Em um papo bem gostoso com o Minuto Indie, elas falaram sobre a banda, processo do novo disco, singles e ainda montaram o line up de um festival.
Qual última banda você se lembra de ter conhecido a ponto de não conseguir tirar as músicas da cabeça por um bom tempo? Talvez não lembre, mas como um bom amigo, te convido a fazer parte da minha conversa com as meninas da Crime Caqui, artistas mais que necessário de conhecer. Mas aviso: talvez daqui alguns dias, ela seja sua resposta a pergunta do início.
A Banda sorocabana formada em 2017, inicialmente por Fernanda Fontolan e May Manão, Yolanda Oliveira entrando logo depois e Larissa Lobo em 2019, vêm se destacando com o lançamento de seu álbum de estréia “Atenta” e singles de muito peso, como o experimental melancólico de “Feito Pra Durar” e o dream pop chiclete de “Quartzo Aranha”.
Em um papo bem gostoso com o Minuto Indie, elas falaram sobre a banda, processo do novo disco, singles e ainda montaram o line up de um festival. Senta com a gente nessa conversa.
Minuto Indie: Primeiramente como surgiu esse encontro de vocês?
Yolanda: Fer (Fernanda) e May são melhores porque elas são as fundadoras (risos).
May: Ali pelo finalzinho de 2017, a gente tava meio na “zueira” tocando uns covers de Warpaint e sem grandes pretensões de montar uma banda. Estávamos meio desanimadas; mas aí fizemos um show que teve um resultado bem massa em Sorocaba, e foi quando decidimos continuar. Em 2018 começamos a compor, trazer coisas que já tínhamos, arranjar juntas, fazer shows autorais e foi quando a banda ganhou o nome Crime Caqui. No mesmo ano gravamos nosso primeiro EP com a Kelly (ex-guitarrista da banda), mas ela precisou sair e em 2019 é quando Lari assume as guitarras.
Larissa: Eu tô a mais tempo na banda na pandemia do que fora dela.
Yolanda: Verdade. Mas nem parece que foi pouco tempo, porque você entrou e se encaixou muito bem no grupo e na sonoridade.
Fernanda: E além de tocar, a Lari (Larissa) também faz muito a identidade visual da banda, todas as partes artísticas, imagéticas, design, ilustração…
Larissa: Todo mundo faz uma coisinha que faz ser um trabalho completo. Eu faço o design da banda, a May e a Fer fazem a parte do audiovisual, a Yo (Yolanda) faz a comunicação, e somos uma empresa completa (risos).
Inclusive, sobre o encontro inicial das “fundadoras” da banda, Fernanda conta uma fofoca antiga.
Fernanda: Um último dado sobre tudo isso, é que May entrou em contato comigo em 2012, só que eu ia fazer uma viagem. Ou seja, a ideia de fazer a Crime Caqui começa ali e só aconteceu em 2017.
Pra estar na música é preciso ter muito mais vontade do que qualquer outra coisa. É cada vez mais comum ver os artistas fazendo todos os outros “corres”. Sobre isso elas comentam:
Larissa: Nossa, com certeza! Precisa ter muita paixão, porque é muito trabalho.
May: Ainda mais um trabalho com pouco retorno, especialmente na cena independente. O maior retorno que a gente tem é saber que as pessoas se identificam, acho que é isso que faz a gente seguir.
Por dentro do álbum “Atenta”
O primeiro disco da banda, “Atenta”, foi lançado em março – com direito a “showzaço” de estréia no mesmo dia – e contou com projeto de financiamento coletivo para contribuir com os custos da produção. Com influências sonoras que vão desde Warpaint até Gal Costa, o disco se imerge em experimentações sonoras, ao mesmo tempo em que conta com músicas sensíveis.
Minuto Indie: O “Atenta” nasce de um financiamento coletivo. Qual o sentimento de lançar um disco dessa forma, e como foi o processo de criação que vocês tiveram?
Fernanda: Acho que a vontade de fazer o primeiro disco está sempre do ladinho, porém a realidade é diferente, porque é um projeto muito grande. Todo esse caminho de gravarmos nossas três primeiras músicas (“Naufragar”, “Somos Demais” e “Your Forehead”) já começam a deixar mais clara as possibilidades. Chegou um momento com a pandemia que a gente pensou “agora que não estamos pensando em show, vamos fazer um Proac (Programa de incentivo a cultura do estado de São Paulo) pra conseguir o primeiro álbum”.
