Trio indie pop carioca se apresenta no Festival 5 Bandas no sábado (26), em São Paulo
Diretamente do Rio de Janeiro e com uma sonoridade bastante tropical, a Aquino chega no palco do 5 Bandas em São Paulo neste sábado, 26 de abril. Antes disso, conversamos com João Soto, João Vazquez, e Leandro Bessa sobre a nova fase da banda, inaugurada pelo último disco “Nada Fica Muito Tempo Exposto Ao Sol”, e que é atravessada por amadurecimento, companheiros de estrada e uma afirmação de identidade na cena.
Confira esse bate-papo, acompanhe a banda nas redes sociais em @aquinomesmo, o festival em @5_bandas e não perca nenhuma novidade!
Minuto Indie: Primeiro, conversando um pouco sobre o último disco de vocês. Nesses quatro anos de diferença entre o primeiro lançamento de álbum e o segundo, o que vocês acham que mudou e como é que foi esse amadurecimento artístico de vocês?
João Vazquez: Eu acho que mudou tudo, porque a gente fez o primeiro disco quando a gente era adolescente, todas as músicas foram escritas ali entre os 15, 16, no máximo 17 anos. Foi um disco lançado muito no sonho adolescente de querer ser como as bandas que a gente gostava e de não fazer a menor ideia de como as coisas funcionam. A menor ideia. E o segundo disco já tem uma dinâmica da gente um pouco mais… Cara, vai ser forte dizer calejado, mas um pouco mais calejado, vai. Um calo que não é muito… É um calinho, não é um calo muito grosseiro, mas é um calo. E a gente com muitos outros amigos, muitas outras referências e já num lugar de ter lançado um disco, ter lançado um EP, estar num selo grande. Enfim, acho que isso muda muita coisa em como a gente percebe, faz e toca a música. Pra mim é tudo diferente, é outra pessoa que fez o primeiro disco, muito distante.
Minuto Indie: Qual vocês acham que foi o papel do selo Rockambole? Tanto no ponto da produção, quanto no lançamento do disco, o que vocês acham?
Leandro Bessa: Acho que o papel do selo foi muito de abraçar o projeto. Foi de pegar o que a gente tinha e falar, pô, é isso que vocês têm pra fazer, vamos lá: vamos ver como que a gente consegue fazer, quanto que a gente consegue lançar, qual a melhor forma de fazer isso, ver assessoria, essa música realmente tem que estar aí? Foi um papel de realmente melhorar também aquilo que a gente já tinha, sabe, coisas que a gente às vezes acaba não vendo, porque a gente tá muito inserido no processo. Então o selo também é uma forma de receber opiniões e botar na balança, tipo, a galera falou isso, será que é por aqui que a gente tem que fazer essas mudanças? Ah, tem que lançar nesse momento aqui, tem que lançar de tal forma. Então eu acho que realmente agregaram pra gente.
João Soto: E foi bacana porque no ano passado o selo lançou muitos discos, acho que foram quatro juntos. Então nesses últimos três anos, trocamos muito com a galera do Grilo, da Pluma, da Daparte, sobre como é esse processo de construção de trabalho. Todo mundo tinha as demos uns dos outros e ia ouvindo, dando pitaco, botando pra tocar em festa e o negócio ia rodando assim, apesar deles estarem em São Paulo e a gente estar no Rio. Acho que essa dimensão geográfica é uma coisa muito importante também, de ter a Casa Rockambole, onde gravamos alguns coros, usamos ali o espaço pra poder botar um pouco mais de coisas no disco e gravar com esses amigos também. Então foi um papel importante nesse sentido.
Minuto Indie: É, eu até queria saber um pouco sobre isso, de vocês estarem fazendo vários shows em São Paulo. Como é essa jornada de ir pra outro estado, outra cidade, fazer isso? E vocês acham que isso diz alguma coisa sobre a cena independente do Rio atualmente?
João Soto: Eu acho que fala mais sobre a cena do Brasil, né, de tudo. São Paulo tem essa coisa.
João Vazquez: Eu acho que não é também sobre a cena, mas sobre os lugares onde a cena pode estar, porque dizer sobre a cena é muito forte, tipo, quem sou eu pra apontar o dedo pra alguma coisa da cena em si? Mas o Rio é muito difícil, cara. O Rio é muito difícil de aceitar as coisas, de ter lugar pra tocar. Essa cidade é um lugar complexo.
