Giovani Cidreira, videoclipe em 360º, áudios de WhatsApp, KG&LW e por aí vai: tudo que a gente quis saber sobre como nasceu uma das mais faixas mais inventivas de 2021.

Gravação do videoclipe ”tudo_q_eu_quis.mp4”. Da esquerda para direita: Rei Lacoste, João Antônio, Giovani Cidreira, João Denovaro, Bruno ”Neca” Feniche e Felipe Vaqueiro.

Cada um tem seu jeito de escutar e analisar música. No meu caso, viajo nas ideias em como os artistas buscaram trilhar para chegar ao resultado final. E foi assim quando escutei o single ”tudo_q_eu_quis.mp4” da Tangolo Mangos, Giovani Cidreira, Rei Lacoste e tevin. É uma daquelas faixas que fez minha mente explodir e pensar ”Ok, tá vendo: é possível ir além do que se imagina”, ou melhor, pensar ”em nada e ao mesmo tempo em mil fantasias, sem nomes e sem nexos”. A lírica passeia entre o abstrato e psicodélico ao concreto de recortes, os quais remetem a cenas de filmes e sonhos. A sonoridade é trabalhada a partir de outra música da Tangolo Mangos e incrementada com beats, recortes eletrônicos e novas camadas. O resultado final é um remix edição deluxe divido em 3 momentos, onde cada um, Giovani Cidreira, Rei Lacoste e tevin trazem suas personalidades musicais e brilham. Cada um do seu jeito e conversando.

E para divulgar o trabalho, em outubro eles disponibilizaram o videoclipe em 360º, que também pode ser assistido com um óculos de VR (realidade virtual). O videoclipe brinca a todo momento com o que descrevi acima sobre a música, e também trás para visualidade o clima intuitivo e de trocas, que sempre esteve presente entre em todo o processo. Descontraído, divertido, psicodélico e colaborativo.

E atenção para o spoiler: A faixa ”tudo_q_eu_quis.mp4” foi minha menção honrosa no vídeo do Minuto Indie de álbuns diferentões e surpresas de 2021 (que sairá até o final de dezembro no canal do YouTube).

Tangolo Mangos, Giovani Cidreira, Rei Lacoste e tevin

Todos são de Salvador (BA) e compartilham do rolê de estar na música. A Tangolo Mangos nasceu por volta de 2015 como um projeto de Felipe Vaqueiro no SoundCloud. Atualmente é formada por Bruno ”Neca” Feniche (produção, percussão, backing vocal, violão e guitarra), Felipe Vaqueiro (guitarra e vocal), João Antônio (baterista), João Denovaro (baixo) e Pedro Viana (guitarra, vocal e composição). Com dois EP’s: ‘’Mangas a Caminho da Feira nº1’’ (2019) e ‘’tngl_mngs.rar’’ (2020), o som passeia entre o rock, música regional, psicodelia, beats lo-fi, eletrônico. Aliás, chegamos a falar deles em dois vídeos: ”10 APOSTAS INDIES que vão BOMBAR! – GERAÇÃO INDIE 2020” e na lista de final de ano ”OS MELHORES ‘PRIMEIROS ÁLBUNS’ OU REVELAÇÕES DE 2020!”.

Giovani Cidreira e Rei Lacoste trilham juntos há bons anos, seja como amigos ou parceiros musicais. Ambos fizeram parte da banda Velotroz e continuam a colaborar artisticamente. Atualmente, Giovani Cidreira está em carreira solo e possui três álbuns de estúdio: a mixtape Mix$take” (2019), Japanese Food (2017) e Nebulosa Baby (2021). Sua música ficou marcada pela poética e sonoridade mais ligada ao MPB. Em ”Nebulosa Baby” sua produção ganhou um novo direcionamento para a combinação de elementos, colagens e presença eletrônica.

Rei Lacoste é MC de rap e trap e integrante do selo Balostrada Records. Com 4 álbuns: Trapcália Vol.1 (2018), a coletânea Rap é compromisso. Trap, não (2020) e as mixtapes V1D4L0K4T4MB3M4M4 (2019) e ”Tutorial de Como Ser Amado” (2021), é no trap e no fazer cinema que Rei Lacoste encontra sua linguagem para produzir suas obras. Também ligado ao audiovisual, já produziu e dirigiu videoclipes como o seu mais recente Gardênias com participação de Giovani Cidreira e Piu Knup e Run, Baby de Jadsa.

