Os três dias de Lollapalooza Brasil 2023 destacaram a já conhecida junção de públicos, estilos e sons diferentes no Autódromo de Interlagos

 

O Lollapalooza Brasil 2023 foi definitivo em muitas formas. Tendo essa sido a décima edição do festival em São Paulo, a expectativa era de um ambiente comemorativo no Autódromo de Interlagos. Assim, desde o começo das movimentações em volta do festival, o direcionamento foi esse mesmo, com um line up com a maioria das grandes atrações internacionais sendo estreantes no Brasil. Porém, os últimos meses, semanas e até dias deixaram as coisas mais conturbadas. Em meios aos cancelamentos e as recorrentes denúncias de condições trabalhistas degradantes envolvendo o festival, os fãs de música pareceram relevar essas questões mais problemáticas, fazendo dessa edição a recordista de público, com mais de 300 mil pessoas. O Minuto Indie fez parte da imprensa credenciada esse ano, e nesse texto vamos falar um pouco sobre como foi acompanhar o Lollapalooza Brasil 2023. 

Cancelamentos

Começando pelos cancelamentos, essa edição com certeza foi a mais desfalcada do Lolla, com dois dos três principais headliners tendo desistido de se apresentar no festival. O Blink-182,  certamente era o grande destaque da escalação, não só por ser a primeira vez do trio de pop punk no país, mas por contar com o retorno da sua formação original. Uma fratura no dedo do baterista Travis Baker acabou por frustrar os planos dos fãs sul-americanos, que ficaram sabendo da ausência da banda um mês antes do show. Já o canadense Drake, que ultimamente tem virado notícia mais por suas apostas esportivas furadas do que pela sua carreira como rapper, foi a atração mais cara do line up, com um cachê de mais de R$20 milhões, foi o cancelamento mais estranho, pra não dizer desrespeitoso. No meio da semana, foi cancelada uma afterparty que estava marcada para depois de seu show no domingo, e que contava com a participação de sua equipe. Quando no dia da sua apresentação no Lolla, literalmente na manhã de domingo (26), vazou a informação, sendo confirmada depois pelo festival, de que o rapper não subiria no palco Budweiser para se apresentar. Blink-182 e Drake foram respectivamente substituídos por Twenty One Pilots e Skrillex. Além deles, o festival também contou com as baixas de Omar Apollo, Willow, Dominic Fike e 100 gecs. Obviamente, essa questão de cancelamentos, não só no Lolla, mas em toda a indústria de shows no Brasil, tem sua complexidade. Em meio à dúvidas sobre de quem é a responsabilidade em situações como essas, os jornalistas do G1, Braulio Lorentz e Rodrigo Ortega, trouxeram uma matéria com algumas coisas que envolvem o processo contratual entre produtoras e artistas. 

 

Luciano Klinsman, 24 anos, São Paulo: “Omar Apollo eu estava muito afim de ver. Blink também, mas seria mais pelo rolê, não conheço tantas músicas assim”

 

Luan Kalil, 29 anos, São Paulo: “O Drake é assim mesmo, a gente tem que relevar e deixar ele pra lá”

  

Denúncias de trabalho análogo à escravidão

Quanto às denúncias de trabalho análogo à escravidão envoveldo a organização do festival, essa não é a primeira vez que o Lollapalooza Brasil e a Time For Fun são alvos de denúncias e matérias sobre a condição de trabalho do envolvidos na parte logística do festival, como em montagem dos palcos e descarga de mercadorias. Dessa vez, isso tomou maiores proporções, com o caso sendo protocolado como notícia-crime no Ministério Público Federal. Segundo a coluna da Veja, a fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego, resgatou cinco trabalhadores com jornadas de 12 horas, sendo impedidos de deixar o posto de trabalho para dormir em papelões. Isso resultou no pagamento dos devidos direitos trabalhistas aos cinco homens resgatados. As deputadas federais Tabata Amaral (PSB-SP) e Erika Hilton (PSOL-SP), entraram em contato com o Ministério Público de São Paulo para cobrar esclarecimentos da Time For Fun. A contratação dos trabalhadores aconteceu por meio da empresa terceirizada Yellow Stripe, que teve seu vínculo rompido com a Time For Fun após a repercussão do caso. Porém no sábado (25) foi feita uma nova fiscalização, onde foi encontrada novamente condições degradantes de trabalho. 

