriam
Gabriela M. & Flávio Basso, eternos seres de luz.
grata por andarem comigo.
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