Confira a entrevista exclusiva com Josh Franceschi, vocalista do You Me At Six, nos bastidores da turnê Cedo ou Tarde no Allianz Parque

Enquanto caminhávamos para o camarim do You Me At Six no Allianz Parque – poucas horas antes de começar seu show de abertura para o NX Zero na turnê Cedo ou Tarde – estávamos lembrando do ano de 2010. Um tempo em que jovens brasileiros caminhavam sem supervisão (e noção) pela internet. Aquele cheirinho de fake do Orkut, de semi aposentadoria do flogão, dos resquícios de MySpace. E tudo isso sendo sonorizado por bandas de pop punk e emo que bombaram naquela época. Uma delas era a banda inglesa You Me At Six e, principalmente, seu hit Stay With Me.

De volta a 2023, o vocalista Josh Franceschi nos recebeu no backstage para conversar sobre esses quase vinte anos de banda, seu novo álbum Truth Decay e a sua primeira vez no Brasil. Várias primeiras vezes por aqui, aliás. “Nunca tocamos em um estádio em nossa vida, então que lugar melhor para fazer isso do que no Brasil”, nos contou animado.

A estadia do You Me At Six não foi apenas para a abertura dos dois shows esgotados do NX Zero, mas também para apresentações solo calorosas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ambas com apoio da banda capixaba Dead Fish. Eles viraram pauta até nos dias de folga, com fãs animados ao ver a banda curtindo um passeio de barco junto com um amigo de longa data, o agora brasileiro Oli Sykes do Bring Me The Horizon. Uma semana com bons crossovers para os fãs do gênero.

“É importante que os fãs desse tipo de música [rock] saibam que há todo um lugar, todo um conjunto de bandas incríveis que eles podem apoiar” 

Entre nos perguntar diversas vezes a pronúncia de NX Zero pra não errar no palco e mencionar com alegria o fato de finalmente estarem fazendo shows aqui, Josh Franceschi compartilhou suas perspectivas e ambições como integrante de uma banda de rock que está na estrada desde 2004. Assista ao vídeo e confira a transcrição da nossa conversa com o You Me At Six na íntegra a seguir.

Minuto Indie: Quase 20 anos de carreira e essa é a primeira vez do You Me At Six no Brasil. Como tem sido até agora?

Josh Franceschi: Tem sido incrível. Já faz muito, muito tempo que esperávamos por isso e acho que essa viagem superou todas as nossas expectativas. Acho que tínhamos a sensação de que talvez tivéssemos algum tipo de fanbase aqui e que havia pessoas que gostavam da nossa banda, mas não acho que estávamos cientes da paixão que as pessoas tinham pela nossa música, então isso tem sido muito… Eu não sei, só muito legal. Legal é uma palavra sem sal, mas foi muito maneiro.

Esse sou eu sendo meio honesto e emocionado quanto a isso, mas tocar nesse palco hoje é incrível, muito especial. Nunca tocamos em um estádio em nossa vida, então que lugar melhor para fazer isso do que no Brasil.

Minuto Indie: É, eu ia perguntar sobre isso. Porque vocês tocaram no Circo Voador Voador no Rio e depois no Cine Joia em São Paulo, ambas são casas de show para cerca de duas mil pessoas. Mas hoje e amanhã vocês estão tocando para 50 mil…

Josh: Já tocamos em dois locais realmente icônicos no Brasil. Então isso já parecia, “ah, legal, não estamos apenas tocando…” – não que haja algo errado em tocar em um bar ou algo assim – mas era tipo “ah, estamos tocando em algum lugar que tem muita história”. E tô certo em dizer que esses caras são os campeões do Brasil [apontando para o painel do time do Palmeiras]? Eles acabaram de ganhar a liga?

MI: Sim! Palmeiras.

Josh: Palmeiras. Sim, e também descobri que foi a base do meu jogador favorito do Arsenal, Gabriel Jesus.

É, tem muitas coisas que estão ligadas a esses shows, o que torna tudo realmente especial. E eu acho que sempre que você é chamado para tocar na frente do público de outra pessoa – é o que eu sinto quando pedimos às bandas para se juntarem a nós – é como se quiséssemos que essas bandas tivessem uma chance para aumentar sua fanbase, conhecer novas pessoas e tocar para um novo público. Para nós, ter o NHGero, eu disse isso certo?

MI: Nx Zero.

