Bad Omens

Bandas de metal, como o Bad Omens, vêm fazendo sucesso no TikTok, mas isso tem incomodado muitas pessoas. Vamos refletir um pouco sobre o por quê?

 

O metal tem tomado um novo rumo com o sucesso de bandas como Bad Omens, Sleep Token e Catch Your Breath na plataforma. Entretanto, ainda parece que o público do gênero não está acompanhando esta mudança, o que acaba mais atrapalhando do que ajudando.

A banda americana de metalcore Bad Omens já era conhecida na cena, mas foi com a faixa “Just Pretend” que o grupo despontou nas rádios e paradas de rock americanas. A música estourou no TikTok em 2022 e se tornou o principal sucesso da banda. Com certeza a plataforma foi essencial no aumento da fanbase do grupo, o que resultou em várias turnês headliners e participações em festivais. Não estou dizendo que o sucesso deles se deu por causa do TikTok, mas que a rede social foi um trampolim para o Bad Omens, isto é inegável.

Bad Omens

Foto do show do Bad Omens em Estrasburgo, na França. Tirada por Juliana Guimarães (correspondente do Minuto Indie na França) @eyelinertv

Por outro lado, o fandom formado depois do TikTok veio junto com várias polêmicas e situações desagradáveis para os próprios fãs e membros da banda, resultando na saída do vocalista, Noah Sebastian, das redes sociais. O que deve-se levar em consideração é que o público que consome conteúdos da rede social chinesa é majoritariamente jovem, e sabemos que a cena do metal é extremamente elitista, machista e etarista, excluindo principalmente jovens mulheres (guarda essa informação, vou voltar nesse assunto). Não que idade seja uma desculpa para falar o que quiser na internet, mas são fatores a se levar em consideração quando falamos principalmente de fanbases.

Noah Sebastian para a Revolver Magazine.

 

Além das trends do TikTok, acredito que a principal caraterística do Bad Omens que os fez atrair tantos seguidores fiéis foi a sua escrita forte e emotiva, que toca tantas pessoas, além da voz potente e versátil de Noah. São composições extremamente relacionáveis, e foi isso que fez “Just Pretend” estourar de qualquer forma.

 

Infelizmente, ainda incomoda muita gente ver uma banda de metal atrair um público jovem e feminino. Aí começam as “gracinhas”, com comentários como: “mas eles ficaram comerciais”, “banda de TikTok” e “só gosta deles porque acha eles bonitos” para tentar diminuir a qualidade do grupo. Estas falas não são novas e poderiam se aplicar a diversas bandas que atraíram público feminino ao longo da história (tirando a parte do TikTok, obviamente). A questão da beleza ainda é muito presente nesse meio. Muitas vezes, uma mulher gostar ou não gostar de uma banda é resumida a achar ou não um ou mais membros do grupo atraentes, o que além de ser uma falácia, é um pensamento extremamente machista. Este machismo reverbera principalmente no Bad Omens e Sleep Token, pois eles trazem uma estética mais dark e sensual, batendo de frente com o metal tradicional. Na visão de muitos, essa sensualidade não deve ser debatida no metal, muito menos se trouxer consigo uma grande fanbase feminina (pegaram a visão?). Se mulher falando sobre sensualidade já incomoda fora do meio, imagina em uma cena tão fechada como o metal?

 

Bad Omens
Foto do show do Bad Omens em Estrasburgo, na França. Tirada por Juliana Guimarães (correspondente do Minuto Indie na França) @eyelinertv

 

Em relação a idade, as pessoas esquecem que o público jovem de hoje vai crescer e vai se tornar o público mais velho de amanhã. O público jovem é responsável pela longevidade da música, porque a mesma transcende até mesmo à vida de quem a faz. É quem vai perpetuá-la por mais tempo e passá-la para as gerações seguintes. Ainda, o “gatekeeping” das bandas não ajuda em nada, só reduz as chances de trazê-las para o Brasil e torná-las bem-sucedidas. Isso deveria ser o objetivo de todo fã, pois é horrível ver grupos incríveis como o Spiritbox dando entrevista dizendo que a banda não se paga.

Além disso, este incômodo não afeta outros grupos do metal moderno, porque diversas bandas estão tentando emular esse “efeito Bad Omens” na rede social. Alguns exemplos são Motionless in White e I Prevail, que estão tentando ao máximo viralizar algum dos seus singles na plataforma, porém a diferença é que o que aconteceu com o Bad Omens e Sleep Token foi orgânico e natural. Então, acho que forçar uma trend, uma dancinha, um meme ou convidar tiktokers para os shows não são o que vai fazer uma banda bombar no TikTok.

Em suma, o sucesso do Bad Omens incomoda porque abriu a porta de muitos jovens (principalmente mulheres) ao vasto mundo do metal. Porque é uma banda que não se prende aos padrões da indústria e não tem medo de demonstrar emoções, e, talvez o mais importante, porque eles não se importam. Eles não ligam se um metaleiro vai xingar eles no twitter ou duvidar da capacidade deles como banda. Eles são seguros de si e para eles é o que importa. Esta situação me fez lembrar o My Chemical Romance e todo o movimento emo dos anos 2000. Na época, ser emo não era considerado legal, exatamente por ser um gênero que é conhecido pela expressão intensa dos sentimentos. Na época, curtir MCR poderia não ser tão bem visto pelo resto da galera, mas hoje são considerados ícones da música e ovacionados mundo afora.

Bad Omens
Perfil do Bad Omens no last.fm

Se você ainda não conhece o trabalho do Bad Omens, fizemos uma resenha do seu último disco, “The Death of Peace of Mind” (2022), quando saiu. Você pode conferi-la aqui.

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Autor

  • Juliana Guimarães

    Mestre em Microbiologia e doutoranda em Biotecnologia Vegetal e Bioprocessos, que nas horas vagas escreve no Minuto Indie e joga videogame. Tem PhD em Emo e Metalcore, é fã de carteirinha do My Chemical Romance e ama musicais. Nunca foi vista sem delineador 🤫

Escrito por

Juliana Guimarães

Mestre em Microbiologia e doutoranda em Biotecnologia Vegetal e Bioprocessos, que nas horas vagas escreve no Minuto Indie e joga videogame. Tem PhD em Emo e Metalcore, é fã de carteirinha do My Chemical Romance e ama musicais. Nunca foi vista sem delineador 🤫