Você não está aqui por acaso. Respire fundo, faça sua mala – mentalmente, ou não! – e ouça o novo trabalho do power trio GROSS, “A Dança das Almas”
É, eu também não acreditava em coincidências. Ou ao menos não sabia o que essas tais “coincidências” significavam. Marcelo Gross, ao sair da banda Cachorro Grande, considerava-se um “cachorro solto, sem coleira”.
Hoje, acho que ele foi mais além, e não poderia o ser sem mais dois elementos que compõem o grupo “GROSS” – o projeto equilibra-se perfeitamente bem com seu POWER TRIO: Eduardo Barretto nos baixos e Alexandre Papel na bateria. Nada mais é necessário. Aqui, há amor pela música.
A danças das Almas
Ao ter acesso exclusivo ao single “A Dança das Almas” de GROSS, me permiti fechar os olhos e escrever algumas palavras-chave em um caderno de rascunhos enquanto escutava a canção: a primeira imagem que me veio a cabeça foi uma porta abrindo. Uma viagem que me levava, como uma nuvem, à atmosfera e experiência da música.
Bom, talvez não seja coincidência que em seu álbum antecessor “Chumbo e Pluma” (2017), a última faixa é intitulada “DMT“. Essa eu vou deixar no ar, para aqueles que se sentirem tocados pesquisarem sobre o significado dessas três letrinhas em maiúsculo.
Bom, muitas portas abriram e fecharam para Marcelo Gross. Mas, aqui, não iremos falar sobre o passado. Prefiro falar sobre o agora. Uma única palavra: libertação.
“A Dança das Almas“, de GROSS, é sobre tirar a mala que estava pegando poeira embaixo da sua cama. É ler aquele livro que você estava querendo há muito tempo e é, principalmente, se permitir… dançar. Isso, dance. DANCE AGORA. Se sinta vivo enquanto cada movimento provoca figuras lindas. Essa figura linda é você. Sua sombra, em meio a luz. O equilíbrio.
O Dia Perfeito
Essa resenha, pauta, crônica ou seja lá o que você, leitor, querer chamar, demorou para sair. Muito. Foi praticamente sete dias no escuro para me iluminar e conseguir colocar tudo isso aqui para fora. Enquanto isso, eu ficava cantarolando “Dia Perfeito” – sempre foi uma das minhas músicas preferidas do antigo projeto de Marcelo Gross, e não é a toa que ele que escreveu e a cantava. Lembro-me, perfeitamente, de todas as vezes que vi essa canção sendo performada ao vivo:
Dia perfeito pára na esquina e diz goodbye
Flutua como uma nuvem
She really have a groove
Mas o dia perfeito de escrever isso aqui nunca chegava. Parece que eu estava perdida. Maravilhada talvez seja a palavra certa. Uma loucura. Que loucura! Familiar, não é? Também escrita por Gross, era a música que embalava meu sono no auge dos meus 16 anos – a adolescente rebelde que queria mais do que tudo… voar:
Tenho pressa pra chegar, pressa de ir pra outro lugar
Em que possa me sentir, dentro de uma bolha que flutua por aí
Pare de me perguntar onde eu quero chegar
Sinto que só quero ir em cima de um tapete que flutua por aí
E isso é uma loucura.
Gross – A Dança das Almas
Mas, não estou aqui para falar dessas músicas. Estou aqui para falar do single “A Dança das Almas” e do álbum que, “ironicamente”, se chamará “Tempo Louco” e está previsto para ser lançado em Junho – mês do meu aniversário e também que vi seu antigo projeto, lá por meados de 2014, pela primeira vez. Não que isso seja relevante, viu? Só é engraçado como o tempo é… louco.
Agora, vou falar algo que talvez soe polêmico: tal qual Roger Waters se libertou ao deixar Pink Floyd, sinto o mesmo processo com Marcelo Gross. Ele precisou de espaço. Tempo. Para suas composições, seus ideais políticos, sociais e, principalmente, o tempo de passar por cada processo que chegou até a criação desse single e deste POWER TRIO.
Ah, claro, ele já está em todas as plataformas digitais e você pode acompanhar a letra e o clipe logo abaixo, onde o videoclipe se inicia com uma porta… abrindo. É, uma porta abrindo.