 

Cobertura Minuto Indie

 

Para a cobertura do festival, eu (Luan Gomes) e a Binha (Beatriz Roveri) fomos credenciados como repórteres e lá dentro pudemos bater um papo com a Gab Ferreira na sexta-feira (24) após seu show que abriu o palco Chevrolet. No Instagram do Minuto Indie a gente também falou com o público do festival sobre a experiência no geral e obviamente quais os melhores shows do Lollapalooza Brasil 2023. 

Organização geral

Chegar ao Autódromo de Interlagos nunca é algo exatamente simples. Apesar disso, além da estação da linha 9 – esmeralda da CPTM, o entorno do evento contou com linhas de ônibus especiais, inclusive levando a galera da estação aos diferentes portões de entrada do festival. Da mesma forma, ao sair do festival, o horário de fechamento da estação do Autódromo  foi estendido até  1 da manhã. Porém logo no primeiro dia de Lolla a greve dos metroviários que atingiu as linhas 1 – azul, 2 – verde e 3 – vermelha causou transtornos. Ao longo da sexta-feira (24) a paralisação cedeu e as linhas voltaram à sua normal circulação.

Dentro do Autódromo, a estrutura para o público estava dentro das condições normais para um festival de grande porte como o Lolla, que recebe cerca de 100 mil pessoas por dia. Os banheiros para o público geral eram os habituais químicos mesmo, exceto espaços como Lolla Comfort by Next e o Lolla Lounge by Vivo, que ofereciam banheiro com água corrente. As filas estavam também num controle compreensível, tanto nos banheiros como nos bares, quanto nas ativações e nas estações de água gratuita do Bradesco.

A circulação dentro do Autódromo teve seus maiores problemas na sexta-feira (24), na hora de deixar o festival. Aí sim, filas paralisadas e escoamento muito lento, fazendo o trajeto do palco Budweiser para fora do autódromo demorar mais de uma hora. No sábado (25) e domingo (26), a saída do festival foi mais “normalizada”. Já no aspecto de disposição e aproveitamento do espaço, os 600 mil metros quadrados do Autódromo foram muito bem dispostos entre os quatro palcos: Budweiser, Chevrolet, adidas e Perry’s by Johnnie Walker Blonde; e as ativações das 19 marcas presentes no festival.

Shows

 

 

A parte principal do festival não deixou a desejar, de modo que mesmo artistas não muito conhecidos do público encontraram um ambiente bem receptivo e nada morno. Algumas apresentações pontuais talvez tenham ficado meio descoladas em meio aos fãs das principais atrações de alguns palcos, mas nada que rendesse uma performance comprometedora. Desse modo o Lollapalooza Brasil 2023 conseguiu manter a tradição de juntar sons e públicos diferentes com êxito, criando um roteiro de shows muito interessante para quem acompanha música pop e alternativa. Artistas nacionais da escalação mais uma vez mostraram que movimentam muita gente que para muitos estava apenas à espera das atrações internacionais. Com nenhum grande atraso, a programação dos três dias de festival foi ainda melhor do que no papel, marcando esse como uma das melhores edições do Lollapalooza Brasil.

