MECA Festival se reinventa em parceria com o Instituto Caldeira e celebra nova fase no Rio Grande do Sul

Se em 2016 você esteve no MECA n’O Butiá em Itapuã, interior de Porto Alegre, provavelmente você também prometeu que nunca mais na vida participaria de alguma outra edição. Eu não tenho dúvidas que os traumas causados por um palco que não suportou tamanha chuva, um burrito praticamente dolarizado como única opção de comida, cancelamento sem qualquer explicação de dois dos principais shows e a falta de um lugar decente para se abrigar, assombram ainda qualquer pessoa que presenciou o caos e o descaso daquela edição.

Mas, passados sete anos desde aquele dia fatídico à beira do Guaíba, o MECA retornou a Porto Alegre totalmente reformulado e agora em parceria com o Instituto Caldeira. Além de shows, agora a programação também inclui Talks com painéis sobre inovação, tecnologia e trends.  Mesmo saindo da natureza e tornando-se mais urbano, o festival carregou um público diverso e de todas as idades, preservando o feeling indie e que está super aberto a novas experiências musicais. 

Chegamos no rolê já no fim de tarde para conferir o Alto da Maravilha. Russo Passapusso e a icônica dupla da música brasileira, Antônio Carlos & Jocáfi, fazem do palco um verdadeiro lugar de celebração à música baiana. De quebra, a banda de apoio do projeto tem Curumim na bateria. Um espetáculo que apresenta à nova geração toda a sonoridade que mistura ritmos afro-baianos e do candomblé. O público dançou muito com um clima perfeito no entardecer portoalegrense. 

Projeto Alto da Maravilha fez o público dançar no entardecer portoalegrense. Créditos: Duda Rocha/MI

Próximo show: Os Mutantes. Se em 2010, ano em que pude vê-los durante o Fórum Social Mundial, Sérgio Batista & Cia. já não empolgavam mais a juventude com a sua psicodelia, 13 anos depois é que não vão empolgar mesmo. Apesar de trazer os grandes sucessos de um dos mais influentes grupos de todos os tempos da história da música, nem Millenials e muito menos a Geração Z, que já conhece melhor a história por trás da expulsão de Rita Lee da banda, tem tempo pra ficar vendo “roqueiro senil” (como a própria Rita dizia) relembrando seus momentos de glória. 

Johnny Hooker trouxe o Clube da Sofrência para o festival. Créditos: Duda Rocha/MI

Em seguida, foi a hora de Johnny Hooker entrar em cena com o seu Clube da Sofrência. A turnê traz um set list de canções conhecidas pelo público como “Amor Marginal” e “Caetano Veloso”, com os sucessos da cantora Marília Mendonça. Foi uma verdadeira catarse com a galera entoando cada frase das letras, ao mesmo tempo em que celebra a diversidade e resistência. 

Hooker (que recentemente teve um show cancelado por seus posicionamentos políticos), não fica em cima do muro e se joga também a uma plateia que dialoga com as mesmas opiniões, vivências e que tem os mesmos sonhos de futuro. 

Depois foi a vez de Getúlio Abelha explodir a cabeça de quem assistiu sua apresentação cheia de teatro, música, coreografias e canções que eu me atrevo a rotular como “forró indie”. Sinceramente me pegou tão de surpresa, que ainda estou digerindo o que foi esse show. Realmente um é artista de impacto. 

Indicada ao Grammy Latino por seu excelente disco “TecnoShow”, Gaby Amarantos fez o público “deitar” pra ela. Reivindicando a música nortista, amazonense e o tecnobrega do Pará, a apresentação contagiou a galera sem perder o ritmo em nenhum momento. “Acho que trazer a música do Norte para o público do Sul mostra bem a nossa mistura e o que faz o Brasil ser tão rico culturalmente”, disse em um bate-papo com o Minuto Indie antes de subir ao palco.  

Gaby Amarantos e o “Tecnoshow” não deixaram ninguém parado. Créditos: Duda Rocha/MI

Figurinos e visuais são a cereja do bolo desse show, que faz o set list da artista brilhar ainda mais sem deixar ninguém parado. Porém, foi preocupante pensar que talvez o fato desse batidão tropical da Gaby ter sido escalado antes de uma banda gaúcha, não iria quebrar o clima de festa que tomou conta do festival. Mas foi aí que me enganei. Se o MECA prega a diversidade, ela ficou evidente no andamento do line up. Antes da próxima atração, o público fez uma transição silenciosa. Automaticamente o público de transformou, tomando o espaço com os fãs de indie rock e hipsters. E tá tudo bem. 

Cheios de cores e alto astral, os guris da DINGO foram os verdadeiros headliners do MECA Festival. Com a presença de Petracco como participação na bateria e percussão, a banda passeou com o público pelos seus três discos já lançados. Seja em “Dinossauros” ou “A Vida é uma Granada“, o público entoou todas as frases como verdadeiros hinos. 

DINGO foi o verdadeiro headliner do MECA com show super alto astral e colorido. Créditos: Duda Rocha/MI

Como uma guria que acompanha a cena desde que o Planeta Atlântida colocava banda sulista como headliner, posso dizer que nunca mais tinha acompanhado artistas da terrinha conquistarem tanta gente. Tudo isso sem apelar para a breguice do que muitos conhecem como “rock gaúcho”. Me deixem, ok?  Às vezes o bairrismo é compreensível. 

Depois deste show com a vibe super alto astral, os argentinos do Onda Vaga tiveram de encarar a difícil tarefa de encerrar o line up. Verdade seja dita, não foram muitos os que permaneceram no local depois da DINGO, algo que não se explica só pela escala das atrações. É realmente muito complicado conseguir um transporte público às 02h da manhã naquela região da capital. Definitivamente não é uma tarefa fácil. Mesmo assim, o Onda Vaga encerrou a edição do MECA (Caldeira) com um clima rodinha de violão na calada da noite. Sem ressacas, só bons sentimentos. 

E foi assim que o MECA (Caldeira) conseguiu apagar as memórias de uma experiência horrorosa de 2016. Ao que tudo indica, foram perdoados. Afinal, quem nunca vacilou, não é mesmo? O vídeo completo da cobertura está lá no Instagram e Tik Tok @minutoindie. 

Autor

  • Duda

    Desde 1990 tendo uma vida incrível com uma trilha sonora sempre interessante e diariamente atualizada. Jornalista, comunicadora e ligada no 220v. Presença confirmada em festivais e shows que mantêm meu ritmo cardíaco saudável.

Escrito por

Duda

Desde 1990 tendo uma vida incrível com uma trilha sonora sempre interessante e diariamente atualizada. Jornalista, comunicadora e ligada no 220v. Presença confirmada em festivais e shows que mantêm meu ritmo cardíaco saudável.