Gross – A Dança das Almas
Saio numa noite de luar
No caminho para a zona sul
Ansioso para encontrar
O verde que às vezes parece azulMe sinto num filme de Woody Allen
No nosso universo paralelo
E não importa o que os outros falem
Você mostrou o quanto o mundo é beloAbre a porta, não dá pra acreditar
No sonho que vai se realizar
Nossos corpos nos convidam para entrar
E a minha alma tira a sua pra dançarEntão eu embaraço os seus cabelos
E você não me pede pra parar
Me desmancho no teu aconchego
Olhando da janela o luarAbre a porta, não dá pra acreditar
No sonho que vai se realizar
Nossos corpos nos convidam para entrar
E a minha alma tira a sua pra dançarAbre a porta, não dá pra acreditar
No sonho que vai se realizar
Nossos corpos nos convidam para entrarE a minha alma tira a sua pra dançar
E a minha alma tira a sua pra dançar
E a minha alma tira a sua
Pra dançar
Perceba como “A Dança das Almas” soa como Beatles, mas de uma forma autêntica. Não é cópia, é essência. Marcelo Gross, assim como Alexandre Papel e Eduardo Barretto, também veem em figuras como George Harrison e John Lennon uma visão e ideal de vida. Uma ética do amor.
O baixo e a bateria em GROSS são marcantes enquanto a voz flui naturalmente ao decorrer da música “A Dança das Almas” . Referências à cultura pop também não faltam, como ao diretor de cinema Woody Allen. Tudo isso, em meio a um convite: abra a porta, a minha alma tira a sua pra dançar.
Ainda não te convenci a conhecer o power trio GROSS? Então saca só:
ALÉM DA DANÇA DAS ALMAS – QUARENTENA, PROJETOS SOCIAIS E VEGANISMO
Entre outras ações do grupo, vale destacar algumas: todas as noites, em meio ao caos da quarentena, GROSS realizou o que batizou de “LOVE LIVE”: lives no Instagram com músicas, dicas de livros, filmes e contato direto e online com os seus fãs.
Eduardo Barretto também não é tímido ao falar sobre seus ideais: em seu perfil pessoal, o artista faz questão de trazer diariamente em pauta assuntos como o veganismo e de como a arte é vital e transformadora quando presente em sociedade.
Eduardo Barretto | Fonte: ReproduçãoAlexandre Papel, que começou a tocar bateria aos 08 anos de idade e já tocou em bandas como “Garotos da Rua” e “TNT“, também não deixou a gentileza para trás ao decorrer de nossa entrevista, que, segundo ele, “foi uma honra e prazer”. Suas influências são “blues, jazz, reggae, soul, funk, rhythm’n blues e rock (que desde criança fez ferver meu sangue)“.
ENTREVISTA EXCLUSIVA – O JOGO DAS PERGUNTAS
Eu quis ir um pouco além. Afinal, o intuito aqui é abrir a porta, não é mesmo?
Entrevistei os guris e fiz algumas perguntas de jogo rápido, de modo que fizesse VOCÊ, leitor, viajar comigo, com eles e se aventurar na estrada do autoconhecimento.
P.S.: a única “regra” era deixar fluir e que ninguém soubesse a resposta um do outro. As palavras similares, irei deixar sem autor. Você só saberá a autoria em respostas específicas.
Vem comigo e veja quais eram as perguntas misteriosas:
1. Vamos trabalhar um pouquinho com a mente: defina o single “A Dança das Almas” e o novo álbum de GROSS em apenas UMA palavra e UMA influência artística.
Palavras: Especial, carinho e amor. Influências: Beatles.
2. Nos últimos dias, percebemos que vocês também estão agindo voluntariamente para ajudar na quarentena e no movimento #fiqueemcasa. O que você acha de iniciativas como essa – e você teria alguma ideia para o pessoal que não é músico mas também quer auxiliar a população?
Alexandre Papel: Acho sensacional, formidável estas ações. O conselho é divulgar as atividades musicais, num momento em que o artista está na sua intimidade no seu lar, mostrando o seu universo pras pessoas. Exemplo: um ambiente da sua casa, onde esse grande artista dá um acorde no seu violão e ali soa muito bem, ele costuma tocar ali, levando pras pessoas essa intimidade, criando novas versões para os fãs.
Eduardo Barretto: Estamos vivendo um momento muito delicado e ficar em casa é necessário. Todas as iniciativas que buscam aliviar a sensasão de sufocamento da quarentena são bem-vindas. As lives estão conectando as pessoas ao redor do mundo, mostrando que mesmo no isolamento pode existir proximidade. Agora, não podemos esquecer que existe uma parcela da população que está mais fragilizada e precisa do nosso apoio. Esse deve ser o foco principal.
3. Já que estamos falando sobre a quarentena e o isolamento social, dê indicações para o nosso leitor: 3 filmes, 3 livros e 3 artistas musicais, respectivamente. Você NÃO pode justificar o porquê.
Alexandre Papel: “Green Book”; “Era uma vez em Hollywood”; “Ray” | “A sútil arte de ligar o foda-se” (Mark Manson); “Verdade Tropical” (Caetano Veloso); “A Glória E Seu Cortejo De Horrores” (Fernanda Torres) | Caetano Veloso, David Bowie, e Ray Charles.
