Trio se apresenta no Festival 5 Bandas no sábado, em São Paulo
Lançado no ano passado, “Acelero”, quarto disco do trio Crizin da ZO, marcou presença em diversas listas de melhores lançamentos de 2024. Construindo uma mistura super original do funk com a música eletrônica no retrato do caos da vida urbana, o grupo se prepara para levar muito barulho para o palco do Festival 5 Bandas, que acontece neste sábado, 26 de abril, na Casa Rockambole. Em uma conversa exclusiva com os cariocas Cris Onofre e Danilo Machado e o paranaense Marcelo Fiedler, trocamos ideias sobre o funk, o território, o independente, os palcos e a música eletrônica – tudo misturado.
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Minuto Indie: Para começar, eu queria que vocês falassem um pouco sobre a visão do funk como música eletrônica presente no último álbum, o Acelero, e que falassem também o que é o funk na vida de vocês.
Cris Onofre: No começo do projeto, o funk foi realmente a coluna cervical do trabalho que a gente estava fazendo, e continuou sendo essa liga no decorrer dos álbuns. Mas acho que o funk agora está cada vez mais caminhando para ser mais uma textura, mais uma camada, dentro de tudo que a gente está trabalhando. Para mim e para o Danilo, pelo menos, sendo da Zona Oeste do Rio, o funk é um estilo de música que faz a trilha sonora dos ambientes em geral, principalmente da infância e da adolescência. Além de gostar, é uma coisa que sempre esteve presente, uma música de fundo de tudo. Da mesma forma que o barulho e o trânsito, o funk faz parte dessa cacofonia da cidade, entende? Acho que é esse o significado, mas hoje em dia, quando fazemos música, não estamos necessariamente se guiando pelo funk, e sim começando a partir de outros prismas também. O funk acaba entrando, mas acho que agora estamos bem mais soltos para além do que já fizemos.
Minuto Indie: E quais os desafios que vocês enxergam em fazer uma música que mistura e experimenta com tantos gêneros e referências diferentes?
Marcelo Fiedler: Eu acredito que essa mistura é um acúmulo de referência que temos de vida, tanto os meninos que são da Zona Oeste, como eu que sou do Paraná. A gente vive com excesso de informação o tempo todo, então eu acho que não tem como trabalhar com alguma coisa e focar só num estilo de som, porque a gente é isso aí, é uma mistura de uma caralhada de coisa. Hoje, até se for pegar o sertanejo, não é mais um sertanejo, é sertanejo com funk, com som de rave, de trance, com sei lá mais o quê. Então hoje acho que é muito isso, sabe? É um excesso de informação mesmo, tem que pegar e dá-lhe.
Danilo Machado: Eu acho que o desafio mesmo é fazer a música, né? Em 2025, fazer música independente, estar tocando, conseguir produzir as coisas e tudo mais, sempre com a grana curta ou sem grana. Acho que o nosso desafio maior acaba sendo esse mesmo, a independência.
Minuto Indie: E nesse desafio, o último álbum foi lançado pelo Selo QTV, né? Qual a importância de receber esse apoio, e como foi esse processo nas produções e lançamentos?
Danilo: Pô, tá sendo muito bom estar nesse time aí, junto com essa galera que é muito forte e tem uma visão muito boa de tudo. Eles ajudaram muita gente a conseguir chegar nesse nível, conseguindo atingir mais pessoas para ouvir e se engajar na parada. Foi um lançamento muito bom pra gente, tá sendo muito bom trabalhar com eles nesse processo aí.
Fiedler: Assim como é muito importante porque é um selo que tem muitos artistas que a gente gosta e se espelha muitas vezes, sabe? Artistas em que a gente bota fé mesmo, então acho que estar junto assim é muito importante.
Danilo: É, ajudou muito mesmo, eles estarem tão próximos da gente. Inclusive, vou mandar um salve aí pra galera do QTV.
Minuto Indie: Agora eu vou fazer uma pergunta que eu sempre quis fazer ouvindo suas músicas. O que vocês têm pensado ultimamente sobre território?
Cris: Pô, acho que essa música fala justamente sobre furar a bolha, sabe? Por ter saído do Rio de Janeiro uma época, por ter vivido em outros lugares, por estar frequentando outros lugares agora a partir do meu trabalho… Pensar sobre território, no caso, é mais um jeito subjetivo de não necessariamente pensar sobre o território físico, mas sobre os lugares que você vaga e frequenta, os acessos que você tem, e como a sua figura muda dependendo dos lugares: a forma que você é visto, como que a tua postura muda… é um pensamento constante independente do território que você está. Agora, estou aqui na minha casa, no meu bairro, mas independente, eu estou pensando sobre território também, estando aqui, vivendo aqui. É constante.
