Ana Frango Elétrico no Circo Voador em 27 de janeiro de 2024. Foto por João Pedro Cabral para o Minuto Indie

Conversamos com Ana Frango Elétrico sobre a estreia da turnê Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua no Rio de Janeiro, um show inesquecível com casa cheia, leilão de obra de arte e muito calor

Ah, Ana Frango Elétrico… Chutaria que boa parte dos que viveram o show de estreia da turnê Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua em terras cariocas, justo no palco do Circo Voador, saiu estonteado, com aquela sensação de precisar de tempo para assimilar o que viu, tendo pouco a dizer. Tanto público, quanto artista e equipe.

Mas, pra nossa sorte, Ana Frango Elétrico topou falar durante o processo. “A expectativa [para o show] era de emoção, mas foi maior do que eu esperava”, nos contou em entrevista por e-mail dois dias após o show no Circo. E foi por aí mesmo. 

Ana parecia estar em casa do começo ao fim. Uma evolução e tanto do show tímido que vimos da sua estreia na casa, em outubro de 2018, como abertura para a banda O Terno. Repertório curtinho, somente uma guitarra, carisma e muita bala tamarindo pro público. 

De lá pra cá, a carreira de Ana mais que expandiu. A artista tomou o mundo e caiu no gosto geral, inclusive de quem dita o gosto de muita gente. 

Quando perguntamos o que Ana entende como o particular universal do seu som, aquilo que faz ele ressoar com tanta gente diferente pelo mundo, recebemos uma resposta honesta: “Não sei, acho que talvez proposições de som nostálgicas, de alguma forma, confundem as pessoas sobre em que tempo foi feito aquilo. Não sei na verdade, mas fico feliz…”

Agora, em 27 de janeiro de 2024, mais de cinco anos depois da primeira vez, Ana chegou com bagagem e muito bem acompanhada ao palco do Circo. Muito talento reunido, colaborando para construir um universo que está sob o nome de Ana Frango Elétrico

“O sentimento com certeza é de gratidão e inspiração. Entender que olho pro lado e me inspiro, é uma sensação linda e profunda. Onde vejo o que me importa e como gostaria de seguir fazendo música. E muitos amigos que estavam presentes simbolicamente no show, inspirações mil, amigos e irmãos que a música me deu dentro e fora desse show”, compartilha Ana.

As parcerias começam na abertura, que ficou com Wallandra e mais uma galera da House of Cazul, apresentando a história viva do ballroom na cidade. A apresentação foi seguida por uma surpresa: a voz do FBC deu aquele leve susto na plateia, mas apareceu com a boa (e certíssima) causa de ler a ficha técnica completa do show.  

E logo depois, aconteceu.

O espetáculo (sem exageros)

Ana Frango Elétrico no Circo Voador em 27 de janeiro de 2024. Foto por João Pedro Cabral para o Minuto Indie
Foto: João Pedro Cabral para o Minuto Indie

A turnê MCDGQESS (pros íntimos) já passou por São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre. Mas não tem nem como imaginar que o que aconteceu no Circo Voador tenha acontecido em qualquer outro lugar. Aquela doação de público não pareceu replicável. E pelo que Ana nos diz, realmente não é. “Tem sido muito calorosa [a recepção da turnê], mas no Circo foi mais que especial”, comentou. 

“O mais marcante foi o público. A emoção de pessoas queridas, amigas, familiares e desconhecidas. Todo mundo cantando junto as músicas novas e também músicas antigas, me ver anos atrás com uma pesquisa muito mais gráfica e poética do que fonográfica e ver isso tomando forma no agora com um público maior cantando essa pesquisa antiga, me deu um gás e emoção de pensar e repensar a música”, relatou Ana Frango Elétrico

A partir daí foi festa, ainda que entre danças e lágrimas. A sequência inicial cai na primeira categoria: Let’s Go Before Again, Coisa Maluca, Tem Certeza?, Boy of Stranger Things e Debaixo do Pano (aquele ótimo cover de Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo). 

Mas aí, as luzes ficam azul e as emoções vão junto. 

Em Camelo Azul você se pega cantando, sentindo, rindo baixinho logo na abertura: “fumando um camelo azul / me dá um”. Mesmo sem nunca ter fumado – não é sobre o que você fez ou não. O casal ao lado, que passou aproximadamente 87% do tempo do show se beijando, até parou rapidinho para se juntar ao coro do “me deixar transar com você”. 

E como que não se emociona com Insista em Mim? Uma das grandes canções do ano passado ficou ainda melhor acompanhada pela plateia, faltou apenas os metais para dar aquele impacto que merece (e que apareceu em outras músicas no show, então por que não aqui????).

E aí as luzes mudam, ficam vermelhas, é uma premonição. Como sussurram do lado: “agora vem Nuvem Vermelha”. E veio mesmo. Uma pena Roxo não ter seguido o padrão da luz na música, seria mais um momento engraçadinho. Mas ela não é óbvia assim, né. Artista. 

Mas já que estamos falando em quebra de expectativa, vamos adiantar um tópico…

O leilão e o plot twist do dia

É isso aí que você leu: um leilão. E não qualquer leilão, mas um de arte. E não qualquer arte, uma pintada ao vivo por Ana Frango Elétrico. Porque Ana é artista, como a gente já comentou. 