Josh: NX Zero, ok [risos]. Para o NX Zero nos receber é legal porque sei que eles são uma banda muito especial aqui no Brasil. Então estou ansioso para tocar para o público deles e espero que eles curtem.

MI: Sim, tenho certeza que vão. Quer dizer, já está lotado lá.

Josh: Sério?

MI: Sim, mesmo sendo quatro da tarde de sexta-feira e estando tipo 35ºC lá fora.

Josh: Sim, sim. É muita dedicação. As pessoas querem ficar bem na frente, então…

 

MI: Então, a gente viu que vocês saíram com Oli Sykes ontem.

Josh: Quem?

MI: Oli do Bring Me The Horizon.

Josh: Nunca ouvi falar. Só estou sendo idiota [risos]. Bora, qual é a sua pergunta sobre o Oli?

MI: Vocês estavam só se divertindo? Como foi sair em terras brasileiras? Podemos talvez esperar alguma coisa?

Josh: Ele estava falando de vir para o Brasil porque mora aqui e tem um lugar a mais ou menos três horas daqui. E ele não achou que iria rolar, mas nós pensamos: bem, estamos no mesmo país e não o vemos há muito tempo, talvez um ano ou mais. Então ele nos convidou para ir à casa dele, fomos, pegamos um barco e tivemos um dia realmente lindo. E nós só passeamos e almoçamos, relaxamos um pouco na casa dele e voltamos para casa.

Mas as pessoas devem saber que já fizemos muitas coisas. Eu fiz muitas coisas com ele ao longo dos anos. Obviamente ele cantou em Bite My Tongue, eu cantei em Fuck

Temos uma boa conexão com eles [do Bring Me The Horizon] como pessoas. Estávamos lembrando que, quando éramos mais novos, costumávamos ficar na casa da mãe e do pai do Oli quando não tínhamos dinheiro. E esse é o tipo de família que eles são. Eles nos deixavam ficar nos sofás, nos quartos de hóspedes ou algo assim, porque não tínhamos dinheiro pro hotel. Nós os conhecemos desde os 15, 16 anos, então eles são bons amigos nossos e estou muito orgulhoso de ver o que eles se tornaram. O impacto que tiveram na música é realmente especial.

MI: E agora ele é brasileiro [risos].

Josh: Sim [risos], casado com uma brasileira querida também.

MI: Tem rolado algumas conversas sobre um retorno do pop punk ou uma volta do rock ao mainstream. Vocês são uma banda de rock há tanto tempo, como veem esse novo momento de renascimento do rock, se é que ele desapareceu?

Josh: Eu acho que, assim como na moda, a música tem tendências e há coisas que acontecem talvez a cada cinco, dez, quinze anos ou mais. Tem bandas que crescemos ouvindo e que tenho certeza que, quando surgimos, elas diziam “ah, você está fazendo o que fazemos há 20 anos”. Não é diferente para gente agora ver bandas mais jovens chegando ou bandas que talvez – não soa muito bom, mas – bandas que foram embora por um tempo e voltaram e têm um novo  senso de propósito ou sucesso ou o que quer que seja. No fim do dia, fazer parte de algo é tipo imperativo para a cena de forma geral. 

Estou falando de punk, hardcore, ska, tanto faz. Para mim, rock é rock. Se tiver guitarras altas, é rock. Então eu acho que é importante que, quando bandas como My Chemical Romance, Paramore e Blink 192 recuperam sua formação original, o que acontece é ter um sopro de ar fresco na cena que deixa as pessoas animadas de novo.

Eu sempre falo sobre My Chemical Romance e Paramore como os antepassados, eles são como a velha guarda. E eles cresceram ouvindo Thursday ou Acceptance… Para mim, é ótimo que esse gênero de música esteja indo bem.

E, novamente, uma banda como esses caras [NX Zero] nos trazendo hoje é uma espécie de extensão disso. Então é tudo uma questão de tentarmos continuar elevando uns aos outros, porque é importante que os fãs desse tipo de música saibam que há todo um lugar, todo um conjunto de bandas incríveis que eles podem apoiar. 