Leandro Bessa: São Paulo realmente abraça tudo e qualquer tipo de música, e tem todas as possibilidades, formas e níveis de apresentação. É uma cidade meio louca. Eu prefiro muito mais o Rio no sentido de vivência, praia, natureza e tal. Mas em relação a recepção de cultura e shows, realmente, São Paulo é inigualável.
João Soto: É mais possibilidade de poder fazer o projeto ser rentável também. A gente fez um Sesc em São Paulo tem uns dois anos, que foi uma das experiências mais legais que a gente já teve com relação a show, de ter uma experiência profissional. E quando a gente fala de São Paulo, eu sempre lembro de uma entrevista que eu vi da Fernanda Torres dos anos 80 ou 90 do Roda Viva, em que ela fala que São Paulo é o primeiro lugar que o carioca conquista e bota a bandeirinha. É ter um lugar próximo onde a gente sabe que tem coisas acontecendo e onde a gente quer se colocar. Então, eu acho que pra gente também é uma forma de fazer o projeto ser realidade, estando nessas casas de show, e na própria Casa Rockambole, casa do nosso selo, que é um privilégio ter uma casa lá pra poder ensaiar quando precisar e poder fazer nossos shows. E conseguir rodar, né, que é uma coisa difícil pra maioria dos projetos do Brasil, porque é caro. Mas estando no Rio, que é um ônibus semi-leito de distância, o sonho fica um pouco mais fácil.
Minuto Indie: Ai, gente, eu entendo total. Penso tanto sobre isso que às vezes dá até depressão. Agora pensando no Brasil, como é que vocês enxergam a projeção da banda para outras cidades, além do eixo Rio e São Paulo? Como estão esses planos e até coisas concretas?
Leandro Bessa: Isso cai muito no que o João falou, de que a proposta também é cada vez mais a gente rentabilizar a banda e o processo, para que a gente consiga chegar nesses lugares. Por exemplo, o Sul, pra tocar em Curitiba, ou até aqui do lado, no Espírito Santo, tocar em Vitória, bem perto da gente. Acho que é um sonho, né, poder rodar o Nordeste, ou até no Amazonas, no Acre, rodar realmente o Brasil.
João Vazquez: Valeu, papai. Meu pai mora no Acre.
Leandro Bessa: Acho que é realmente o objetivo chegar num patamar em que a gente consiga ir pra esses lugares, porque é um custo de avião, para levar equipe… Nesse processo, de pouquinho em pouquinho a gente vai chegar, tem que ter paciência, mas eu acho que algum momento a gente chega sim.
Minuto Indie: E pensando em companhia de jornada, quais são as bandas mais parceiras de vocês? E tem planos também de parceria musical ou feat?
João Soto: Nunca fizemos feat, e é uma coisa que sempre discutimos. Temos muita vontade de ter um projeto, talvez, só de feats, ou fazer um disco que não necessariamente tenha feats, mas que seja mais colaborativo. Você perguntou da Rockambole no começo, e eu acho que uma das características mais fortes da Aquino é que a gente é muito fechado. Somos três, quatro com o nosso produtor, o Sidney. E as ideias só saem da gente.
Leandro Bessa: É um problema nosso mesmo.
João Soto: No Rio também ficamos um pouco isolados culturalmente dos outros projetos… É uma questão nossa, que a gente tá trabalhando! Tem projetos de amigos, a Sutil, por exemplo, é uma banda de amigos queridos que trocam muito com a gente nessa parte do processo. Lá em São Paulo tem a Pluma, também são grandes amigos que tão numa caminhada parecida. Tem a galera do Grilo, que já tem mais tempo de estrada. Então acabamos aprendendo muita coisa. Também tem a galera da Dingo, que era da Rockambole e agora não é mais, mas enquanto esteve no selo, aprendemos muito com eles.
João Vazquez: A gente tem muitos amigos, mas realmente só faz as coisas entre a gente. É impressionante.
João Soto: Sim, temos muitos amigos. Mas essa dinâmica também de estar no Rio de Janeiro, de estar fora de São Paulo… A gente tá vivendo uma dinâmica muito nossa. A gente vai pra Ilha do Governador, que é onde tá o estúdio do Lelê e onde a gente faz as coisas. Acaba sendo uma coisa dominada pela circunstância, mas eu acho que de alguma forma a gente consegue aprender muito, como nos últimos anos com essas bandas parceiras, a entregar um espetáculo maneiro…É uma troca meio invisível entre as bandas e que as pessoas não pensam muitas vezes. E por exemplo, a Tangolo Mangos veio pro Rio no ano passado e tocamos no show deles, mas acho que o mais legal foi a gente ter passado o dia juntos, zoando, indo na cachoeira, tocando, ensaiando, mais do que a hora do show, necessariamente, sabe. É importante ter essas construções com pessoas que vivem coisas parecidas com a gente, que não necessariamente passam pela música, mas passam de outras formas. Acho que são bonitas, e falam mais sobre conexões pessoais e do que a gente é como ser humano do que o som da banda, especificamente. Eu acho que é o mais legal desse processo todo.