Sexta-feira

Black Alien por Isabel Vernier

O primeiro dia de Lollapalooza foi realmente um acontecimento, sendo a primeira vez que a sexta-feira é o dia mais cheio do fim de semana de shows. Esse foi não só o dia com mais público dessa edição, como foi o dia com mais público de todas as edições do Lollapalooza Brasil, com 103.350 pessoas. Porém tudo começou com uma situação bem chata, pra dizer o mínimo. A cantora Gab Ferreira que abriu o palco adidas, ao meio-dia, encontrou o festival abrindo as portas uma hora atrasado, o que influenciou diretamente o público chegar a tempo para sua apresentação. Ao longo do dia, outros artistas brasileiros encontraram um ambiente mais favorável, como foi o caso de Black Alien, Anavitória e Pedro Sampaio. Nesses três shows, o público compareceu bem, cantou grande parte das músicas e impressionou pela comoção.

Na escalação internacional, os destaques da sexta foram Suki Waterhouse, Modest Mouse, Conan Gray, Kali Uchis, Lil Nas X e a headliner Billie Eilish. 

Suki Waterhouse por Isabel Vernier

A inglesa Suki Waterhouse esbanjou charme e carisma ao encantar o público do palco adidas com as músicas de seu disco de estreia I Can’t Let Go (2022) e o EP Milk Teeth (2022), chegando ao ponto da querida em si se encantar com o público dizendo: “Sempre senti que o Brasil é definitivamente o lugar mais legal do mundo. Essa é uma experiência que nunca vou esquecer”

 

 

 

 

Modest Mouse por Isabel Vernier

Os norte-americanos do Modest Mouse trouxeram seu indie rock “raíz” ao palco Chevrolet debaixo de um sol escaldante que só animou ainda mais os caras, que fizeram questão de comentar que estar ali no sol, olhando a “colina” que cerca o palco era um ambiente agradável. É verdade que o público só entrou no clima da banda mesmo quando o hit “Float On” apareceu na parte final do setlist de uma hora, mas quem estava lá para vê-los com certeza gostou da comodidade em assistir o show sem aperto e milhares de celulares tapando a visão.

 

 

 

Conan Gray por Isabel Vernier

No mesmo palco Chevrolet, o norte-americano Conan Gray encontrou um público fervoroso, cantando praticamente o show todo suas canções. Com um indie pop bem produzido e uma voz realmente cativante, a trinca final do show, com os hits “Heather”, “Maniac” e “Memories”, fez os fãs entregarem seus últimos gritos e suspiros pra um dos shows mais passionais do festival.

 

 

 

Kali Uchis por Isabel Vernier

Indo para as atrações mais esperadas do primeiro dia do Lollapalooza Brasil, a norte-americana e colombiana Kali Uchis começou seu show no palco Budweiser por volta das 19 horas de modo ensandecedor com uma de suas principais músicas, “telepatía”. Infelizmente, esse foi mesmo o ponto alto de seu show, que ainda trouxe grandes momentos em músicas como “Fue Mejor” e “Moonlight”, mas de forma mais diluída.

 

 

 

Lil Nas X por Isabel Vernier

Um dos muitos estreantes no país do Lollapalooza Brasil 2023 foi o norte-americano Lil Nas X, que no palco Chevrolet mostrou porque é um fenômeno do pop atual. Para muitos, o modo como ele conduziu o setlist, as vezes cortando algumas músicas, pode ter soado meio estranho, mas mesmo assim ele conduziu ferozmente a força de sua performance, arrebatando o público logo na primeira parte do show com a participação de Pabllo Vittar no palco, que não cantou, mas também fez um verdadeiro show.

 

 

 

