Falamos com o The Hives sobre o novo álbum, parcerias com Mike D e Josh Homme e os visuais inspirados em filmes de terror

Com muito estilo e energia de sobra, o The Hives está de volta ao Brasil para divulgar seu novo disco, The Hives Forever Forever The Hives, successor de The Death of Randy Fitzsimmons de 2023 – que foi o primeiro em mais de uma década do grupo e reafirmou a essência barulhenta, sarcástica e teatral dos suecos. Com produção do parceiro de longa data Pelle Gunnerfeldt, o novo disco tem também confirmadas participações especiais de peso, como Mike D (Beastie Boys) e Josh Homme (Queens of the Stone Age) e como teaser do que está por vir, eles lançaram o demolidor single, “Enough is Enough”.

Na entrevista a seguir discutimos sobre o significado do single, referências a filmes de terror antigos em seus clipes, como a banda se sente atualmente depois de mais de 30 anos de carreira e o que esperar do novo trabalho. E na expectativa para que suas passagens eletrizantes pelo Primavera Sound São Paulo em 2022, e também mais recentemente no Popload Gig de 2023, se repitam logo logo, já que agora temos mais um provável novo petardo para curtirmos ao vivo!

“Enough is Enough” soa como um grito de desespero em 2 minutos. Qual é a razão por trás dessa música? Vocês estavam dizendo “chega” para algo em particular?

Per Almqvist (vocalista): Bem, meio que de tudo, na verdade. A primeira linha é “Everyone’s a little fuckin’ bitch” (“Todo mundo é um pequeno filho da p***”) e isso é a nossa resposta ao discurso mundial, eu acho. É o mais próximo que vamos chegar de algo abertamente político ou algo assim. É sobre uma sensação que acho que muita gente compartilha hoje em dia — mais do que algo político — mas todo mundo está discutindo sobre tudo o tempo inteiro e é tipo: “chega disso”. É isso.

Os clipes de “Bogus Operandi” e “Enough is Enough” parecem filmes de terror antigos misturados com estilo glam. Como vocês chegaram nessas ideias visuais?

Per Almqvist: Só saiu das nossas mentes infinitamente criativas, eu acho (risos). A gente sempre amou esse estilo. Quando você faz um videoclipe, tem que ter uma estética, é importante. Tem tantos visuais interessantes — VHS, Super 8, filme 16mm — e a gente se interessa por qualquer coisa estética que saia da banda. Então estamos sempre com o dedo em todos os potes, e isso meio que resultou nessa estética de filme de terror que a gente cresceu assistindo, sabe? Era assim que os filmes de terror pareciam quando éramos crianças: granulados. E a gente sempre adorou esse visual. Acho que a gente gosta de tudo que é granulado — som granulado, imagem granulada, tudo isso.

Christian Grahn (baterista): E o vídeo de Bogus foi dirigido por um francês chamado Aube (Perrie). Ele é meio maluco.

Per Almqvist: Meio gênio também.

Christian Grahn: Sim, foi muito divertido trabalhar com ele. Mas ele não dirigiu o vídeo de “Enough”, então são diretores diferentes…

Per Almqvist: Esse foi o Eric Kockum, que dirigiu “Countdown to Shutdown”.

Christian Grahn: Isso, exatamente. Trabalhar com pessoas talentosas de novo é sempre divertido. Você não coloca seu coração em algo que vai sair ruim. Então acho que demos sorte de conhecer gente incrível.

Numa entrevista recente, vocês disseram que essa é a melhor versão do The Hives até agora. O que mudou na banda pra vocês sentirem isso?

Per Almqvist: Sinto que isso é meio injusto com nosso ex-baixista Dr. Matt Destruction — ele foi uma parte muito importante da banda. Mas acho… que é muito legal estar numa banda há 30 anos e sentir que estamos atingindo o auge agora. Acho que somos meio lentos para aprender (risos).

Christian Grahn: Sim, mas agora somos mais velhos e mais sábios também (risos). Acho que somos melhores no que fazemos.

Per Almqvist: Sim.

Christian Grahn: Depois de tanto tempo em turnê e trabalhando. E agora é legal poder sentar e curtir um pouco mais do que antes. Tipo, 20 anos atrás era tudo insano…

Per Almqvist: É…

Christian Grahn: …meio que o tempo todo. Você nem conseguia ter perspectiva das coisas. Agora está um pouco mais…

Per Almqvist: Está melhor.

Christian Grahn: Está mais fácil de absorver.

Per Almqvist: Dá pra explicar de outro jeito também. Tipo assim… (ergue uma mão acima da cabeça) isso é o Hives no começo fisicamente. (abaixa a outra mão na altura do peito) Isso é o Hives no começo mentalmente. E o físico está piorando com o tempo (risos), e o mental está melhorando. (sobe a mão de baixo até as duas se igualarem) E agora a gente se encontrou nesse meio.

Christian Grahn: (risos) Exatamente!

Per Almqvist: Então esse é o melhor que vamos chegar, antes da parte física decair demais (risos).

Meu Deus (risos). Mike D (rapper americano e membro fundador do grupo do Beastie Boys) e Josh Homme (Queens of the Stone Age) trabalharam com vocês nesse disco. Como foi isso? Eles foram tipo mentores, produtores ou só gente divertida de trabalhar?

Per Almqvist: Bom, a gente confia na opinião deles porque já fizeram músicas incríveis e são meio que heróis nossos, os dois. Os Hives levaram anos pra fazer esse disco. O Mike D passou alguns dias no disco. E o Josh Homme, algumas horas. Mas é tipo um presente pra gente poder pegar o telefone e perguntar pros nossos heróis o que eles acham das músicas antes dele sair. A gente costumava ser super protetor com nossos álbuns, ninguém ouvia nada antes deles estarem prontos. Mas agora relaxamos mais, tipo: “Ei, o que você acha disso?”, “O que acha daquilo?”. É divertido ouvir opiniões antes de ter o trabalho terminado.

Christian Grahn: Ah, e vale dizer que o Mike D canta uns vocais de apoio em uma das músicas do álbum, e o Josh é um velho amigo nosso. E quando falamos de produtores, temos que mencionar o Pelle Gunnerfeldt (mixador e produtor) também.

Per Almqvist: É.

Christian Grahn: Ele é um herói também, trabalhou em quase tudo que já lançamos. Sempre esteve por perto.

Per Almqvist: Sim.

Christian Grahn: Então, além do The Hives: Mike D, Josh Homme e Pelle Gunnerfeldt.

Pra finalizar, o que podemos esperar do novo álbum?

Christian Grahn: Mais músicas do Hives (risos)

Per Almqvist: (risos) É!

Outro cara: Músicas novinhas. Algumas mais antigas que nunca foram lançadas — que a gente já tocou ao vivo em algum festival, há tipo, 11 anos, na França ou sei lá (risos) — e você talvez tenha ouvido uma ou outra. Mas fora isso, é um disco novo e colocamos tudo de nós nele. Então esperamos que vocês curtam tanto quanto a gente.

Per Almqvist: É isso aí!

Entrevista por Alexandre Giglio e Texto por Pery Andrade.

Autor

Escrito por

Pery Andrade

Ex-estudante de Cinema, além de comunicador, nerdola da música e criador de conteúdo desde 2014 no Canal Musicalize.