Minuto Indie: E quais as expectativas para esses encontros nos cinco bandas?
João Vazquez: Cara, eu tô muito animado pra ver Crizin da ZO de novo, porque, pra mim, o último disco deles é top 3 do ano passado. É surreal aquele disco. E eu tô muito animado, porque eu sou realmente muito fã deles. Eu descobri durante um show do Metá Metá, porque eles abriram no Circo Voador. Foi surreal o jeito que eles usam o VS, e o fato do maluco estar tocando, tipo, o que? Uma zabumba no palco. Tem um maluco com zabumba, um maluco com baixo e VS. E é isso e foda-se, tá ligado? Eu acho isso muito foda. Além de ser um estudo de funk com industrial, porra, isso é surreal. Acho que é o que eu tô mais animado pra ver. A galera do Monstro Bom também, o pessoal da Rockambole fala muito bem deles, cheguei a ouvir e fiquei muito animado pra poder conhecer ao vivo. Vai ser um dia muito massa. Vai ser legal.
João Soto: Vai ser bem legal. E esse show do Cura e Libertação do Boogarins também, que a gente tá animado pra ser curado. Tamo na fila do SUS, amém.
Minuto Indie: E pro show de vocês, o projeto visual e gráfico do último disco é muito forte, né? Eu queria saber como é que estão os planos de levar isso pro palco e pro festival.
João Vazquez: O João [Soto] acabou de fazer um pôster novo. A gente tá modificando e adaptando já um pouquinho a identidade visual.
João Soto: Esse é o pôster novo. Mas foi uma conversa grande, porque a gente tem essa estética do disco, que eu acho que é uma estética aberta. Acho que mais importante pra gente do que seguir necessariamente nela era seguir na periferia da estética, assim. E uma coisa que a gente já tava trazendo um pouco nos últimos shows da turnê são as roupas e a atitude, principalmente. Ser uma coisa mais artística, mais glam no sentido urbano, sabe? E pra esses shows novos, a gente tá trazendo isso mais ainda, até mais numa estética sonora, né? O show que a gente tá preparando é mais tocado do que os outros, mais rocky, sem o rock, necessariamente, mas ele é mais…
João Vazquez: Ele é mais play.
João Soto: Ele é bem mais play. é isso. E a gente sempre trabalha essa coisa do material gráfico, né? Do merch, dos pôsteres… Enfim, é uma coisa que a gente sempre gostou muito.
Minuto Indie: E o que a galera dos 5 Bandos pode esperar dos shows de vocês? Já que a ideia toda é apresentar a nova banda favorita do público, o que o pessoal pode esperar dos shows de vocês?
João Vazquez: Eu acho que a gente é a atração mais destoante da noite. A galera é mais play, mais rock. E a gente é mais, tipo… Ah, vamos lá. Indie porque é indie, porque tudo é indie. E pop porque… Por que não? Por que não pop? Se eu tô dizendo que é pop, quem vai dizer que não é pop a sonoridade? É o que eu tô dizendo, tá ligado? Eu acho que vai ser legal poder experienciar estar com um público talvez muito diferente do que a gente costuma estar, e a gente também ter adaptado o show um pouco para uma tocabilidade maior nossa. Eu acho que isso vai ser legal de poder apresentar pra essas pessoas. E acho que também os aspectos visuais, assim, entre nós. O Leleco vai pintar o cabelo amanhã, não vai?
Leandro Bessa: É, teoricamente vou. Eu vou cortar. Mas, teoricamente, eu vou pintar algumas coisinhas. Mano, vai ser muito na hora ali.
João Soto: A galera pode esperar um espetáculo pop… Com várias referências, de vários lugares, bem energético. Do jeito que a gente gosta de fazer, com aquela energia boa, muita dancinha, muito refrão, pouca guitarra…
João Vazquez: Caraca, a gente vai afastar a galera do show.
João Soto: O veste tá médio agora. E o play tá azeitado. A cozinha eu posso dizer que tá… A cozinha azeitou.
Leandro Bessa: E olha que o azeite tá caro, hein? E o azeite tá caro.
João Soto: Estamos fazendo bem.