Billie Eilish por Isabel Vernier

Chegando no show mais aguardado da noite, o palco Budweiser estava totalmente abarrotado para ver a estreia de Billie Eilish no Brasil. Às 21:15, a sensação de 21 anos de idade ganhou o público logo em “bury a friend”, a primeira música de seu incendiário setlist. Incrível ver como dentro das expectativas dos fãs e curiosos (afinal ela é inegavelmente um dos principais nomes da música atual), ela sustenta “sozinha”, em presença de palco, em performance, em entrega, em conexão com o público, em tudo. A popstar estava tão emocionada quanto os fãs que choravam a cada começo de música, não importa qual fosse. Ao dizer que estava muito feliz de finalmente estar no país, ela agradeceu o público brasileiro por ser seus “primeiros fãs”, chegando a citar que seu primeiro fã-clube foi o Billie Eilish Brasil. “Nas minhas fotos, depois do meu amigo, o comentário sempre era um come to Brazil”. Mesmo com falhas no telão esquerdo, apontadas comicamente pela cantora, o show foi bem próximo de perfeito, com um equilíbrio ótimo entre o ‘pop torto’ de músicas como “Therefore I Am” e “my strange addiction”, junto com um momento mais acústico, com seu presente para os fãs brasileiros, que se movimentaram nas redes para ouvirem “wish you were gay”, antes ainda não tocada na turnê. Antes do show começar, os amontoados fãs puxavam várias vezes o coro de “Happier Than Ever”, e quando essa veio para fechar o show, foi realmente uma ‘lavação de alma’ que valeu a pena todo o aperto. 

 

sábado

Ludmilla por Isabel Vernier

Tradicionalmente o dia mais cheio dentre os três, o sábado (25) do Lollapalooza Brasil 2023 foi o dia menos cheio, com 98.500 pessoas. Novamente com artistas nacionais de diferentes épocas, públicos e estilos, atrações como Gilsons, Ludmilla e Pitty arrastaram um público consistente no começo da tarde para seus respectivos palcos. Sendo que as duas últimas citadas, importantíssimas para a música pop brasileira desse século, se apresentaram no mesmo horário, o que gerou chateação em parte do público, afinal são duas grandes artistas que furaram completamente a ‘bolha’ de seus estilos musicais de origem. Outros nomes como Ana Frango Elétrico e Tássia Reis também foram apresentações dignas de nota. Sendo primariamente esperado como o ‘dia do Blink’, o sábado de Lolla ainda contou com três headliners. Além de Twenty One Pilots que fechou o palco Budweiser, The 1975 e Tame Impala fecham palcos principais de muitos festivais mundo afora, e seus shows mostraram isso da melhor forma.

Nas atrações internacionais, os destaques ficaram com Yungblud, Wallows, The 1975, Tame Impala e Jamie XX. O Twenty One Pilots fechou o palco principal, é verdade, mas não vimos simplesmente porque estávamos curiosissimos para ver Jamie XX em ação, e valeu muito a pena.

Yungblud por Isabel Vernier

O inglês Dominic Richard Harrison, mais conhecido como Yunglud, subiu ao palco Chevrolet diante de um público numeroso e praticamente devoto. Muito animado e carismático, ele não precisou de muito para render os já ‘convertidos’ fãs. Entretanto, em termos de música, quem não é muito chegado nesse revival pop punk que tem rolado na música talvez tenha se afastado de vez de conhecer mais do trabalho do artista, pela sua performance explosiva no sentido de que cada música precisa ser um acontecimento.

 

 

Wallows por Isabel Vernier

Já no palco Budweiser, a primeira atração internacional foram os californianos do Wallows, que por mais que os fãs e o próprio rapaz não goste de ser resumido à isso, conta com o vocalista Dylan Minnette, conhecido também por ser ator em trabalhos como a série 13 Reasons Why e o filme Pânico V. Aliás, não foram poucos os comentários entre o público frente ao palco sobre isso, através de frases como “Esse é o 13 Reasons Why?”. Fato é que eles mesmos não deixaram se resumir a isso entregando um show potente e  divertido, sem descansos. Com o álbum Tell Me That It’s Over lançado ano passado, os norte-americanos conquistaram de vez sua base sólida de fãs, que estava presente em peso, cantando e pulando em todas as músicas, deixando os membros da banda impressionados com tamanha recepção. 

