Falamos com Tom McFarland sobre como paixão e colaborações ditam o ritmo de ‘Volcano’, próximo álbum do Jungle

O Jungle está pronto para lançar seu quarto álbum, Volcano, trazendo novas músicas com a característica energia contagiante do duo inglês. Com colaborações de nomes como Channel Tres, os singles já lançados mostram uma banda empolgada e apaixonada . Em entrevista para o Minuto Indie, Tom McFarland compartilhou insights sobre o processo de criação do álbum e sua visão sobre a música e o sucesso da banda. 

Volcano tem lançamento previsto para 8 de agosto, pelo selo próprio do duo, Caiola Records. O trabalho conta com três singles lançados: “Candle Flame”, “Dominoes” e “I’ve Been In Love”.

Formada em 2013 pelos londrinos Tom McFarland e Josh Lloyd-Watson, ambos produtores e multi-instrumentistas, o Jungle alcançou o sucesso com sua sonoridade que combina indie, neo soul e música eletrônica. Seu álbum de estreia homônimo, lançado em 2014, foi aclamado pela crítica e trouxe sucessos como “Busy Earnin'” e “Time”. Com os álbuns seguintes, For Ever (2018) e Loving In Stereo (2021), a banda mostrou uma evolução em sua sonoridade, incorporando elementos de disco e pop. Ao longo da carreira, o Jungle se destacou pela sua abordagem visual marcante, com videoclipes estilizados e coreografias cativantes. 

Especialmente motivado para o lançamento do novo álbum, Tom comentou sobre sua relação com a música ao estar apaixonado, as semelhanças e diferenças entre LA e Londres, e como não parecer um idiota como Matty Healy. Confira abaixo o papo que a Maria Luísa e o Luan trocaram com ele.


Minuto Indie: Sabemos que tem sido semanas ocupadas para você, o Jungle acabou de lançar um novo single esta semana e o álbum está quase chegando. Como você tá?

Tom McFarland: Sim, muito ocupado. É sempre bom estar ocupado. Sabe, quando você está promovendo um disco, lançando um single, é bem animador. Mas também consome muito do seu tempo. É muita coisa para fazer, muita gente para conversar. Mas acreditamos neste álbum, então queremos promovê-lo o máximo que pudermos. Acho que seria meio estúpido fazer um disco tão bom e esperar que as pessoas o encontrem. Você sabe o que eu quero dizer? Você tem que se esforçar. E, sabe, Bobby Womack disse que, na opinião dele, promover o disco é tão importante quanto fazer o disco.

Minuto Indie: É interessante como o Vulcano vai ter tantas participações especiais. Vocês fizeram algumas colaborações aqui e ali, como com a Pryia Ragu e Tom Misch. Mas o que fez com que vocês estivessem mais abertos a participações no álbum desta vez?

Tom McFarland: É realmente divertido ter outras pessoas trabalhando conosco. E acho que chegamos a um ponto em que meio que ouvimos muito nossas vozes no disco, tiveram três álbuns com apenas nós dois evocando os discos. E acho que no ano passado nós meio que começamos a experimentar, tirar nossas vozes do disco e ver como era. E foi muito bom. Então foi mais divertido, como se estivéssemos começando a virar uma nova página, seguindo uma nova direção. E, finalmente, dar a nós mesmos muito mais liberdade para o futuro.

Minuto Indie: Dos singles que saíram até agora, além do título do álbum, dá para sentir essa ideia de paixão. Quase como chamas, de forma intensa. Então, como é a sua relação com a música quando você está apaixonado? O que você gosta de ouvir?

Tom McFarland: Quando você está apaixonado, geralmente há um pouco menos de estresse, não é? Então você tende a ouvir coisas um pouco mais românticas, relaxantes. Recentemente, comecei a rever todos os meus antigos discos de drum and bass. E há uma sensação tão incrível naquela música, é tanta energia, e parece que eu estava me conectando a uma parte de mim que talvez tivesse perdido um pouco. Então, você sabe, todas as músicas que ouvimos durante toda a nossa vida definitivamente somam ao que fazemos no estúdio todas as vezes. Seja estar apaixonado e se sentir seguro, ou querer voltar aos sentimentos que você tinha quando era mais jovem. Isso também é muito legal de fazer.

Minuto Indie: Volcano foi gravado em Londres e Los Angeles, certo? São duas cidades cosmopolitas, mas com suas singularidades. O que você acha que elas têm em comum e diferente? O que você mais gosta em cada cidade?

Tom McFarland: Em LA acho que obviamente é o clima. Nove a cada dez vezes vai ser ensolarado e bonito. E acho que para um inglês isso é muito romântico. Mas para mim, Londres parece mais conectada. Parece mais enérgico, um pouco mais agressivo. Eu gosto bastante disso. Eu gosto de viver em cidades onde você meio que é lembrado de que está vivendo com a humanidade e muitas pessoas no mesmo lugar. E é tudo meio que uma selva de concreto. Eu meio que gosto da adrenalina que viver em uma cidade como Londres te dá.

