O Balaclava Fest reuniu em São Paulo bandas internacionais estreantes no país junto de nomes do selo paulistano para a comemoração de 10 anos
Fechando as comemorações de 10 anos do selo, a Balaclava realizou a segunda edição do Balaclava Fest no ano. Em edição especial, a escalação trouxe atrações internacionais em sua primeira passagem pelo Brasil, junto com alguns nomes do próprio selo. O festival aconteceu no último dia 11, no Tokio Marine Hall, em São Paulo, e contou com shows de Fleet Foxes (Estados Unidos), Alvvays (Canadá), e Crumb (Estados Unidos). Completando o line up, os nomes nacionais foram Ombu, Bruno Berle, Jennifer Souza e Pluma.
A Balaclava Records começou em 2012, através dos sócios Fernando Dotta e Rafael Farah, que criaram o selo para lançar os materiais de sua banda, Single Parents. Ao longo do tempo, A Balaclava foi agenciando novos artistas, entrando também no mercado da produção de shows e mídia. O ano comemorativo de 2022 ficou marcado pelas vindas de nomes emblemáticos do indie rock através do selo, como o The Drums em março, e os ingleses do Shame em novembro.
No primeiro semestre, a primeira edição do Balaclava Fest no ano contou com uma programação especial só com nomes do selo. Assim, o festival aconteceu em abril, no Central, também em São Paulo, com nomes como Raça, Walfredo em Busca da Simbiose e Saskia.
Como foi o Balaclava Fest?
Sendo num lugar relativamente afastado, mas de fácil acesso, na Zona Sul de São Paulo, o evento teve uma boa disposição de horário, abrindo para o público às 15hrs, e terminando pouco depois das 23hrs. No começo do dia, o espaçamento entre os shows ainda eram de aproximadamente 30 minutos, ao decorrer do dias, esse intervalo foi reduzindo ao ponto de minutos entre uma apresentação e outra. Porém o aproveitamento do local acomodou razoavelmente os dois palcos (Balaclava e Converse), sendo que o principal, Balaclava, abriu pouco depois das 17hrs, o que causou um certo impasse pela quantidade de gente no espaço do segundo palco. Apesar do acesso entre os palcos ter sido apenas uma porta grande, a circulação entre os shows aconteceu razoavelmente bem, e o público estava afim de ver todos os shows.
Shows
O público do Balaclava Fest estava claramente bem familiarizado com todos os nomes, sendo as expectativas da noite bem divididas, não tendo só como foco o headliner Fleet Foxes. Inclusive, registramos em um reels no nosso Instagram o interesse da galera que colou no festival, e o que eles estavam afim de ver.
Assim, o dia começou a Pluma abrindo os trabalhos no Palco Converse. Desde que lançaram seu EP de estreia em 2020, Mais do Que Eu Sei Falar, o quarteto tem se destacado pelo seu show leve, groovado e colorido. No Balaclava Fest não foi diferente, e o balanço da banda paulistana com certeza animou quem estava ali esperando para ver a Crumb por exemplo. O show deles ainda teve a participação do Lou Alves da Walfredo em Busca da Simbiose, que subiu ao palco para juntos tocarem a música ‘Covenções Humanas’, colaboração entre ambos. Aliás, outros encontros aconteceram ao longo do festival, como quando Bruno Berle chamou ao palco Bebé Salvego. Ambos contam com lançamentos recentes muito bons. O cantor e compositor de Maceió (AL) soltou esse ano seu álbum de estreia, No Reino Dos Afetos, com um som lo-fi texturizado e denso, que combinou perfeitamente com o tom mais swingado da escalação do festival. Para os fãs do indie folk do Fleet Foxes, o show da mineira Jennifer Souza foi uma calorosa introdução ao clima mais acústico e introspectivo. A cantora e compositora retomou recentemente sua carreira solo, após 8 anos fazendo parte de bandas como Moons e Transmissor. Completando a escalação nacional do Balaclava Fest, o trio Ombu juntou de tudo um pouco dos sons presentes no festival, desde o indie mais lo-fi, passando pelo indie rock até a MPB. A banda formada por integrantes do Raça, lançou nesse ano seu álbum de estreia, Certas Idades, produzido pelo emblemático Kassin.
A primeira das bandas internacionais estreantes a subir no palco Balaclava foi a Crumb. A banda Nova Iorque tem sido uma das queridinhas de quem acompanha o indie psicodélico recente, tanto pelo som lisérgico e groovado da banda, que mistura indie pop com jazz pscodélico, quanto pela autonomia do quarteto, que tem dois EPs e dois álbuns lançados de forma independente, sendo o último deles Ice Melt (2021). O show de uma hora foi um misto de contemplação e agitações pontuais, numa combinação entre o despojado e refinado da postura da banda, com a efervecência do público em momentos mais pulsantes como na sequência matadora dos hits ‘Trophy’, ‘Ballon’ e ‘Jinx’. Enquanto a frontwoman Lila trazia o lado mais introspectivo da banda, com vocais minimalistas e interações tímidas, o baixista Jesse Brotter puxava o fuzz em linhas de baixo pegajosas, fazendo meio que um “contraponto stoner” ao balanço cadenciado da banda. Para quem esperava uma apresentação imersiva, como pede um bom show psicodélico, com certeza saiu bem satisfeito.