Fiedler: Ainda é muito doido pensar que a gente estava vivendo coisas parecidas morando em lugares diferentes, porque eu saí do Paraná e agora moro em São Paulo, e os meninos, na época que o Cristiano escreveu essa música, tinham se mudado de Curitiba pra Tijuca. E no caso deles, vivendo quase a vida inteira só na Zona Oeste, é como mudar totalmente de ambiente. Então essa música tem muito sobre isso, o momento que nós três vivemos.
Cris: Eu acho que essa música consegue fazer todo mundo se identificar, porque todo mundo de alguma forma está numa jornada pessoal vagando por territórios. Tocamos em lugares e estilos de evento muito diferentes, recentemente fizemos dois shows de graça na rua agora, e isso para mim fala sobre território também. Você, às vezes, não ter dinheiro pra entrar num show, pra ver uma banda que você gosta, faz você pensar sobre território, sobre o quanto aquilo ali realmente é acessível pra você e o quanto realmente te querem ali. Eu normalmente escrevo muito pensando na viagem do trabalho para casa, quem vai ouvir o álbum no trem, no ônibus, no transporte público. Como essa letra não fala tão objetivamente sobre o que é esse território, cada um pode pensar num lugar e na sua jornada específica dentro dos territórios.
Minuto Indie: E tendo uma obra tão atravessada pelas suas vivências particulares na cidade, mas principalmente no subúrbio do Rio, como é levar esse caos urbano, por meio do som, para outras cidades do Brasil?
Danilo: Como já rodamos muitos lugares, dá pra ver que existe uma união, digamos, uma universalidade de um som brasileiro também. Por mais que algumas coisas que a gente faça sejam muito associadas à nossa referência de Zona Oeste e de Rio de Janeiro, percebemos que tem uma conversa nessa música eletrônica brasileira que se integra no Brasil inteiro. Tentamos fazer sempre uma pesquisa muito forte, junto a essa curiosidade de estar sempre ouvindo o que está sendo lançado e tocado pela galera. É sempre consumir muita música nova brasileira e tentar usar isso como referência do que a gente faz. A gente vem de um lugar, mas não se prende 100% a ele porque gostamos de música e de tentar referências, experimentar coisas. A ideia é tentar ver o Brasil como um furacão de música eletrônica, de coisas acontecendo, de ritmos, e usar o máximo possível disso.
Minuto Indie: Tem nomes específicos que vocês apontam como referências principais?
Cris: Essa pergunta é sempre difícil porque é muita coisa, desde as coisas básicas como funk carioca mesmo e sua forma de criar, até pro Aphex Twin e umas paradas assim que a gente curte. Nunca chegamos a parar pra tirar nomes específicos, cada um vai buscando pessoalmente e aplica na sua parte da função da composição ali. Normalmente, na hora de escrever, eu tô pirando em algum álbum específico, pensando na escrita e na forma de compor a voz daquele álbum, que não é necessariamente o álbum que o Fiedler tá ouvindo na hora de produzir e não é o álbum que o Danilo tá ouvindo na hora de fazer as percussões e de mixar. Acaba sendo uma mistureba, são amigos que sentam e compartilham influências, e fazem música a partir daquilo.
Fiedler: É muito referência do momento e da vida também. Eu acho que é uma pergunta muito difícil citar nomes, porque senão podemos ficar aqui até amanhã.
Minuto Indie: Acho que isso é maneiro e sem dúvidas torna o som mais original. Mas agora, pensando um pouco em show, como é que tem sido levar pro palco tanta textura, tanta camada do som presente nos discos? Existe alguma adaptação que vocês fazem especificamente para os shows?
Danilo: Isso foi a parada que fomos aprendendo muito na estrada, primeiro de levar muito equipamento diferente para tentar fazer ao vivo e ver qual funcionava melhor. Agora a gente está soltando tudo numa sampler, feito para soltar os sons ao vivo e conseguir chegar numa qualidade melhor. É difícil também ter acesso aos melhores equipamentos, é uma parada que a gente vem conseguindo devagar, mas agora acho que chegamos num patamar maneiro soltando pelo SP-404, junto com as coisas orgânicas que tocamos ao vivo, de percussão, baixo e guitarra.