Quando o momento do leilão começou, ninguém entendeu muito bem. O guitarrista teve que subir a voz para passar a mensagem enquanto Ana começava a pintar o quadro: “Isso aqui é um leilão. Não estamos de brincadeira. Quem dá 100? Não é brincadeira.”  

Mas foi surpresa só pros desavisados (nós). “Fizemos isso algumas vezes na tour, acabou que virou um momento divertido numa parte do show onde consigo dar um restart dentro dele”, conta Ana. 

Ana Frango Elétrico no Circo Voador em 27 de janeiro de 2024. Foto por Maria Luísa Rodrigues para o Minuto Indie
Ana Frango Elétrico pinta quadro ao vivo no Circo Voador. Foto por Maria Luísa Rodrigues para o Minuto Indie.

“É engraçado pois há anos penso em pintar no palco, mas nunca imaginei que seria nesse álbum e nesse show, pra falar a verdade”, continuou. 

Entre os lances e nosso questionamento interno se aquilo era legal ou não (pessoas sem grana ali e um leilão com dinheiro real assim acontecendo no meio do show, enfim), surge um vencedor: alguém chamado Guilherme é levantado pela plateia e ovacionado pelo seu lance de R$1.000,00 (mil reais). 

Mas nem tudo são flores. O herói Guilherme? Estava brincando, um blefe que foi contra as regras gritadas no palco. 

“[…] Após o show, a Ana tava falando com alguns fãs e admiradores – quando eu vi alguém da produção com o quadro na mão, então perguntei se o cara do último lance, Guilherme, não tinha pegado o quadro ainda. Ela me respondeu que ele tinha dito que tava doidão na hora, que não ia ficar com ele”, quem nos relata é a pessoa que realmente saiu vencedora na história !!!! O plot veio acompanhado por uma entrevista exclusiva.

Ton, de 22 anos, foi quem levou o quadro pra casa por um precinho mais em conta: 200 reais. Só como comparação, a meia pro evento no último lote custava menos de 100 reais. Mas não queremos aqui precificar arte. Ton, sorridente na foto abaixo ao lado de sua recém adquirida obra e da artista, nos contou mais sobre esse momento.

Ton e Ana Frango Elétrico com a pintura original autografada. Fotos concedidas por Ton.

“Quando tava rolando o leilão eu nem cheguei a dar lance, pra ter ideia, eu achei que seria muito disputado. […] Na hora [que soube que Guilherme desistiu] eu vi a oportunidade e ela logo me perguntou se eu queria dar um lance e eu dei – 200 reais – e ela aceitou, mas meio com pé atrás por conta do outro rapaz lá. Até me perguntou se eu tava falando sério kkkkk”, relata Ton. 

Ton acompanha a artista desde 2019 e conta que é esse aspecto multimídia que cativa sua atenção para o trabalho de Ana. “Pra além da musica, eu admiro muito o trabalho visual, estético e lírico da Ana, inclusive tenho o livro que ela lançou (agora autografado também heheh). Como ela mesmo diz, ela gosta de trazer uma aventura sinestésica nos projetos dela, onde o que ela escreve não fica distante do som que ela produz e do quadro que ela pinta. É algo que eu acredito muito. E o fato dela ter pintado o quadro ali no Circo ao vivo deixou tudo ainda mais especial. Estava lá com amigas que amo, vibrando a cada momento. Esse quadro criou um significado, um simbolismo maior do que ele mesmo pra mim”.

Um quadro que vai direto pra parede da sala, criar novas memórias, como Ton nos disse. 

E o show seguiu. Mas antes desse momento de vendas, tiveram participações mais que especiais: Índio da Cuíca e Rodrigo Maré ajudaram a construir o som afinadíssimo da banda em Se No Cinema e logo depois JOCA apareceu pro seu verso na ótima Dela

As pessoas pularam e cantaram em Electric Fish e o cover Dr. Sabe Tudo como se fosse a última oportunidade. Mas logo depois do possível fim, rolou aquele bis. Farelos e Roxo, seguidos pelo hit Mulher Homem Bicho encerrando com Índio da Cuíca, Rodrigo Maré e JOCA de volta ao palco. 

O show se encerrou parecendo um delírio coletivo. Ana falou pouco no palco, mas nem por isso deixou de se conectar com o público durante todo o show. Estava tão quente durante as horas de show que parecia um universo à parte da noite fresca que existia fora da lona (nos parâmetros de Rio de Janeiro, claro). 

Como não se animar ao pensar que esse é só o começo pra Ana Frango Elétrico? A boa notícia é que Ana também pensa assim, guardando sonhos e planos pro futuro. 

“[…] Sinto que o trabalho tem muito o que crescer. No âmbito pessoal, o sonho da casa própria com estudiozinho, o que falta bastante. Profissionalmente quero dirigir e produzir coisas maiores com infraestruturas que não tenho, nem talvez nunca tenha no meu trabalho. Conhecer estúdios que sonho como o real world e o Electric Lady (que tenho um convite especial e só não fui ainda por ter meu visto negado). Trabalhar de alguma forma com pessoas que sonho. Muitos sonhos hahaha”

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Autores

Escrito por

Maria Luísa Rodrigues

mestranda em comunicação, midióloga de formação e jornalista de profissão. no Minuto Indie desde 2015 e em outros lugares nesse meio tempo.