Disco clássico do rock britânico fica meio esquecido em meio aos clássicos dos Beatles e Stones, mas nem por isso é menor.

The Kinks fotografado por Jack Robinson.

Na década de 1960 havia alguma coisa muito boa na água britânica. Nessa década surgiram bandas memoráveis na história da música e que povoam a vida e a camisa dos roqueiros até hoje. São grupos como: The Rolling Stones, Beatles, The Who e The Kinks. Essa última, apesar de não ser tão popular no Brasil, talvez para os mais pesquisadores, teve uma grande influência no cenário sessentista do rock mundial. Uma das criações do grupo completou 50 anos em 2020, o álbum “Lola Versus Powerman and the Moneygoround, Part One” (1970).

Lola é um disco conceitual do grupo que fala sobre as diferentes facetas da indústria fonográfica. Na época de seu lançamento foi sucesso tanto de crítica quanto de público alcançando o Top 40 nos Estados Unidos. Este trabalho conta com singles que ficariam famosos na discografia do grupo. A canção “Lola”, que ficou entre as 10 mais nos Estados Unidos e “Apeman” ficou em 5º lugar nas paradas britânicas.

Em janeiro de 2021, o grupo transmitiu um evento ao vivo pelo Youtube chamado The Moneygoround. O evento foi uma espécie de teatro de um homem que dramatizou a história do álbum. Em dezembro de 2020 também foi lançada uma edição comemorativa do disco com lados B, versões alternativas das faixas, comentários em áudio, entre outras coisas. Além disso, foi lançado um novo vídeo para a faixa “Lola” em formato de histórias em quadrinhos. Os desenhos foram feitos por Chris Garratt e Mick Kidd, criadores do quadrinho britânico Biff.

A música que melhor sintetiza a visão sobre o universo fonográfico é a faixa “Top of The Pops”. Ela fala sobre como era a ascensão de um artista na época do lançamento do disco citando veículos como a BBC, uma corporação pública britânica de rádio e televisão, e a revista NME. Meios de comunicação que são importantes na indústria musical até os dias de hoje. O próprio nome da faixa, “Top of The Pops”, faz referência a um programa de televisão da BBC que ficou no ar de 1964 até 2006 que mostrava os principais artistas da parada de sucesso britânica. Artistas como Beatles, Rolling Stones, David Bowie e The Smiths já se apresentaram no programa.

Outra faixa interessante é “Apeman”. A música conta a história de um homem que está cansado dos problemas da sociedade moderna e tem vontade de viver no meio da floresta como um homem macaco. É interessante um trecho em que ele diz “Não quero morrer em uma guerra nuclear”, pois na época do lançamento do disco em 1970, estávamos em plena Guerra Fria e a possibilidade de uma guerra nuclear era algo iminente. As tensões entre socialismo e capitalismo estavam em alta e eventos como a Guerra do Vietnã eram os momentos quentes da Guerra Fria. Ao ligar a TV o medo de uma guerra nuclear se concretizar se tornava mais intenso.

Eu me acho tão educado, e sou tão civilizado

Porque eu sou um vegetariano rigoroso

Mas com a superpopulação, inflação e fome

E políticos malucos

Não me sinto seguro nesse mundo

Não quero morrer em uma guerra nuclear

Quero fugir para uma terra distante e viver como um homem macaco

Trecho da música Apeman, do disco Lola Versus Powerman and the Moneygoround, Part One

Algumas faixas da canção também foram usadas como trilha sonora do filme Viagem a Darjeeling (2007), do diretor Wes Anderson. A produção é um road movie em que três irmãos, Francis (Owen Wilson), Peter (Adrien Brody) e Jack (Jason Schwartzman), fazem uma viagem de trem pela Índia como uma tentativa de fazerem as pazes depois de intensas brigas familiares no passado. O diretor, que é famoso por ter uma vibe bem hipster em seus filmes, adicionou as faixas “This Time Tomorrow”, “Strangers” e “Powerman ” nas cenas do filme.

Com isso, “Lola Versus Powerman and the Moneygoround, Part One” talvez não seja um clássico tão lembrado como Abbey Road dos Beatles ou Let it Bleed dos Rolling Stones, mas certamente, tanto a banda quanto o disco estão nas bases do rock britânico clássico que foi e ainda é responsável por influenciar bandas até os dias de hoje. Vale a pena a visita para fugir um pouco dos discos óbvios do período e se surpreender positivamente.

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