The 1975 por Isabel Vernier

Ainda no palco Budweiser, o quão incrível foi a apresentação do The 1975 não está escrito! Os britânicos de Manchester liderados por Matty Healy já são um dos principais nomes do indie, do rock, do pop, do que você quiser há uns bons dez anos, e é claro que com essa breve chamada já deu pra sacar que somos totalmente derretidos pela banda, mas o show de (infelizmente) uma hora no Lollapalooza Brasil 2023 deixou isso ainda mais claro e incontestável. A banda afiadíssima, em seus jogos melódicos, brilhosos e metálicos capitaneados pelo guitarrista Adam Hann, flutua na sequência de grooves açucarados, enquanto o frontman irresistivelmente forçado Matty Healy se deixa levar em seu show particular, pontuando cada sensibilidade pop da sonoridade da banda, seja em momentos mais R&B como em “If You’re Too Shy (Let Me Know)” como no rock pegajosamente dramático, gritado e chorado de “Robbers”  e “Sex”, do primeiro e autointitulado álbum da banda. 

Tame Impala por Isabel Vernier

A expectativa no Autódromo era muito grande em volta do show do Tame Impala no palco Chevrolet. Isso porque Kevin Parker, a mente por trás do projeto (ou banda? Como preferir) se encontra seriamente lesionado no quadril, mas mesmo assim resolveu dar o ar da graça ao público sulamericano dos Lollas para trazer a turnê de The Slow Rush, álbum de três anos atrás, lançado ainda antes da pandemia, que parecia dividir ainda mais os fãs, mas que na hora do show rendeu à todos em admiração e experiência. Aliás, ‘experiência’ é um termo já batido para shows, e nada qualitativo, é verdade, mas o que Kevin Parker (de muletas) fez foi realmente coisa de maluco, elevou a percepção de quem ali estava para o que é um show, dando realmente ‘experiência’ de parâmetro na função. A sequência inicial com “One More Year”, “Borderline” e “Nangs” derreteu instantaneamente qualquer distração no público presente, de modo que até quem estava relativamente longe ficou sensorialmente imerso na proposta da banda com seus lasers e jogos de luz fora de série. Tudo isso pode soar pretensioso, mas na verdade é só um descarrego psicodélico da forma mais honesta possível. No palco, Kevin é acompanhado entre alguns, pelos ótimos Jay Watson, também conhecido pelo seu trabalho à frente do Pond, e o baixista Cam Avery, conhecido também por suas colaborações com Alex Turner no Arctic Monkeys e The Last Shadow Puppets. Tranquilos e totalmente no controle da lisergia toda, eles parecem pintores, ou jogadores de tênis no seu auge, apenas fazendo o que tem que ser feito, seguindo um fluxo de consciência, enquanto o público se incendeia frente aos laser bizarramente espetaculares, formando verdadeiras ondas neon de vapor e som. Aliás, o efeito em quem estava bem na frente foi algo hipnotizante, de modo que o próprio Kevin num momento perguntou se essa região da plateia estava bem, porque o fundo estava “ficando totalmente louco”. Ainda em contato com o público, num momento mágico o público brasileiro conseguiu o que buscou na última semana, ouvir “Alter Ego” em sua belíssima plenitude. Num setlist perfeito dentro das quase uma hora e meia de show, o protagonismo incontestável de Currents (2015), ainda que por uma música de vantagem sobre Lonerism (2015) e The Slow Rush (2020), salta em momentos sublimes como na catastrófica “Let It Happen” e na dobradinha final dos hits “The Less I Knows The Better” e “New Person, Same Old Mistakes”.

Jamie XX por Isabel Vernier

Fechando a noite da ‘meiuca’ do Lollapalooza Brasil 2023, vimos o ótimo Jamie XX no palco Perry’s by Johnnie Walker Blonde. Potente, pulsante e  sensorial, o DJ britânico conhecido principalmente por sua atuação no trio indie The XX, encontrou um público que entendia sua ‘brisa suave’. Entre músicas do seu celebrado disco In Colour (2015), ele interpolou de leve músicas de Rosalía e pérolas nacionais de nomes como Wilson Simonal e Tom Zé.