Minuto Indie: É muito interessante ver a conexão que o Jungle tem com a dança. Normalmente vemos esse equívoco de que “música séria” é aquela que você ouve parado, se concentrando apenas nisso. Mas vocês não seguem este caminho, certo? Por que a dança é tão importante para o seu trabalho como Jungle?

Tom McFarland: Bem, é apenas uma maneira muito simples de expressar música. Fisicamente. Muitos videoclipes têm uma história, são quase como um mini filme. Mas para nós, como quando você ouve música, a primeira coisa que quer fazer é mover seu corpo e acho que poder mostrar isso ao nosso público, que estamos tentando fazer músicas que são experiências físicas, bem como experiências sonoras… A dança nos vídeos representam isso e esse aspecto do que fazemos.

Minuto Indie: Para ser sincera, é muito raro ver alguém dizer “eu não gosto de Jungle”. As pessoas que conhecem sua banda tendem a gostar dela. E estamos curiosos para saber, como vocês se tornaram uma banda tão amada nessas circunstâncias onde há tanto ódio online e as pessoas tendem a ter opiniões tão fortes a favor ou contra alguma coisa? Qual é o segredo?

Tom McFarland: Eu acho que há muito pouco para odiar. Em geral, não estamos tentando ser celebridades, não estamos tentando ser famosos, não somos muito opinativos em público. É tudo sobre a música, os visuais e o show ao vivo. Então não há alvo. Você sabe, como para o The 1975, por exemplo. Matty Healy é muito franco. Ele ocasionalmente causa momentos polêmicos no palco e na imprensa. E obviamente ele faz isso para causar efeito, para chamar a atenção das pessoas. Mas isso também é uma polarização, nem todo mundo vai concordar com ele. E, na verdade, 9 em 10 vezes, provavelmente as pessoas pensam que ele é um idiota. Então eu acho que o fato de termos nos afastado do Jungle, de não somos as estrelas do show. O Jungle é a estrela do show para nós. E é muito difícil odiar uma palavra ou um conceito. Eu acho que é muito mais fácil não gostar de uma pessoa ou de pessoas.

Minuto Indie: Suas canções tendem a soar bastante alegres, quase nunca são tristes ou melancólicas. É intencional ou você não vê assim? 

Tom McFarland: Sim, sempre queremos fazer música que seja boa para nós e que seja capaz de nos afastar de algumas das merdas que acontecem com você e sua própria vida. Então é como um mecanismo de fuga. Essencialmente, quando fazemos música com o Jungle, é tipo, como podemos fazer algo que nos faz sentir bem quando ouvimos, nos faz sentir bem quando tocamos, nos faz sentir bem quando outras pessoas interagem com ela, e se nos faz sentir bem, fará com que outras pessoas se sintam bem. E eu acho que isso é uma coisa legal de se fazer hoje em dia. A vida é muito curta para ficar sentado se preocupando com as coisas, você só precisa sair e se divertir de vez em quando.

Minuto Indie: No próximo ano, fará 10 anos desde que vocês lançaram seu primeiro álbum. Como você olha para esse álbum e todo o sucesso que vocês tiveram tão rápido com ele?

Tom McFarland: Obviamente com muito carinho e um pouco de surpresa também, acho que nunca esperávamos que o primeiro álbum se tornasse um sucesso tão grande. E, sabe, isso teve, potencialmente, um efeito levemente negativo na criação dos discos seguintes, mas nós definitivamente superamos isso. E acho que agora é só aproveitar e entender que foi uma coisa linda e um belo trampolim para o que acabou sendo uma carreira realmente incrível. E eu não acho que em nossos sonhos mais loucos poderíamos imaginar que 10 anos depois disso estaríamos fazendo shows enormes, festivais enormes e fazendo um quarto álbum. Eu acho que foi muito algo que estava no momento para nós. E o fato de ter sido traduzido tão bem [para o público] foi uma surpresa muito boa.

Minuto Indie: Você acabou de dizer que esse sucesso colocou uma pressão nos discos seguintes, mas que agora vocês superaram. Mas você ainda lê o que os críticos dizem ou olha para as reações do público quando lança uma música ou álbum?

Tom McFarland: Eu acho que foi muito fácil deixar de mão. Obviamente, leva um pouco de tempo e experiência para chegar a essa conclusão. Mas, no final das contas, chegamos a um ponto em nossas vidas em que ficou muito estressante nos preocuparmos com tudo. E o Volcano foi definitivamente parte do processo, nos ajudou no processo para deixar ir um pouco e apenas aproveitar e não nos preocupar muito. E eu acho muito perigoso ler os comentários de outras pessoas sobre sua música porque as pessoas vão ter suas próprias opiniões, cada um tem sua própria opinião. Todo mundo é um editor. Todo mundo quer pensar que a maneira como se sente sobre algo é a maneira certa de se sentir sobre isso. E é apenas uma perspectiva bastante negativa para entrar se você tentar seguir o que acha que as pessoas precisam.