Num instante de surpresa mesmo que previamente esperado, os canadenses da Alvvays subiram ao palco as 19:45 para acolher fãs apaixonados que cantaram todos os hits da banda. Comandada pela vocalista e guitarrista Molly Rankin, o quarteto já passou por mudanças na formação desde que despontou na metade da década passada, e veio ao Brasil pela primeira vez agora, com a turnê de Blue Rev, terceiro disco deles que vem sendo muito elogiado pela crítica internacional, sendo presente em posições relevantes nas listas de melhores discos de 2022 de veículos como Pitchfork e NME. Em um equilíbrio ímpar, a banda dosou bem o anseio dos fãs pelas músicas dos primeiros álbuns com a imponência natural do repertório do disco mais recente, que ocupou grande parte do setlist, sendo efusivamente entoado pelo público nos principais hits como ‘Pharmacist’, que abriu o show, e ‘Very Online Guy’. Não demorou para os fãs verem ao vivo pérolas do indie rock recente como ‘In Undertow’ e ‘Archie, Marry Me’. A outra faceta da banda, mais puxada para o dream pop também foi contemplada nas climáticas ‘Not My Baby’ e ‘Dreams Tonite’.
Mas o momento mais caloroso da noite com certeza foi o fechamento do festival com o Fleet Foxes lavando a alma dos fãs que esperaram mais de uma década para ver a banda de Robin Pecknold trazer à solo brasileiro a mistura de indie folk com pop barroco da banda de Seattle. E quem pensa que o clima da apresentação foi ameno, com a galera mais hipnotizada do que participativa, se engana viu. Não demorou muito para virem gritos da pista como “gostoso” e pedidos esguelados de pérolas da discografia da banda. Era pouco depois das 21:30 hrs quando eles subiram ao palco emendando uma trinca de músicas de Shore (2020), último álbum lançado pela banda, que ocupou grande parte do setlist, e que teve ótima recepção entre fãs e crítica. Ainda assim, o primeiro e homônimo álbum esteve bem presente também em momentos como ‘Blue Ridge Mountains’ e ‘White Winter Hymnal’, ambas recebidas de forma devocional pelos fãs, que acompanhavam os vocais épicos de Robin e cia. Com tal clima mais emocional, o repertório não contou com muitas músicas do álbum mais ‘estranho’ e abstrato do grupo, Crack Up (2017), apesar da sublime ‘Third of May/Ōdaigahara’ não ter ficado de fora. Ainda assim, a igualmente ‘fria’ ‘Phoenix’ fez parte do show, mesmo não sendo tão conhecida, já que na verdade, ela é uma música do Big Red Machine, (grupo que junta Bon Iver e The National) e o Fleet Foxes. Para felicidade de um público já rendido desde o começo do show, o momento mais esperado da apresentação se concretizou quando Robin tentou introduzir o ilustre e já esperado Tim Bernardes ao palco, porém foi o anúncio foi prontamente ovacionado antes mesmo dele terminar a frase. Tim já tinha dado as caras antes do show do Fleet Foxes, aparecendo nas tribunas do camarote, e na parte interna do palco enquanto as coisas se aprontavam. Ele vem de uma turnê recente com a banda norte-americana, onde foi a atração de abertura, e antes disso já havia ocorrido a celebrada colaboração entre ambos na música ‘Going-to-the-Sun Road’ (Shore, 2020). Depois de agradecer o convite, Tim se mostrou feliz também, como fã da banda, em vê-los pela primeira vez no Brasil e fazer parte disso. Diferente da versão de estúdio, onde o artista paulistano canta apenas os versos finais, no show ele também cantou os versos em inglês ao longo da música. Com certeza tem uma grande dose de emoção nessa observação por vir mas: num dos (com certeza) momentos mais bonitos da música ao vivo no Brasil esse ano, o público do Balaclava Fest se juntou à banda numerosa em instrumentos e vocais para fechar o show numa entrega síncrona culimanda na visceral ‘Helplessness Blues’.
Devidamente celebrado os 10 anos de atividade, a Balaclava hoje em dia é uma das principais “instituições” da música independente do país, tanto pelo seu trabalho como selo, quanto como produtora e mídia. E para o futuro eles já deixaram engatilhados a vinda do Deafheaven para março, banda de blackgaze que é tão alternativa quanto metaleira, responsável por grandes álbuns da década passada como Sunbather (2013) e Ordinary Corrupt Human Love (2018). Os ingressos já estão à venda aqui.
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