Britânicos do Arctic Monkeys se reinventam mais uma vez em um novo disco orquestrado e com um visual mais “cult”.

Quase uma década depois do que foi a sensação indie do lançamento de A.M (2013), com direito a meme no Lollapalooza Brasil 2014 e o susto que dividiu opiniões com o sucessor Tranquility Base Hotel & Casino (2018), o Arctic Monkeys volta com The Car (2022). Para quem gostaria de guitarras e um rock’n roll estilo o single R U Mine pode ficar decepcionado. Mas, pra quem, assim como eu, gosta de ver a banda se reinventar é uma grata surpresa.

Bom, não gostaria de estar fazendo isso aqui “oficialmente”, mas sempre que estou em conversas com meus amigos sobre música e vamos falar sobre o disco novo de alguma banda, eu costumo citar o U2 como um mau exemplo. Não leve a mal os fãs da banda, eu acho que tem trabalhos incríveis, principalmente os primeiros deles nos anos 1980. The Joshua Three (1987), então, é uma pérola só. É um dos meus vinis favoritos da minha coleção. Mas, de uns tempos para cá, o grupo têm entrado numa onda de mesmice eterna. Os álbuns, de uma forma geral, parecem que são sempre o mesmo disco e têm uma dificuldade tremenda de trazer algo novo. Não sei explicar muito bem, mas parecem ter encontrado uma fórmula de fazer música e vêm a replicando a cada ano.

Ao contrário disso, o que têm sido uma virtude dos Arctic Monkeys, me arrisco a dizer, desde sempre, foi a vontade de sempre se reinventar. Até hoje, nenhum disco soou igual ao anterior. Talvez uns sejam melhores que outros, mas nunca iguais. Arranjos, capas e até cabelos seguiram formatos totalmente diferentes ao longo da carreira. Iniciando com o título longo do primeiro disco Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not (2006), com guitarras rápidas, uma capa com um amigo do grupo parecido com o Adam Sandler e um visual teen com espinhas ainda aparecendo que difere bastante do período do hypado A.M. (2013), com uma pegada mais rock’n roll clássico, um visual bad boy e capa minimalista. Depois, faça a experiência de passar por alguns shows ao vivo da banda no Youtube. É incrível, parecem ser bandas totalmente diferentes.

Lembro que quando ouvi  Tranquility Base Hotel & Casino nas primeiras vezes, além de estranhar sua grande diferença de seu antecessor A.M., reparei que o teclado (ou seria piano?) era um instrumento muito presente nas novas composições. Parecia que as guitarras que estavam aparecendo tanto no anterior agora foram substituídas pelos sons das teclas. Entretanto, quando fui ao show deles no Lollapalooza 2019 (pela segunda vez), reparei na setlist que o teclado já tinha aparecido em outras ocasiões, e a gente (ou eu) é que não tinha se ligado antes.

Agora, em The Car, temos um som mais calmo e orquestrado. Eu achei ótimo essas novas nuances por justamente refrescar, mais uma vez, a imagem da banda. Mas, ao mesmo tempo, vi pessoas chamando o disco de monótono. Acredito que a ideia era ser um disco mais tranquilo, sem muitos instrumentos “agressivos” aparecendo. Além é claro, do visual da banda que agora tem uma pegada mais “cult” e menos Agostinho Carrara que vinha sendo visto na turnê anterior.

A minha canção favorita do disco é Body Paint. Ela passa por diversos “momentos”, um teclado mais tranquilinho no começo, ganhando um pouco mais de corpo com cordas no meio e depois ganha doses de guitarra de uma certa parte da música pra frente. Alguns momentos com corais também surgem. Parece ser uma canção ótima para curtir ao vivo. Inclusive, fizeram apresentação aqui no Brasil recentemente, mas não tive a oportunidade de conferir ao vivo (pela terceira vez). Já The Car, me lembra muito a trilha de um filme de faroeste. Mais especificamente um mais moderno que troque o cavalo por um carro (pegou a referência?), tipo A Qualquer Custo (2016) ou um dos mais recentes de Clint Eastwood como Cry Macho: o Caminho para Redenção (2021). (Viajei muito? Espero que não.)

O que eu gostaria de verdade é que os Monkeys continuem fazendo esse trabalho interessante que vem fazendo até então. sem medo de arriscar e nos surpreendendo a cada disco novo, mesmo que algumas pessoas não gostem. Faz parte, né? Como diz o ditado: “Nem Bono Vox agradou a todos”.

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