Minuto Indie: Sobre tocar ao vivo, vocês realmente adoram e é uma parte essencial da sua música. Existe algum local em particular que seja o seu favorito? Pelo ambiente, acústica, público…

Tom McFarland: Acho que sempre que você toca do lado de fora, é muito especial, especialmente quando está escuro, acho que há uma energia muito especial quando você está do lado de fora com muitas pessoas e está compartilhando essa experiência incrível na natureza. Então os festivais são super divertidos para nós. Mas fazer shows em locais pequenos também… Temos muita sorte de termos a chance de tocar em locais grandes e pequenos. E podemos escolher agora tocar algumas noites em um local um pouco menor e um pouco mais íntimo. E esses shows também têm um sentimento muito especial.

Minuto Indie: A arte de Jungle é vista como algo complexo. Mas você tem momentos para hábitos pouco sérios? Como videogames, esportes, animais de estimação…

Tom McFarland: Sim, temos um pouco de tempo para fazer coisas para nós mesmos. É sempre bom sair na natureza, dar um passeio. Passar tempo com sua família, com seus amigos. Jogar um pouco de futebol, jogar um pouco de golfe, só depende de quanto tempo você tem de sobra. Mas, sim, é importante. E especialmente quando você está em turnê, é sempre super legal apenas dar uma longa caminhada e explorar a cidade em que você está se tiver tempo, porque aí você realmente tem uma noção de onde está. E acho que te ajuda a entender melhor seu público.

Minuto Indie: O baixo é bastante notável em suas músicas. Quais baixistas você acha que são referências para o som do Jungle?

Tom McFarland: Super difícil de dizer. Quero dizer, nós crescemos ouvindo muito Red Hot Chili Peppers, então tenho certeza que Flea teve uma influência, como seu estilo funk e seu groove. Mas também, a maneira como Daft Punk costumava samplear linhas de baixo de velhas canções de soul, você sabe, aquele groove. É aquele funk, aquele soul, mas também parece que tem mais do que um toque moderno sobre isso. É de onde tentamos tirar nossa inspiração.

Minuto Indie: Quem são alguns novos artistas que você está gostando? Sons que você ouviu recentemente e que te deixaram impressionado.

Tom McFarland: Tem um novo coletivo de dance chamado Joy Anonymous. Eles fazem um monte de músicas novas e legais, tipo, dance music. Temos tocado um pouco disso ao vivo. Chenayder, que é um artista haitiana americana, que se escreve C, H, E, N, A, Y, D, E, R. Ela tem uma música muito legal chamada “My, My”. E o que mais temos ouvido? Na verdade, ouço um monte de coisas antigas. Sabe, o que é incrível sobre o Spotify e a internet agora é que é super fácil encontrar músicas antigas que são muito desconhecidas, mas incríveis e de todo o mundo também.

Minuto Indie: Quando Volcano for lançado, em agosto, o que você quer que as pessoas levem desse álbum?

Tom McFarland: Acho que só quero que as pessoas gostem e sintam que isso significa algo para elas individualmente. Você sabe, nós sempre tentamos fazer músicas com mensagens muito universais para que todos possam tirar algo disso.

Minuto Indie: Muito obrigado, Tom, pelo seu tempo.

Tom McFarland: Obrigado! Foi bom falar com vocês.

Minuto Indie: Esperamos ver o Jungle de volta ao Brasil logo.

Tom McFarland: Sim, com certeza. Acho que talvez venhamos no ano que vem.

Minuto Indie: Bem, estaremos esperando por vocês.

Tracklist de Volcano (será lançado em 11 de agosto)

  1. Us Against The World
  2. Holding On
  3. Candle Flame (Feat. Erick the Architect)
  4. Dominoes
  5. I’ve Been In Love (Feat. Channel Tres)
  6. Back On 74
  7. You Ain’t No Celebrity (Feat. Roots Manuva)
  8. Coming Back
  9. Don’t Play (Feat. Mood Talk)
  10. Every Night
  11. Problemz
  12. Good At Breaking Hearts (Feat. JNR Williams & 33.3)
  13. Palm Trees
  14. Pretty Little Thing (Feat. Bas)

Ouça os três singles já lançados de Volcano.

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Autores

  • Luan Gomes

    Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"

  • Maria Luísa Rodrigues

    mestranda em comunicação, midióloga de formação e jornalista de profissão. no Minuto Indie desde 2015 e em outros lugares nesse meio tempo.

Escrito por

Luan Gomes

Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"