Como tevin comentou em entrevista, apesar de não ter um projeto ou carreira solo ou projeto, ele está ligado de outras formas ao rolê da música, seja auxiliando a Tangolo Mangos em shows como roadie, participando de grupo de samba de coco, editando vídeo. Enfim. Não é preciso ser apenas ser músico, instrumentista ou compositor para estar no rolê da música: é um ecossistema vasto e cada um pode colaborar para que a música circule e chega até o público.

Entrevistei os integrantes da Tangolo Mangos, Rei Lacoste e tevin por video-chamada para entender melhor como surgiu a ideia de fazer essa parceria, como foi produzir um videoclipe em 360º, quem foi ao ”Cabaré de Vertentes” e qual vai ser o 19º álbum do King Gizzard & The Lizzard Wizard.

Foto por: Rei Lacoste

Binha (Minuto Indie): Em 2019, a Tangolo Mangos lançou o 1º EP ‘’Mangas a Caminho da Feira nº1’’, e em 2020 vocês estavam se preparando para lançar o 2º EP ‘’Mangas a Caminho da Feira nº2’’. Mas por conta da pandemia, você tiveram que pausar o processo. Porém, depois de um convite para produzir uma música em modo ‘’quarentena’’, a banda acabou desenvolvendo um EP que não estavam nos planos, chamado ‘’tngl_mngs.rar’’ (2020), que diferente do primeiro, o qual tem mais cara de formação de banda, esse segundo tem mais recortes e colagens sonoras. Vocês já tinham essa vontade de experimentar algo mais psicodélico? Não do gênero musical ‘’psicodélico’’, mas de montagem de música, fazendo essas experimentações, pegando tipo elementos mais internet, enfim.

Felipe Vaqueiro: Foi meio que unimos o útil com o agradável, nesse sentido. Útil ao agradável é foda né? Mas a gente meio que estava com essa perspectiva de limitação de como produzir algumas coisas. Por exemplo, a bateria, que é um exemplo bom, de que não poder gravar com a bateria acaba afetando várias coisas da dinâmica da produção. Então isso já levou para os samples, seja os de síntese de alguma coisa ou aqueles que a galera pesquisa. Ou como no caso de João Antônio, que experimentou muito com os samples da própria bateria da gravação do ‘’Mangas a Caminho da Feira nº1’’. Rolou muito essa perspectiva do recorte… Não do recorte em si mas, recorte também, de se fazer o som mais ”picotadão”. João Denovaro já vinha fazendo umas paradas assim de produção. Já tínhamos um desejo de fazer isso, mas, esse foi um terreno bom.

Deno (João Denovaro): Foi a deixa que a gente precisava para incorporar isso.

Vaqueiro: Pegamos músicas que não tínhamos expectativas sobrando, sobre o formato delas, sobre como poderia ser, então estávamos bem abertos. E essa abertura também possibilitou de percorrermos em caminhos experimentais.

Deno: Mas eu diria que era um caminho a gente não planejava, foi muito pela situação.

Vaqueiro: O que aconteceu foi meio empírico. Até porque envolve produzir sem ver as pessoas diretamente, e isso já é outra dinâmica. Por mais que isso seja comum, fazer um disco todo assim, para nós que estávamos acostumados de outra forma, enfim.

Deno: Bem diferente.

Vaqueiro: Mas a gente já tinha assim um gosto por isso, tá ligado? Inclusive, pô, todo mundo ouve muito, sei lá, não necessariamente só rap mas, coisas ligadas ao hip hop ou influenciadas pela cultura hip hop. Acho que já existia um desejo de entrar em beats, por exemplo.

Deno: É, e a coisa da internet também, foi sempre foi uma coisa que estava em pauta. Até tinha uma música que ia cair do disco, que fala um pouco sobre isso, mas realmente, não tínhamos intenção de abordar isso com mais afinco. E esse disco tem muito disso, de internet, totalmente ”internetesco”.

 

Binha: E como está a situação do ”Mangas a Caminho de Feira Nº2”?