Minuto Indie: Agora, só uma curiosidade que surgiu ouvindo essa fala do pop. Vocês enxergam desafios de estar fazendo pop numa cena indie? Como é que é isso?
João Vazquez: Enxergo muito. Enxergo muito porque dentro da cena indie a gente tem várias vertentes da galera que tá fazendo som. A maior parte delas são vertentes paulistanas de som. A gente não é paulistano, e a gente não quer fazer som paulistano. Eu amo todos os paulistanos. Eu amo todos vocês. Eu amo a cidade, eu amo as pessoas. Mas a gente não é de São Paulo. A gente é carioca. E a gente gosta de zoar, tá ligado? A gente tem um background musical e cultural que é diferente da galera de São Paulo, sabe? E eu acho que em nenhum momento a gente pensa em fazer um som mais ligado a essas vertentes, mais guitarrísticas ou mais… Não sei, me ajuda aí com os termos.
João Soto: Guitarrísticas é um bom nome, porque eu acho que é isso. Muito do que a gente faz e trabalha, que eu acho que é uma característica muito carioca não óbvia, é que somos uma banda muito rítmica. A gente vem dessa tradição da música rítmica brasileira. O mais importante da música é sempre a percussão e o groove, e como ela puxa, né? Isso é uma escolha que pode passar por uma visão gringa, como passa em alguns casos, tipo o Parcels que tem essas dinâmicas de groove também. Mas eu acho que o nosso vem muito mais dessa questão brasileira mesmo, dessa questão sonora potente. E é uma escola diferente, mais ligada no ritmo do que necessariamente na harmona ou nas complexidades guitarrísticas e progressivas das coisas. E isso traz uma dificuldade porque a gente sempre se propôs a fazer um produto pop, como o Vavá falou, é pop porque a gente tá falando que é pop, e é uma pasta alta, né? A gente gosta de fazer música de “massa”, entre mil aspas, música popular no sentido de coisas bonitas, gostáveis, de coisas… comerciais. Comerciais é uma boa palavra.
João Vazquez: E que não tira a nossa produção musical de um lugar de estudo nosso mesmo. É realmente pegar lugares muito diferentes do que a gente gosta e quer fazer, e atravessar eles por uma medida mais pop também. Por exemplo, uma das músicas mais pop do disco, Onda do Mar, foi pra mim um estudo de música folclórica, de música regional, de como é que a gente pode colocar isso numa roupagem mais nova? Eu tô dizendo pop várias vezes, mas o pop não é a Luisa Sonza, não é o Michael Jackson, o pop é… Pop.! É o que você tá querendo dizer que é pop, é o que você tá querendo dizer que tem uma acessibilidade mais fácil e geral.
João Soto: Eu acho que é sobre linguagem, de alguma forma, e uma coisa que a gente gosta muito e tá muito no nosso trabalho é linguagem, comunicação de palco, comunicação corporal. Acho que a dificuldade é porque eu acho que grande parte dos produtos que tão dentro da cena, e sem juízo de valor, pelo amor de Deus…
João Vazquez:. Até porque a gente gosta pra caralho.
João Soto: Sim! Mas são produtos que vêm por outras vertentes, fazem outras sinapses de caminhos. E vindo por fora, às vezes é um pouco difícil até de se entender onde é que a gente se encaixa nesse quebra-cabeça todo, entendeu? Onde que a gente tá? Porque a gente tá mais próximo do Boogarins do que da Luísa Sonza. É aí que eu acho que o indie entra, né? O indie é muito mais um recorte de ambiente do que necessariamente de estilo ou gênero musical.
Minuto Indie: Nossa, perfeito. Mas eu acho que justamente por isso que vai ser tão bom ter vocês no 5 bandas, é uma presença muito importante, sabe? Porque a ideia é variar, apresentar música pra todo tipo de público. Então manda aí um recado pra galera do 5 Bandas.
João Vazquez: Galera do 5 Bandas, nós somos Aquino. A gente vai fazer um show bem legal, carioca, com músicas bem diferentes entre si. Se eu fosse vocês, eu colaria no show… Na verdade, eu colaria desde o início da noite para ver todas as bandas, porque o intuito do festival é esse. Vejam todas as bandas e curtam cada show da forma que o show propõe a ser curtido, porque essa é a magia de um festival diverso.
Leandro Bessa: Exatamente. E se eu fosse vocês, eu corria porque os ingressos já estão no último lote, então não perde tempo.
João Soto: A gente se vê lá. Esperamos vocês. E… Bora de rock! Obrigada, gente.