Yolanda: Foi elaborando esse edital que amarramos todo o projeto; o que precisávamos, quem queríamos que trabalhasse com a gente, quanto precisávamos, e todas as outras questões do álbum. Escrevemos pro edital e não fomos selecionadas pelo Proac, mas já tínhamos todo o projeto pronto. Era só definir de que forma iríamos fazer acontecer.
“As pessoas estavam interessadas e queriam ver acontecer”
Yolanda: Ficamos muito orgulhosas de expor para as pessoas. Fomos perdendo a vergonha de conversar, apresentar e oferecer o projeto pra elas, porque rola essa insegurança de “será que as pessoas querem esse projeto?”. No fim das contas, acabamos nos surpreendendo muito, porque as pessoas estavam interessadas e queriam ver acontecer. Acho que deu mais força e energia pra gente.
May: Parece que deu um fôlego de querer fazer acontecer.
http://https://www.youtube.com/watch?v=JCFO9JKTfjc
Minuto Indie: As influências de vocês vão desde Gal Costa, David Bowie, Warpaint, Men I Trust, Juçara Marçal… e sinto que a sonoridade da banda é bem única e diferente do que temos hoje. Fazer um som assim, é uma proposta da banda pra soar inovador, se destacar e estar na cena independente brasileira?
Fernanda: Acho que não temos essa ideia de realmente se encaixar.
Yolanda: E também não tem a ideia de fazer algo super inovador (risos).
May: Acho que foi tão natural. A gente nunca pensou em qual estilo iríamos ser.
Yolanda: É, foi bem natural. Fomos pegando nossas referências. Temos uma pegada experimental, que na produção do disco tivemos que enxugar um pouco essa vibe. Mas acho que estamos entendendo onde que a gente fica nessa cena. Até porque nossas músicas, por exemplo, tem muitas referências e são bem diferentes entre si. Todas nós trouxemos material, então é impossível ficar tudo homogêneo; e a gente nem queria isso. A gente gosta dessa pluralidade.
Fernanda: Mas recolhemos alguns gêneros que estão em algumas matérias sobre nós, que era “nova mpb”, “proto punk”, tirando o mais comum que é “dream pop”.
May: “Proto punk” é novo. (risos de “o que é isso?”). Mas acho que tem o lance dos lugares que costumamos transitar dentro dessa cena independente, das casas de shows que estão abertas a esse tipo de proposta, e acabamos nos deparando sempre com os mesmos nomes que estão dentro desse selo indie, especialmente em São Paulo. Mas sinto que, hoje em dia, a música é muito fluida. Parece que é meio agênero, sabe?
Minuto Indie: E como vocês se organizam na banda? Todas estão juntas nos processos de produção?
Larissa: Tem a contribuição de todas, com certeza. No processo de composição é bem democrático, todas trazem o que tem e a gente vai trabalhando. Já rolou de alguma de nós chegarmos com uma música mais ou menos arranjada e a gente ir dando a cara da banda, mas já rolou da gente fazer uma “jam” e a música ir surgindo.
Yolanda: Cada música é de um jeito.
Fernanda: Tipo, “Estrago” é escrito por todas
Larissa: Ah é, rolou esse lance de cada uma escrever uma frase, aí formou um “blocão” de texto, fizemos uma “jam” e veio o som.
May: Todas nós temos essa veia criativa de querer trazer uma letra ou uma harmonia. Nos incentivamos muito e tentamos não frear as ideias.
Minuto Indie: Acho muito maneiro que vocês se dividem nos vocais. Existe essa questão de terem uma música e achar que se encaixa melhor na voz de alguém?
May: Ainda não, mas acho que vai ser o próximo passo (risos).
Fernanda: Teve uma vez que uma empresa contratou a gente pra fazer uma música…
Yolanda: Nossa não imaginava que você ia falar disso (fala rindo).
Fernanda: É que foi a primeira vez que a gente pensou em quem seria a voz.
Yolanda: É que a gente foi contratada pra produzir uma canção infantil e chegamos a conclusão que a voz de May encaixava melhor (Comentou enquanto ria da expressão de negação de May). Mas geralmente quem escreve a letra canta; mas todas cantam.