Vaqueiro: Não se sabe se vai ter feira. Talvez o disco passe por algumas mudanças de nome, talvez não seja esse o nome, mas estamos com essa questão de não ser mais um EP, porque o próximo lançamento provavelmente vai ser cheio. Estávamos com um disco com 6 faixas e já tínhamos 3 gravadas, quase 4. Uma dessas faixas era bem grande e o EP estava com mais de meia hora, então a gente ficou ”Véi, já é quase um álbum!”, e essa nóia de que é quase um álbum, ficamos: ”Véi, vamos fazer um álbum e foda-se”. E aí nesse de vamos de EP ou álbum, rolou a pandemia. A gente já meio que desapegou, talvez esse nome seja para o outra coisa no futuro, mas o que a gente sabe é que…

João Antônio: Vai ter um álbum.

Vaqueiro: É! E talvez venha um EP também. Caminhos abertos. O importante é lançar.

 

Binha: A faixa ‘’mofi_zip_zop_radio_-_batidas_pra_viaja/chaparzao_1000grau.mp3 (feat. André Becker)’’ do ‘’tgnl_mngs.rar’’ é um instrumental de recortes e colagens e mil e uma referências. Em 2021, essa música ganha uma nova versão com a colaboração de Giovani Cidreira, Rei Lacoste e tevin. E é muito doido porque eu conheci primeiro a ‘’tudo_q_eu_quis.mp4’’ e só depois a original de 2020. E quando percebi esse paralelo eu achei muito doido, porque como se fosse um sampleamento da música e transformação dela. Como que rolou essa ideia de juntar os 3 e compor a letra?

Deno: Que foda velho! É isso, a ideia era ser um beat. A primeira música (‘’mofi’’) era só um beat. Como o Vaqueiro disse, já tinha essa coisa no fundo da nossa mente assim: ”Pô véi, vamos chamar alguém e fazer um remix”. Eu chapo muito nessa ideia do remix, é uma coisa compartilhada.

Neca: Eu acho que por muito tempo o nome da música era ”mofi zip zop remix”.

Deno: É, era ‘’mofi remix’’.

Neca: Por muito tempo a gente decidiu o nome da música tipo, tempos antes de decidir lançar ‘’Uau! Tá pronto!’,’ e vai ser esse o nome, tá ligado?

João Antônio: Foi literalmente no dia em que a gente fez o post do Spotify.

Deno: Já conhecíamos Rei Lacoste e tínhamos trocado ideia e Vaqueiro fez a ponte.

Vaqueiro: Tinha uma coisa meio de colagem, não bem uma colagem, parece uma colagem de momentos essa música. Desde que pensamos, tinha uma coisa bem aberta e ao mesmo tempo uma coisa: ”Véi, a música talvez não seja exatamente isso, ela é vários pedaços colados, vamos fazendo e ver no que dá’’. E aí, Rei Lacoste pegou a track. A ordem cronológica foi essa.

Rei Lacoste:  Peguei a track e era um pouco diferente do que eu venho feito. Faço mais trap, que é uma linguagem a qual me identifico mais, por conta do BPM (batida por minuto), a métrica e maneira de rimar. Mas, eu gostei do beat (de ‘’mofi’’), porque tinha uma coisa de colagem, de vários momentos que iam mudando e topei o desafio de escrever. Não conhecia o Vaqueiro, mas tínhamos um amigo em comum e começamos (Rei Lacoste e Tangolo Mangos) a trocar ideia por WhatsApp. Eu tive banda com Giovani Cidreira, éramos da Velotroz, tem uma história e tal, e sempre fomos muito próximos: produzimos, crescemos, passamos a adolescência juntos e amadurecemos juntos. Sempre colaboramos nos projetos um do outro e foi muito natural a entrada de Gio na track. Eu estava com o beat (‘’mofi’’) e começando a escrever e pensar sobre as coisas da música e Giovani estava lá em casa na época, frequentando o home studio. Chamei, convidei ele na hora assim: ”Pô, convido ele pra muita coisa‘’ (risos). E nós temos uma sintonia muito forte de criação e composição. As vezes ele faz a melodia, manda para mim, coloco a letra ou ao contrário. Aí foi natural: ele estava lá em casa e falei ”Pô, tem essa galera Tangolo Mangos, tem esse beat, eu tô começando a escrever e acho que cabe você também”. E começamos a fazer e já gravamos o refrão e fui desenvolvendo. Teve uma primeira versão dos versos e fui indo para segunda versão, depois mandei para os meninos falando: ”Olha, consegui fazer… Mas tem uma pessoa a mais agora (risos) Que é Giovani Cidreira”.

