Banda brasiliense retorna ao rock em sua estreia como um trio
Não me entenda mal, é sempre interessante ver uma banda sair da zona de conforto e explorar novas possibilidades como a Scalene fez em seu último disco Respiro e no EP Fôlego. Porém, apesar das aventuras, não há nada como o sentimento de voltar para casa. É exatamente este caminho que a Scalene percorre em seu novo single FEBRIL, lançado nesta sexta-feira (17). A faixa surgiu do vocalista Gustavo Bertoni, mas contou com a colaboração de todos os integrantes na composição, incluindo Philipe Nogueira, também conhecido como Makako – o baterista, segunda voz e amigo de longa data que anunciou sua saída da banda em Agosto de 2021.
Evitando ser mais uma faísca, o single soa como um mecanismo para buscar compreender e tolerar os tempos febris, literais e metafóricos, que passamos de forma mais intensa nos últimos quase dois anos. Desacelerar, como eles buscaram no último disco, foi o que pudemos fazer neste período de isolamento. É hora de avançar novamente. Quase impossível construir arte nestas circunstâncias sem retornar para algumas sonoridades, dores, vontades, preocupações, influências, sentimentos e expressões. Também não é fácil passar por esse período sem marcas físicas e mentais permanentes, rupturas e mudanças inevitáveis. São momentos excessivamente ambíguos. Mas se artistas são pessoas que conseguem fazer senso do tempo, a Scalene faz um excelente trabalho há anos.
Por compassos mais curtos, FEBRIL canaliza via corpo todo o desconforto, luto, angústia, ansiedade, medo e ódio inevitável de sentir caso você não esteja imune ao mundo externo em um Brasil meio a crises múltiplas. Mas FEBRIL te suspende sem tirar o pé do chão, transporta em tempo e espaço por memória ou desejo. Por 3 minutos e 37 segundos me vi no Circo Voador, icônica casa no Rio de Janeiro que já recebia shows anuais da banda, mas não sei se lembrando dos shows até 2019 ou projetando a possibilidade de um em 2022. Aliás, até projetar exige uma esperança que às vezes nos falta, como a banda resgata com o verso “o sonho que escapa do escopo do tempo real”. É individualista o suficiente para lembrar da necessidade própria de uma existência em coletivo. Faz pensar como buscar olhar só para frente não irá nos levar a lugar algum.
Ficha Técnica
Produção: Diego Marx e Scalene
Pós-produção: Vivian Kuczynski
Mixagem: Ricardo Ponte
Masterização: Erwin Mass
Voz: Gustavo Bertoni
Guitarras: Gustavo Bertoni e Tomás Bertoni
Baixo: Lucas Furtado (Lukão)
Bateria: Philipe Nogueira (Makako)
Rhodes: Gustavo Bertoni
Sintetizadores: Gustavo Bertoni e Vivian Kuczynski
Capa
Head de Criação: Juliana Nogueira
Coordenação de Design e Produção: Victor Corrêa e Sara Machado
Design e Criação: Andre Rola, João Ferro, Lucas Pazos, Rodrigo Paz e Victoria Angel
Captação e Motion Graphics: João Sá e Kalki Avatara
Fotografia: André Rola, João Ferro e Victor Corrêa.
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