Lucas Tamashiro comenta sobre inspirações, evolução artística, e a colaboração de Vivian Kuczynski na produção de suas músicas
Com lançamento pelo Radar Balaclava, Tamashiran traz Lucas Tamashiro numa versão mais pessoal e pop em relação aos projetos anteriores. Se a visceralidade do rock alternativo da Raça e do Gumes não aparece no som, a letra traz uma perspectiva sincera e forte sobre sensações que tem ocupado a mente de muita gente durante esse período de isolamento. Na mesma linha, o videoclipe de “mundo” traz o artista andando nas vazias ruas de São Paulo, com um efeito reverso, ou de trás pra frente, ou igual ao filme Tenet do Christopher Nolan, enfim…
Apesar de “mundo” ser o primeiro single de Tamashiran, a música já vinha sendo lapidada há uns cinco anos, conforme o artista disse numa entrevista à Revista Balaclava. Nesse processo foi que ele juntou referências sonoras para se aproximar de uma sonoridade pop, tanto em texturas quanto em composição, mas numa pegada intimista e minimalista. Com produção da incrível Vivian Kuczynski, a faixa conta com um vocal pausado, como se fosse a narração de um devaneio, clima potencializado pelas melodias dos sintetizadores que remetem ao indie pop do The 1975. Ao longo de cinco perguntinhas, deu pra sacar mais sobre como foi esse processo de iniciar um projeto novo, além de outras coisas como ter Matt Healy (The 1975) como uma referência, e a troca criativa com Vivian Kuczynski. Se liga só:
Como surgiu essa ideia de um projeto solo? Quero dizer, em qual momento você teve uma ideia e pensou ‘ok, isso faz mais sentido num projeto solo’? Ou foi uma vontade espontânea que você foi crescendo com o tempo?
R: Na verdade não foi muito premeditado dessa maneira porque eu sempre trabalhei em músicas minhas sozinho paralelamente as bandas. Como eu amo fazer música, menos é sempre menos no caso, e sempre existiu espaço para fazer mais rs. Mesmo antes da pandemia eu já tinha esses planos, mas talvez antes existisse mais insegurança e menos coragem para dar as caras assim.
Por estar acostumado a uma dinâmica de banda, onde há uma troca criativa com outras pessoas a todo momento, como foi pra você agora reunir referências e focar no que você gostaria de atingir artisticamente? Tipo, você já tinha uma estética formada em mente ou foi experimentando na construção das coisas?
R: Foi muito enriquecedor! Com o tempo as coisas foram se revelando mais. Eu estava mirando em um tipo de som com mais elementos, menos arrastado, e um pouquinho mais alegre, além do ‘popzão’ mainstream mesmo, que eu amo e admiro. Estava tentando me reinventar sabe, ou evoluir apenas porque é sempre difícil sair de si próprio.
É sempre algo curioso e interessante ver um artista que sempre esteve em bandas se lançar em carreira solo. Qual artista famoso por uma trajetória em banda te dá curiosidade de ver se lançando solo?
R: Acho que de bate pronto, sem pensar muito, o Matt Healy do The 1975. Acho ele muito perspicaz e versátil como artista, mas as produções são do George Daniel, que é mais ‘produtor nerd’, e é o batera da banda. Mas pensando melhor agora, acho que qualquer artista que sentasse com o Ableton aberto no pc e compusesse um som sozinho, seria muito interessante, que colocasse a mão na massa mesmo.
Bom, ‘mundo’ é seu primeiro single em carreira solo. Você trouxe uma abordagem que toca em sensações que todo mundo está sentindo agora, como solidão, tédio, e a passagem de tempo de forma estranha. Teve alguma inspiração mais pessoal por trás, algo que te impulsionou a escrever sobre isso? Ou não, foi simplesmente algo inevitável que estava passando pela sua mente?
R: Cara, essa pergunta me assusta um pouco porque todos esses tópicos de sentimento que você levantou, relacionando-os à pandemia, sempre existiram pra mim de alguma maneira, porque sempre me senti em quarentena e não sei explicar o porquê disso. Fiz bastante terapia mas realmente não sei rs. Sei lá, talvez possam ser sentimentos inerentes à própria existência, mas que foram amplificados com o isolamento. Conscientemente eu só estava tentando ser esperançoso com finais quando escrevi a música.
Muito maneiro que a música tem a produção da Vivian Kuczynski. a sonoridade tem muito dessa coisa de juntar timbres mais minimalistas com algo mais atmosférico e climático. Como foi essa interação com ela na hora de pensar essas texturas para o som?
R: Para ser sincero, nessa música a Vivian não acrescentou muitos elementos aos quais eu já tinha escrito. Nos próximos sons que vamos trabalhar juntos vão ter mais coisas por aí, mas nesse ela só elevou a qualidade do que já existia ali, o que por si só já acrescenta um valor artístico fundamental na minha opinião. Mas aproveitando a pergunta e falando sobre a interação, eu senti que a gente falava a mesma língua em muitos aspectos relacionados à música e valores, visão artística etc. Ela é muito inspiradora pra mim, mas sendo um pouco mais específico, pra mim ela tem uma clareza nas intenções musicais dela em uma canção.
Ouça “mundo”, de Tamashiran
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