Vaqueiro: Rei Lacoste mandou um videozinho com Gio de cabelo verde, vi refletindo no visor do notebook e fiquei: ”Caralho, é Giovani Cidreira! Caraca!” (risos)

Deno: Eles fizeram o verso e mandaram para cá, nos empolgamos e já fizemos o beat todo.

Vaqueiro: Em paralelo, a gente já tinha chamado o tevin também. Tinha umas coisas escritas, chamamos ele para gravar.

tevin: Eu já estava para cantar nessa música, de fazer uma coisa com a Tangolo Mangos. Tipo, eu fui o primeiro roadie dessa galera aqui. Os caras fizeram show no Universo Paralelo, fui buscar todo mundo, foi massa. E aí, tinha uma brisa de fazer um som. Quando o Rei Lacoste mandou, mano… Eu estava com a letra, estava legal, aí ele mandou e eu fiquei: ”Mano… Vou sair da track” (risos). Aí foi uma novela: ”Meu, vou sair da track, vou sair da track, vou sair da track…”. Sinceramente, eu não sei o que essa música fala (risos). Tipo, eu guardo isso para mim, não sei se era para abrir esse jogo todo, mas tipo…

Vaqueiro: A letra tem a própria vida.

tevin: Mano, tem uma coisa de ”Pam” assim, massa. Só que aí larguei várias letras, tinha uma parte que não encaixava. Peguei e disse: ”Velho, vou tentar essa parada aqui”. Estava eu, Vaqueiro, Deno e Antônio na garagem lá de casa, coloquei a track e fiquei tentando. Depois vem a parte do ‘’rapte-me capte-me (han) / como no beat do Skitter (han han)’’. Eu olhei para o lado estava todo mundo assim (botando fé de mais) (risos).

Vaqueiro: Porque isso era um pedaço de outra parada.

tevin: De outra parada. Foi um Frankenstein da porra a minha parte.

Deno: tevin emendou no freestyle.

tevin: Aí, todo mundo estava na brisa de: ”Mano, só joga encaixa e faz”, e aconteceu e ficou massa. Só que assim, sinceramente, agora vou pular para outra parte. Gosto muito dessa track, muito mesmo, só que não se compara com a live do Sesc Santana. Tem essa parte que, pelo menos, é o meu maior xodó. Porque, se você parar para pensar, fizemos uma parada muito nada a ver, que juro, é uma parada que foi tipo, fazer um videoclipe foi muito irado. Como Rei Lacoste disse, foi um bagulho muito natural, fluido, assim como o videoclipe. Quando a gente fez a apresentação do Sesc, teve o que? Uma série de ensaios. Fomos nos conhecendo muito mais, se entrosando e todo mundo mostrando sua musicalidade. Teve um dia que Rei Lacoste levou a Laela que rimou pra caralho, e querendo ou não, a gente além de criar uma estética musical, criamos um feeling de encontro muito doido. E quando culminou nesse Sesc Santana, falamos: ”Mano, vamos fazer outra parada então. A gente vai abrir um espaço no final, pra você (tevin) e Rei Lacoste rimarem”. Aí, saiu aquele outro filho. E tem o prodigo que é a (música) ”<gelE1a_404>.avi”, né? Já pode falar disso?

Vaqueiro: A gente vai soltar um outro vídeo com extra que fizemos nesse dia, com Colibri que também fez a (música) ‘’FUJI[富士山].rom’’, né?

Deno: Exatamente.

tevin: Mas é isso, minha parte em resumo é isso. E não resume não né, está começando (risos).

Vaqueiro: E não tem como falar da faixa sem falar do momento todo.

tevin: É velho, não tem como dissociar o produto porque, porra, ninguém estava esperando retorno financeiro, tanto quanto de amizade, de parceria e de troca, que foi o que valeu muito mais. Transborda, sacou? Um encontro que faz sentir o bagulho real.

Rei Lacoste: Eu acho que também, o dia da gravação do videoclipe foi um estopim que nos encontramos mesmo.

tevin: Quando eles descobriram que Rei Lacoste botou Giovanni Cidreira na track, Vaqueiro ouviu e deu um pulão.