Eduardo Barretto: Vivre sa Vie (Jean-Luc Godard); Pierrot Le Fou (Jean-Luc Godard); Amarcord (Federico Fellini) | O Estrangeiro (Albert Camus); Libertação Animal (Peter Singer); Cem Sonetos de Amor (Pablo Neruda) | Histoire de Melody Nelson (Serge Gainsbourg); The Madcaps Laughs (Syd Barrett); Songs of Love and Hate (Leonard Cohen).
4. Se você pudesse escolher conhecer e bater um papo com QUALQUER pessoa que você admira, quem seria esse artista?
Alexandre Papel: Rod Stewart, Ronnie Wood e Paul McCartney.
Eduardo Barretto: Seria interessante tomar um café com o Nick Cave algum dia. É um artista muito autêntico. Ele transmite uma profundidade incomum e parece que está ficando ainda melhor com o tempo. Além disso, costuma se posicionar sobre diversos assuntos relevantes com sagacidade e sensatez. Enfim, parece ser um cara legal de bater um papo.
5. Agora, com um pouco mais de seriedade: relate um pouco sobre o início do seu trabalho, como você se descobriu apaixonado pela arte, se teve muito tropeço no meio do caminho, se faria algo diferente, se ainda há muitos sonhos pela frente, enfim. É seu espaço!
Alexandre Papel: Comecei cedo, como disse anteriormente e sem que eu me desse por conta eu viajava pelo Sul todo, pelo país e até para o exterior com um show musical onde participavam 70 crianças aproximadamente. Assim que o meu pai faleceu […] a vida que já existia como músico se profissionalizou, tive de me formalizar pra poder trabalhar dentro da lei, pois comecei ainda adolescente a me apresentar (com bandas da época) em festivais estudantis, bares e casas de shows ainda em Porto Alegre/RS (minha terra Natal) pois sou radicado em São Paulo/SP há 14 anos. Há pouco mais de dois anos tenho a honra de integrar a cozinha (baixo e batera) com o ilustríssimo e querido amigo “Eduardo Barreto” do agora “Gross Trio” e fazer o mais puro rock’n roll com pitadas de muitas influências legais em comum, com um parceiro de longa data e um compositor e instrumentista que eu sempre tive total admiração e a honra de acompanhar o máximo possível da sua carreira ao longo da sua vida como músico. Acredito que ele (o Gross) seja um patrimônio da nova safra do rock brasileiro, algo imperdível!! O querido Eduardo Barreto “Edu” no baixo e vocais sendo uma parceria completa para receita certa para o melhor que a música pode nos proporcionar na estrada e no estúdio. Parabéns ao nosso maestro!! Ganha o rock brasileiro que é presenteado com um single lindo e mais um álbum solo à caminho, o seu terceiro. Um momento mais que especial.
Eduardo Barretto: O interesse pela arte sempre esteve presente na minha vida. É difícil dizer exatamente como tudo começou ou quando virou trabalho. Sempre busquei alcançar a linha do horizonte, com tropeços incontáveis que tornaram a caminhada ainda mais interessante. Meu sonho atual é aprender a voar e me juntar ao seleto grupo de mamíferos voadores – que por enquanto tem apenas os morcegos. (risos).
Já diria Beatles: “and in the end, the love you take, is equal to the love you make“. Então, agora, no final de nossa entrevista, vou realçar a importância e resistência da cultura, arte e música em nossa sociedade. Qual seria seu conselho de vida pessoal para alguém que está lendo isso agora e sente que também possui potenciais artísticos, mas não está conseguindo se permitir voar ou acreditar em si?
Alexandre Papel: Não sei se estou apto a dar conselhos para alguém, ainda mais no mundo e no sistema tão confuso e saturado atual, mas sonhe, busque, procure sempre viabilizar, mantenha a cabeça erguida, que modestamente acho que será um bom começo. Ah, estudar e procurar se aprimorar do jeito correto sempre é bom. E lembre-se que pra um país virar uma nação tem de se dar muita atenção a liberdade, cultura e respeito as artes, credo, gênero, e raça.
Eduardo Barretto: Essa frase dos Beatles é maravilhosa. É um belo exemplo de como a arte pode ser transformadora e despertar reflexões importantes. Ao invés do conselho, prefiro deixar uma mensagem de incentivo pra quem estiver lendo isto. O mundo precisa muito de arte, mas não basta focar na obra e esquecer de desenvolver os aspectos humanos. É hora de descosturar as pálpebras.
Abra os olhos, abra a porta. Apesar de Marcelo Gross ser muito conhecido por seu trabalho anterior na banda de rock gaúcho “Cachorro Grande“, o fato é que agora, “sem coleira”, o grupo GROSS se permite realizar experimentações que nos deixam otimistas e em grandes expectativas para o novo álbum.