Red Table Talk com Jada Smith, Willow Smith , Adrienne Norris, a ativista Tamika Mallory e a acadêmica Angela Davis discute racismo e cultura do cancelamento.

Durante episódio de programa da família Smith, dedicado ao estado de emergência na América Negra, que foi ao ar em 19 de junho, mãe, filha e avó, Jada Smith, Willow Smith e Adrienne Norris, respectivamente, a ativista Tamika Mallory e a acadêmica Angela Davis abordam pautas urgentes como a supremacia branca, a brutalidade policial nos EUA  e a era do cancelamento na internet

No feriado nacional estadunidense conhecido como Juneteenth (19 de junho) ou Freedom Day (Dia da liberdade), em homenagem à emancipação daqueles que foram escravizados no país, o décimo terceiro episódio do Red Table Talk, programa produzido pela família Smith, reuniu a ativista Tamika Mallory, a Dra. Angela Davis, e as co-apresentadores Jada Smith (mãe) e Adrienne Banfield Norris (avó), além de Willow Smith (filha). A família Smith se reuniu para abordar a ‘América Negra’ e o estado de emergência em que se encontram os negros, o racismo, a cultura do cancelamento e tudo aquilo que vem acompanhado dele.

O episódio tem, em seus primeiros minutos, a exibição do vídeo do momento do assassinato de George Floyd, afro-americano estrangulado em Minneapolis (EUA) por um policial branco no dia 25 de maio de 2020. As cinco participantes se mostram profundamente emocionadas e abaladas com as imagens. Adrienne comenta que as cenas gravadas e compartilhadas nas mídias sociais são uma ótima ação, mas questiona a si e as outras sobre todos os outros casos que acontecem repetidamente e não tem o nosso conhecimento. Jada, uma das apresentadoras, então pergunta à Angela Davis: Dra. Davis, na primeira vez que você assistiu a esse vídeo, como se sentiu? “Esse vídeo representa o que pessoas pretas têm experienciado por gerações, e gerações e gerações repetidamente. Quando eu vi aquele policial branco com suas mãos no bolso, indiferente, assassinando esse homem preto (…) é nosso dever se levantar e dizer: nunca mais, nunca mais”, explica Angela.

A conversa na mesa vermelha continua, com debates importantes e dolorosos sobre a luta negra, as manifestações que tiveram início após a morte de George Floyd, a importância dos brancos também estarem indo às ruas na luta contra o racismo estrutural, a desconstrução da supremacia branca (presente também dentro das famílias negras, que muitas vezes criam seus filhos para sentirem vergonha da cor de sua pele, ou serem submissos, ou elegem candidatos racistas). Sobre este último tema, aliás, outros vídeos são exibidos como forma de exemplificar e ajudar o debate. Nele, uma mulher branca liga para a polícia denunciando um homem negro que filma a área onde ambos estão, alegando que ele estaria a atacando e invadindo sua privacidade. As convidadas discutem, então, muitas ideias, e dentre elas a ideia injusta e cruel que nós enquanto sociedade temos de que ‘homens negros” são os seres mais potencialmente perigosos e violentos que existem. O debate é profundo e vale muito a pena conferir (se você puder acompanhar uma conversa em inglês).

Assista o vídeo completo do 13º episódio do Red Table Talk: racismo estrutural e cultura do cancelamento

Em dado ponto, mais próximo do fim da conversa entre as cinco, Jada Willow traz à tona a pauta “cultura do cancelamento” e Willow é a primeira a fazer observações sobre. “Isso é tão predominante agora. Estou vendo pessoas envergonhando outras pessoas, dizendo coisas realmente terríveis, envergonhando/humilhando as pessoas pelo que elas estão escolhendo dizer ou envergonhando as pessoas por não dizerem nada. Se nós realmente queremos mudar, não é a vergonha que leva à aprendizagem”.

A cultura do cancelamento é um tanto perigoso”, acrescentou Tamika, ativista responsável por um discurso emblemático na luta negra. “Eu já fui cancelada. Se você não é cancelada, você não é realmente pop. Se você quer ser rica(o), você tem que ser cancelada(o).”, diz em tom de brincadeira.“É um espaço um pouco difícil de manobrar, porque você precisa deixar espaço para as pessoas cometerem erros.”

Angela Davis complementa trazendo um novo tema para a mesa: “Existem alguns aspectos realmente importantes nas novas mídias sociais e nas tecnologias que podemos organizar e mobilizar…mas a tendência de simplificar tudo e de assumir que todo mundo já deve saber sobre todos os assuntos. O que fizeram com o diálogo? Esse é um momento em que podemos compartilhar, e aprender, e pensar e reverter. As pessoas não deveriam estar com medo de serem canceladas porque elas cometeram um erro no processo.”

“Eu tenho que concordar, e concordar, e concordar. Porque essa é a hora para conversas! E é claro que as pessoas vão dizer alguma coisa errada, as pessoas vão ter diferentes visões sobre todo e qualquer assunto, especialmente nesses tempos.”, concorda Jada. “Eu estive conversando com alguns amigos meus, e disse: não esteja na luta se você não quer estar no papel do lutador. (…) Porque se você está nessa conversa, se você está dentro desse movimento, a luta vai vir até você. E está tudo bem. E isso vale para pessoas pretas, vale para pessoas brancas que estão tentando. Pessoas brancas que estão tentando, continuem tentando, mas tenham certeza de que é genuíno. E sim, você vai ser ‘atacado’,  você vai, não tem outro caminho, e está tudo bem.” Ao passo que Tamika complementa: “Você vai se queimar.”

A cultura do cancelamento é algo recente que vem assolando principalmente os meios digitais e confere tom de superioridade ou de perfeição àqueles que a praticam sobre alguém. Muitas figuras públicas já foram ‘canceladas’ e continuam falando, outras foram brutalmente atacadas e verdadeiramente feridas. Cancelar alguém é como acordar e vestir a toga do juiz. Você acredita ter esse direito, estar nessa posição e ser capaz de julgar uma atitude ou decidir a punição que alguém, a seu ver, merece. A cultura do cancelamento é só mais uma mostra da era dos extremos e da ignorância borbulhante em que estamos inseridos. A comunicação parece ser uma prática perdida ou incomum.

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Autor

Escrito por

Amanda Prado

Jornalista que curte música brasileira em níves estratosféricos.