Neca: Eu fiquei meio incrédulo também.

tevin: Todo mundo ficou incrédulo!

Neca: Quando a track começou a existir, Deno me mandou primeiro e eu falei ”Ah, Deno fez um beat aqui. Vou ouvir.”. Fui ouvir e tinha um vocal de Giovanni Cidreira e falei para ele: ”Porra, eu não conheço essa música de Giovanni. Mano, que música é essa?!” e ele respondeu: ‘’Gio gravou para gente”, e eu: ”Mentira?!” (risos). E eu pensando que Deno tinha pego uma música dele. Uma parada engraçada sobre essa mix que Rei Lacoste falou sobre o lance de ser uma parada super doido, esses caras me mandaram um projeto com 100 canais (risos de todos, exceto Neca), nada tinha nome, nada tinha nada, vários plugins nada haver, uns equalizadores…

tevin: Não tinha nem cor.

Deno: É porque minha mixagem é muito caótica, zero técnicas. Fui o primeiro a mexer na track e extrapolei os limites. Daí Necão conseguiu transformar a coisa bruta numa parada linda.

Neca: Tanto é que ele me mandou e tinha uns canais que com equalizadores surreais e falei: ”Nossa, calma! Tem que segurar um pouco.’’. Foi caótico, mas foi interessante fazer. Demorou muito por conta disso, mas acabou que a partir disso tive ideias legais para o arranjo, elementos novos, vários breaks de virada, fiz lá na hora e eu falei: ”Pô, vai ficar assim legal e tal”. Foi massa.

Deno: Tinha até uma drum and bass. Ainda vamos soltar essa versão no Soundcloud um dia (risos).

Ao lado esquerdo, a câmera em realidade virtual 360º | Foto por: Rei Lacoste

Binha: Tem um trecho da música que tem um áudio. Sempre que escuto, ficava na dúvida sobre o que era: Quem é que foi ao ‘’Cabaré de Vertentes’’?

Vaqueiro: ‘’Cabaré de Vertentes, foi comprar cigarro. Vieram as moças com a faca.’’.

Deno: ‘’Eu nunca me esqueço…’’

Rei Lacoste: Foi Estevão Ferreira.

Deno: É um áudio de WhatsApp. Um meme.

Vaqueiro: É uma personalidade com vários áudios, na verdade, e vários fãs.

João Antônio: É como se fosse o Ednaldo Pereira só que de áudio assim (risos).

Deno: Quando ele fala ou conta as histórias cabulosas, ele assina ao final do áudio ”Estevão Ferreira”.

Vaqueiro: Tinha essa questão de que eu gostava muito desses áudios. Me apaixonei por isso quando ouvi no Twitter.

Deno: Originalmente, tem uma fala do Paulinho Boca de Cantor falando sobre quando Morais Moreira morreu. Giovani ouviu e falou: ”Pô, isso parece Estevão Ferreira. Adiciona o áudio de Estevão Ferreira”.

Binha: A faixa ganhou um videoclipe no nível da música: esse processo psicodélico e em 360º. Como foi desenvolver essa ideia e principalmente, como foi editar um vídeo em 360º, porque não consigo nem imaginar direito como funciona (risos).

Deno: Pô, a gente também não tinha (risos).

tevin: A gente editou tudo numa tela de notebook. Não tinha nem uma tela gigante, ficava um quadradinho minúsculo. Depois de dois dias descobrimos que tem como expandir a tela (risos).

Vaqueiro: E lidar com VR (realidade virtual) é bem diferente. A ideia era promover a música, porque estávamos gostando da coisa. Estávamos nessa onda de fazer as partes visuais. Queríamos fazer um videoclipe, tínhamos uma ideia bem mais expansivo.

Rei Lacoste: Teve os encontros de roteiro, teve brainstorming, bem maluco.

Vaqueiro: Bem maluco. Ia ter uma de Gio em umas águas que ele ia fazer uma brincadeira (risos).

Rei Lacoste: Andando naquela coisa de Fórmula 1 na avenida.

