Luiz Amargo compartilha temas próprios da geração Z, deboche e ironia junto de mpb e indie rock no álbum ‘Amor de Mula’
Se você gosta de mpb, pop, indie rock, estética retrô, ar paulistano e ironia, você precisa adicionar Luiz Amargo nos seus artistas favoritos. E para dar play agora: todos esses temperos permeiam o álbum ‘Amor de Mula‘, lançado nesta semana.
O paulistano mistura temas próprios da geração Z, em composições que oscilam entre o intimismo e a gozação, o mpb e o indie, o antigo e o contemporâneo, o doce e o amargo. Adentrando momentos debochados e dançantes, como no single São Pop, e outros mais íntimos e melancólicos, como Quando o Fogo Vem e Corpo do Amor.
Crise climática, aceleradas mudanças geopolíticas, urbanicidade, saúde mental e sexualidade estão entre as temáticas centrais do trabalho, evocando algo do espírito da canção de protesto dos anos 60 e 70 sem se esquivar das questões do seu tempo.
Produzido conjuntamente por Amargo – apelido de infância incorporado na persona musical agridoce do autor Luiz Amaro Fortes – e Gabriel Assad, Amor de Mula é um trabalho feito com proximidade e identidade. Abusando da ironia como recurso literário, o personagem que se projeta nas faixas do álbum é uma espécie de trovador do apocalipse “meio fora de época”, tanto musical quanto visualmente.
Amor de Mula é sucessor de Festa no Porão (2021), álbum de estreia, e para o artista, o segundo lhe dá mais a sensação de estreia. Enquanto o primeiro foi gravado em home studio, no auge da pandemia, este foi gravado com banda e músicas que já havia tocado ao vivo.
Confira entrevista com Luiz Amargo abaixo.
Minuto Indie: Lançar o segundo disco é mais tranquilo que o primeiro? Tirou o “peso da estreia” ou deu um friozinho a mais?
Luiz Amargo: No meu caso, dessa vez tem mais a sensação de estreia do que antes. Eu fiz e lancei o Festa no Porão, o primeiro álbum, no auge da pandemia. Foi tudo em home studio, sem ter muitos meios ou perspectiva de divulgação, tanto que eu chamo de um álbum demo. Agora é o primeiro álbum de estúdio, gravado com banda, com músicas que a gente já toca ao vivo.
Também é a primeira vez que faço clipes para valer. E é a primeira vez que temos uma perspectiva real de continuar divulgando e desenvolvendo esse projeto no ao vivo, algo que eu eu não tinha antes. Ou seja, a coisa mudou muito de figura, tem muito mais cara de estreia.
De certa forma é até mais tranquilo porque dessa vez tem várias outras pessoas trabalhando junto comigo e isso tira um pouco o peso de fazer tudo sozinho.
Minuto Indie: Qual foi o momento/acontecimento, que você lembra, que deu start para fazer o segundo disco?
Luiz Amargo: O estopim de tudo isso foi começar a fazer shows após a pandemia. Eu não fazia muitos shows antes, porque era muito tímido e tinha dificuldades com o palco. Sempre fui mais da composição e da produção, seja em estúdio ou caseira. Mas, durante a pandemia, senti que eu precisava explorar mais essa faceta tão essencial da música: o ao vivo. Foi o que eu fiz assim que as coisas começaram a reabrir.
Por causa disso, fui conhecendo gente que quis tocar e gravar comigo, e também gravei um EP com outro projeto, o LA&RR, chamado Engano Chegando, o que me colocou em contato com o produtor Gabriel Assad e o Estúdio Sinestesia, onde gravei o Amor de Mula depois. Uma coisa levou a outra e cá estamos.
Minuto Indie: Como foi o processo de produção e ver ele tomar forma?
Eu tinha muitas composições dessa leva da pandemia, que eu comecei a tocar por aí em São Paulo. No início éramos um trio: eu, o baixista Rick Chen e o baterista Luca Acquaviva. Depois se juntou a Bel Aurora, tecladista e vocalista, e o Rodrigo Passos, guitarrista.
A primeira ideia era gravar um EP com algumas dessas músicas que a gente estava tocando ao vivo. Mas eram músicas demais e esse EP logo virou um álbum. Eu gravei demos, o pessoal da banda e do estúdio Sinestesia deram seus pitacos nos arranjos, ensaiamos por volta de um mês e gravamos a maior parte do álbum em um mês também. Algumas coisas, como os violoncelos da Giovanna Lelis Airoldi, a gente foi gravando depois, de modo gradual.
Eu já tinha o conceito visual e musical do álbum durante as gravações, mas não era nada muito rígido, tanto que as músicas em si acabaram bem diversas em termos de arranjo e produção. No geral, foi um processo bem solto e colaborativo, tanto no álbum quanto na produção dos clipes e material visual. Acho que esse aspecto se reflete no resultado.
Minuto Indie: Gosto do toque de deboche e ironia que rodeiam o álbum, e até em você como artista. O que fez você pegar e se apropriou disso?
Luiz Amargo: Essa sempre foi uma característica minha, mas não era uma coisa que eu aplicava muito na música antes. Quando comecei a fazer isso, compor ficou bem mais fácil. Mesmo que eu faça músicas sérias e às vezes até bem tristes, sempre tem uma ironia no processo. Acho que existe uma relação muito íntima entre a música e o senso de humor em geral, não é à toa que vários comediantes também fazem música.
No meu caso, é um senso de humor bem paulistano, auto irônico. Também tem a ver com características típicas da minha geração, a Z: o meme, o humor meio surrealista que a internet proporciona, a ironia constante como ferramenta para lidar com o mundo caótico em que vivemos.
Isso tudo também se amarra com meu nome artístico, Luiz Amargo, que começou como piada – é um trocadilho bastante óbvio com meu nome real, Luiz Amaro. Hesitei por um tempo em assumi-lo, mas acho que ele resume bem o deboche e a ironia que me guiam, e também demonstra que essas podem ser ferramentas para tratar de assuntos bem sérios, algo que eu faço nesse álbum, Amor de Mula. Como costumo dizer: o amargo cura.
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Escute Amor de Mula por Luiz Amargo nas plataformas digitais.