Entrevistamos os argentinos do Onda Vaga, que estão no país para a turnê “Gira Brasil” em cinco estados
Para quem é do Sul do Brasil, não é segredo a proximidade com artistas de países vizinhos como Argentina e Uruguai. Aliás, é comum que ocorram confusões sobre a nacionalidade de alguns grupos, principalmente quando se trata de Argentina e Uruguai. No caso do Onda Vaga, o equívoco até que é bem compreensível.
Composto por argentinos, o grupo formou-se em 2007, na paradisíaca vila de pescadores de Cabo Polônio, povoado uruguaio localizado na região litorânea de Rocha. Um daqueles lugares que faz jus ao adjetivo roots. E não à toa, inspirou também o nome do quinteto, escolhido antes de realizarem o que seria sua primeira apresentação.
Após quatro discos lançados e várias turnês pelo Brasil em sua trajetória, o grupo está de volta com a turnê de seu mais recente disco “Rojo”, o sétimo da carreira. Neste trabalho, a miscelânea de sonoridades latinas que nos envolvem com elementos de cumbia, folk, rock e até mesmo pitadinhas de tango, ganha aspectos ainda mais ousados e consistentes. Deixaram para trás um pouco da simplicidade, ampliando as harmonias e ritmos.
Esta turnê também seguiu viagem para fora da América Latina, onde o grupo conquistou fãs em países como Portugal e Espanha. No Brasil, a banda passou por Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro em Outubro. Do momento em que essa matéria foi publicada, ainda rolam dois shows por aqui: dia 19, em São Paulo, no Cine Joia, e no dia 21, em Porto Alegre, no festival Meca (Caldeira).
Nesta entrevista ao Minuto Indie, o tema central foi o novo disco e a volta aos palcos após um longo período de hiato. Além do período pandêmico, a banda também esteve afastada do público após ser o centro de polêmicas em 2018, quando mais de 50 mulheres denunciaram casos de abuso e machismo cometidos pelos integrantes. O assunto tomou as redes sociais e até mesmo um show programado na Bélgica foi cancelado quando as denúncias vieram à tona.
Na época, o grupo lançou um comunicado pedindo desculpas e ameaçou de processo caso o blog que continha as denúncias não fosse tirado do ar. Mesmo com a rejeição de uma parte do público e de promotores de shows que acompanharam o noticiário da época, a banda retorna aos palcos para apresentações em casas lotadas com um público que ainda é fiel e que segue acompanhando a carreira do quinteto. Parece que a maré do Atlântico Sul conseguiu afogar as polêmicas que envolviam o Onda Vaga.
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Minuto Indie: A banda é conhecida por sua sonoridade que combina diversos gêneros musicais, como cúmbia, reggae e folk. Em seu último álbum, é perceptível uma renovação sonora, tornando as canções mais refinadas e incluindo outros elementos, até mesmo dialogando bastante com referências da música pop brasileira. Como vocês descreveriam essa evolução sonora da banda na produção deste último disco?
Onda Vaga: A produção de “Rojo” foi algo que nunca havíamos feito antes. Cada um de nós 5 fez a produção de algumas músicas e as produziu com total liberdade, isso fez com que o disco tivesse um espectro sonoro muito diverso e deu ao disco uma nova heterogeneidade.
MI: Vocês sempre tiveram um olhar muito atento para capturar a essência do que os artistas da América Latina produzem. Quais foram as principais influências por trás deste álbum e como foi o processo de criação?
Onda Vaga: Sermos cinco compositores na Onda Vaga faz com que as influências sejam muitas: Caetano Veloso, Simón Diaz, Panda Bear, Rosalía, Tom Zé, Devendra Banhart, Carola, Nelson Cavaquinho e muitas, muitas mais. Esse processo de criação foi particularmente individual a princípio. Cada um de nós propôs 3 músicas, para que dessas 15 pudéssemos escolher quais que fariam parte do disco. Depois de escolhermos, cada um produziu suas músicas sozinho e com total liberdade de instrumentação e cores. Aí os demais adicionaram suas perspectivas ao que o criador já estava terminando de definir. O álbum teve 5 produtores diferentes, daí sua nova sonoridade.
MI: O grupo é conhecido por suas letras poéticas e emotivas. Neste disco, as composições parecem mais alegres e as melodias mais “esperançosas”, mesmo neste contexto pós-pandemia. Como vocês abordam a escrita de letras e qual é a mensagem que desejam transmitir através das canções de “Rojo“?
Onda Vaga – As composições nascem de emoções, de vivências, de relações, buscamos compartilhar aquilo que não toca e que sentimos com honestidade. Canções de resgate, de amor, de presença, de estar aqui, de olhar de novo, de dar a outra face, de escolher voltar a amar agora.
MI: O grupo já se consolidou nestes mais de 10 anos de carreira com uma forte presença internacional e já tocou em vários países ao redor do mundo. Como é levar essa nova mistura de sonoridades ao público neste novo contexto pós-pandemia? Como vocês definiriam o sentimento desta turnê?
Onda Vaga – Voltar a tocar depois da pandemia fez com que valorizássemos muito, demais [a turnê]. O encontro com o público, o sentimento é de muita alegria por termos a oportunidade de nos encontrarmos e compartilhar um momento fora do tempo.
* Traduzido por Maria Luísa Rodrigues
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