 

domingo

Rashid por Isabel Vernier

O último dia do festival começou logo com uma bomba que prometia jogar um balde de água fria nos ânimos do público, antes de abrir os portões, ao sair o comunicado do cancelamento do headliner do dia, o rapper canadense Drake. O instantâneo anúncio do Skrilex como substituto não ‘salvou’ a noite de quem foi ver o rapper hitmaker, mas dentro do possível, foi uma decisão mais que acertada. Os destaques nacionais ficaram com Rashid, que enfim fez seu show no festival depois de duas edições seguidas com interrupções; Tuyo, Black Pantera, O Grilo, Baco Exu do Blues e Os Paralamas do Sucesso, que mesmo ‘desgastados’ cativaram os “novinhos” como eles definiram mais de uma vez como sendo o público presente. 

 

No line up gringo do domingo (26), nossas preferência foram The Rose, Aurora, Tove Lo, Rosalía e Skrillex

 

The Rose por Isabel Vernier

Os sul-coreanos (e vocalista norte-americano) do The Rose arrastaram um público fiel e emocionando ao palco adidas. Com um pop rock que é a cara dos shows de tarde de Lolla, a banda agradou não só seus fãs, como parte do público que circulava a área entre o palco adidas e o palco Chevrolet, mas que ainda não queria encarar o aperto de esperar pacientemente o cair da noite para o show da headliner Rosalía

 

 

 

Aurora por Isabel Vernier

A norueguesa Aurora, já conhecida do público do Lolla, por uma apresentação na edição de 2018, caiu no carinho do público repleto de fãs nas primeiras fileiras do palco Chevrolet, que traziam consigo cartazes escritos “We exist for Aurora”. Em seu set de uma hora, seu maior triunfo da discografia, o primeiro álbum, All My Demons Greeting Me As A Friend (2016), infelizmente foi reduzido à apenas duas músicas, e focado no seu álbum mais recente, o não tão empolgante The Gods We Can Touch, lançado ano passado. Infelizmente, o show foi ofuscado pela lamentável ‘controvérsia’ envolvendo o baterista Sigmund Vestrheim. A história é relativamente longa, mas basicamente o cara tem um histórico de ‘coincidências’ com simbologias simpáticas ao nazismo, o que foi apontado por um fã de música através de um tweet onde o fã observou Sigmund fazendo uma referência ao supremacismo branco. Com a repercussão, a cantora se pronunciou dizendo não acreditar em tais alegações, e que confia no seu baterista. Para mais informações, veja essa notícia do jornal O Globo

Tove Lo por Isabel Vernier

No palco Budweiser, a sueca Tove Lo ‘arrasou’, mais do que esperado, mostrando que não é uma cantora ‘mediana’ do cenário indie pop, mas uma artista com um som e performance muito interessantes, nada preso num senso comum qualquer. Focando mais no seu último álbum, Dirt Femme (2022), ela soube dosar com hits já conhecidos, e afagou o público com as participações dos brasileros Mc Zaac, em “Are U gonna tell her?”, parceria entre ambos, e Pabllo Vittar em “disco tits”.

 

 

 