Vaqueiro: E começamos a juntar a questão de tempo porque, queríamos lançar a track logo e tinha a questão financeira. E aí falamos ”Poxa… Podemos pensar em alguma outra forma que seja uma solução criativa e ao mesmo tempo legal’’. Chegamos até a pensar na ideia de lyric vídeo, mas no meio disso tudo, Rei Lacoste veio com a solução.

Rei Lacoste: Estudei cinema e me interesso por naturezas diferentes, não só imagem/vídeo, mas tipo, também fazer algo em 3D também. Tenho uma câmera de VR (realidade virtual) em 360º que um amigo trouxe da Alemanha, e falei para os meninos que isso dialogava muito com o EP que eles tinham lançado, com a energia, enfim. Falei: ”Rapaz, é o seguinte, eu tenho uma câmera de realidade virtual. Se vocês toparem a gente pode pensar em investir, mas seria uma coisa mais simples, um plano fixo, com uma sequência falseada em apenas um lugar’’, seria perfeito. Em um dia a gente filmava e depois via como editava. Falei com um amigo de Cachoeira, de uma outra cidade do Recôncavo, que estuda cinema e já tinha feito um videoclipe que eu dirigi de Negro Leo há uns anos atrás com essa câmera, e ele tinha editado o videoclipe. Só que como ele demorou para responder, fizemos um primeiro corte e depois os meninos colocaram os efeitos. Foi uma coisa bem instintiva.

Binha: Gostei muito da ideia de colocaram a letra junto, você vai acompanhando o videoclipe.

Vaqueiro: Porque a gente passeou com a ideia. Pensamos em ser um lyric video, depois em ser um vídeo 360º e no final juntamos tudo.

Rei Lacoste: Dá para assistir tanto com o óculos que inclusive que é um projeto de ter um sorteio de óculos de realidade virtual. Tem um lance que acho que é legal de se falar também, que é em relação a letra, que de certa maneira, está em sintonia com a estética do videoclipe, que tem uma coisa de citação e de colagem presente, porque tem falas muito abstratas, ao mesmo tempo em que tevin vem com coisas muito marcadas, concretas e pontuais, que também estão presentes no videoclipe. Tem umas coisas meio maluca, tipo tevin dizer ‘’rapte-me capte-me (han)’, que é citação ao Caetano Veloso, e eu também cito Caetano em ‘’pareço modesto mas sempre quis muito’’, e Zeca Veloso em ”pra mim nunca tá bom”. Enquanto tevin fala de coisa imagéticas. O refrão de Giovanni é bem abstrato e o figurino dele fazendo referência a Arctic Monkeys. Tem uma série de coisinhas assim. O videoclipe que é psicodélico e abstrato. De alguma maneira, tanto a letra quanto o beat, quanto o a imagem estão em sintonia nesse sentido, de apontar para coisas abstratas e concretas e tudo ao mesmo tempo.

Binha: Aproveitando que o King Gizzar & The Wizard Lizzard virá ao Brasil em 2022, e vejo muito dessa coisa de ”Bora fazer” em vocês e no KG&LW: Se eles lançassem um álbum hoje, como vocês gostariam que a sonoridade fosse?

Vaqueiro: Ô Binha, vamos fazer uma campanha da gente tentar abrir o show deles.

Binha: Nossa! Bora! Nossa, eu fecho! Eu não sei como, mas eu fecho.

Deno: Isso é completamente inesperado e imprevisível… Eu não faço ideia.

Neca: Minha opinião é o seguinte: já está na hora deles abandonarem a microtonalidade e partirem para outra.

Deno: Não mano! A gente precisa de mais! (risos)

João Antônio: Uma parada que já falei para os meninos é que gostei muito de 2 singles que eles lançaram em álbuns diferentes: ”Cyboogie” e ”If Not Now, Then When?”. Queria ver uma pegada deles mais popzinho psicodélico, porque eles fizeram esse lance do (álbum) ”Butterfly 3000” que foi de foder. Mas, não sei, queria ver uma coisinha mais pop e ao mesmo tempo mais… sei lá velho.

Vaqueiro: Tá ligado que, o ‘’Butterfly’’ pega isso do ‘’Cyboogie’’ só que vai pra um lado maluco.

João: Exatamente.

Vaqueiro: Tem uma coisa bem felizinha também.

João: ”If Not Now, Then When?” para mim foi uma das melhores músicas.