A poderosa melancolia em “Feito Pra Durar”
Uma das músicas mais sólidas e sensíveis é “Feito Pra Durar”, composta e harmonizada por Yolanda Oliveira, que cá entre nós: entregou tudo. A faixa ganhou um arranjo delicado de guitarras feito por Larissa Lobo, bateria potente por Fernanda Fontolan, que entra inicialmente em pontos estratégicos e vai crescendo junto com a canção, e pela primeira vez May Manão troca a guitarra por sintetizador.
Minuto Indie: Qual foi o processo pra essa música desde que Yolanda chegou com a composição e harmonia? Sinto que ela foi produzida de uma forma mais pensada por ser o single, além de chegar com um clipe lindo e muito bem produzido.
Yolanda: Essa música teve um processo de composição muito lindo, porque ela cresceu muito nesse processo. Inicialmente ela foi composta para outro projeto. A Fer tinha feito um trabalho de videoclipe com dois amigos e precisava de uma música, e aí eu compus. Inclusive, a gente vai lançar a música com esse videoclipe alternativo.
Uma pausa pra dizer que queremos muito assistir esse clipe, tá? Retornando…
Yolanda: Fiz a música com algumas outras ideias que tinha, mas inspirado na vibe desse clipe, que é de uma relação tensa entre duas pessoas, porém muito intensa.
Fernanda: É aquela linha tênue do amor e do ódio né?
Yolanda: É! É bem forte a vibe desse clipe, e a música acabou se tornando bem delicada. Mas eu trouxe pro grupo e ela foi ficando muito diferente. O arranjo demorou um pouco, porque eu fiquei meio desesperada pois parecia que ela não estava funcionando.
Fernanda: E a gente queria muito começar a usar o synth que a May usa bastante no Tôrta (Projeto solo de May Manão).
May: Acho que um ponto que demorou de visualizar ela 100%, é que embora eu quisesse tocar o synth, eu ainda não domino muito as teclas. Então, eu ia tocar e errava as notas, sabe uns negócios assim? (risos) Lembro que tínhamos escolhido um timbre que demorava pra entrar, daí parecia que sempre estava dessincronizado as entradas. Precisamos mexer no timbre pra conseguir sincronizar e não parecer que estava atrasada com relação a guitarra, o baixo… Ainda no processo de produção, a Mônica Agena (Produtora Musical) contribui também nos timbres, o violão foi algo que ela trouxe e deu um outro brilho. A Fer teve a ideia de colocar uma outra linha de synth, que é tipo um plugzinho que faz “tu-tu-tu tu-tu-tu tu-tu-tu”. É isso, várias mãos lapidando.
Fernanda: A gente trouxe algumas referências, mas a principal pra essa música foi o disco “Nothing Happens” do Wallows, em especial alguns momentos que a bateria tem uma distorção muito interessante, principalmente na música “Do Not Wait”. Acho que é isso, é uma explosão, algo muito catártico, e essa música vai muito pra isso.
Ficou curioso pra saber o que é aquele “tu-tu-tu tu-tu-tu tu-tu-tu” que May falou? Confira aqui a música:
O festival com Crime Caqui e…
Minuto Indie: Vai rolar um festival com Crime Caqui e outras quatro bandas ou artistas da escolha de vocês, quem seriam?
Fernanda: Letrux!!!
May: Af! Por que falou ela? Pegou o meu (risos). Mas eu queria a Yma tocando nesse festival.
Larissa: Warpaint, né galera! (Comenta enquanto May mostra a belíssima camiseta da banda)
Yolanda: Vou falar uma artista que a gente admira muito, a Katu Mirim.
May: Nossa! Vamos fazer esse festival acontecer?
Minuto Indie: Vamos muito! Mas pra completar, qual artista vocês trariam pra fazer um feat. com vocês?
Fernanda: Eu queria fazer um feat com Willow.
Larissa: Perfeita!
May: Nossa sim. Crime Caqui e Willow
Fernanda: Por favor Willow aceite. E de brinde conhecer aquela família também (risos).
Escute o álbum “Atenta” por Crime Caqui:
Mais notícias no Minuto Indie. Curta nossa página no Facebook. Siga nosso Instagram. Saiba mais em nosso Twitter.