Rosalía por Isabel Vernier

Com a baixa de Drake, o show mais esperado da noite sem dúvidas foi o da espanhola Rosalía. Assim, ela subiu para fazer o último show do palco Chevrolet no Lollapalooza 2023. De forma apoteótica e revolucionária ela trouxe todo o universo de sua persona Motomami para a ambientação do show. As plataformas iluminadas sobre o palco, ficam num vai e vem de acordo com a maximização e intimismo do setlist, acompanhada da transmissão megalomaníaca dos telões, como num Tik Tok instantâneo. No começo do show, a atuação do câmera que acompanha todos os passos da diva no palco deu uma atrapalhada até a dinâmica fazer sentido, mas ao longo da apresentação, a proposta completou ainda mais a inventividade da artista. O modo como ela impõe sua presença  vocal, às vezes parecendo uma santa, às vezes acessível e relacionável como uma menina em seu piano, ela dominou o público do começo ao fim. A sua entrega pessoal, de canto e dança, segue a grandiosidade de diva pop alcançada com o lançamento de Motomami (2022), que ocupa grande parte do setlist, com 12 músicas. Num momento de agradecimento ao público, a cantora se mostrou fã da música brasileira, dizendo ter Tom Jobim como uma grande influência, desde os tempos em que ela estudava música. Aliás o seu ‘TCC’, o ambicioso álbum El Mal Querer (2018), infelizmente contou com apenas duas músicas no show, e o primeiro disco, o igualmente estonteante Los Ángeles (2017), sequer foi contemplado. Porém de forma fluida e equilibrada, ela trouxe trunfos interessantíssimos de ser ver ao vivo, como a música “BESO”, presente no EP RR, lançado agora em março desse ano junto de seu namorado Rauw Alejandro. Na minha experiência pessoal, estando bem entre as primeiras fileiras do público, bem no meio do palco, senti a falta de um retorno mais potente, o que acabou por ‘achatar’ um pouco o som. Sem parar, ela fez de todos os momentos do set uma apresentação memorável, daquelas que com certeza futuramente será apontada como referência em montagem e produção.

Skrillex por Isabel Vernier

Com uma missão meio ingrata, o produtor Sonny John Moore, mais conhecido como Skrillex, ficou encarregado de substituir Drake no fechamento do palco Budweiser. Despretensiosamente, ele fez uso do mega telão do rapper canadense que cancelou em cima da hora, e conduziu bem a despedida do Lolla com um show de um verdadeiro headliner. Em momentos como os dos hits “In Da Guetto”, colaboração com J Balvin, e “Where Are Ü Now?”, do seu projeto Jack Ü com Justin Bieber, focos de euforia agitaram o público não tão numeroso após o começo de uma breve chuva, que demorou a chegar, mas chegou.

 

Conseguimos ver a maioria das atrações que queríamos, e funcionou bastante esse ano a circulação entre os palcos, com os headliners de cada dia sendo uma cereja do bolo na escalação, e não um foco inegociável de quem foi conferir o festival. 

 

Nosso TOP 5

Foto por Isabel Vernier

É difícil mas separamos nosso top 5 shows do Lollapalooza Brasil 2023. Veja se concorda:

Luan: Tame Impala, The 1975, Billie Eilish, Rosalía e Wallows.

Binha: Tame Impala, The Rose, Rosalía, Os Paralamas do Sucesso e Kali Uchis.

 Produzido por Perry Farrell, TIME FOR FUN e C3 Presents, o Lollapalooza Brasil 2023 conta com patrocínio master de Bradesco, Budweiser, Chevrolet, adidas, Johnnie Walker e Vivo, e apoio de Tanqueray, Sadia, Mike’s, next, Braskem, Red Bull e Samsung Galaxy. O Instagram é a rede social oficial. Globo, Multishow, 89 FM – A Rádio Rock, Mix FM e Eletromídia são media partners.

 

Mudança na produção do Lollapalooza Brasil

Foto por Isabel Vernier

Logo após o festival, foi anunciado oficialmente pela T4F que a produtora não mais seguirá com o Lollapalooza Brasil, sendo agora uma marca da Rock World, que tem como acionista controladora a Live Nation. Na semana do Lollapalooza Brasil 2023, a T4F confirmou a aquisição contratual para a produção do Primavera Sound São Paulo (antes produzido pela Live Nation), que esse ano acontecerá em dezembro, no Autódromo de Interlagos.

 

“A parceria da T4F com o Lollapalooza Brasil revolucionou o mercado de festivais no nosso país. Estamos muito orgulhosos do caminho que percorremos juntos e por termos transformado o LollaBR em uma marca amada pelos brasileiros. Foi um prazer liderar essa marca e contribuir para o seu crescimento […] Desejo sucesso para eles e para o Lollapalooza Brasil nesse novo modelo”, afirma Fernando Alterio, fundador e CEO da Time For Fun em comunicado. 

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Autor

  • Luan Gomes

    Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"

Escrito por

Luan Gomes

Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"