Cris: O show sempre foi a nossa prioridade, sempre acreditamos muito no show como uma forma de divulgar nosso trampo, e até pra conseguir compor melhor é importante tocar ao vivo. Foi isso que conseguiu divulgar a gente de fato. Do pouco que conseguimos conquistar, muito é por conta de pessoas que viram o show e falaram no boca a boca. Sempre pensamos muito no show desde o começo, então acho que agora ele está num momento muito fechadinho do que a gente quer apresentar. Lógico que sempre dá para adicionar coisa, quanto mais dinheiro tiver, mais equipamento e músico a gente consegue ter. Mas acho que hoje dá pra executar uma parada que é quase um complemento pra quem ouviu o álbum, uma forma mais orgânica e mais pegada de ouvir o Acelero.
Fiedler: Tem muita coisa que acabamos adaptando de teste ao vivo. Quando lançamos o disco, a gente tocava ainda com PC soltando o beat e o VS. Depois fomos adaptando algumas coisas que funcionavam melhor, tipo qual música vai seguir depois de outra na sequência da história do show, para ter uma coisa mais teatral. Hoje tem muita coisa que a gente faz já pensando como é que vamos tocar isso ao vivo, porque tem música até no Acelero mesmo que tava pronta e a gente falou assim, “caralho, tá, e aí agora?”, principalmente coisa que é muito eletrônica. Mas quando conseguimos pegar a SP (o sampler), deu pra adaptar e melhorar muito. Em algumas músicas, acabamos mudando todo o formato, picotando pra ficar mais enxuta ou pra funcionar melhor. Agora, quando vamos fazer coisa nova, já pensamos como vai fazer ao vivo, qual vai ser o instrumento que cada um vai tocar etc.
Danilo: E o Acelero veio num momento em que a gente já tinha feito muito show dos outros discos, vários shows muito bacanas do Buraco Brasil e do Alma Braba. Então já começamos a produzir ele testando as músicas ao vivo pra caramba, fazendo versão. Acho que até o Acelero, quase todas as músicas eram muito diferentes ao vivo do que elas eram nos discos, mas o Acelero já é um disco que a gente já fez ao contrário. Muita música a gente testou e montou antes de gravar.
Minuto Indie: Então rolou um amadurecimento aí na forma de produzir.
Danilo: Pô, acho que rolou, sim. Na pandemia, a gente começou a produzir muito à distância, o Alma Braba foi feito nesse contexto, cada um na sua casa. Agora, pro Acelero, já foi uma parada muito mais fluida. Cada um faz uma parte e coloca alguma coisa, manda, no final junta tudo e tira uma música, sabe? Acho que agora tá mais evoluído esse processo de como fazer, porque antes a gente fazia junto. Era legal também, mas eu acho que cada um poder estar com o seu programa em casa tem uma diferença maneira de poder produzir.
Fiedler: E cada um no seu tempo também, porque cada um de nós três produz de uma forma diferente. Só que eu, quando vou produzir uma coisa, fico ali dias e dias trabalhando, “pô, não é isso, tira, bota, tira, bota outra parada, apaga aquele negócio que já fiz, faz de volta”. E voltando ali ao papo do show, tem algumas músicas que a gente já tocava antes de sair o Acelero. Festa da Carne foi a primeira, tocando desde os primeiros shows pós-pandemia, depois foi De Repente, Calmo, e daí a gente parou pra finalizar o disco.
Minuto Indie: E pensando agora nos 5 Bandas, quais as expectativas de vocês? E já que a ideia do festival é apresentar ao público sua nova banda favorita, o que essa galera nova pode esperar do show de vocês?
Danilo: Eu acho maneiro pra caralho estar junto dessa galera nova, mesmo fazendo um som que é bem diferente do nosso. A gente tá com esse objetivo, como o Crizin da ZO, de poder circular no máximo de lugares e tocar pro máximo de pessoas diferentes possíveis. Acho que o som pode casar em lugares diferentes, então fico empolgado de estar circulando num espaço maneiro com a galera que vai ouvir e vai sacar. Espero que a galera curta. Um pouco de medo da galera tomar um susto com a porrada, mas eu espero que curtam.
Cris: Eu acho que vai ser um porradão lá, mas no bom sentido. Estamos empolgados para mostrar o trabalho para um público diferente que pode não conhecer, e acho importante tocar com bandas que são diferentes, tem o Boogarins que já são famosos, mas as outras que estão também na mesma batalha que a gente. No fim das contas é tudo sobre isso, né? Juntar bandas ali que estão vagando no independente, na batalha pra poder tocar numa casa maneira, público maneiro. Acho que essa iniciativa é válida pra caralho. A gente tá animadão pra fazer as coisas, vai ser maneirão. A gente se vê no 5 bandas. Obrigado Minuto Indie pelo convite, Casa Rockambole, as outras bandas que vão tocar também, estamos juntão, vai ser maneiro pra caralho.