 

MI: Sim, acho que é isso que está acontecendo aqui hoje. Porque o NX Zero ficou em hiato por uns cinco anos e voltou este ano. E eles estão fazendo um show aqui com outras quatro bandas tocando. Algumas delas são bandas mais jovens, algumas delas já existem há 15 anos. Então eles tão apresentando outros artistas para o próprio público e fazendo uma conversa entre a geração mais antiga e a mais nova de bandas de rock no Brasil. Quer dizer, também de bandas internacionais…

Josh: Uma banda inglesa, sim. Eu acho que é ótimo e na maioria das vezes, como dizem na Inglaterra, “a força [está] nos números” – não sei se você já ouviu isso – mas é por isso que na música moderna você vê pessoas constantemente pulando nas músicas umas das outras.

Agora, isso não acontece necessariamente com a frequência que eu acho que deveria acontecer na música alternativa, porque acho que a polinização cruzada de fanbases é uma forma realmente visceral de aumentar o público. Estar presente no show de outra pessoa e depois conhecer os seus fãs e conquistá-los ou o que quer que seja, é uma coisa muito legal de se fazer.

Eles fazem isso bem no R&B, no rap e na música pop especificamente. Esta é a nossa maneira de demonstrar isso: fazendo mais turnês uns com os outros.

 

MI: E vocês têm tocado com algumas bandas brasileiras nesses últimos shows. Você ouve alguma música brasileira?

Josh: Bem, eu com certeza fui dar uma olhada no… continuo ficando com medo [de errar]. NX Zero, estou falando certo?

MI: Tá sim.

Josh: Você sabe que vou dizer errado no palco.

MI: Não, tá tudo bem. Todo mundo vai entender. Eles vão ver que você está tentando!

Josh: Ele é estúpido [risos].

MI: Não! [risos]

Josh: Então, Nx Zero? Hm, sim, eu fui ouvir assim que fechamos os shows. Foi interessante ver o que tava rolando. O mesmo com o Dead Fish. A gente tocou com eles.

Criamos esse conceito de tentar tocar com tantas bandas locais quando estivemos nessa turnê. Então tem sido bom ver e aprender com todas essas bandas diferentes fazendo seu som.

 

 

MI: Vocês lançaram um novo álbum este ano, Truth Decay. Como vocês mantêm a vontade de continuar fazendo música depois de tanto tempo?

Josh: Acho que, sinceramente, isso vem em ondas. Tipo, chega momentos em que você pensa, eu realmente amo fazer isso e realmente amo estar em uma banda e realmente amo ser criativo com essas pessoas. Sempre fizemos um acordo de que no momento em que todos soubermos que não queremos mais fazer isso, não faremos mais. Não sei o quão próximo ou distante esse ponto está, mas neste momento estamos felizes e gostando de tocar nossa música ao vivo juntos.

Também estamos cientes de que não são muitas as bandas que conseguem gravar oito álbuns. Muitas vezes, em qualquer parte da minha vida, eu tento não ficar muito desanimado quando as coisas vão mal e tento não ficar muito animado quando as coisas vão bem, porque quero ter um equilíbrio em tudo isso. Então eu acho que a maneira como fazemos é que sempre tivemos aquele equilíbrio de “vamos fazer um disco que amamos e espero que todos eles amem também e se não amarem, tanto faz, se amarem, ótimo”.

Mas agora temos as bases estabelecidas em quase duas décadas lançando álbuns, então as pessoas conhecem a banda – podem ter gostado de alguns discos e de outros podem não ter curtido.

Mas acho que no geral tivemos muita sorte de ter uma fanbase que apoiou as mudanças que fizemos. Isso nos dá o propósito e a ambição de fazer os discos que fazemos.

 

MI: Você disse que este é seu primeiro show em um estádio. Vocês ainda tem um sonho como banda depois disso?

Josh: Sinceramente, sem parecer brega, meu sonho era vir para esta parte do mundo, tocar música e ver como é. Então, estar aqui e encerrar nesses dois shows no estádio é provavelmente o melhor cenário possível. Então, vou aproveitar isso.

E eu acho que você tem que ter marcos que deseja alcançar com o passar do tempo, mas às vezes você não está no comando do seu próprio destino. Você tem que deixar outras coisas acontecerem. Às vezes, quando você menos espera ou quando está prestes a desistir, algo acontece. 

Ouça Truth Decay (2023) do You Me At Six nas plataformas digitais.

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Autores

Escrito por

Maria Luísa Rodrigues

mestranda em comunicação, midióloga de formação e jornalista de profissão. no Minuto Indie desde 2015 e em outros lugares nesse meio tempo.