Neca: Queria ouvir na verdade uma brisa pop do rolê de tipo, aquela do ‘’Butterfly 3000’’ também… Qual era o nome dela?

Deno: (cantarola)

Vaqueiro: ”Catching Smoke”!

Neca: Eu queria ouvir uma vibe dessa.

Deno: O disco do ”Catching Smoke”. Bom para mim, acho que seria o ”Polygondwanaland” parte 2.

Vaqueiro: Eu adoraria um ”Polygondwanaland” parte 2. Gosto de quando eles entrarem em um terreno meio tipo assim… Queria muito ver o que aconteceu com a microtonalidade só que com outro terreno de música que eu ainda não sei qual seria.

Neca: Pode ser também.

Deno: Incluso Neca que quer menos microtonalidade

Vaqueiro: Imagina se o King Gizzard entrasse em músicas da América do Sul de uma maneira muito louca? Mas eu não sei se é o que eu gostaria de ver, só fiquei curioso (risos).

Neca: A gente sempre está curioso para o próximo álbum.

Binha: Para finalizar, o festival ‘’5 Bandas’’ do Minuto Indie é conhecido por apresentar bandas brasileiras para galera prestar atenção. Se vocês pudessem montar um lineup ‘’Edição Bahia’’, quais artistas e bandas vocês gostariam que a galera conhecessem?

tevin: Vandal.
Neca: BAGUM.
Vaqueiro: Jadsa.
Rei Lacoste: Fiteck.
tevin: VUTO.

Vaqueiro: E menção honrosa pra galera do “Sopro” – com Astralplane, Colibri e Flerte Flamingo – coletivo que já realizou muitos eventos em parceria pela cidade.

1º Linha: Vandal, BAGUM, Jadsa e Fiteck.
2º Linha: VUTO, Astralplane, Colibri e Flerte Flamingo.

Ficha técnica ”tudo_q_eu_quis.mp4”

Bruno Fechine: samples, synths, produção/mixagem criativa
Brian Dumont: teclado rhodes
Estevam “tevin” Braz: voz, beat eletrônico
Felipe Vaqueiro: voz, guitarra, sintetizadores, baixo, samples
Giovani Cidreira: voz
João Antônio Dourado: beat eletrônico, samples, órgão MIDI
João Denovaro: voz, baixos, beat eletrônico, samples
Pedro Viana: guitarra, violão nylon
Rei Lacoste: voz
André Becker: sax (sample retirado da faixa “mofi_zip_zop_radio_-_batidas_pra_viaja/chaparzao_1000grau.mp3”)
Composição (letra): Giovani Cidreira, Rei Lacoste e tevin (Estevam Braz)
Composição (música/beat): Brian Dumont, Bruno Fechine, Felipe Vaqueiro, João Antônio Dourado, João Denovaro e Pedro Viana
Mixagem: Bruno “Neca” Fechine
Masterização: Ayze Buy
Arte de capa: Felipe Vaqueiro, João Antônio Dourado e João Denovaro
Distribuição: Tratore

Ficha técnica videoclipe

Direção, captação e montagem inicial: Rei Lacoste
Edição de efeitos e lettering: Estevam “tevin” Braz, Felipe Vaqueiro, João Antônio Dourado e João Denovaro.
Finalização: Felipe Vaqueiro
Idealizado coletivamente pelos artistas envolvidos.
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Autor

  • Binha Sakata

    aka Binha, sou apaixonade por música e audiovisual e resolvi unir esses dois elementos para pesquisar e falar sobre música, principalmente a independente brasileira e internacional. Em 2015, comecei a fotografar shows, em 2019 entrei para o projeto audiovisual e podcast de entrevistas Culture-se (@pculturese) e em 2020 criei o programa musical de rádio DSCOTECA (@dscoteca). No Minuto Indie, já fiz de roteiros a apresentações e conteúdos.

Escrito por

Binha Sakata

aka Binha, sou apaixonade por música e audiovisual e resolvi unir esses dois elementos para pesquisar e falar sobre música, principalmente a independente brasileira e internacional. Em 2015, comecei a fotografar shows, em 2019 entrei para o projeto audiovisual e podcast de entrevistas Culture-se (@pculturese) e em 2020 criei o programa musical de rádio DSCOTECA (@dscoteca). No Minuto Indie, já fiz de roteiros a apresentações e conteúdos.